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Há uma vasta literatura sobre as relações entre saúde mental e trabalho produzido a partir de 1980 no Brasil (Codo, 1993; Dejours, 1988; Dejours, Abdoucheli & Jayet, 1994; Jacques, 2002, 2007, Daniellou 1989, Ferreira e Mendes, 2001, 2013, dentre outros). Todos esses autores reforçam que durante muito tempo, o trabalho não foi pensado como parte do conjunto de aspectos significativos no adoecimento na vida das pessoas, nem mesmo considerado fator importante na constituição de prazer ou sofrimento psíquico. A herança genética, os aspectos orgânicos e/ou a história familiar e afetiva dos sujeitos eram vistos como as principais referências explicativas para problemas no campo psíquico. Como aponta Dejours (1988) não cabia falar de saúde no

trabalho, pois era preciso, primeiramente, que fosse assegurada a subsistência financeira da família, a luta pela saúde era luta pela subsistência.

Contextos de adoecimento psíquico interligados ao trabalho devem ser foco de estudo e debate, bem como a importância do reconhecimento dessa relação, como forma de garantir amparo ao trabalhador e, principalmente, trazer subsídios para mudanças nas situações de trabalho, por ser uma categoria fundamental à compreensão da subjetividade. E esse reconhecimento é um ingrediente essencial para a saúde mental, segundo Dejours (2005), podendo possibilitar a transformação de sofrimento em prazer no trabalho. O trabalho ocupa tempo importante da vida humana, constituindo-se dessa forma em um fator psicossocial significativo e caso ele possibilite prazer será mais bem vivenciado.

No entanto, o foco inicial dos estudos sobre o sofrimento no trabalho era o mal- estar físico vivenciado pelos trabalhadores. As condições de trabalho eram tão precárias que “viver” para os empregados era sinônimo de sobreviver a essas condições. (DEJOURS, 2000). Nesse contexto a saúde psíquica não era cogitada e danos à saúde física não passavam despercebidos, pois o corpo doente representava (e ainda representa) um limite à produção. Um trabalhador com a saúde física comprometida pode ficar temporariamente incapacitado para um determinado trabalho. Nessas situações, o empresário percebe com rapidez os impactos do sofrimento na produtividade da organização.

Quando o rearranjo da organização do trabalho não é mais possível, quando a relação do trabalhador com a organização do trabalho é bloqueada, o

sofrimento começa: a energia pulsional que não acha descarga no exercício do trabalho se acumula no aparelho psíquico,

ocasionando um sentimento de desprazer e tensão. (DEJOURS, 1994, p. 29). Segundo Dejours (1988) o sofrimento psíquico demora a ser percebido porque os trabalhadores desenvolvem mecanismos de defesa, coletivos e individuais, que reprimem essa vivência e suas consequências. O sofrimento psíquico também demora a aparecer por ser algo que não é para ser visto ou percebido, já que não tem visibilidade no dia a dia de trabalho. Os efeitos dessa repressão tardam, mas aparecem, na maioria das vezes, em um estágio avançado, quando os danos causados ao trabalhador já tomaram grandes proporções. Nesse status surgem somatizações e problemas relacionados à saúde física e mental, em sua maioria sem visibilidade de relação com o cotidiano de trabalho, mas que após avaliação de condições vividas pode-se constatar o nexo causal entre os dois.

A organização busca um trabalhador que seja ágil, criativo, organizado, motivado e comprometido com seu desempenho na realização do trabalho, mas essa realidade é aplicada num contexto de desregulamentações, mudanças de contrato, aumento da jornada de trabalho, dentre outros que complexificam todo o processo vivenciado, causando sofrimento para alcançar os resultados esperados. Para Mendes e Morrone (2010) a vivência de sofrimento no trabalho é caracterizada pela presença de sentimentos, tais como medo insegurança, estranhamento, desorientação, alienação, frustração, dentre tantos outros, diante da realidade vivenciada.

Para Codo e Jakson (1993) trabalhar é uma necessidade intrínseca do ser humano, diante da importância e cobrança da sociedade, pode ser considerado um fator importante de promoção de saúde assim como de adoecimento. As ações e relações implicadas no ato de trabalhar podem atingir o corpo dos trabalhadores, mas também levará a reações psíquicas, além de poder desencadear processos psicopatológicos relacionados à forma de organização do trabalho, em decorrência do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo considerada fonte de garantia de subsistência e de posição social. Assim a possibilidade de falta de trabalho ou mesmo a ameaça de perda do emprego geram também sofrimento psíquico, pois ameaçam a subsistência e a vida material do trabalhador e de sua família, assim como sua inserção na sociedade. Ao mesmo tempo abala o valor subjetivo que a pessoa se atribui, gerando sentimentos de menos-valia, angústia, insegurança, desânimo e desespero, caracterizando quadros ansiosos e depressivos. Diante dessa realidade surge o presenteísmo, como um novo fenômeno onde mesmo na adversidade e adoecimento de condições oferecidas, o sujeito permanece trabalhando por medo de perder o emprego. Segundo Frigotto et al. (1998), para manterem-se empregados, os trabalhadores se submetem a duras jornadas de trabalho e a condições desfavoráveis, evitando-se a situação do não-trabalho, mesmo às custas da perda de direitos duramente conquistados. Para Dejours (2000), a falta de trabalho tem feito com que as pessoas que estão empregadas se submetam ao sofrimento em nome da manutenção do emprego, o que significa a manutenção não só das necessidades materiais, mas, sobretudo, de uma identidade social.

É importante frisar que o homem não chega ao seu espaço laboral livre de sua história de vida, sua subjetividade com sofrimentos, angústias, frustrações, alegrias, conquistas e desejos, não deixados no portão da empresa ao chegar e retomando ao sair. Ele chega ao seu espaço laboral com expectativas traçadas em cima de seus valores e

sua história, fatos que tendem a ir de encontro às expectativas da empresa, criando conflitos nessa relação. Esse contexto de somatório do sujeito e suas vivências, inserido na Organização e sua cultura, desencadeiam consequências referentes à adaptação ao trabalho.

Dejours (2000) analisa que o prazer ou sofrimento no trabalho podem ser vivenciados quando as expectativas são ou não atendidas, liberando ou bloqueando a realização de seus sonhos e objetivos; assim o trabalho torna-se potencial ou perigoso para o aparelho psíquico de acordo com sua livre atividade ou não. O bem estar psíquico no trabalho advém de uma liberdade de pensamento e ação, articulando dialeticamente com o conteúdo da tarefa. Em termos de economia psíquica, o prazer no trabalho, resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa autoriza o que corresponde a uma diminuição da carga psíquica do trabalho. Para Dejours (1994) as vivências de prazer no trabalho emergem quando as exigências intelectuais, motoras ou psicossensoriais da tarefa, relacionamento entre os pares, coesão e integração da equipe, convergem para satisfação das necessidades do trabalhador, de tal modo que a simples execução da atividade proporcione prazer. Para Mendes e Morrone (2010) o prazer resulta do sentir- se útil, produtivo e aparece inseparável dos sentimentos de valorização e reconhecimento. O prazer no trabalho é vivenciado pelo sujeito quando este percebe que o trabalho que realiza é significativo e importante para a empresa e a sociedade. Ocorre quando se favorece a valorização e reconhecimento, especialmente, pela realização de uma tarefa significativa.

Na atualidade, pelas mudanças estruturais e conjunturais da organização e do trabalho, quem está inserido nesse contexto, está envolto em processos potencialmente geradores de sofrimento, vivenciando condições relacionadas à organização e suas mudanças, tais como: enxugamento do quadro, instabilidade dos vínculos empregatícios, exigências contínuas, busca da qualidade total, supervalorização da ação, desafio permanente, adaptabilidade, competitividade, polivalência e busca de alta produtividade com baixos custos. Tais condições podem ser condicionantes para uma relação negativa com o trabalho, podendo levar ao adoecimento\sofrimento.

Assim, na perspectiva dejouriana, as doenças mentais relacionadas ao trabalho resultam não de fatores isolados, mas de contextos de trabalho em interação com a história de vida, somada ao corpo e psiquismo dos trabalhadores. O sofrimento não é apenas uma consequência última da relação com o real, ele é ao mesmo tempo proteção da subjetividade com relação ao mundo, na busca de meios para agir sobre o mundo,

visando transformar este sofrimento e encontrar a via que permita superar a resistência do real. O sofrimento é, ao mesmo tempo, impressão subjetiva do mundo e origem do movimento de conquista do mundo, interferindo e habitando até insônias e sonhos. Trabalhar também implica infringir as recomendações, os regulamentos, os processos, os códigos, as ordens de serviço, a organização prescrita. Ora, em numerosas situações de trabalho, o controle e a vigilância dos gestos, dos movimentos, dos modos operatórios e dos procedimentos, são rigorosos, uma atividade de produção no mundo objetivo, que coloca à prova a subjetividade. Trabalhar constitui, para a subjetividade, uma provação que a transforma, pois constitui uma ação não somente de produzir, mas de transformar a si mesmo e engajar sua subjetividade num mundo hierarquizado, ordenado e coercitivo, perpassado pela dominação, com experiências de tentativas de resistência do mundo social e das relações sociais, num espaço onde se vive compartilhando as ações vivenciadas.

Trabalhar é preencher a lacuna entre o prescrito e o real, aquilo que o sujeito deve acrescentar às prescrições para poder atingir os objetivos que lhe são designados ou ainda aquilo que ele deve acrescentar de si mesmo para enfrentar o que não funciona quando ele se detém à execução e imposição das prescrições. Segundo Ferreira e Mendes (2001), caso a atividade prescrita seja diferente da atividade realmente realizada, é possível haver aumento do custo humano no trabalho diante da necessidade de adaptabilidade do sujeito à situação, fato que exige esforço constante por meio de estratégias de regulação e compensação do sujeito.

Harvey (1992) pontua que o sofrimento no trabalho tem se mostrado um fenômeno regular na sociedade capitalista, uma verdadeira marca das relações de trabalho numa sociedade que se organiza em função das leis coercitivas da competitividade. Para Mendes (2007), o sofrimento no trabalho assume um papel controverso, pois pode ser mobilizador psíquico para provocar mudanças ou resistir, mas também é caracterizado por uma vivência, muitas vezes inconsciente, de experiências dolorosas como angústia, medo e insegurança, com origem no conflito entre as necessidades de gratificação do binômio corpo-mente e as restrições impostas nas situações de trabalho. O sofrimento é um mobilizador para a busca de prazer, um sinal de que algo não está funcionando bem, tendo o poder de possibilitar transformações e a busca de estruturação psíquica no trabalho, através dos mecanismos de adaptação.

Segundo Mendes (2007) a luta por vivências de prazer no trabalho se justifica no fato de ser o trabalho um estruturante psíquico, levando o trabalhador a um movimento de busca de prazer e evitação ou transformação do sofrimento em algo suportável à vivência, com a busca de um possível equilíbrio psíquico. É importante ser criado uma cultura e espaço que incluam princípios morais e éticos, senso de justiça, com condições propícias de trabalho, focando nos procedimentos organizacionais, com distribuição de recursos e recompensas, pois as vivências subjetivas são influenciadas pela organização, gestão, cultura e desenvolvimento da organização e caso elas favoreçam condições desse tipo, os resultados e inserções seriam mais positivos.

Conforme Mendes (2007), o prazer no trabalho é um dos caminhos para a saúde mental por criar identidade pessoal e social, pela via da valorização e do reconhecimento. A busca por saúde no trabalho configura-se na tentativa de modificação das situações adversas, na busca de prazer e transformação do sofrimento em algo criativo, podendo ser vivenciada quando os sujeitos utilizam, de forma eficiente, estratégias individuais e coletivas para lidar com as adversidades encontradas. Segundo Dejours (2000) esse prazer é decorrente de uma tarefa que autoriza a diminuição da carga psíquica tornando-se relaxante e equilibrante, caso contrário transforma-se em fatigante levando ao sofrimento. Quando a energia psíquica se acumula ela é fonte de sofrimento, diante da tensão, desprazer e fadiga.

Segundo Codo e Jakson (1993) frequentemente o sofrimento e a insatisfação do trabalhador manifestam-se não apenas na doença, mas dentro e fora do trabalho em contextos familiares, relacionamentos interpessoais e vida social. Todos esses contextos são influenciados.

Nesse contexto podem ser vividas situações de violência, definida por Faria (2013) como situações de práticas e ações voltadas para preservar interesses específicos através de instrumentos coercitivos explícitos ou sutis, de qualquer natureza, em contraposição aos interesses e direitos do coletivo.

Um ponto importante no desencadeamento do sofrimento no trabalho, conforme Dejours (1994) é a organização do trabalho, responsável pela origem da carga psíquica. Relacionada à divisão interna do trabalho, influenciam a forma de relacionamento interpessoal dentro do espaço laboral, perpassada também pelo comportamento e cultura organizacional, com suas regras impostas, direta ou indiretamente, interferindo nos processos e no trabalho realizado. A organização do trabalho é a divisão do homem nos postos de trabalho para execução das tarefas, sujeitas à regulação proveniente das

relações, perpassadas pelas contradições entre o prescrito e o real das atividades laborais.

Diante desse contexto condições onde falta visualização das atividades com começo, meio e fim, visualização dos resultados, com excesso de flexibilização das decisões e processos de trabalho, sem possibilidade do desenvolvimento de atividades que necessitem de iniciativa têm papel determinante numa perspectiva de vivência do sofrimento.

O trabalho transformado em atividade parcelada, repetitiva e sem sentido, retira do sujeito sua capacidade avaliativa e criativa, impede a conquista da identidade, desapropria o saber, inibe iniciativas de organização e adaptação ao trabalho, pois tal adaptação exige uma atividade intelectual e cognitiva não almejada. (Daniellou, et al, 1989). Alguns modelos atuais de organização de trabalho produzem consequências sobre a saúde psíquica, pois tais modelos demandam um trabalhador mais engajado, apto a realizar diversas operações e mais escolarizado, com mais responsabilidades e disponibilidade, mas com menos tempo e controle sobre esse trabalho.

As “marcas” do trabalho, que aparecem sob a forma de aspectos culturais da organização, com implicações no trabalho e consequentes modificações de conduta no ambiente fora do trabalho, também têm como uma de suas fontes, a rigidez da organização, a fragmentação da tarefa que exige respostas personalizadas ou criação de condições de defesa. Sem negar a importância dos cerceamentos psíquicos ligados ao trabalho na geração do sofrimento, Dejours (1994) chama atenção para o fato de que é principalmente a falta de possibilidades para mudar ou mesmo aliviar esses cerceamentos a origem dos problemas de saúde. Nesse processo é importante ressaltar que o fato de a organização do trabalho não afetar igualmente a saúde de todos os trabalhadores, submetidos a ela, significaria que o privado – a estrutura psíquica – vai prevalecer sobre o social – o trabalho (DEJOURS & ABDOUCHELI, 1994).

Dejours pontua que o sofrimento não é causado pelo trabalho em si, mas utilizado pela organização para produzir mais trabalho, sendo o controle o instrumento usado para o aumento da performance, “o que é explorado pela organização do trabalho não é o sofrimento em si, mas principalmente os mecanismos de defesa utilizados contra esse sofrimento” (Dejours, 1988, p. 104), que provém de um trabalho estereotipado e que não permite a expressão dos desejos do indivíduo, pois proíbe a variabilidade e aumenta a carga psíquica que será utilizada para intensificar o ritmo do trabalho. Considerando-se assim os fenômenos ligados ao sofrimento no trabalho como

resultantes da exploração dos mecanismos de defesa, criados para a manutenção dos conteúdos inconscientes, pela suportar a organização do trabalho.

Dejours (1988) afirma que o subjetivo e o privado estão na raiz da questão do sofrimento mental, onde o real do trabalho sempre se manifesta afetivamente para o sujeito, estabelecendo uma relação de sofrimento, experimentada pelo sujeito e, geralmente, corporificada diante da realidade que é encontrada.

Assim, o sofrimento psíquico surge quando há um empecilho entre o homem e a organização, entre o prescrito e o real, divisão e padronização das tarefas, com subutilização do potencial técnico e criatividade, pela rigidez hierárquica, com excessos de procedimentos burocráticos, pela centralização de informações, pela falta de participação nas decisões, falta de reconhecimento, entre outros fatores (FERREIRA; MENDES, 2001).

Nesse contexto podem surgir somatizações que para Dejours (1994) são como um processo onde um conflito que, não consegue encontrar uma resolução mental, desencadeia desordens endócrino-metabólicas no corpo. A somatização é uma resposta individual ao sofrimento no trabalho, frente à rigidez da organização, onde o indivíduo encontra uma saída que se manifesta através da doença, pois não pode abandonar ou mudar o contexto do emprego uma vez que este é o meio de sua subsistência e é rígido em sua estrutura. A somatização mascara o sofrimento mental.

Périlleux (2013) aponta que as novas formas de patologia do trabalho são consequências psicopatológicas, tais como o burn out (esgotamento físico), patologias do assédio, depressões, suicídios, vistas como formas específicas da alienação no trabalho, associadas ao novo modelo de gestão e à dominação, com a evolução correspondente a um progresso sensível nos meios e métodos da dominação que limitam as condições de pensamento e sublimação. Ocorre uma mobilização da subjetividade e dominação afetiva em um contexto em que o apoio social dos funcionários é fragilizado.

Merlo (1998) aponta que a relação do trabalho é feita com o outro, numa dimensão simbólica e moral e o verdadeiro impacto está ligado à dimensão simbólica e essas relações acabam levando a resultados patógenos. O que vem ocorrendo no cotidiano de vida e de trabalho é, antes de qualquer coisa, o aparecimento de sintomas psíquicos inespecíficos na relação com o trabalho (ansiedade, transtornos depressivos, insônia, alterações de humor etc.) e somatizações, as mais variadas.

Seligman Silva (1994) reforça a relação saúde mental e trabalho, conforme a situação vivenciada, podendo fortalecer a saúde mental quanto levar a distúrbios que se expressarão em termos sociais, psíquicos, psicossomáticos ou psiquiátricos. A forma de trabalho dominado, característico do capitalismo, produz o sofrimento na medida em que a dominação esmaga a identidade e aprisiona as condições da estrutura organizacional.

Mendes (2007) afirma que a subjetividade da relação homem e trabalho possuem efeitos concretos e reais, mesmo que sejam descontínuos, tais como: absenteísmo, greves ou presenteísmos (engajamento excessivo a tarefas), situações e atitudes de desencorajamento, decepção, desafetos, conflitos interpessoais ou tensões que atingem o limite do intolerável. Situações variadas como fracasso, acidente de trabalho, mudança de posição na hierarquia, dentre outros. Frequentemente determinam quadros psicopatológicos diversos, variando segundo características do contexto e modo do indivíduo responder a elas.

Périlleux (2013) reforça que o sofrimento é uma experiência íntima e singular e como já afirmava Dejours, é inerente ao trabalho, com uma dor do existir diante do real, mas que não é de fácil denúncia ou justificativa. A visibilidade, pelo Outro, desse processo de adoecimento e sofrimento leva a um sentimento de culpa, com mecanismos de negação e ocultação, impedindo assim sua demonstração em espaço público.

Mendes (2007) também aponta o processo de comunicação dentro do ambiente de trabalho, moldado pela cultura organizacional, como um outro fator importante na determinação da saúde mental. Ambientes que impossibilitam à comunicação espontânea, a manifestação de insatisfações, as sugestões dos trabalhadores em relação à organização ou ao trabalho desempenhado provocarão tensão e, por conseguinte, sofrimento e distúrbios mentais.

O limiar entre o sofrimento e prazer nem sempre é claro, visto que situações podem desencadear uma ou outra situação, dependendo da vivência que lhe é apontada. Para Jacques (2007) existem possibilidades de não adoecimento. O prazer no trabalho está ligado a uma consonância entre os anseios, desejos e aspirações do trabalhador e aquilo que o contexto de produção pode oferecer. São de fundamental importância para o estabelecimento do prazer no trabalho alguns pontos, tais como: visualização do processo de produção em todo o seu contexto, com começo, meio e fim da atividade; utilização de métodos e instrumentos de trabalho mais adequados; identificação com o trabalho a partir da constatação da totalidade dos resultados e objetivos; maior

autonomia; uso de competências técnicas e criativas; e relações sociais baseadas na confiança, cooperação e participação, dentre outros.

Caso essas vivências não sejam concretas, acontecem situações de sofrimento, como uma vivência individual ou compartilhada pelo grupo, resultantes da impossibilidade de uma negociação bem-sucedida entre os desejos e anseios individuais e o contexto de produção do trabalho e de sua organização. Num contexto onde surgem novas formas de organização do trabalho, de gestão e de direção das empresas é a individualização e o apelo à concorrência generalizada entre as pessoas, entre as equipes

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