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5 AS INFORMAÇÕES À LUZ DO DIREITO INTERNACIONAL

5.2 Da Necessidade de um Modelo de Ética para as Informações

Segundo Toni Erskine, porque a pesquisa de informações é um “comportamento

humano que envolve uma escolha e uma decisão”, ela é necessariamente “vulnerável ao escrutínio ético.” (2004, p. 359). Desta perspectiva, infere-se que as informações não se

desenvolvem num vazio moral, mas sim num ambiente controlado, onde os governos de regimes democráticos liberais tomam em consideração certos padrões morais e éticos. Isto

99Trata-se de um acordo informal da autoria do Grupo de Austrália, que visa minimizar o risco de proliferação de armas químicas e biológicas. Para mais detalhes consultar http://www.australiagroup.net/en/introduction.html.

porque em democracia, o povo espera que os governantes por si eleitos orientem a sua política externa de forma ética (Gendron, 2004, p. 409).

A corrente realista entende que o exercício da actividade governativa do Estado desenvolve-se numa lógica de subordinação a uma ética de “responsabilidade”, significando esta que, julga a acção pelas suas consequências numa perspectiva de custo-benefício. A defesa e a realização do interesse nacional obrigam à renúncia, caso necessário, da moral individual. Enquanto o liberalismo, defende um modelo de acção governativa cujas práticas se devem realizar em obediência a uma ética de “convicção”, entendida como aquela que julga da concordância da acção com os princípios morais (Moreira, 1999, p. 107).

Como se ilustrou na Fig.1, o realismo e o liberalismo são os extremos opostos da escala de enquadramento de uma possível teoria das informações, logo, a tentativa para uma definição da sua ética também aí se inclui. Mas estas perspectivas são demasiado rígidas, tendo uma visão das questões morais como se tratasse de algo que fosse «branco ou preto». Claramente, isto não é útil numa actividade que muitas vezes, e usando a mesma metáfora, assume uma tonalidade cinzenta, ou seja, os padrões da moralidade em que a acção se realiza, não são suficientemente vincados. Portanto, qualquer proposta de modelo ético necessita levar em conta a necessidade de flexibilidade e raciocínio moral para criar um modelo prático que permita alcançar os níveis de eficácia desejados, ao mesmo tempo que respeita os padrões morais da sociedade que serve. Desta forma, a aplicação dos princípios da teoria da guerra justa a uma ética das informações afigura-se adequada, por esta ter um sentido mais pragmático, porquanto procura combinar os aspectos da perspectiva realista e liberalista.

A teoria da guerra justa tornou-se um método equilibrado na determinação da legitimação do uso da força nas RI. Esta teoria é apoiada por regras morais e aspirações de carácter idealista, não deixando de reconhecer que o uso da força pelo Estado contra ameaças externas pode ser legitimado desde que os fins sejam justos (leia-se, não sacrificarem os seus interesses vitais) e os meios serem sujeitos a limitações adequadas (Gendron, 2004, p. 409).

Razões pelas quais, ela se dissocia em duas questões fundamentais. A primeira, no quando é legítimo o recurso à guerra - jus ad bellum, cuja resposta repousa na observância dos princípios da: causa justa (considerada a mais importante quando fundada na legítima defesa), intenção justa, autoridade legítima de quem a declarou, probabilidade de sucesso e do último recurso. A segunda, quais as limitações na forma de fazer a guerra - jus in bello, em que esta se deve reger pelos princípios da: proporcionalidade dos meios empregues; da discriminação, no que concerne ao respeito pelas consequências humanas e protecção de não-combatentes; e da

responsabilidade, esta ligada à moralidade positivada pelas convenções de guerra e outros tratados internacionais (Moseley, 2009).

Dadas as semelhanças entre a actividade militar e a das informações, parece plausível, fazer-se uma abordagem às práticas dos SI baseada nesta teoria, em ordem a criar-se um modelo de informações justas, na medida em que ambas, por vezes, actuam de modos considerados inaceitáveis no contexto civil e onde o respeito e a aplicabilidade do Direito Internacional nem sempre se verifica (Pfaff, 2006, p. 67). Para Quinlan, só através desta aproximação é possível tolerar a pesquisa fora de fronteiras (ao contrário das operações cobertas que são condenáveis em quaisquer circunstâncias) que, fazendo uso de métodos e meios secretos e intrusivos, permite justificar e limitar o desrespeito das normas éticas e legais (2007, p. 6). Em auxílio de uma possível resposta à questão deixada em aberto no ponto anterior, recorramos ao contributo original para o desenvolvimento de uma possível teoria de informações justas, através da proposta de Angela Gendron. Esta autora desenvolveu uma matriz (ver tab. 4) que identifica os limites da actividade e métodos adequados a empregar, mediante o grau de „causa justa‟ (2004, p. 427). Sendo esta aqui entendida de igual forma à preconizada na teoria da guerra justa determinada pela natureza da atitude do Estado alvo.

Tabela 4: Modelo de avaliação do grau de intrusão, segundo Angela Gendron.

Para se entender o racional subjacente a este quadro é condição que os Estados visados, para além de estarem envolvidos numa relação contenciosa, também necessitam de representar no mínimo, uma ameaça potencial à segurança para justificar a recolha de informações secretas. Não obstante o valor deste conjunto de princípios orientadores para a forma de actuação dos SI, uma crítica que se pode apontar, é a sua abordagem ser feita na perspectiva deontológica em detrimento da legalista, o que é revelador das dificuldades em estabelecer condições para um «direito à intrusão». Perante a tendência de tornar a actividade das informações mais consentânea com princípios éticos e legais (internos e externos) face aos desenvolvimentos corridos no pós-11SET, existe uma necessidade em adaptar o paradigma da guerra justa, em concreto na sua faceta jus in bello, e construir o conceito de jus in

intelligencia.

CRITÉRIOS NÍVEIS DE ATITUDE DO ESTADO ALVO Natureza do Alvo Hostil Adversário Passivo

Abertura do Regime Político Opaco Permeável Transparente

Avaliação da Ameaça Evidente Potencial Latente

Acção a tomar Dissuadir Clarificar Monitorizar

Natureza da Pesquisa Coberta Coberta Aberta