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Dados Avaliados nos Pais: Condições Pessoais

No documento Relatório dissertação Joana Regufe 2015 (páginas 186-190)

CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1. Os Dados Utilizados pelos Enfermeiros para Ajuizar sobre o Foco Papel Parental

3.1.2. Avaliados nos Pais e Relacionados com a Transição Parental

3.1.2.4. Dados Avaliados nos Pais: Condições Pessoais

Meleis e colaboradoras (2000) distinguiram como condições pessoais influenciadoras da transição os significados, as crenças culturais e atitudes, o status socioeconómico e a preparação e conhecimento. Revisitando o Capítulo 1 deste relatório, onde são descritos os fatores que a literatura aponta como condicionadores da transição para parentalidade, da adaptação dos pais à hospitalização e da transição para uma parentalidade centrada na satisfação de necessidades especiais permanentes, compreendemos qual a origem das subcategorias definidas à priori para integrar as condições pessoais parentais: Idade dos pais, Capacidade motora, Capacidade cognitiva, Disponibilidade para aprender, Significados atribuídos ao papel parental, Crenças e atitudes, Perceção de autoeficácia, Preparação, Experiências anteriores e Condição socioeconómica. Apresentamos, na seguinte figura, um esquema representativo da parte do modelo de análise referente à categoria Dados avaliados nos Pais: Condições Pessoais.

Figura 67 - Representação do modelo de análise de conteúdo referente à categoria Dados avaliados nos Pais: Condições Pessoais

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A Idade dos pais é um dado relevante, uma vez que a maturidade parental está ligada a uma parentalidade mais responsiva e sensitiva, havendo uma maior capacidade para ultrapassar as adversidades (Cudmore, 2012; Mortensen et al., 2012).

A Capacidade cognitiva e a Capacidade motora são imprescindíveis para aquisição de conhecimentos e habilidades, que permitam aos pais assegurar os cuidados ao filho. Embora se tratem de subcategorias sem unidades de registo no corpus de análise, entendemos que constituem dados concorrentes para diagnósticos de enfermagem centrados na potencialização de conhecimentos e capacidades, uma vez que a sua ausência implica dificuldades significativas na compreensão dos propósitos dos cuidados, e na forma de executá-los, bem como na capacidade para realizarem os mesmos com o rigor necessário, para que se tornem eficazes e benéficos para a criança.

A Disponibilidade para aprender associa-se, diretamente, aos processos de aprendizagem, tanto cognitiva, como comportamental. Trata-se de um foco que foi introduzido na versão 2 da CIPE, sendo que, segundo esta, disponibilidade corresponde a um status revelador de estar preparado ou disponível para ação ou progresso (ICN, 2011), neste caso, para aprender e melhorar os conhecimentos e as habilidades. No nosso modelo de análise subdivide-se em: (1) reconhecimento da necessidade de aprender e (2) procura ativa de informação.

Sendo a motivação, e a vontade, condições inerentes ao sucesso da aprendizagem, a avaliação da Disponibilidade para aprender, é essencial, quando perspetivamos a necessidade de aprendizagem. É, ainda, mais relevante quando pretendemos atribuir um sentido mais positivista aos diagnósticos de enfermagem, centrados nas dimensões dos conhecimentos e habilidades, através do emprego de juízos vocacionados para a potencialidade. Isto porque, só existe potencial, e possibilidade da pessoa adquirir ou melhorar conhecimentos e capacidades, se a mesma reunir a vontade, preparação e disponibilidade para o progresso. Como tal, a disponibilidade para aprender é favorecedora da transição, uma vez que perspetiva a potencialização de competências parentais, essenciais à reformulação da identidade, enquanto pais de uma criança com necessidades permanentes. Ou seja, apesar de esta subcategoria não apresentar unidades de registo no corpus de análise, compreendemos a utilidade da sua avaliação.

Similarmente ao que foi referido na Consciencialização, os significados aqui abordados, apresentam um sentido ligeiramente diferente daqueles presentes nas categorias associadas às necessidades da criança. Aqui os significados prendem-se com a experiência parental de passar a ser pai/mãe de uma criança com necessidades especiais permanentes, e com o significado que atribuem ao seu novo papel. Como vimos na

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primeira parte deste trabalho, os significados atribuídos pelos pais podem ser muito distintos, sendo que, por norma, evoluem num sentido positivo (Green, 2007; Sousa, 2012). Apesar de não apresentar unidades de registo associadas, os Significados relacionados com o papel parental, se dificultadores, podem influenciar negativamente o decurso e o empenho parental na transição, pelo que é uma subcategoria representativa de dados relevantes.

A subcategoria Crenças e atitudes, apesar de não conter unidades de registo, pode- se revelar condicionadora da transição. A presença de atitudes negativas, perante a experiência de transição, afeta negativamente o envolvimento parental, comprometendo o desenvolvimento de mestria e integração fluida da identidade de pai/mãe de uma criança com necessidades especiais permanentes (Green, 2007; Meleis et al., 2000).

Como já foi enfatizado no Capítulo 1, a Perceção de autoeficácia constitui uma das crenças com maior impacto na aprendizagem, e consequente desempenho do papel parental (Biehle & Mickelson, 2011). Trata-se de uma subcategoria que contem algumas unidades de registo no corpus de análise. Apresentamos alguns exemplos:

Como se pode constatar, tratam-se de intervenções de enfermagem que se centram so etudo o elogia – ou expressar aprovação (ICN, 2003) – os pais em relação a p og essos co seguidos os cuidados , ap e dizage de ha ilidades , co po ta e to , cuidados p estados e p og essos ; e o elho a – aumentar, intensificar (ICN, 2005) – a sua autope ceç o positiva e autojulga e to positivo em relação ao desempenho do seu papel. Ou seja, são unidades de registo que se vocacionam para o reforço positivo da forma como os pais se veem, se julgam, se analisam e se conceptualizam a si próprios. Consideramos que as unidades de registo objetivam a melhoria da autoperceção de eficácia, uma vez que o desenvolvimento da mesma vai sendo potencializado pela aquisição de conhecimentos e habilidades, assim como pela satisfação pessoal, e avaliação positiva do próprio desempenho nos cuidados ao filho. Por sua vez, uma autoeficácia positiva potencializa a aquisição de novos conhecimentos e habilidades, resultando numa maior confiança e segurança na execução dos cuidados (Liu et al., 2012). A baixa autoeficácia, e existência de crenças dificultadoras, significa que a pessoa não tem consciência de ser capaz de fazer, ou de mudar determinado comportamento. Ou seja, podemos considerar que constituem dados importantes na enunciação de diagnósticos centrados na consciencialização parental.

Elogiar a mãe nos progressos conseguidos nos cuidados ao RN (IntSAPE) Elogiar os cuidados prestados pelos pais (IntSAPE)

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A subcategoria Preparação emergiu, diretamente, do condicionalismo pessoal que Meleis e colaboradoras (2000) distinguem como preparação e conhecimento. O grau de preparação e conhecimento influencia a capacidade parental para enfrentar os desafios, que, na realidade em estudo, está associada à capacidade parental para satisfazer as novas e especiais necessidades do filho (Tong et al., 2010). Grande parte dessa preparação centra- se no desenvolvimento de conhecimentos e habilidades, que permitirão aos pais atender às demandas do filho de forma mais assertiva, responsiva e eficaz (Bagnasco et al., 2013).

Logo, a subcategoria Preparação centra-se, sobretudo, nos conhecimentos e habilidades que permitem aos pais responder às exigências do seu novo papel. No entanto, tratam-se de conhecimentos e habilidades muito mais generalizados, não sendo particulares de nenhuma necessidade desenvolvimental ou especial, mas focando-se, essencialmente, no conhecimento sobre o papel parental e o que é esperado de si enquanto pai/mãe de uma criança com necessidades especiais permanentes. Isto é uma condição essencial para que o processo de consciencialização parental se desenvolva.

Apresentamos alguns exemplos de unidades de registo da subsubcategoria Preparação – Desempenho do papel parental em condição especial permanente:

Algumas das unidades de registo centram-se na dimensão do conhecimento sobre: papel , papel pa e tal , papel pa e tal e elaç o c ia ça/lacte te/ ecém- ascido , ecessidades especiais , ecessidade e co diç o especial e co diç es de p o tid o pa a a pa ticipaç o de cuidados ao filho . Out as focaliza -se na dimensão das habilidades pa a: papel pa e tal , dese pe ho do papel pa e tal , satisfação das necessidades da c ia ça , to a co ta da c ia ça/lacte te/ ec - ascido , p esta cuidados , p estaç o de cuidados , cuidados , cuidado ao ec - ascido , ecessidade co co diç o especial e ecessidades especiais . Ou seja, face a u a t ansição com estas ca acte ísticas ecess io avalia o co heci e to dos pais so e o seu ovo papel, e como a sua capacidade para atender adequadamente às necessidades especiais do filho. A u idade de egisto ue visa o ie ta pa a a co diç o das ecessidades da criança e

espetivo papel pa e tal ta se coadu a co esta ideia.

Contudo, existem outras unidades de registo que se direcionam mais para o e co aja , i ce tiva , p o ove , esti ula , au e ta e elho a :

Papel Parental Conhecimento sobre o papel parental em relação à criança Não Demonstrado (DxSAPE)

Orientar mãe/pai sobre condição das necessidades da criança e respetivo papel parental (IntSAPE)

Encorajar a interação de papéis (IntTESE)

Melhorar socialização de mãe/pai de criança com necessidades especiais permanentes (IntTESE) Promover coesão entre mãe/pai (IntTESE)

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dese pe ho do papel pa e tal , papel pa e tal , edefi iç o das ta efas pa e tais , edefi iç o de pap is , i te aç o de pap is e coes o e t e pai/ e . Ou seja, focalizam-se sobretudo no desempenho do seu papel, e em fenómenos inerentes à mudança e diferença na transição, como a interação, a redefinição de papéis, o risco de menor socialização e de compromisso da coesão parental (Pedrón-Giner et al., 2014; Yildiz, Celebioglu & Olgun, 2009). Consideramos que esta categoria, ao considerar o conhecimento dos pais sobre o desempenho do seu papel e sobre as mudanças que irão ocorrer, se coaduna com a enunciação de diagnósticos centrados na consciencialização dos pais, uma vez que para a mesma existir os pais têm de saber o que esperar da transição.

Como foi deixado claro na primeira parte deste relatório, as Experiências anteriores e a Condição socioeconómica dos pais constituem, igualmente, importantes fatores influenciadores da transição (Lemacks et al., 2013; Meleis et al., 2000; Mussatto, 2006). As experiências prévias contribuem para uma maior confiança e autoeficácia, permitindo uma perceção mais clara e realista do que esperar e de como superar as dificuldades (Liu et al., 2012). Um elevado estatuto socioeconómico parental também é apontado como sendo facilitador da experiência de transição (Martins, 2013; Meleis et al., 2000).

No documento Relatório dissertação Joana Regufe 2015 (páginas 186-190)