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3.2 Do Controle de Constitucionalidade em Grau Recursal

3.2.1 Do tribunal constitucional

O Tribunal Constitucional português foi criado por ocasião da segunda revisão constitucional levada a cabo nos anos de 1981/1982, dispondo o art. 221 da CRP que é o "tribunal ao qual compete especificamente administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional".

Ele é composto por 13 ministros, sendo dez designados pela Assembleia da República e três cooptados por seus próprios membros. A sua composição terá, necessariamente, pelo menos 6 membros juízes de carreira, oriundos dos demais tribunais, independentemente de que tribunal ou grau de jurisdição estejam, e os demais devem ser juristas com doutorado ou licenciatura em Direito (art. 13 da Lei de Organização do Tribunal Constitucional).

Os membros designados pela Assembleia da República devem ser indicados perante o Presidente da Assembleia por no mínimo 25 e, no máximo. 50 deputados, com o devido aceite do candidato, sendo eleito aquele que obtiver 2/3 dos votos dos presentes, desde que respeitada a maioria absoluta dos deputados em atividade. Os três cooptados pelo próprio Tribunal serão indicados pelos 10 outros eleitos pela Assembleia, por voto secreto, exigindo- se o quórum mínimo de 7 votos para a designação.

Os juízes do Tribunal Constitucional tomam posse perante o Presidente da República, que não tem maiores participações no processo de escolha. Ao contrário do que ocorre no Supremo Tribunal Federal Brasileiro, que exige idade mínima para ingresso de 35 e máxima de 65 anos, o Constituinte Português não fixou idade como requisito para o cargo.

Também em relação à duração do mandato, enquanto no Brasil ele é indefinido, exceto pela aposentadoria compulsória aos 75 anos de idade, como ocorre com os demais juízes, em Portugal o prazo é fixado em 9 anos e não pode ser prorrogado.

Em uma análise preliminar, parece que a opção do legislador português, ao exigir que pelo menos 6 dos membros de seu Tribunal Constitucional fossem oriundos de juízes com alguma experiência na função de julgador, constitui uma escolha mais acertada que a brasileira, porquanto, pelo menos em tese, espera-se que tais julgadores tomem decisões mais

de cunho técnico-jurídico do que os demais que são, sabidamente, decorrentes de escolhas políticas advindas do embate de força típica dos parlamentos.

No caso brasileiro, como a Constituição exige apenas que o candidato tenha notório saber jurídico e reputação ilibada, pode ocorrer que nenhum dos seus integrantes, ou apenas alguns poucos, seja magistrado com experiência prévia na judicatura, como ocorre na atual composição do Supremo Tribunal Federal, em que não mais que dois ministros foram juízes de carreira.

Não se ignora, contudo, que na prática a opção portuguesa pode não produzir nenhuma diferença, caso os membros da judicatura indicados forem também escolhidos pela sua opção política, como chama a atenção António de Araújo ao analisar a escolha dos juízes decorrentes da cooptação pelos demais membros da Corte.161

O presidente e o vice-presidente do Tribunal são eleitos por seus pares e exercerão suas funções por um período corresponde à metade do mandato de um juiz do Tribunal e podem ser reconduzidos.

A Corte, em sua organização interna poderá funcionar em sessões plenárias ou por uma de suas três seções não especializadas, sendo que cada uma delas é composta pelo presidente ou vice-presidente do Tribunal e por mais quatro juízes, designados pelo Tribunal no início de cada ano judicial, sendo exigido o quórum mínimo, equivalente à maioria dos respectivos membros em efetividade nas funções.162

Questão também de relevância diz respeito a determinar a natureza jurídica do Tribunal Constitucional Português, ou seja, saber se ele é órgão de cúpula do Poder Judiciário e se é um Tribunal Superior como os demais, especializado apenas em matéria constitucional.

É certo que a Constituição Portuguesa, embora não diga expressamente a posição jurídico-constitucional, expressamente o reconhece como sendo um tribunal,163 entretanto, não é unânime a doutrina quanto à sua natureza jurisdicional, porquanto, embora detenha competência jurisdicional, também a tem em matéria extrajudicial (art. 225, 2, "a", "b" e "d",

161 ARAUJO, António de - O Tribunal Constitucional. p. 35

162 As informações quanto à composição e funcionamento do Tribunal Constitucional estão reguladas na Lei

Orgânica do Tribunal Constitucional, Lei n° 28/82, disponível no endereço eletrônico: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=423&tabela=leis. Acesso em: 24 ago. 2018.

tem composição e indicação política de seus membros, enquanto outros entendem que é natureza jurisdicional, na medida em que as decisão decorrem de um processo judicial.164

No mesmo sentido, é magistério de Pedro Rosário do Trovão ao afirmar que “na ordem jurídica portuguesa a actividade do Tribunal Constitucional restringe-se à apreciação, em diversas condições, da conformidade constitucional de normas jurídicas...”.165

Certo é que a natureza do Tribunal Constitucional não é idêntica à do Supremo Tribunal Federal Brasileiro, na medida em que este, por ser órgão de cúpula do Poder Judiciário, ao apreciar a inconstitucionalidade no caso concreto, sua decisão substitui a do tribunal a quo, inclusive quanto ao mérito do direito material discutido, enquanto naquele apenas se reconhece a constitucionalidade/inconstitucionalidade e devolve o processo para que o tribunal de origem prossiga na análise da matéria de fundo.

Uma vez analisados os elementos do Tribunal Constitucional, cabe agora a análise do instrumento jurídico previsto pelo legislador que assegura a forma como esse Tribunal atua no controle difuso de constitucionalidade.