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Este tópico tratará dos efeitos decorrentes dos embargos declaratórios.

3.5.1 Do efeito devolutivo

Fredie Diedier Jr. e Leonardo José Carneiro da Cunha (2008, p. 184) comentam que apesar de parte minoritária da doutrina entenderem que os embargos de declaração não são dotados de efeito devolutivo por não devolverem a matéria à apreciação de uma instância superior, depreende-se da teoria geral dos recursos que o efeito devolutivo decorre da interposição de qualquer recurso e que a devolução do reexame da decisão atacada pode ser tanto para um órgão de instância superior como para o mesmo órgão prolator da decisão recorrida.

Defendem, os autores, a inerência do efeito devolutivo aos embargos de declaração; uma vez que, como corolário do referido efeito, tem-se o impedimento da preclusão da decisão recorrida e da formação de coisa julgada.

3.5.2 Do efeito suspensivo

Fredie Diedier Jr. e Leonardo José Carneiro da Cunha (2008, p. 185) afirmam que doutrinariamente é pacífico o entendimento de que os embargos de declaração são dotados de efeito suspensivo da eficácia da decisão embargada.

Nesse sentido, lembram que do direito processual brasileiro tem como regra o reconhecimento do efeito suspensivo aos recursos em geral; haja vista que as exceções são expressamente configuradas no texto da lei; como, por exemplo, nos casos de recurso especial e extraordinário.

Sendo assim, concluem os autores por não haver nenhum dispositivo que negue expressamente o referido efeito aos embargos de declaração; são, a princípio, dotados de feito suspensivo da eficácia da decisão embargada. Ressalvam, porém, afirmando que o tema não é simples.

Sobre o assunto, Flávio Cheim Jorge (2007, p. 262-264) explica que cada recurso possui cabimento correspondente a determinado tipo de decisão; e, de acordo com a natureza da decisão, o legislador previu as hipóteses de concessão, ou não, de efeito suspensivo ao recurso correspondente.

Com isso, de acordo com o autor, não há de se falar em efeito suspensivo pela interposição dos embargos de declaração contra decisões que não admitem recurso próprio dotado de efeito suspensivo, como nos casos de decisões interlocutórias, acórdãos objetos de recurso especial ou extraordinário, sentenças em processo cautelar, liminares, entre outras.

3.5.3 Do efeito expansivo

Como já mencionado no tópico 1.5.3 do capítulo 1 do presente trabalho e, conforme ensinamento de Sandro Marcelo Kozikoski (2008, p. 122), o efeito expansivo é aquele que possibilita ao julgamento dos recursos, em caráter excepcional, surtir efeitos além da esfera jurídica do recorrente, alcançando terceiros.

No caso específico dos embargos de declaração, Fredie Diedier Jr. e Leonardo José Carneiro da Cunha (2008, p. 185) lembram que a interposição daquele recurso por uma das partes enseja a interrupção dos prazos recursais para as demais, e que este fato decorre justamente do efeito expansivo subjetivo recursal.

3.5.4 Do efeito translativo

Luis Guilherme Aidar Bondioli (2007, p. 191-193) ensina que, em regra, as obscuridades, contradições, omissões e erros evidentes de julgamento, em sede de embargos declaratórios, são analisadas pelo magistrado somente na medida em que houverem sido ventilados pelo embargante.

Porém, segundo o autor, vem se formando uma tendência a possibilitar que o órgão judiciário conheça também de questões de ordem pública, mesmo que não impugnadas pelo recorrente, como por exemplo: perempção, litispendência e coisa julgada.

Nesse sentido, conclui o doutrinador que nos embargos de declaração, à luz do efeito translativo dos recursos, é possível que o magistrado conheça ex officio das matérias de ordem pública, a fim de sanar essa espécie particular de vício e; assim, fazendo prevalecer o interesse público sobre o particular.

Todavia, alerta Bondioli (2007, p. 194) que o efeito translativo é vinculado a extensão da matéria devolvida. Com isso, nos casos em que os declaratórios versam apenas sobre uma simples inexatidão material ou pequena obscuridade, não será devolvida ao magistrado a análise de todas as questões de ordem pública relacionadas com objeto da ação.

3.5.5 Do efeito substitutivo

No entendimento de Araken de Assis (2007, p. 637-638) uma vez vencida a barreira do juízo de admissibilidade nos embargos de declaração, a decisão de seu julgamento substituirá, total ou parcialmente, o provimento impugnado, no tocante ao defeito típico ou atípico embargado.

Ensina, também, o autor, que nos casos de admissão do efeito modificativo nos embargos de declaração, negar-lhe o efeito substitutivo implicaria em grave contradição. Conclui, então, afirmando com a premissa de que se os embargos modificam o ato impugnado ou chegam até mesmo a reverter o resultado, substituem-no nessa parte.

Nelson Nery Junior (2002, p. 902) não compartilha do mesmo pensamento. Ensina o autor que os embargos de declaração têm como finalidade completar a decisão omissa ou aclará-la, sanando os vícios de obscuridade e contradições e, por isso, não possuiriam caráter substitutivo da decisão embargada, apenas integrativo ou aclaratório.

3.5.7 Do efeito modificativo

Fredie Diedier Jr. e Leonardo José Carneiro da Cunha (2008, p. 186-186) comentam que o entendimento de que a decisão dos embargos de declaração não podem ter como consequência a alteração da decisão embargada, senão para aclarar obscuridades, eliminar contradições ou suprir omissões, não pode ser visto de forma absoluta.

Explicam, que, atualmente, a doutrina e a jurisprudência vêm aceitando a tese de que apesar da modificação do julgado não poder ser o objeto do recurso de embargos declaratórios, poderá, sim, ser uma consequência do provimento do recurso.

Neste sentido, ensina, José Carlos Barbosa Moreira (2006, p. 564-565), que os embargos de declaração, em regra, limitam-se a relevar o sentido verdadeiro da decisão impugnada, não devendo trazer nenhum tipo de inovação do que já foi decidido.

Todavia, o autor alerta que tal afirmação merece certos reparos, principalmente quando o mérito dos embargos fundamenta-se em omissão judicial. Julgado procedente os embargos para sanar o vício de omissão, evidente que esta decisão inovará a decisão anterior.

Como exemplo, o doutrinador, cita o caso de julgamento de uma ação em que não foi analisada uma determinada preliminar que obstaria o julgamento de mérito. Julgados procedentes os embargos declaratórios para sanar tal vício; e, então, o acolhendo o órgão julgador a preliminar alegada, mostra-se evidente o caráter modificativo do recurso.

Luís Guilherme Aidar Bondioli (2007, p. 221), entende que: “a inaptidão dos embargos a cassar, substituir ou invalidar a decisão embargada não é um obstáculo para que eles produzam alterações no teor da decisão embargada”.

Continua, o autor supracitado, a expor o entendimento de que na medida em que os embargos são cabíveis para sanar imperfeições contidas na tanto na fórmula quanto na idéia do provimento jurisdicional; possuem, sim, força para reabrir o julgamento embargado e produzindo o que a doutrina chama de efeito modificativo

Reconhece, o doutrinador, que a alteração do julgado por força de embargos declaratórios é um efeito meramente secundário e colateral do seu julgamento, mas afirma que trata-se de um efeito, ao mesmo tempo, extremamente necessário para a extirpação de determinadas omissões, contradições e obscuridades contidas nas decisões jurisdicionais.

Nesse momento, indaga o autor, sobre qual seria a relevância dos embargos declaratórios, em determinados casos se não fosse possível atribuir-lhes o efeito modificativo dos julgados:

De que adiantaria reconhecer em sede de embargos que estão ausentes os pressupostos de admissibilidade do julgamento do meritum causae e não poder alterar o decreto de procedência da demanda? De que valeria poder detectar proposições contraditórias no ato embargado e não poder ser permitido extirpar uma delas ou fazer prevalecer um terceiro e coerente pensamento? Qual seria a utilidade de se constatar a mais absoluta ininteligibilidade da decisão e não poder levar a cabo modificações para fazer aflorar raciocínios lógicos e conclusões inteligíveis?” (BONDIOLI 2007, p. 221)

Conclui, então, que o efeito modificativo é uma consequência que não pode ser dissociada dos embargos declaratórios em determinadas circunstâncias, representando uma condição para a extirpação efetiva da imperfeição que vicia a decisão embargada.

Sérgio Gilberto Porto e Daniel Ustárroz (2008, p. 194-196) observam que a jurisprudência vem ampliando as hipóteses clássicas de outorga de efeitos infringentes aos embargos declaratórios – reconhecimento de prescrição, decadência, preliminares, etc – admitindo, também, o efeito nos recursos que objetivam corrigir erros graves de julgamento ou injustiças manifestas.

Contudo, ensina o autor, que em respeito ao princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa, no momento em que o órgão julgador verifica a possibilidade de chance de acolhimento de embargos declaratórios com efeitos infringentes sobre um julgado, deve intimar o embargado a fim de, querendo, manifeste-se previamente ao julgamento. Admitindo-se, assim, a hipótese, mesmo que em caráter excepcional, de contrarrazões em sede de embargos declaratórios.

3.5.6 Do efeito interruptivo

O efeito interruptivo, próprio dos embargos de declaração, será analisado no capítulo seguinte do presente trabalho de forma mais aprofundada.

4 DA INTERRUPÇÃO DOS PRAZOS RECURSAIS CÍVEIS PELA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS

Expressamente previsto no art. 538, caput, do Código de Processo Civil, o efeito interruptivo dos prazos recursais em razão dos embargos declaratórios, segundo Luis Guilherme Aidar Bondiolli (2007, p. 201-202), tem início no momento de sua interposição, perdurando até a publicação da decisão de seu julgamento.

Considera, o autor, uma opção legislativa inteligente ao passo que estimula a apresentação dos recursos específicos ao ato impugnado após a extirpação dos vícios em função dos declaratórios.

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