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RAZÃO DE SER E JUSTIFICAÇÃO DE UMA ORIGINALIDADE DO ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS

F. VALÉRIO PINTO

5. Da Reclamação de Créditos no âmbito do CPEREF

Nos termos do CPEREF, aprovado pelo DL n.º 132/93, de 23 de Abril 27, a declaração de falência obsta à instauração ou ao prosseguimento de qualquer acção executiva contra o

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Alterado pelo DL n.º 157/97, de 24 de Junho, DL n.º 315/98, de 20 de Outubro, DL n.º 323/2001, de 17 de Dezembro, e DL n.º 38/2003, de 8 de Março.

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falido, prosseguindo se houver outros executados, mas apenas contra estes (cfr. art. 154.º, n.º 3, daquele Código).

O que implica que, estando pendentes acções executivas contra o falido, a instância seja declarada extinta, por impossibilidade superveniente (art. 287.º, alínea c), do CPC, aplicável ex vi do art. 1.º, n.º 2, alínea a), do CPT).

Na eventualidade de correrem termos acções declarativas, contra o falido ou mesmo contra terceiros, em que se apreciem questões relativas a bens compreendidos na massa falida, mas cujo resultado possa influenciar o valor da massa, declarada a falência, são todas apensadas ao processo de falência, desde que a apensação seja requerida pelo liquidatário

judicial, com fundamento na conveniência para a liquidação (art. 154.º, n.º 1, do CPEREF) 28. Por sua vez, proferida a sentença declaratória da falência, o JUIZ requisitará ao tribunal

ou entidades competentes a remessa, para efeitos de apensação aos autos de falência, de todos os processos nos quais se tenha efectuado qualquer acto de apreensão ou detenção de bens do falido - art. 175.º, n.º 3, do CPEREF.

Sendo de reter, ainda, que "o credor que tenha o seu crédito reconhecido por decisão definitiva não está dispensado de o reclamar no processo de falência, se nele quiser obter pagamento"- art. 188.º, n.º 3, do CPEREF.

No âmbito do processo falimentar encontram-se previstas as seguintes modalidades para a verificação do passivo:

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Nos casos em que a apensação não é requerida pelo liquidatário judicial, mas há notícia da falência, coloca-se questão de saber se a declaração de falência não determina, ainda assim, a extinção da instância por inutilidade superveniente, com o argumento de que à fase declarativa nunca se poderá seguir a fase executiva, por força da proibição contida no art. 154.º, n.º 3, do CPEREF. Esta questão, que envolve alguma divergência jurisprudencial, é abordada por Maria Adelaide Domingos, em "Notas da Jurisprudência" - Prontuário de Direito do Trabalho, CEJ, n.º 64, p. 73 e ss. Contrariamente, porém, ao que nos parece ser defendido pela mesma autora, afigura-se-nos que, na eventualidade de a apensação da acção não ser requerida pelo liquidatário judicial, o processo deverá prosseguir, competindo ao liquidatário judicial a representação da massa falida, activa ou passivamente (art. 134.º, 11.º 4, alínea a), do CPEREF), e que, apesar de o credor não estar dispensado de, posteriormente, ter de reclamar o seu crédito na falência (art. 188.º, 11.º 3, do CPEREF), tem todo o interesse, por falta de outro título executivo, em ver o seu crédito reconhecido por uma decisão judicial transitada em julgado. Por outro lado, embora os credores e o falido possam sempre contestar a existência ou o montante dos créditos reclamados, sem excepção dos que

houverem sido reconhecidos em outro processo (art. 192.º do CPEREF), tal contestação mostra-se mais

dificultada pelo circunstância de o liquidatário judicial ter intervindo naquele outro processo em representação da massa falida.

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 A Reclamação de Créditos, dentro do prazo fixado na sentença declaratória da falência, por meio de requerimento no qual se indique a proveniência, natureza e montante do crédito (art. 188.º, n.º 1, do CPEREF);

 A verificação ulterior de créditos ou de outros direitos, por meio de acção proposta contra os credores 29 (n.º 1), no prazo de um ano subsequente ao trânsito em julgado da sentença de declaração da falência (n.º 2), assinando o credor, no processo principal da falência, teimo de protesto (n.º 3, todos do art. 205.º do CPEREF);

 E, por fim, consideram-se, ainda, reclamados o crédito do requerente da falência, bem como os créditos exigidos no processo em que tenha havido apreensão de bens do falido ou nos quais se debatam interesses relativas à massa, se esses processos foram mandados apensar aos autos de falência dentro do Prazo fixado para reclamação, e ainda os créditos reclamados no processo de recuperação que tenha antecedido o processo de falência, esta sem prejuízo de os credores apresentarem nova reclamação, em substituição da anterior, se nisso tiverem interesse (art. 188.º, n.º 4, do CPEREF).

Assim, tendo um trabalhador (exequente) intentado, com o patrocínio do Ministério Público, determinada execução de sentença para cobrança coercivo dos seus créditos, na eventualidade de vir a ser declarada, na pendência daquela, a falência da entidade executada, a instância extingue-se, por impossibilidade superveniente (art. 287.º, alínea c), do CPC, aplicável ex vi do art. 1.º, n.º 2, alínea a), do CPT e art. 154.º, n.º 3, do CPEREF), podendo, então, ocorrer uma das seguintes situações:

Havendo apreensão ou detenção de bens:

a) a execução é remetida para apensação aos autos de falência (remessa

que deverá ocorrer, quer quando a apensação é solicitada pelo juiz da falência, quer quando, não sendo a mesma solicitada, haja

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Ainda que não de modo uniforme, a jurisprudência vem entendendo que a acção prevista neste art. 205.º do CPEREF deve ser intentada, não só contra os credores, mas ainda contra o falido, nos termos do art. 28.º do CPP, por se verificar um litisconsórcio necessário passivo entre os credores da falida e a própria falida - cfr., entre outros, o Ac. do SD, de 4-6-1998, BMJ 478.º /274.

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conhecimento da declaração de falência 30 - art. 175.º, n.º 3, do CPEREF - considerando-se os créditos reclamados se for determinada a Apensação desses processos aos autos de falência dentro do prazo fixado para a reclamação - art. 188.º, n.º 4, 2.ª parte, do CPEREF;

Não havendo apreensão ou detenção de bens:

a) Os créditos devem ser reclamados no processo de falência, dentro do

prazo fixado na respectiva sentença declaratória, por meio de requerimento no qual se indique a proveniência, natureza e montante do crédito (art. 188.º, n.º 1, do CPEREF);

b) Se tiver decorrido já o prazo fixado na sentença para a reclamação de

créditos, mas ainda não tiver decorrido um ano sobre o trânsito em julgado da sentença de declaração de falência, os créditos podem, ainda, ser reclamados, por meio de

c) acção proposta contra os credores e a falida 31 (verificação ulterior de créditos), assinando o credor, no processo principal da falência, termo

de protesto (art. 205.º do CPEREF).

Naquela primeira hipótese - remessa para apensação ao processo de falência da execução em que tenha havido apreensão ou detenção de bens - não se coloca a questão do patrocínio do trabalhador (exequente) pelo Ministério Público junto da instância falimentar, uma vez que os créditos se consideram reclamados por efeito dessa mesma apensação (art. 188.º, n.º 4, 2.ª parte, do CPEREF), apenas havendo que verificar se o processo executivo foi mandado apensar ao processo de falência dentro do prazo fixado na sentença para a reclamação de créditos, o que pode (deve) ser feito pelo magistrado do Ministério Público junto do Tribunal do Trabalho que patrocinou o trabalhador. Por outro lado, não sendo solicitada a remessa, para apensação ao processo de falência, do processo executivo (art. 175.º, n.º 3, do CPEREF), o Ministério Público que patrocina o trabalhador/exequente no foro laboral, logo que tenha conhecimento da declaração de falência, deve requer a extinção da

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Solução que se nos afigura ser de adaptar já que, por uma questão de economia processual, não faria sentido que o tribunal de execução informasse o da falência da existência de bens penhorados e ficasse, depois, a aguardar que o juiz da falência solicitasse a remessa do processo, correndo-se o risco de poder ser ultrapassado o prazo fixado na sentença para a reclamação dos créditos.

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instância, por impossibilidade superveniente (art. 287.º, alínea c), do CPC, aplicável ex vi do art. 1.º, n.º 2, alínea a), do CPT e art. 154.º, n.º 3, do CPEREF) 32, e a remessa dos autos para apensação ao processo de falência.

Deste modo, no âmbito do processo de falência, a questão do eventual patrocínio dos trabalhadores pelo Ministério Público só se coloca nas demais situações referidas supra, nos itens a) e b), isto é, quando seja necessário apresentar Reclamação de créditos, nos termos do disposto no art. 188.º, n.º 1, do CPEREF, ou propor a Acção para verificação ulterior de créditos a que reporta o art. 205.º, do mesmo Código.

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