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2.2 A Constituição Federal de 1988 – atual sistema constitucional

2.2.4 Do controle perante o STF

2.2.4.1 Da composição e natureza jurídica do STF

O Supremo Tribunal Federal foi criado pelo Decreto 848/1890 e introduzido na Constituição Federal de 1891 em substituição ao antigo Supremo Tribunal de Justiça90.

A composição do Tribunal foi se alterando ao longo de sua história, variando de 17 ministros (para os admitem que ele foi instituído em 1824), 15 na Constituição de 1891, 11 nas Constituições de 1934, 1937 e 1946, 16 a partir do Ato Institucional 2/65 e na Constituição de 1967 e, finalmente novamente 11 a partir do Ato Institucional 6/69 e na atual Constituição editada em 1988.

Ao longo da história se têm exigido diversos e distintos requisitos para que determinada pessoa possa ser nomeada ministro da Suprema Corte. Atualmente se exige concomitantemente os seguintes requisitos: ter idade entre 35 e 65 anos; ser brasileiro nato e ter notório saber jurídico, além de ter reputação ilibada.91

Embora a atual Constituição traga expressa a exigência do notório saber jurídico, a Constituição de 1891 exigia apenas o notório saber, não explicitando que esse saber deveria ser jurídico, hipótese que permitiu que o Presidente Floriano Peixoto nomeasse o médico Barata Ribeiro e os generais Galvão de Queiroz e Raimundo Ewerton como ministros.92

Mesmo a expressão notório saber jurídico não tem significado preciso e inconteste, assim, há quem defenda que é indispensável que o candidato a ocupar esse posto seja pelo menos bacharel em ciências jurídicas,93 enquanto outros não veem essa correlação94, sendo

90

Essa data foi a reconhecida por Walter de Moura Agra – Manual de Direito Constitucional, p. 458, enquanto para que Gilmar Ferreira Mendes a origem dessa Corte data de 1828, data da edição da Lei 18/09/1928, conforme por ele assentado em Jurisdição Constitucional, p. 23.

91 Art. 12, § 3º, IV e 101 da Constituição Federal de 1988. 92

AGRA, Walter de Moura – Manual de Direito Constitucional. p. 458

93 Idem – Ibidem.

certo, contudo, que não se exige que ele seja magistrado de carreira ou mesmo que tenha tido nenhuma experiência anterior no ofício da judicatura.

Cabe exclusivamente ao Presidente da República indicar os integrantes da Suprema Corte para que sejam sabatinados pelo Senado Federal e, uma vez tomado posse, eles serão vitalícios.

O Supremo Tribunal Federal tem competência ampla, alcançando ações originárias em diversas matérias, como, por exemplo, o julgamento de pessoas com foro privilegiado em matéria penal, bem como recurso que verse sobre matéria constitucional oriunda dos demais tribunais da república, sendo ainda o órgão de cúpula do Poder Judiciário.

O Supremo Tribunal Federal brasileiro difere em muito de outras cortes constitucionais.

Em regra, os tribunais constitucionais são encarregados de velar em última instância pelo respeito e supremacia da constituição e podem ou não integrar a estrutura do Poder Judiciário.

Assim, ao abordar a realidade dos tribunais constitucionais, principalmente à luz do ordenamento jurídico português, o professor Pedro Rosário do Travão foi expresso ao consignar que “O Tribunal Constitucional é um tribunal especial e, sempre, estranho à ordem judiciária comum, a qual, se encontra hierarquizada até ao Supremo Tribunal de Justiça.”95

Nesse sentido, ao analisar as características básicas dos tribunais constitucionais, José de Albuquerque Rocha ressalta as seguintes características:96

“a) estatuto constitucional, que é a previsão do Tribunal na Constituição; b)

designação dos juízes por critérios político-democráticos, onde a escolha dos

membros é feita por eleição de representantes do Poder Executivo e Judiciário, Ministério Público, bem como da sociedade civil; c) duração de mandato, pois os membros de um autêntico Tribunal Constitucional possuem mandato por tempo determinado e improrrogável; d) incompatibilidade, que é a garantia de independência dos seus membros para não exercer outros empregos ou funções, principalmente de natureza política; e) competência, embora seja variável nos tribunais constitucionais, o fundamental é garantir a primazia da Constituição”.

95 ROSÁRIO, Pedro do Trovão – O Recurso Constitucional de Amparo. p. 55. 96 ROCHA, José de Albuquerque – Estudos sobre o Poder Judiciário. p. 82-83.

Em relação à forma de indicação dos membros que compõem uma corte constitucional, Jorge Miranda identifica oito modalidades de indicação, indo de indicação exclusiva pelo Parlamento ou pelo chefe do Executivo, outras vezes uma parte sendo indicada pelo Parlamento e outra pelo Executivo, outras vezes indicação conjunta desses dois poderes etc.97

No mesmo sentido, Alexandre de Morais justifica a necessidade de uma composição política dos tribunais constitucionais porque a decisão visa a assegurar a supremacia da constituição e os atos do Parlamento que representam a vontade popular. Assim, entende que a indicação deve obedecer a três requisitos, a saber: pluralismo, ou seja, deve representar todas as classes, incluindo a proteção aos grupos minoritários, com mandato determinado para permitir o rodízio; representatividade, por intermédio do qual se deve exigir a maioria qualificada do parlamento para a indicação dos membros da Corte Constitucional e; complementariedade, ou seja, a necessidade de que o juízes tenham tido experiências distintas anteriormente, seja na magistratura ou em qualquer outro campo de atuação na seara do direito98.

Esses requisitos podem ser importantes em uma Corte constitucional que analise exclusivamente a constitucionalidade das normas, esteja ela vinculada ao Poder Judiciário (como ocorre na Alemanha) ou não (a exemplo do Tribunal Constitucional Português), entretanto, deve-se questionar se essa composição política se deve aplicar a Corte que tem dupla natureza jurídica, como a que ocorre no Supremo Tribunal Federal do Brasil.

É que o STF, embora seja uma corte constitucional, no sentido de que cabe a ele a última palavra em matéria de controle de constitucionalidade de normas é também o órgão e a cúpula do Poder Judiciário como competência que excede em muito a fiscalização das normas, abrangendo inclusive matéria penal em competência originária.

No Brasil, o Supremo Tribunal Federal não se limita a apreciar a constitucionalidade das normas, como ocorre com o Tribunal Constitucional Português, pelo contrário, após superar essa fase ele mesmo passa a julgar a matéria de fundo do caso concreto.

Parece que a situação fica mais preocupante ainda, porque os ministros são de indicação exclusiva do Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sem um prazo fixo para o término, pelo contrário, uma vez empossados passam a ser vitalícios, e tampouco há exigência de que a indicação deva observar necessariamente a experiência

97 MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional, Tomo VI. p.132.

jurídica e profissional pregressa, de forma que sua composição plenária pudesse representar as diversas correntes e interesses jurídicos, sendo possível que entre todos os integrantes da Corte nenhum deles tenha sequer sido magistrado de carreira ou mesmo membro do Ministério Público.

A exigência genérica de notório saber jurídico não diz muita coisa e não é razoável que a simples conclusão do curso de bacharelado em direito preencha esse requisito, principalmente em um país em que os cursos de direito se multiplicaram na última década sem um controle efetivo da formação acadêmica desses alunos.