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Intencionalidades Terapêuticas Envolvidas na Parceria de Cuidados entre

No documento Relatório dissertação Joana Regufe 2015 (páginas 53-57)

CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO DO ESTUDO

1.6. A Parceria de Cuidados como Terapêutica de Enfermagem Pediátrica

1.6.1. Intencionalidades Terapêuticas Envolvidas na Parceria de Cuidados entre

O contexto em que ocorre a hospitalização e o seu impacto na parentalidade influencia as ações de enfermagem e, portanto, as intenções por de trás das mesmas. Ao longo da investigação-ação desenvolvida por Sousa (2012), percebeu-se que as intencionalidades eram influenciadas por diversos atributos relacionados com características da hospitalização, da criança, da parentalidade e dos pais. A partir da avaliação destes atributos (Figura 4), é possível determinar o potencial de participação dos pais nos cuidados à criança, assim como o padrão de parceria de cuidados a estabelecer para promover a parentalidade durante a hospitalização, determinando-se o tipo de papel parental envolvido (Sousa, 2012).

Tal como já foi mencionado, o Papel Parental Desenvolvimental refere-se aos cuidados parentais para satisfazer as necessidades desenvolvimentais da criança. Está presente na relação de parceria com pais de crianças que são hospitalizadas, durante um curto espaço de tempo, devido a um processo patológico de fraca complexidade, justificando-se a manutenção da habitualidade no exercício parental (Sousa, 2012).

O papel parental especial representa a ação parental para satisfazer as necessidades especiais de natureza transitória, características de processos patológicos agudos, que implicam cuidados mais diferenciados e específicos de uma situação temporária. A acrescida complexidade dos processos patológicos e duração do internamento, comparativamente à situação anterior, justificam uma maior participação dos pais nos cuidados mais complexos, de forma a minimizar o impacto da hospitalização. Esta

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participação tem um caráter facultativo, uma vez que implica a aquisição de competências que os pais não necessitarão após o regresso a casa (Sousa, 2012).

O papel parental complexo relaciona-se com a ação parental para satisfazer as necessidades especiais de natureza permanente da criança. São necessidades que resultam de incapacidades, deficiências ou alterações patológicas irreversíveis. No contexto de hospitalização, as necessidades especiais permanentes podem surgir no internamento, ou podem já existir previamente ao mesmo. Assim, emergiram os termos papel parental complexo inaugural e papel parental complexo estabelecido, uma vez que as intencionalidades terapêuticas envolvidas nestas duas situações diferem (Sousa, 2012).

O papel parental complexo estabelecido, tal como o nome indica, refere-se ao comportamento e ação de providenciar cuidados particulares, específicos e característicos de uma situação complexa de natureza crónica já está instalada, ou seja, os pais já desempenham cuidados complexos em casa. Assim, durante a hospitalização, existe a intenção de promover o desempenho do papel parental daqueles pais que já prestam habitualmente cuidados complexos no domicílio e que, para tal, já lhes é reconhecido o conhecimento e capacidade (Sousa, 2012). Para estes pais, a participação nos cuidados é a forma que encontram para manter o seu papel habitual, esforçando-se para garantir a normalidade para a criança e para si mesmos. São pais que, devido à sua experiência, se tornam peritos nos cuidados específicos à criança, atingindo mestria no seu papel. Alguns pais fazem mesmo questão de assumir a totalidade dos cuidados ao filho, uma vez que, por serem as pessoas que melhor o conhecem, são, igualmente, as mais capazes para prestar cuidados com excelência. Paralelamente, a experiência de hospitalizações prévias, permite- lhes uma relação de longa duração com os profissionais e com o ambiente hospitalar, sentindo-se mais confortáveis na participação nos cuidados (Hewitt-Taylor, 2012).

Se alguns pais já demonstram perícia nos cuidados, outros apresentam alguns défices e dificuldades nos cuidados prestados, o que não lhes permite, ainda, uma competência parental efetiva para satisfazer as necessidades especiais permanentes do filho. Assim, a hospitalização constitui uma oportunidade para melhorar o desempenho parental complexo, através de intervenções dirigidas para a promoção do desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades (Sousa, 2012).

Também no contexto do papel parental complexo estabelecido, o internamento pode ser orientado para proporcionar descanso aos pais, sendo a sua participação nos cuidados pouca ou nenhuma. Há pais que se encontram de tal forma sobrecarregados e stressados devido à enorme exigência diária a que são submetidos para atender às necessidades do filho, que encaram o internamento como uma oportunidade de descanso e repouso do seu

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papel habitual. Isto ocorre sobretudo nos casos de doença crónica de longa duração, em que hospitalização pode representar o momento ideal para a diminuição da sobrecarga, através da diminuição da prestação dos cuidados complexos. É importante que os enfermeiros percecionem e apoiem estas situações, uma vez que este repouso pode ser essencial para a manutenção da saúde física e mental dos pais, bem como do seu bem- estar emocional (Sousa, 2012; Thomas & Melda, 2012).

O papel parental complexo inaugural reporta-se ao início do processo e ação de providenciar cuidados particulares e específicos, característicos de uma situação complexa de patologia crónica inaugural. Refere-se a pais que, durante a hospitalização, passam a lidar, pela primeira vez, com necessidades especiais permanentes. A parceria de cuidados é orientada facilitar a transição de uma parentalidade desenvolvimental para uma parentalidade complexa. Durante o internamento aprendem a satisfazer as novas necessidades do filho e reformulam o seu projeto de parentalidade, pelo que as intervenções de enfermagem são voltadas para a facilitação deste processo, através da promoção da aquisição de conhecimentos e habilidades, bem como de suporte emocional (Sousa, 2012).

Verifica-se que os pais de crianças com diagnóstico de doença crónica inaugural desejam estar totalmente envolvidos nos cuidados ao filho (Sousa et al., 2013). Isto permite-lhes um maior controlo da situação e das fortes emoções vivenciadas, ao mesmo tempo que demonstra consciencialização face à necessidade de adquirir, num curto espaço de tempo, uma grande quantidade de conhecimentos e habilidades que serão fundamentais no regresso a casa (Balling & Mccubbin, 2001; Nuutila & Salanterä, 2006).

Numa atitude de afeto e sobreproteção, alguns pais tendem a substituir desnecessariamente os filhos, quer estes estejam internados por doença aguda ou por doença crónica. No entanto, é expectável que, no exercício do seu papel, os pais sejam capazes de facilitar a transição desenvolvimental e de saúde-doença da criança, promovendo a autonomia no autocuidado, na gestão da doença e do regime terapêutico. Desta forma, sobretudo em condição especial permanente, o internamento pode constituir um momento propício para a promoção da autonomia da criança e capacidade de gestão eficaz da doença (Bagnasco et al., 2013; Sousa, 2012).

O esquema seguinte (Figura 4) representa as intencionalidades terapêuticas envolvidas no cuidado em parceria, tendo em conta os contextos parentais apresentados.

53 Figura 4 - Representação das intencionalidades terapêuticas envolvidas na parceria de cuidados (Adaptado de Sousa, 2012)

INTENCIONALIDADES TERAPÊUTICAS Papel Parental

Desenvolvimental

 Promover a participação dos pais nos cuidados do tipo desenvolvimental

 Preparar os pais para promover a autonomia da criança Papel Parental

Especial

 Promover a participação dos pais nos cuidados do tipo desenvolvimental

 Promover as competências parentais para prestar cuidados complexos (opcional)

 Preparar os pais para promover a autonomia da criança Papel Parental

Complexo [estabelecido]

 Promover o desempenho do papel parental complexo de pais com capacidade parental complexa efetiva

 Preparar os pais para promover a autonomia da criança Papel Parental

Complexo [estabelecido]

 Melhorar o desempenho do papel parental complexo durante a hospitalização

 Preparar os pais para promover a autonomia da criança Papel Parental

Complexo [estabelecido]

 Reduzir a sobrecarga parental dos pais da criança com necessidades especiais permanentes através da diminuição do desempenho durante a hospitalização

 Preparar os pais para promover a autonomia da criança Papel Parental

Complexo [inaugural]  Preparar os pais para o desempenho parental complexo  Preparar os pais para promover a autonomia da criança Atributos da Hospitalização

 Tipo de admissão

 Complexidade do processo patológico

Atributos da Criança  Idade

 Necessidades apresentadas no domicílio  Necessidades apresentadas no hospital  Necessidades apresentadas no regresso a casa  Comportamentos de ligação afetiva com os pais Atributos da Parentalidade

 Condição do papel parental no domicílio  Condição do papel parental no hospital  Condição do papel parental no regresso a casa  Comportamentos de ligação afetiva com o filho  Conhecimento sobre as necessidades do filho  Capacidade para satisfazer as necessidades do filho

Atributos dos Pais

 Consciencialização das necessidades da criança  Consciencialização das mudanças geradas pela

hospitalização

 Expectativas quanto à gravidade da condição da criança

 Expectativas acerca do papel parental no hospital  Desejo de participação nos cuidados no hospital  Experiências anteriores de hospitalização  Rede de suporte

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