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Da concentração à dispersão: jeito de ser Krikati

No documento ILMA MARIA DE OLIVEIRA SILVA (páginas 125-130)

2 POVO KRIKATI: os que habitam a chapada

2.6 Da concentração à dispersão: jeito de ser Krikati

A concentração do povo Krikati na aldeia São José foi alterada com a demarcação da terra indígena após um longo processo de disputa com não indígenas. Ladeira sublinha que a retração de um grupo indígena será alterada com a segurança que a demarcação de suas terras proporcionará. Nesse sentido, deve-se prever a possibilidade de expansão do grupo e novas cisões “porque esta é a maneira tradicional que os Timbira utilizam para ocupar suas terras. Mas para que um grupo possa subdividir-se, se reproduzir, precisa ter acesso às terras que já ocupou” (LADEIRA,1989, s/p).

A população Krikati é de 1.016114 pessoas que habitam seis aldeias: São José, Raiz, Jerusalém, Campo Alegre, Arraia e Recanto dos Cocais. Esta última é habitada por

113O Conselho do qual trata o senhor Urbano é denominado de “Conselho Indígena Pep`cahay Krikati” – CIPK –

que é formado por anciãos e caciques. Estes últimos podem ser tanto os que já exerceram a função, quanto os atuais. A função do CIPK é analisar, julgar e tomar decisões em favor do bem viver da comunidade. Tudo que pode vir alterar o cotidiano da aldeia, como penalidades, destituição de funções [de caciques, diretores de escola, professores], atitudes de reação contra o Estado e não indígenas, entre outras situações em que o CIPK reúne a comunidade no Centro do pátio da aldeia para discutir as questões e socializar as decisões.

remanescentes do povo Guajajara. O mapa (Figura 13) apresenta a localização de cada aldeia no Território Krikati:

Como já referido neste trabalho, existem muitos fatores que contribuem para a dispersão do povo Krikati dentro do próprio território. O mapa nos mostra que a construção de novas aldeias (entre 1998 e 2011) se dá em pontos estratégicos como forma de continuar o processo de desintrusão e monitoramento do território pelos invasores. Entendemos também ser uma estratégia, principalmente das lideranças políticas, para que as aldeias se localizem o mais próximas dos municípios circunvizinhos aos quais pertencem e com isto, facilitar políticas de benefícios para as aldeias em particular, e para o território, no coletivo.

2.6.1 Estrutura das aldeias dos, Timbira

As aldeias no território indígena krikati preservam a estrutura da circularidade, padrão em todas as aldeias Timbira, como mostra a figura abaixo.

Figura 14: Estrutura das aldeias Timbira

Nimuendajú (1944, p. 41) assinala que uma das características predominantes para os povos indígenas pertencentes aos Timbira é a forma circular de suas aldeias. “Enquanto os Timbira ainda possuírem sua consciência étnica não os deixarão persuadir esta forma de habitar em conjunto, intimamente ligada a uma organização social e cerimonial”.

Nessa estrutura, as aldeias são divididas em duas metades (a parte de baixo e a parte de cima, como os Krikati se referem a tal configuração). Estas metades são divididas por uma linha imaginária que, por sua vez, correspondem às duas estações do ano: chuvosa e seca. Eles as subdividem em duas metades menores, formadas por três círculos concêntricos, como mostra a gravura: o externo, formado pelas casas, um caminho circular que separa o círculo das casas e o pátio central115.

O centro do círculo – pátio central – denominado (Ka), também chamado de “lugar dos homens”, tem 30 metros de diâmetro e deve estar sempre limpo, preparado para as rodas de conversas, danças, cantorias e outras formas de manifestação da cultura. Neste, o Conselho Indígena, caciques e comunidade se reúnem para tomar as decisões relativas à aldeia e planejar atividade. A ligação do pátio com as casas é feita por caminhos retos de 2 a 5 metros de largura que Nimuendajú (1944) denominou de “caminhos radiais”.

Nimuendajú (1944), Lave (1967), Melatti (1978) e Ladeira (1989) afirmam que a fundação de uma aldeia para os povos Timbira inicia-se pela escolha do espaço. Assim, é comum atenderem alguns critérios como o chão ser plano no alto dos campos e o solo não ser pedregoso nem arenoso. Deve ser formado de argila dura, pois sobre areia e pedras é impossível dançar com a segurança que os cerimoniais Timbira exigem. O lugar não pode ser distante mais de um quilômetro do curso de água e, nas proximidades, deve haver mata ciliar preservada para o plantio de roças por um período de aproximadamente dez anos.

Diante da política de demarcação de terras indígenas, recente e morosa no Brasil, alguns critérios elencados pelos autores, como as fontes de água e matas ciliares, se restringem a pouquíssimas terras demarcadas. Estas, em sua maioria, quando homologadas, se encontram em estado de devastação pela intervenção anterior dos não indígenas e desenvolvimento de atividades que não condizem com políticas internas dos indígenas.

A ocupação das terras indígenas krikati, durante dois séculos116, por não indígenas, proporcionou a devastação da fauna, flora e o desaparecimento de algumas fontes de água.

115 Pátio central é o lugar da vida ritual, onde os homens se reúnem ao nascer e ao pôr do sol. O pátio é, por

definição, indivisível: uma metade não é nada sem a outra (NIMUENDAJÚ, 1944).

116 Desde o seu aparecimento nas fontes históricas, por Francisco de Paula Ribeiro em 1815, assim como em

Nimuendajú (1944, 1946), entre outros autores, encontramos que os Krikati vivem em conflitos com os não indígenas em defesa de seu território. Se os Krikati afirmam que nunca saíram de suas terras, proposição

Embora a natureza tenha a capacidade de se restabelecer, atualmente os efeitos dessas intervenções são visíveis. A falta de caça, peixe e recursos naturais trazem mudanças significativas na organização social e do bem viver dos Krikati.

Diante de uma cultura sempre em movimento, os Krikati lutam diariamente para alimentarem seus valores étnicos e culturais. Criam possibilidades de viverem suas tradições, festas, rituais e outras atividades sem afugentar as trocas de experiências e contatos com outros povos.

confirmada por historiadores e antropólogos, isto significa que suas terras sempre foram invadidas por posseiros e fazendeiros.

No documento ILMA MARIA DE OLIVEIRA SILVA (páginas 125-130)