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Luís Eduardo Simardi Fernandes (2003. p. 66-67), faz um breve registro histórico sobre o efeito interruptivo dos prazos recursais.

Ensina o autor, que a redação original do art. 862, § 5º, do Código de Processo Civil de 1939, preconizava a não interrupção dos prazos recursais por embargos declaratórios rejeitados. Essa negativa ao referido efeito teria, então, o intuito de evitar a utilização do recurso com fins protelatórios.

Entretanto, comenta o autor, que em 1946, por força do Dec. Lei 8.570, foi dada uma nova redação ao mencionado dispositivo processual, que passou a prever apenas a suspensão dos prazos para interposição de outros recursos pela oposição dos embargos de declaração, ressalvados, também, os casos de manifesta protelação.

Hodiernamente, na opinião do doutrinador, o efeito interruptivo dos prazos recursais decorre simplesmente da oposição dos embargos de declaração, independente de seu recebimento ou acolhimento. Essa medida teria o afã de impedir um clima de grande incerteza e séria insegurança jurídica quanto aos prazos recursais.

Como bem ressalta Sérgio Gilberto Porto e Daniel Ustárroz (2008, p. 190), o artigo 538 do Código de Processo Civil consagra o efeito interruptivo próprio dos embargos de declaração, uma vez que, do referido artigo, depreende-se que a simples interposição dos embargos declaratórios ensejam a interrupção dos prazos para a interposição de outros

recursos. Além disso, lembram os doutrinadores que o benefício da interrupção cabe às duas partes, haja vista que com o julgamento dos embargos a decisão embargada pode ser alterada.

Nesse sentido, os autores deixam claro que a interposição de embargos declaratórios implica, indubitavelmente, em hipótese de interrupção dos prazos recursais e não de suspensão. Diferenciam os dois institutos, explicando que, por efeito da interrupção, após a publicação do julgamento dos embargos, o prazo para a interposição de outros recursos recomeçará a contar integralmente, não se descontando os dias de prazo transcorridos até a protocolização dos declaratórios, como na hipótese de suspensão.

Araken de Assis (2008, p. 621) lembra que nos juizados especiais a oposição de embargos de declaração não interrompe os prazos recursais, apenas os suspendem por observância de lei específica (art. 50 da Lei 9.099/95).

Sérgio Gilberto Porto e Daniel Ustárroz (2008, p. 190) evidenciam que independente dos embargos versarem sobre toda a decisão ou apenas uma parte dela, opera-se o efeito interruptivo integralmente e para ambas as partes.

Destacam, ainda, outro ponto importante acerca da irrelevância do conhecimento ou não dos embargos de declaração para fins da concessão do efeito interruptivo, em outras palavras, independente do magistrado reconhecer os vícios de omissão, obscuridade ou contradição no ato jurisdicional, a simples interposição do recurso já basta para que se configure o referido efeito.

Todavia, alertam que a regra de concessão da interrupção dos prazos recursais cíveis não é absoluta, e excepcionam a hipótese não conhecimento dos embargos declaratórios por intempestividade, neste caso não há de se falar em efeito interruptivo, tendo-se em vista que a possibilidade de reabertura de prazo nesses casos impediria a segurança jurídica da coisa julgada.

4.1.1 Objeto do efeito interruptivo

Araken de Assis (2008, p. 621-622) explica que como objeto do efeito interruptivo estão os prazos dos recursos que tanto podem reformar quanto invalidar o ato impugnado, aplicando-se também aos embargos de declaração de qualquer outro que tenha legitimidade para recorrer.

Alerta, porém, que a jurisprudência dominante do STJ entende que uma vez julgados os embargos de declaração, a outra parte somente poderá embargar do que foi objeto desta última decisão. Em outras palavras, a matéria que não foi anteriormente embargada não pode ser impugnada por posteriores embargos, da parte adversa.

Sobre o exposto, segue julgado do Superior Tribunal de Justiça:

Da análise do artigo 296 do Código de Processo Civil, conclui-se que a interrupção do prazo decorrente da oposição de embargos de declaração não inclui a oposição de novos declaratórios. Isso porque a norma é clara e precisa quando se refere a "outros recursos". Há de se entender que, se a parte não teve interesse em aclarar algum vício quando lhe foi dada a oportunidade, não seria crível que lhe fosse proporcionada outra ocasião para que, segundo sua conveniência, resolvesse embargar. (REsp 509616 / SC, rel. Min. Franciulli Neto)

Seguindo a mesma linha de pensamento, Guilherme Aidar Bondiolli (2007, p. 208- 209), ensina que o único prazo que não é objeto do efeito interruptivo recursal é o estipulado para o embargado opor embargos contra a própria decisão anteriormente embargada e já decidida.

Da mesma forma, segue o julgado da Ministra Denise Arruda:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO. INTERRUPÇÃO. PRAZO. REGRA GERAL.

DECLARATÓRIOS CONTRA A MESMA DECISÃO. EXCEÇÃO. 1. Conforme entendimento pacificado, os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de quaisquer outros recursos para ambas as partes, exceto o de embargos declaratórios contra a mesma decisão. 2. Recurso especial não-conhecido. (REsp 749.053/RS, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/09/2007, DJ 12/11/2007 p. 159).

Comenta, também, que não faria sentido que o julgador fosse provocado a extirpar vícios existentes em um provimento jurisdicional e após a publicação da decisão nos embargos, fosse novamente instado a fazê-lo, a não ser que agora os vícios alegados sejam decorrentes do seu último pronunciamento.

É o que se haure da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OPOSIÇÃO CONTRA ACÓRDÃO PROLATADO EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CABIMENTO. PRAZO. LIMITES. Os embargos de declaração não interrompem o prazo para a oposição de embargos declaratórios à decisão já embargada pela parte contrária. Jurisprudência da Corte. É possível opor-se embargos de declaração contra acórdão prolatado em embargos declaratórios, evidentemente limitados à matéria veiculada no próprio acórdão embargado. Se o seu objetivo claro é o de remontar-se ao primitivo acórdão então embargado, trazendo matéria já preclusa, na tentativa de, com isso, suprir omissão de sua parte, que não o impugnara no momento adequado, impõe-se a sua inadmissão. Embargos rejeitados. (RE n. 209017/ RS, rel. Min. Ilmar Galvão, j.16.06.98).

Orione Neto (2009, p. 390) lembra também que para manejar os segundos embargos declaratórios é necessário que os vícios apontados sejam diferentes, haja vista que o sistema jurídico, salva expressa exceção legal, não permite que o mesmo ato processual seja praticado mais de uma vez em virtude da preclusão consumativa.

Seguindo o mesmo entendimento, já decidiu a 1º Turma do Supremo Tribunal Federal: Os segundos embargos de declaração só são admissíveis se os vícios neles apontados e compatíveis com sua natureza se alegam como existentes no acórdão que julgou os primeiros embargos, e não quando se volta a repisar o que já foi sustentado nestes e por ele rejeitado” (AG. 210.773-6-DF-AGRG-EDECL., 1ºTURMA DO STF, REL. MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJU DE 25-06-1999, P. 26)

Orione Neto (2009, p. 390) arrebata o assunto afirmando que tampouco é admissível a oposição de embargos declaratórios a fim de atacar decisão em embargos declaratórios, arguindo pela primeira vez a existência de qualquer defeito inerentes à decisão antes embargada. Em suma, entende o autor que para embargar-se de declaração uma decisão que julga os embargos, é necessário que o novo recurso tenha como hipótese de cabimento vícios que tenham surgido com o último pronunciamento judicial.

4.1.2 Contagem do prazo

Comenta, Barbosa Moreira (2006, p. 561-562), que o Código de Processo Civil de 1973, em sua redação original, previa dois prazos diferentes para a interposição dos embargos de declaração, de acordo com o provimento jurisdicional a ser embargado.

Segundo o autor, naquela época, as decisões de primeiro grau poderiam ser embargadas em quarenta e oito horas; já os acórdãos, em cinco dias.

Hodiernamente, com o advento da Lei n. 8.950/94, houve uma uniformização da disciplina estabelecendo, então o prazo de cinco dias para a interposição dos embargos de declaração cível, contados da intimação da decisão a ser embargada.

Araken de Assis (2008, p. 622) ensina que a contagem dos referido prazo está sujeito às mesmas regras do artigo 184 do Código de Processo Civil, excluindo-se o dia do começo e incluindo o do vencimento; e, também, a prorrogação até o primeiro dia útil sempre que o prazo findar em feriado, dia em que for determinado o fechamento do fórum ou o encerramento do expediente forense antes do horário convencional.

Explica o autor que, como corolário do efeito interruptivo, o prazo para interpor os demais recursos cabíveis à decisão embargada recomeçará a contar por inteiro a partir da publicação da decisão que julgou os embargos.

Entretanto, lembra, também, que como exceção à regra, têm-se os juizados especiais, onde não há interrupção de prazo para interposição de outros recursos, apenas a sua suspensão e que nesses casos, para efeito de restituição do prazo não se conta o dia da interposição do recurso, ou seja, protocolizando-se os embargos no quinto dia do prazo; a partir da publicação da decisão dos embargos, serão descontados do prazo recursal apenas 4 (quatro) dias.

4.1.3 Destinatários

Araken de Assis (2008, p. 623-624) esclarece que não existem dúvidas de que a interrupção dos prazos recursais pela interposição dos embargos declaratórios beneficia a qualquer das partes, equiparando, nesse aspecto, o embargado e aos terceiros ao embargante.

Em outras palavras, Orione Neto (2009, p. 392-393) ensina o prazo recursal, pela oposição de embargos declaratórios, permanece interrompido até seu julgamento e a respectiva intimação das partes, voltando a fluir – para todos elas – como se jamais tivesse fluído antes da interrupção.

De acordo com Araken de Assis (2008, p. 623-624) consideram-se tempestivos os recursos protocolados dentro – após o início e antes do término – do prazo. Entretanto, não parece razoável, no entendimento do autor, que o recurso protocolizado pelo embargado enquanto pendente julgamento de embargos de declaração seja considerado intempestivo por prematuridade, haja vista que não há intimação formal da interposição de embargos declaratórios e que seu efeito interruptivo opera-se automaticamente.

Nesses casos, explica o autor, que o recomendável é admitir o recurso do embargado e após a publicação assegurar-lhe a ratificação do recurso ou a sua complementação, que no caso deverá restringir-se ao que foi objeto da aclaração promovida pela decisão dos embargos. Nesse sentido versa a súmula nº 418 do Superior Tribunal de Justiça: “É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação”.

4.2 DO NÃO CONHECIMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS E DA

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