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Como proposta teórico-metodológica de análise dos dados obtidos foi utilizada a Análise de Conteúdo – AC, definida por Bardin (1977) como forma de apreender as informações necessárias para o entendimento do discurso, buscando interpretar o que está escondido e latente na mensagem, interligando significantes com significados. Segundo Vergara (2005) a análise de conteúdo é considerada uma técnica de tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito sobre determinado tema, relacionando posteriormente a uma teoria levantada que dá suporte ao estudo e avaliação das falas, focalizando as peculiaridades e as relações entre os elementos, enfatizando o que é significativo e relevante. Segundo Martins (2007) é uma técnica para se estudar e analisar a comunicação de forma sistemática e objetiva que busca a essência de um texto nos detalhes das informações, trabalhando com o detalhe do contexto, inferindo-se sobre o todo da comunicação.

Foram feitas leituras exaustivas das falas coletadas nos grupos focais e entrevistas, realizando-se a manipulação das mensagens para evidenciar indicadores que permitam inferir sobre a realidade apontada, facilitando o processo de inferência de categorias provenientes das informações do conteúdo das mensagens.

Os dados coletados, através das entrevistas, forma transcritos, lidos em profundidade e submetidos à análise de conteúdo apresentada por Bardin (1977). Uma técnica de pesquisa que trabalha com a palavra, permitindo de forma prática e objetiva produzir inferências do conteúdo da comunicação de um texto voltado ao seu contexto social. Um conjunto de técnicas de análise da comunicação, com procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo da mensagem que buscam o conhecimento aprofundado do assunto estudado. (Bardin, 1977). Assim, a AC busca padrões, recorrências de palavras, frases, idéias e tópicos de interesse que simbolizem

características da fala e das atividades em comum dos entrevistados, apresentando assim pontos que indiquem fatores de análise.

Diante de uma pesquisa qualitativa a AC costuma ser feita através do método de dedução freqüencial ou análise por categorias temáticas. Consiste em enumerar a ocorrência de um mesmo signo linguístico (palavra) que se repete com frequência, visando constatar uma série de significações detectadas por meio de indicadores ligados a partir das significações, o que exige inferências complementares como a sensibilidade e flexibilidade, por parte do pesquisador, para apreender a mensagem manifesta e latente apresentada.

A codificação e categorização fazem parte da AC que é dividida em três etapas: recorte dos conteúdos, definição das categorias analíticas e categorização final das unidades de análise. Seguindo essa sistemática, deve ser feita a análise e organização do material coletado, decompondo e recompondo os relatos, selecionar os elementos e fragmentos do discurso dos entrevistados manifesto em palavras, frases, expressões ou idéias que constituíram as unidades de análise, classificação ou registro. Em seguida, esses elementos do discurso dos entrevistados forma agrupados de acordo com afiliação dos sentidos, organizando as devidas categorias analíticas que não são fixas no início, mas tomam forma no curso da análise. Por fim, a categorização final foi realizada reconsiderando os conteúdos e a interação entre eles.

4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS E GRUPOS

O grupo focal e as entrevistas viabilizaram a emergência de expressões verbais e não verbais, com aspectos intersubjetivos de construção de sentidos. Houve livre expressão dos pensamentos e sentimentos, insights referentes às vicissitudes do trabalho desses protagonistas das cenas organizacionais. Permitindo emergir os significados relacionados ao tema pesquisado, surgiram evidências de similaridades e divergências, auxiliando na percepção das relações que fazem parte da rotina profissional dos líderes e o conhecimento do papel desempenhado no trabalho. Os grupos realizados, bem como as entrevistas, apontaram situações de prazer e sofrimento vivenciadas na organização familiar pesquisada, assim como características relacionadas à gestão do trabalho.

A escuta do sofrimento decorrente das relações de trabalho requer a observação daquilo que não foi dito, do oculto e silenciado, buscando, junto com o coletivo, desvelar suas estratégias para ressignificar o sofrimento. Perceber que o pensar não está dissociado do sentir, analisar o fazer carregado de saberes e afetos, onde o trabalho implica num fazer junto e sentimentos partilhados. Dejours (1994) reforça ser o trabalho fonte de equilíbrio para uns e fonte de fadiga para outros, assim o confronto do sujeito com o trabalho pode produzir doenças físicas e mentais ou sentimentos de prazer e reconhecimento que dependem das relações estruturadas e da organização do trabalho vivenciada. Fato confirmado nas falas coletadas, com relatos de vivências de prazer e de sofrimento.

Para Blanch Ribas (2003) o trabalho é uma atividade humana social, vivência do real, complexa e dinâmica, exercida de forma individual e coletiva que não se reduz a ações instintivas decorrentes das funções biológicas, voltadas para a sobrevivência, mas uma prática de natureza reflexiva, consciente, propositiva, estratégica, instrumental e moral, uma possibilidade de felicidade e liberdade ou loucura e doença mental. Diante dessa afirmação, confirmam-se nas falas coletadas, descrições de realidades reflexivas voltadas à importância do trabalho na vida dos líderes, além das possibilidades em realizar desejos inter-relacionados com a organização e também com as atividades que realizam.

Observou-se, diante das falas, uma exploração dos aspectos psicológicos do trabalhador em favor da organização. Confirmado por Siqueira (2009) diante da manipulação psicológica no mundo do trabalho, o sujeito se torna dependente da organização, em um cenário angustiante, sendo invadido por ansiedades plenamente

justificáveis, onde o imaginário e o psiquismo são utilizados para o aumento da produtividade, eficiência e desenvolvimento dos processos e retorno às organizações. Reforçado por Jost e Sobbol (2013) o controle da subjetividade caracteriza-se como uma prática de controle da consciência do sujeito quanto à sua conduta no local de trabalho e no meio em que estiver inserido. Para Enriquez (1991), a exploração acontece de forma sutil, por meio da manipulação psíquica, com submissão do trabalhador, deixando de lado coisas que não dizem respeito ao objeto amado, com alienação e abandono de si mesmo.

A cobrança em ser o melhor líder e trabalhador resulta na angústia e sofrimento para realizar as tarefas conforme as determinações, ansiedade pelo reconhecimento, pelos resultados da equipe e a frustração de não ser valorizado pelo trabalho desenvolvido. Diante das mudanças e cobranças cada vez maiores, os líderes não conseguem corresponder às demandas, surgindo problemas emocionais e psicológicos que afetam não só o trabalho, mas a vida familiar e pessoal. Mendes (2007) pontua que o novo modelo de organização de trabalho, leva à criação de um jogo de forças contraditórias, que operam no trabalhador, de forma que a necessidade de adaptabilidade se confronta com as crescentes mudanças e cobranças no novo contexto de trabalho, criando-se uma intersubjetividade particular.

A coerção real e imaginária, explícita ou sutil, visa subjugar os sujeitos ao trabalho, diante da lógica organizacional familiar, ampliando as condições de sofrimento em uma relação assimétrica de interesses particulares, com intensificação do ritmo de trabalho, rotinização das tarefas e acúmulo de horas extras.

Diante dos relatos um dos principais agravantes do sofrimento apontado pelos líderes é o excesso de trabalho e de cobrança, caracterizando a sobrecarga que conduz ao adoecimento a partir de um mecanismo perverso em que o discurso da organização leva os trabalhadores à acreditar que “vestir a camisa” pelo crescimento da mesma é a melhor forma de conquistar o reconhecimento diante da promessa de que serão contemplados com crescimento profissional e farão parte da “família” organizacional. Mas, vivenciam o favorecimento individual, premiações e promessas de benefícios extraordinários, que não são concretizados.

Os líderes apontaram queixas referentes ao excesso de trabalho, férias suspensas, incremento de atividades por diminuição do quadro e pouco reconhecimento. Siqueira (2009) pontua que é necessário um excesso de trabalho e exclusividade de dedicação, diante do discurso de progresso onde é preciso trabalhar muito e ser um “super

homem”, dedicando horas de trabalho intenso, à disposição da organização, ficando preso pelo discurso e sedução, diante de uma doutrinação da gestão do afetivo.

O sofrimento pelo medo de errar, relacionado às pressões por qualidade, alcance de metas, insatisfação salarial, sua e dos subordinados, a posição intermediária na hierarquia entre diretoria e subordinados e o papel de infligir sofrimento ao outro, com submissão e servidão voluntária são características da função na organização pesquisada. A renúncia de si mesmo, decorrente de uma concreta falta de liberdade, por intensificação do trabalho e ansiedade, pressiona tempos humanos essenciais para lazer e família. Todas essas condições contribuem para a hiperatividade e eliminam tempos de reflexão, viver e conviver.

A visão idealizada do líder, solicitado e apontado como alguém com qualidades superiores, infalível, que está aquém da vivência real, mas que na organização estudada são encarregados que exemplificam serem sujeitos que calam seu sofrimento, que sofrem por serem vistos como um operário, que vivenciam a sobrecarga e tem a difícil missão de dar conta de seus desejos, dos desejos da organização e dos desejos de seus subordinados.

Diante dos relatos levantados alguns aspectos podem ser relacionados ao sofrimento, diante da constatação da falta de autonomia e reconhecimento, o ressentimento pelo tempo em demasia dedicado ao trabalho, o desequilíbrio entre vida pessoal e profissional e o conteúdo do trabalho. No que tange ao prazer no trabalho, mencionam-se as possibilidades de relações interpessoais criadas, a importância das relações interpessoais no trabalho como provocador de uma vivência positiva, além do reconhecimento dos pares no que tange aos resultados alcançados. Mas as situações apresentadas são apontadas com limites, fato que reforça a sutileza e o limiar na fronteira entre prazer e sofrimento.

Nas análises das entrevistas surgiram com mais frequência as seguintes categorias:

1) Trabalho: vicissitudes e atravessamentos 2) Limiar entre prazer e sofrimento

3) Vida de encarregado: facilidade e dificuldade 4) Contexto da organização familiar

4.1 O trabalho: vicissitudes e atravessamentos.

O trabalho é considerado elo entre o sujeito e a sociedade, proporcionando possibilidades de desenvolvimento e status social, compondo um lugar importante para as relações interpessoais, constituindo-se em fonte de realização pessoal, com desenvolvimento de competências e habilidades, espaço de socialização e de desenvolvimento pessoal e profissional, fenômeno pertencente à existência humana. Tal condição se explica pelo fato de que, por meio de esforços físicos e psíquicos, mediamos nossas relações com as pessoas com as quais nos relacionamos no cotidiano e pelas horas dispensadas ao trabalho nas organizações.

No cotidiano de trabalho surgem várias situações e condições que interferem no trabalho, tais como tempo disponibilizado para as atividades, condições de trabalho, relações com os patrões, gerentes e familiares que comandam, dentre outras. Mendes (2007) define trabalho como ação que dependendo da organização, impede o sujeito de pensar a racionalidade e sua relação subjetiva, gerando uma limitação na capacidade de pensar e elaborar, desencadeando um sofrimento psíquico. Tais características surgiram nas falas dos lideres entrevistados.

O trabalho vem ocupando, cada vez mais, o tempo dos trabalhadores e, no caso dos líderes, esse tempo é ampliando devido à responsabilidade do papel assumido. As demandas por disponibilidade ao trabalho, por busca de aprendizado e inovações constantes reforçam a cobrança por desenvolvimento e levam, cada vez mais, ao maior tempo dedicado à atividade laboral, mesmo fora do espaço em que se circunscreve. No caso dos líderes entrevistados, essa realidade é uma constante e fez parte dos discursos, apontando uma naturalização da realidade vivenciada. Dejours (2007) aponta que somos envolvidos pelo trabalho, bem além do tempo de trabalho. Temos insônia, aborrecimentos com cônjuge e filhos, sonhamos com o trabalho e toda a subjetividade é arrebatada nesse movimento, até o mais íntimo do ser.

Os dois grupos realizados trouxeram o assunto trabalho em relação ao tempo a ele dedicado, bem como a pressão vivida no cotidiano. Tal situação pode ser apreendida em suas falas, a exemplo dos relatos que seguem (os nomes foram modificados):

Trabalho muito, sem tempo para mais nada, nem sei mais quando tive folga e é tanta hora extra. Às vezes levo os pedidos para fazer em casa. Tem dias que acho que meu filho não vai me reconhecer. João

Mal vejo minha família, chego em casa o menino tá dormindo, saio ele tá dormindo. Todo dia é bem corrido, mas é assim mesmo, eu gosto do que eu faço ser líder das pessoas é bom, responsabilidade. Mas a mulher cobra, não tenho tempo para cuidar deles (família). Irmão

Meu tempo é corrido, to fazendo faculdade, moro com minha mãe e tenho noiva e ela me cobra que às vezes a gente passa mais de uma semana sem se ver e vejo minha mãe pouco também. Mas é porque estudo também né e o trabalho é puxado, mas vale a pena. Tem que correr mesmo. Denis

Sobre esse ponto, salientam-se as considerações de Seligman Silva (1994) quanto à questão temporal presente na relação trabalho-família. A autora ressalta que um maior tempo dedicado ao trabalho necessariamente resulta em menor tempo para a família, bem como prejudica a qualidade desse convívio em função do cansaço e escassa disponibilidade de atenção e cuidados aos familiares, momento que ajuda na descarga de energia acumulada durante o trabalho e um espaço de possibilidades de apoio e descanso. Tal condição amplia a tensão psíquica e acaba por desencadear condições de sofrimento. Por esse motivo, Gasparini (1996) defende que se faz necessária a conciliação entre o tempo do trabalhador e o tempo disponibilizado para a organização como um fator determinante para a qualidade de vida.

Seligman Silva (1994) alerta, ainda, que a própria tensão presente no trabalho também afeta o núcleo familiar, que é atingido pela programação das jornadas extensas e pelos calendários da organização mudados com pouca antecedência, prejudicando o lazer e os planos familiares em prazos mais extensos. Diante da falta de funcionários o encarregado absorve atividades deste, sobrecarregando o cotidiano. Segundo a autora, um dos fatores capazes de provocar tensão é exatamente a sobrecarga de papéis no trabalho. Nesse sentido, para a autora tornam-se preocupante os conflitos que se criam a partir dos ressentimentos criados por essas marcas que o trabalho pode deixar no seio da família, provocados por situações de desgaste mental de um de seus membros, como a falta de paciência demonstrada pelo trabalhador cansado, seu isolamento (voluntário ou por iniciativa da família) e desconhecimento, por parte da família, das condições a que esse membro está submetido no âmbito do trabalho.

A tensão também se configura pela percepção do trabalhador de que lhe são demandados atenção e rendimento maiores do que sua capacidade ou tempo que dispõem, existindo, portanto, uma estreita relação entre a sobrecarga de trabalho e a insatisfação em relação ao trabalho, além do grande nível de responsabilidade e cobranças, características que são encontrados nos líderes entrevistados. Isso ocorre também por conta da posição hierárquica intermediária, uma posição de conflito entre superiores e subordinados com limites de poder. A figura do líder é mais vulnerável do que aquela de trabalhadores mais operacionais, uma vez que estas últimas, ao entrarem em contato com as ideologias da organização, contam com a mediação do líder como

alguém que filtra a influência dessas ideologias. Observam-se tais tensões nas falas transcritas a seguir:

Olha, tem dias que tá tudo organizado, o passeio com os meninos, aí meu gerente me liga, pedindo para tirar o plantão porque o fulano faltou. Aí eu penso que podia dizer não, mas não tenho coragem, a mulher fica danada comigo, mas eu deixo o passeio dos meninos e vou trabalhar. João

Tem dias que a mulher cobra, os meninos cobram, aí vem os funcionários que também cobram, os gerentes que cobram. Nossa dá vontade de jogar tudo para o alto, mas aí eu sei que sou responsável pelo setor, pelos resultados, daí continuo fazendo meu trabalho e deixo a família. Irmão

Minha equipe é muito boa, eles se envolvem com as atividades, mas os donos também cobram muito, querem que tudo fique perfeito. Como sou o encarregado do setor, acompanho tudo de perto e eles gostam, mas aí o funcionário vem me pedir coisas diferentes, mudar os produtos de lugar. Minha equipe acha que tá errado, e eu fico nesse meio termo, tenho que tentar ouvir todos, mas tem horas que é difícil. Alexandre

O trabalho demanda tempo em demasia com consequente exclusão de tempo para a família e disponibilidade diminuída de lazer e descanso:

O trabalho, excluindo até a família, é o que eu dedico a maior parte do meu tempo. Porque a partir do momento que você desperta, você já fica ligado e antes de dormir você tá ligado também no trabalho, pensando nos problemas e no que tem que fazer ainda. Então, metade do meu tempo acordado, acho que metade do dia de 24 horas ou até mais, é em função dessa empresa, até quando não estou aqui fico pensando em como fazer determinando trabalho, resolver aquele problema. Denis

A disponibilidade para o trabalho, ou para a organização, ocorre em detrimento de outros interesses pessoais, sendo, desses interesses, a família o mais citado:

Eu trabalho também à noite, então, quase não tenho vida familiar, sair com amigos. A noite que eu não trabalho é uma festa, a gente faz janta, toma vinho, porque eu tô com eles. Então, pesa, o trabalho ocupa um peso muito grande na vida da gente. E eu acho que isso tá errado, eu acho que a gente devia poder dividir melhor o tempo. João

No que tange à relação entre trabalho e tempo, este é hoje o elemento regulador, coercitivo e disciplinador da maioria das atividades humanas, de cuja estratégia onipresente não se pode fugir. Além disso, verifica-se que, no caso de vários líderes, a necessidade de estar disponível para o trabalho ou para a organização faz com que as opções pessoais sejam afetadas pela vida profissional. Reforçando a idéia de Dejours (2000) onde o medo associado à ameaça permanente de desemprego leva a naturalização, a não mobilização e a um maior individualismo.

O meu tempo está sendo dedicado mais para o trabalho, para a minha formação profissional, que para a minha vida particular, maior tempo para o trabalho e menos para a família. Vivo cansado. Denis

A ansiedade que se experimenta em relação à coerção do tempo faz com que se busquem alternativas que aliviem as tensões. Essa busca da satisfação imediata e da sobrevivência em um ambiente mutante e conflituoso, muitas vezes exige esforços que demandam dedicação total e a própria exclusão de valores afetivos por parte do trabalhador, fomentando o individualismo em escala social. Se as possibilidades de sobrevivência em um contexto tão turbulento são escassas, instala-se o “vale tudo”, o “salve-se quem puder” e os laços familiares e pessoais ficam em segundo plano:

Não tem dia, não tem hora, começo de mês então, tudo fica mais complicado. A gente chega mais cedo e sempre fica até mais tarde, e a família cobra, mas tem que trabalhar né. Quando a gente consegue bater a meta aí a gente vê que valeu a pena, todo mundo ganha. A correria é grande todo dia, toda hora, mas vale a pena. Alguns ajudam outros atrapalham, mas no final tudo dá certo. Josemir

Percebe- se assim que o trabalho, na realidade vivenciada pelos líderes, da organização familiar pesquisada, possui variados aspectos que interferem em sua vivência e trazem consequências em suas percepções.

4.2 O limite entre prazer e sofrimento

O trabalho possui destinos psíquicos voltados para aspectos positivos ou negativos, dependendo de como é percebido e vivenciado pelo sujeito. Nas avaliações realizadas o limiar entre prazer e sofrimento é singular, fato que depende da organização e das situações que vivenciam.

A vivência do sofrimento está relacionada à gestão da organização do trabalho, possuindo uma vivência singular e subjetiva que, segundo Dejours (1994), afeta de forma intermediária a doença (descompensação) e o conforto psíquico (equilíbrio). Mas, o trabalho também pode ser produtor e fonte de prazer, fato que se apreende pela confirmação do gostar e vivências positivas das atividades realizadas, podendo ser também um instrumento a serviço do aprendizado e da experimentação da solidariedade e democracia, num espaço de construção do sentido e, portanto, de conquista da identidade, da continuidade e historicização do sujeito. A ocorrência de vivências singulares surge como estratégias construídas inconscientemente para o suporte de situações consideradas desagradáveis.

Para Dejours (1994) as vivências de prazer no trabalho emergem quando as

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