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A teoria dejouriana mudou desde seu início e durante seu processo de evolução buscou estudar a subjetividade e a dinâmica intersubjetiva do trabalhador inserido em contexto organizacional, utilizando do referencial psicanalítico, para analisar a vivência humana no trabalho, empregando para tanto de uma forma qualitativa de escuta do outro inserido no contexto de trabalho. O início de seus estudos estava voltado para a psicopatologia do trabalho, buscando a relação entre trabalho e adoecimento com a desestabilização da saúde mental, buscando identificar a existência de doenças específicas do trabalho. No entanto se apercebeu que situações de prazer e saúde, com uma aparente normalidade, também podem ser possibilitadas em contextos de trabalho, inserindo situações de normalidade como produto dessa dinâmica, surgindo assim à psicodinâmica do trabalho.

A teoria psicodinâmica tem influências da psicanálise, sociologia e ergonomia. Dentro da sociologia, estuda o impacto das diferentes formas de organização do trabalho na subjetividade do sujeito; da ergonomia, herdou a distinção entre trabalho prescrito e trabalho real, e suas repercussões para o psiquismo. Com relação à psicanálise, a teoria dejouriana inspira-se na noção de sofrimento e angústia, a qual seria originária do sujeito em suas relações com os pais, conforme apontam Lancman e Uchida (2003).

Para Danielou (1989) a ergonomia, com seus estudos, contribuíram de forma decisiva com a teoria do trabalho ao revelar o caráter incontornável do real do trabalho, indicando um intervalo e hiato irredutível entre a tarefa prescrita e real do trabalho.

Mendes e Araújo (2012) apontam a Psicanálise como um ponto importante no diálogo e entendimento da psicodinâmica. Por seu papel de sustentação ao arcabouço teórico, é uma forma de interpretação, por fazer parte da identidade do sujeito estudado e pela forte influencia originada da formação de Dejours como psicanalista, assim os fundamentos da escola Dejouriana são baseados fortemente pela psicanálise.

Segundo Brener (1987) a teoria psicanalítica é um corpo de hipóteses a respeito do funcionamento e do desenvolvimento da mente no homem e a análise psicodinâmica o estudo dos movimentos psico-afetivos. Os conceitos da Psicanálise que são utilizados por Dejours, dentro da abordagem psicodinâmica do trabalho, são aplicados em análises não só da pessoa do trabalhador, mas, sobretudo, nas relações que estabelecem dentro do local de trabalho e com as atividades que realiza. Por isso, as análises feitas por

Freud (1921), em Psicologia de grupo e análise do ego, são fortemente utilizadas como base de estudo das vivências de prazer-sofrimento e as estratégias de defesa contra o sofrimento gerado pela evolução dos conflitos intersubjetivos e intrasubjetivos (DEJOURS, 1994).

A abordagem psicodinâmica do trabalho atua como uma teoria própria, com suas pesquisas, sua fundamentação teórica, sua metodologia de trabalho, mas partindo dos princípios da Psicanálise e contribuindo para a ampliação da compreensão do ser humano, nos seus aspectos não só psíquicos, mas sociais e relacionais. Para Chanlat (1996), o pensamento, a palavra e a linguagem eram dimensões até então esquecidas, que ressurgem e esclarecem o comportamento humano nas organizações. No estudo psicodinâmico do trabalho, a palavra é tida como recurso fundamental de interpretação e de compreensão das vivências de prazer-sofrimento.

Conforme afirma Chanlat (1996), tomando por base as descobertas da Psicanálise, principalmente as do inconsciente realizadas por Freud, as ações humanas passaram a apresentar algo mais que o visível, algo mais que o concreto, mais que o observável. Passou-se a dar atenção à realidade interior dos seres humanos. Profissionais e pesquisadores da corrente psicanalítica, interessados no estudo dos fenômenos humanos observados nas organizações, iniciaram uma abordagem cuja temática era “afirmar a importância e o papel que exerce a vida psíquica na dinâmica humana das organizações” (CHANLAT, 1996, p.150).

A teoria freudiana, segundo Mendes (2007), é substrato teórico da Psicodinâmica e também lança luz ao tema pesquisado, diante das avaliações das falas dos sujeitos nas entrevistas realizadas. A psicanálise trata dos modos de organização psíquica e de como os sintomas são produzidos na interação do psíquico com o social ou do pulsional com o representacional, adotando uma concepção de sujeito atravessada pelo desejo, o sujeito do inconsciente, constituído em meio a uma realidade psíquica e social. Desta forma considera-se a realidade objetiva do trabalho para a avaliação da realidade do inconsciente e do sujeito.

Segundo Mendes e Araújo (2012) Freud não se dedicou ao tema trabalho na sua obra. No texto Mal Estar na Civilização, de 1930, é a obra na qual Freud fala do trabalho como atividade concreta, como atividade profissional e atividade psíquica e para análise do prazer e sofrimento o texto Para Além do Princípio do Prazer de 1920, traz uma contribuição fundamental, diante de uma realidade de princípio da realidade versus princípio do prazer.

No livro Mal estar na Civilização (1930) Freud defende a busca da felicidade como propósito básico da vida humana, um desejo do princípio do prazer, busca incansável do sujeito singular, dividido e incompleto, ser de desejo. Freud citou que o sofrimento poderia brotar de três fontes: do corpo, do mundo externo e das relações com os outros, fato que reforça a origem do sofrimento diante das relações com a Organização, com os outros e que refletem no corpo. Considerou que os sujeitos expostos, a todo o momento, a uma espécie de controle, no meio em que vivem fato que acaba promovendo, diante das regras existentes, a inibição do desenvolvimento do ser humano. Assim na sociedade contemporânea, quando surgem novas formas de sofrimento, são consequências das novas regras criadas, modificações sociais e políticas às quais somos submetidos, consequências diante da globalização e o neoliberalismo, com processos de ajuste econômico, contribuindo para uma escalada crescente de mudanças e ampliação de sofrimentos.

Segundo Birmam (2012) o sofrimento é uma marca das tormentas do sujeito e que geralmente implica em transformação do registro da dor que assume varias faces e sentidos, diante das diversas formas de mal estar presentes na contemporaneidade, com consequências inevitáveis no mal estar no psiquismo, num signo do que se configura nas relações dos sujeitos consigo mesmo e com o outro diante de sua experiência subjetiva e histórica. Birmam (2013) reforça que o mal-estar não assume formas interiorizadas e conflitivas, mas se manifesta no registro do corpo, da ação e da intensidade, um pathos contemporâneo. Esse mal-estar faz parte da experiência psíquica de desamparo, diante da presença atual de experiências subjetivas de individualidades, narcisismo, violência e destruição, características do atual modelo de gestão nas Organizações.

Nos estudos da Psicanálise, no texto Problema econômico do Masoquismo (1927) Freud afirma que os processos mentais são governados pelo princípio de prazer, de modo tal, que o seu primeiro objetivo é a evitação do desprazer e a obtenção do prazer, considerando o sofrimento e o desprazer não só simplesmente advertências, mas, realidade objetiva que deve ser evitada. Mendes e Araújo (2012) apontam que a gratificação das pulsões ocorre a partir de regras internalizadas e que façam parte da vida psíquica do trabalhador, oferecendo condição de ressignificação do sofrimento e prazer. Evitando assim as condições de sofrimento e buscando o prazer.

A teoria de Dejours oferece pontos interessantes a serem considerados e revisitados na obra de Freud, com aproximações e afastamentos entre uma e outra

teoria, principalmente no mundo do trabalho, a elaboração psíquica aparece como fundamental. Daí a importância também de consideramos a sublimação como outro destino pulsional tão importante no mundo laborativo, pois apresenta um modo de satisfação condizente com os interesses da vida em sociedade. É importante reforçar que a Psicodinâmica também sofre influência da antropologia, da ergonomia e outras ciências e inicia uma investigação da psicopatologia do trabalho, afirmando que o não adoecimento é que constitui algo enigmático frente à realidade laborativa.

Dejours (1988) foi um dos precursores das pesquisas sobre prazer e sofrimento psíquico no trabalho. Teve como objeto de pesquisa a vida psíquica no trabalho, com foco no sofrimento psíquico e as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores para a superação e transformação do trabalho em fonte de prazer. Dejours (2005) comenta que o trabalho, apesar de ser parte integrante do cotidiano, cria uma quantidade específica de problemas, diante de uma atividade útil coordenada, num enquadramento social de obrigações e de exigências que o precede, fato ainda mais complexificado diante da substituição do homem, por automatismos e normatizações.

Como afirmam Ferreira e Mendes (2013) a psicodinâmica do trabalho é uma abordagem científica, inicialmente construída com referenciais psicopatológicos, evoluindo para uma construção própria em função do avanço das pesquisas, tornando-se uma abordagem autônoma com objetos, princípios, conceitos e métodos particulares, citado como referencial no campo de saúde mental e trabalho.

O sofrimento não é revelado diretamente, mas é captado por meio dos processos defensivos, elaborados inconscientemente pelos trabalhadores. Todo desprazer tende a coincidir com uma elevação de tensão e todo prazer com um rebaixamento da tensão mental devida ao estímulo capaz de dirimir tais condições, com tendência de isolamento de toda fonte de desprazer, buscando prazer no confronto de um exterior estranho e ameaçador. As defesas desenvolvidas são resistências psíquicas frente às formas de eufemização e anestesia do sofrimento, incrementando sua aceitação e tolerância. Defesa, portanto, protetora, adaptativa, exploradora e alienante, podendo chegar a ser percebida pelo sujeito como meta ou desejo.

Essa realidade se confirma diante das condições de trabalho que trazem desprazer e o sujeito cria alternativas para diminuir essa tensão. O Princípio do Prazer domina o funcionamento do aparelho psíquico desde o início e esse fato nos capacita a buscar defesas contra sensações de desprazer pelas quais somos ameaçados, buscando a felicidade e mantendo afastado o sofrimento. Caso não consiga afastar todo sofrimento,

pode-se afastar um pouco ou mitigar outro tanto; no caso da possibilidade mais extrema de sofrimento, dispositivos mentais protetores e especiais são postos em funcionamento, com satisfações substitutivas e ilusões que criam contraste com a realidade.

O sofrimento no trabalho e sua relação com a somatização é base da metodologia da Psicodinâmica do trabalho de Christophe Dejours. Estudo realizado em contexto de trabalho permeado pela técnica, social e subjetividade, onde o fator humano não é o mais percebido. Através de estudos iniciais realizados com operários da construção civil, telefonistas e o proletariado em geral, observou que a realidade e cotidiano do trabalho exercem influências positivas ou negativas nas funções psíquicas dos trabalhadores, onde o trabalho acarreta cargas psíquicas. Entende-se por carga psíquica segundo Greco, Oliveira e Gomes (1996), as cargas relativas à organização do trabalho, frequência de situações de trabalho, ao grau de monotonia e repetitividade das tarefas, à pressão do tempo e ao grau de responsabilidade na resolução destas situações. A partir de Dejours, várias pesquisas foram e estão sendo desenvolvidas sobre as vivências de prazer e sofrimento, utilizando como base seu referencial teórico, por constatar que existem repercussões da organização do trabalho sobre o aparelho psíquico (Daniellou, 1989; Ferreira e Mendes, 2001, 2013; Jaques, 2002; Mendes e Araújo, 2012; Mendes e Marrone, 2010, dentre outros).

Tais pesquisas apontam que situações de desorganização ou desinvestimentos afetivos, provocadas pela organização do trabalho, podem colocar em perigo a ação e o equilíbrio mental dos trabalhadores, daí a importância de estudos dessa inter-relação. O foco da abordagem é conseguir compreender como os trabalhadores alcançam certa estabilidade psíquica, mesmo estando submetidos a condições de trabalho desestruturantes (DEJOURS, 2000).

Assim, o estudo da psicodinâmica do trabalho é voltado para a relação dinâmica entre a organização do trabalho e processos de subjetivação, as vivências de prazer e sofrimento e as estratégias de ação para mediar contradições na organização do trabalho. A análise se dirige aos processos intersubjetivos que tornam possíveis as interpretações do trabalho pelos sujeitos. Nesta perspectiva, destaca-se a importância da organização do trabalho entendido como uma das principais determinantes das vivências de prazer-sofrimento; as condições nas quais o trabalho é realizado e a vivência como algo agradável e fortalecedor da identidade ou uma experiência penosa e dolorosa, levando ao sofrimento.

O trabalho é caracterizado como fonte de prazer e sofrimento, sendo que nem o sofrimento, tampouco as estratégias de defesas individuais e coletivas são patológicos, mas sim, uma saída para a saúde. O sofrimento adquire significados além do patogênico, contendo também elementos criativos que podem transformá-lo em potencialidade para o trabalhador (GOMES & BRANT, 2004).

Quando inclina para o patológico implica falhas nos modos de enfrentamento do sofrimento e instala-se quando o desejo da produção vence o desejo dos sujeitos- trabalhadores (MENDES, 2007). A busca da normalidade é o enfrentamento das imposições e pressões do trabalho que causam a instabilidade psicológica. O normal pressupõe a existência de sofrimento, diante da conquista e luta entre as exigências do trabalho e a ameaça de desestabilização psíquica e somática.

Segundo essa perspectiva, os aspectos de prazer-sofrimento são fenômenos que, mesmo havendo a predominância de algum, devem coexistir e ser administrados por quem os vivencia, onde o contexto e organização do trabalho é um fator de influência, já que a forma e conteúdo de como seu trabalho é realizado permite que sua atividade seja considerada prazerosa ou não. A psicodinâmica do trabalho adota uma abordagem de compreensão e inteligibilidade das condutas pelo próprio sujeito, em nítido esforço de interpretação.

Dejours, em seus variados livros e textos, redefine o objetivo do estudo durante o desenvolvimento de sua teoria, indo da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho, evoluindo os estudos e sua teoria, introduzindo o conceito de normalidade como resultante de um compromisso entre sofrimento e as estratégias de defesas individuais e coletivas num movimento pela manutenção da saúde (MENDES E MERLO, 2009). Esse possível sofrimento vivenciado decorre do confronto entre a subjetividade do trabalhador e as restrições das condições socioculturais e ambientais, relações sociais e gestão, organização do trabalho e reflexos do modo de produção atual (MENDES E MORRONE, 2010).

De acordo com Dejours (1988) a partir da década de 1970 do século XX, questões sobre o sofrimento psíquico dos trabalhadores começaram a emergir nos debates sobre o trabalho. O sofrimento corporal causado pelo trabalho nas décadas anteriores era tão acentuado que não deixava espaço para a discussão de questões mais complexas, como a referente ao adoecimento mental. O corpo dócil e disciplinado, sem defesa, explorado e fragilizado (pela privação de seu protetor natural que é o aparelho mental) era o primeiro a ser vítima do sistema, entregue as atividades laborativas.

Assim, viver para os empregados da época era sinônimo de sobreviver às condições de trabalho. A luta pela sobrevivência do corpo denunciava a duração excessiva da jornada laboral e as péssimas condições de trabalho, o sofrimento físico era considerado pela organização do trabalho, mas não era tão importante, não existindo espaço para o sofrimento mental, sendo proibido e motivo de vergonha para o trabalhador. Logo, se não existe espaço para o físico, o mental era totalmente excluído. Ambos não eram vistos como justificativa de paralisação do trabalho.

O termo psicodinâmica surge da incompatibilidade do termo psicopatologia, diante da busca em responder ao contexto de sofrimento ou prazer, não levando em consideração somente o aspecto do adoecimento. Assim, a Psicodinâmica do Trabalho consolidou-se como uma abordagem científica, que encara o trabalho como um fator fundamental para a construção da identidade do trabalhador e de inclusão social. O foco, a partir de então, passou a ser a subjetivação das vivências de prazer-sofrimento e o uso de estratégias defensivas contra as condições adversas do trabalho. Seu objeto de estudo são as relações dinâmicas entre a organização do trabalho e a saúde mental, não se restringindo aos seus efeitos nocivos, mas incluindo as situações que são favoráveis à construção da saúde (DEJOURS, 2000).

Dejours (1988) revela que, historicamente, quando se conseguiu compreender o sofrimento físico e avançar um pouco em termos de legislação, conquistando condições menos sofríveis de trabalho surgiram espaços para a visualização de outro problema — o sofrimento psíquico. Quando a doença psíquica aparecia, escondia-se o fato, pois essa vivência subjetiva era considerada vergonhosa, pois a doença era associada à vagabundagem devendo ser domesticada, contida e controlada, recoberta pelo silêncio. O sofrimento começava, quando a relação organização e trabalhador era bloqueada e o trabalhador, usando o máximo de suas habilidades intelectuais, psicoafetivas de aprendizagem e adaptação, não conseguia diminuir o nível de insatisfação levando a condições de sofrimento.

A discussão sobre a psicopatologia do trabalho começou na França, logo após a II Guerra Mundial, liderada por contribuições da chamada psiquiatria social. Segundo Lima (1995) os estudiosos iniciais foram Paul Sivadon e Louis Le Guillant. Sivadon foi o primeiro a empregar o termo Psicopatologia do Trabalho, e em suas obras abordou o trabalho como fonte de crescimento e evolução do psiquismo humano. Afirmava que formas perversas de organização da atividade de trabalho geram pressões e conflitos,

propiciando o aparecimento de transtornos mentais. A partir de seus escritos, o trabalho também passou a ser reconhecido por seu valor de integração social (LIMA, 1995).

De acordo com Seligmann Silva (2004), a escola da Psicopatologia do Trabalho foi mais amplamente desenvolvida a partir de Cristophe Dejours. A abordagem criada por Dejours avançou diante das pesquisas e a incorporação de conceitos advindos da ergonomia, da sociologia e da psicanálise, evoluindo a compreensão original, estruturando uma teoria própria.

O primeiro marco foi a publicação, em 1980, do livro “Travail: Usure Mental”, publicado no Brasil somente em 1987, com o título A Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. Dejours analisou as estratégias individuais e coletivas utilizadas pelos trabalhadores para lidar com o sofrimento originado no trabalho, apontando a origem do sofrimento na relação do trabalhador com a organização do trabalho (MENDES, 2007).

Já na década de 90, Dejours publica De La Psychopatologie à la Psychodinamique Du Travail (Da Psicopatologia à psicodinâmica do trabalho) e Le facteur Humain, (O Fator humano). Neste momento de sua trajetória teórica, o autor substitui o termo Psicopatologia para Psicodinâmica do Trabalho, deslocando seu foco das patologias relacionadas ao trabalho e normalidade para o questionamento de como os trabalhadores conseguem manter certo equilíbrio psíquico apesar das condições precárias de trabalho a que estão submetidos nas organizações (DEJOURS, 2004).

Em um contexto de intensas mudanças, cobranças e pressões, começaram os questionamentos sobre o fato de os trabalhadores não entrarem em colapso, trabalhando normalmente sem apresentar os transtornos psíquicos esperados diante das condições vivenciadas (UCHIDA, 2009).

Em meio às descobertas, Dejours (2000) apresenta uma perspectiva assustadora, todavia real. Os níveis de sofrimento psíquico parecem ser elevados, mas as pessoas tendem a calar perante as situações geradoras de mal-estar, buscando adaptação ao trabalho pela necessidade de subsistência financeira, pela inserção no importante mundo do trabalho, dentre tantos outros motivos. Mesmo intenso, o sofrimento é razoavelmente controlado, inicialmente através de estratégias de defesa que buscam impedir o desenvolvimento de uma patologia, evitando uma possível descompensação e caso não consigam ocorrem sofrimentos e somatizações.

Com a publicação do livro Souffrance em France (A Banalização da Injustiça Social) Dejours reforça a psicodinâmica como teoria capaz de explicar os efeitos do

trabalho sobre a subjetivação, as patologias sociopsíquicas e a saúde dos trabalhadores, com análise do modo como os trabalhadores vivenciam as condições de trabalho, o sentido que assumem e o uso de estratégias de defesa diante das formas de organização do trabalho (MENDES E MERLO, 2009).

A psicodinâmica diferencia condições de trabalho (ambiente, condições, higiene e segurança) da organização do trabalho (divisão, recorte do conteúdo da tarefa, sistema, hierarquia, relações de poder e responsabilidades) e suas variadas consequências diante de sua influência física e mental. Assim, como determinante da organização do trabalho o conteúdo da tarefa, substitui o livre arbítrio através da divisão do trabalho e das condições impostas. Algumas dessas condições de trabalho interferem e adoecem o corpo físico, mas uma organização de trabalho desorganizada e exploradora envolve e limita no âmbito do psíquico. Geralmente as organizações do trabalho são repletas de contradições, num cenário de luta entre ordem e desordem e o sujeito negocia o hiato entre o desejo e a realidade.

Assim, esse modelo de organização do trabalho influencia as relações subjetivas do trabalho por exercer sobre o homem uma ação especifica, com impacto no aparelho psíquico, diante de uma história individual em confronto com uma organização do trabalho que o ignora.

Dejours (1994) afirma que a origem do sofrimento tem suas raízes na história

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