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4.2 DO NÃO CONHECIMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS E DA SUA

4.2.3 Casos destacados do não conhecimento

4.2.3.3 Dos embargos manifestamente protelatórios

4.2.3.3.5 Da multa e da negativa do efeito interruptivo

É a multa e não a perda do efeito interruptivo a sanção prevista na lei para os embargos de cunho meramente protelatórios. (ORIONE NETO, 2009, p. 401-402)

Neste contexto, Theotônio Negrão e José Roberto F. Gouvêa (2007, p. 708) citam precedente da Corte Especial:

Consoante regra inserta no art. 538 do CPC, os embargos de declaração, ainda que considerados incabíveis, interrompem o prazo para a interposição de outros recursos; a penalidade prevista pela protelação é apenas pecuniária (RSTJ 183/21: Corte Especial, ED no Resp 302.177).

No mesmo sentido, seguem abaixo julgados provenientes do Superior Tribunal de Justiça:

O STJ já definiu que a pena para os embargos de declaração protelatórios não é a suspensão do benefício processual da interrupção do prazo, mas, sim, a pecuniária. Precedentes (STJ - 3ª Turma - REsp nº 590.179/RS - Rel. Min. Nancy Andrigui- unânime - j. 18.08.2005 - DJU 13.02.2006 - p. 793)

A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a oposição de embargos declaratórios, mesmo quando não conhecidos ou considerados protelatórios, tem o condão de interromper o decurso do prazo recursal. (STJ - 3ª Turma - AgRg nos EDcl no REsp nº 492.936/RS - Rel. Min. Antônio de Pádua - unânime - j. 16.09.2004 - DJU 22.11.2004 - p. 331)

Conclui, então, Orione Neto (2008, p. 402) que o magistrado não está autorizado por lei a negar o efeito interruptivo dos prazos recursais como sanção aplicável à conduta procrastinatória do embargante.

Entretanto, Luis Guilherme Aidar Bondioli (2007, p. 295-297) ensina que apesar de não encontrar respaldo no vigente Código de Processo Civil, em circunstâncias excepcionais, os tribunais pátrios têm aplicado uma sanção drástica aos embargos manifestamente protelatórios, qual seja seu não-conhecimento e a sustação do efeito de interromper o prazo para a interposição de outros recursos.

Tal medida extraordinária, como bem explica o autor, tem se mostrado necessária, em determinados casos, a fim de preservar a efetividade e a tempestividade da prestação jurisdicional, removendo obstáculos criados pelo embargante protelador ao natural desfecho do processo.

Entretanto, pondera o autor, alertando que essa medida excepcionalíssima deve ser utilizada única e exclusivamente nos casos em que as demais sanções previstas no art. 538 do Código de Processo Civil – multa de até 1% do valor da causa e sua majoração para até 10% nos casos de reiteração – tenham se mostrado ineficazes.

Em outras palavras, o autor coloca que, no seu entender, a decisão que julga os embargos declaratórios somente poderá negar o efeito interruptivo dos prazos recursais a partir dos terceiros embargos, quando as sanções anteriores não tiverem sido capazes de coibir o caráter manifestamente protelatório do embargante malicioso e; além disso, mostrar-se evidente o intuito de fraude processual.

O entendimento de Bondioli, também é compartilhado por Mantovanni Colares Cavalcanti (2004, p. 87):

Talvez não se devesse descartar a possibilidade de se impedir essa imediata interrupção do prazo em situações flagrantemente protelatórias ou abusivas, ou seja,

dever-se-ia deixar mais a critério do julgador decidir caso a caso se os embargos de declaração gerariam esse efeito de interrupção do prazo para outros recursos [...].

O autor supracitado sugere como possível solução a interrupção do efeito interruptivo pelo simples oferecimento dos embargos; mas a possibilidade do magistrado, no momento do recebimento do referido recurso, de expressamente não conceder o benefício, mediante decisão fundamentada, nos casos de ausência de alicerce jurídico ou evidente intuito protelatório. Essa atividade, segundo o autor, funcionaria como parte integrante do juízo de admissibilidade dos declaratórios.

Nesse sentido, foi a interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal ao dar eficácia imediata à decisão embargada, admitindo a possibilidade de negar efeito interruptivo aos embargos de declaração, se protelatórios:

Embargos de declarações: alegações de grosseira impertinência, a evidenciar [...] o intuito protelatório: determinação de imediato cumprimento da decisão recorrida, independentemente da publicação do acórdão e de eventual interposição de novos embargos de declaração ou qualquer outro recurso precedente (Emb. Decl. em Emb. Decl. em Agr. em Agr. n. 260.266-0/Paraíba, rel, Ministro Sepúlveda Pertence, j. 16- 5-2000).

Julgados das Câmaras Comerciais do Tribunal de Justiça de Santa Catarina tem se utilizado de fundamentação análoga:

ALEGAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE OMISSÃO EM RELAÇÃO À MATÉRIA QUE SEQUER FOI OBJETO DAS RAZÕES DO AGRAVO INOMINADO. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA A INTERPOSIÇÃO DE OUTROS RECURSOS. DESCABIMENTO. [...] em que os embargos são conhecidos e rejeitados porque protelatórios, a doutrina e a jurisprudência vêm afastando o seu efeito interruptivo, ainda que em caráter excepcional, com muito mais razão esse entendimento se aplica aos casos como o presente, em que sequer são conhecidos por ausência de pressuposto processual. [...] De fato, constata-se que o recurso está sendo utilizado como óbice à eficácia da prestação jurisdicional, razão pela qual deve-se reconhecer que, neste caso, está caracterizada hipótese excepcional autorizadora da não interrupção dos prazos recursais. (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 2009)

A decisão supracitada, trazida ao presente trabalho, representa, mesmo que de forma excepcional, uma tendência em afastar o efeito interruptivo nos casos em que os embargos de declaração, manifestamente protelatórios, estejam desprovidos de algum pressuposto processual que implique no seu não conhecimento. Tendência essa a fim de preservar e garantir a eficácia da prestação jurisdicional.

Relacionado também ao exposto, acórdão do Supremo Tribunal Federal:

A utilização dos embargos declaratórios com a finalidade ilícita e manifesta de adiar a efetividade de decisão proferida pelo Tribunal, em aberta tentativa de fraude processual, enseja o não conhecimento desses embargos e a concessão excepcional de eficácia imediata àquela decisão, independente do seu transito em julgado. Essa

orientação foi adotada no julgamento de terceiros embargos declaratórios opostos por vereador cuja diplomação fora anulada em sede de recurso extraordinário e que, encontrando-se no exercício do mandato, procurava, através desse expediente processual, manter-se no por mais tempo (BRASIL. Supremo Tribunal Federal, 1995).

Da mesma forma, haure-se o julgado supracitado a possibilidade de concessão excepcional de eficácia daquela decisão, uma vez que ficou constatada pelo órgão judiciário a utilização dos embargos declaratórios com a finalidade diversa da que lhe foi atribuída por lei, no sentido de adiar de forma injustificada a prestação jurisdicional, implicando manifesta tentativa de fraude processual.

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho de pesquisa cuidou da possibilidade de negativa de concessão do efeito interruptivo aos embargos de declaração que sequer passam pelo juízo de admissibilidade recursal, uma vez que ausente algum dos pressupostos exigidos por lei para que o órgão judiciário proceda à análise de mérito.

O efeito interruptivo, em regra, tem início no momento da oposição dos declaratórios e perdura até o momento da publicação de seu julgamento e destina-se a ambas às partes. Esse é o entendimento que se mostrou majoritário durante esta pesquisa acadêmica: Os embargos de declaração, desde que tempestivos, interrompem os prazos para os demais recursos, independente de terem sido conhecidos ou não, haja vista que a lei não traz nenhuma ressalva ao referido efeito.

Entretanto, verificou-se que a regra da interrupção encontra algumas exceções tanto na doutrina quanto nos precedentes jurisprudenciais.

Quanto aos embargos protocolizados intempestivamente o posicionamento encontrado neste trabalho foi unânime no sentido de entender incabível a concessão do efeito interruptivo haja vista a configuração do instituto da preclusão temporal e levando-se em consideração que se assim não ocorresse haveria uma grande insegurança no sistema jurídico se eventualmente fossem admitidos, a qualquer tempo, que os embargos de declaração intempestivos tivessem o condão de reabrir os prazos recursais.

Outro ponto que se mostrou pacífico foi a impossibilidade de concessão do efeito interruptivo nos casos em que a parte opõe embargos sobre a decisão já anteriormente embargada pela parte adversa e decidida. A justificativa encontrada nestes casos, consiste na impossibilidade de recorrer de matéria já preclusa.

A inobservância da regularidade formal apresentou-se também como uma das hipóteses de discussão. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça demonstraram a possibilidade de não se conceder a interrupção dos prazos quando os embargos forem carentes de procuração, assinatura do procurador, ou, nos casos em que a parte se utiliza do recurso de fac-símile; quando a cópia não corresponde ao original ou quando o original não é protocolizado dentro do prazo previsto em lei.

Outro ponto discutido consistiu na possibilidade de negar-se o efeito interruptivo nos casos em que o embargante utiliza-se do recurso para obter fins ilícitos ou protelatórios a fim

de obstar a efetividade da prestação jurisdicional e, de maneira injustificada, pretende postergar a natural conclusão do processo.

Para esses casos, o próprio Código de Processo Civil já prevê as sanções específicas, quais sejam a multa de 1% sobre o valor da causa, assim como sua majoração nos casos de reiteração, a condicionamento da comprovação do prévio pagamento daquele montante como requisito de admissibilidade para os recursos seguintes, além das penas previstas ao litigante de má-fé, quando assim o embargante for enquadrado.

Todavia, demonstrou-se no decorrer do presente trabalho, uma tendência, mesmo que ainda “tímida” no sentido de negar o efeito interruptivo aos embargos de declaração considerados meramente protelatórios. Extraordinária hipótese esta, que não encontra expresso amparo legal, mas que é fundamentada pelos magistrados através de uma análise sistemática do direito, levando-se em consideração a importância da medida no sentido de preservar a efetividade e a tempestividade de prestação jurisdicional a fim de remover os obstáculos criados pelo embargante protelador ao natural desfecho do processo.

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