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4.024/1961, duração mínima de quatro anos O ensino secundário no Brasil ganhou

3 METODOLOGIA E PRIMEIROS PASSOS DA PESQUISA

3.2 DADOS DE PESQUISA

Tendo em vista o percurso de pesquisa delineado ao longo da seção anterior, entendemos ser importante melhor apresentar as fontes dos dados de pesquisa com os quais trabalhamos ao longo desta pesquisa.

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A esse respeito ver Kreutz (1994). 65

Ao longo da tese, traremos alguns dados referentes ao Colégio da Irmãs da Divina Providência e ao Colégio Luiz Delfino, realçados em virtude da importância que ambos os colégios tiveram no recorte temporal estudado. Todavia não é neles, propriamente, que se centra a nossa pesquisa. O Colégio das Irmãs da Divina Providência, em virtude de ter estado muito tempo atrelado ao Colégio Franciscano Santo Antônio, é apresentado ao longo deste capítulo. Já o Colégio Luiz Delfino é apresentado à medida que citamos dados a ele relativos.

Como sinalizamos desde o início desta tese, analisamos a história da disciplina de Língua Portuguesa no contexto do ensino secundário (hoje correspondente às séries finais do Ensino Fundamental - 6º. a 9º. ano - e ao Ensino Médio) no recorte temporal que se inicia com a fundação da cidade de Blumenau e se prolonga até o final da década de 1950. Apontamos desde já que nem sempre e nem em todas as instituições de ensino a disciplina de Língua Portuguesa esteve voltada a atender alunos que tinham a língua portuguesa como primeira língua. Dados relativos ao Colégio São Paulo (posteriormente, Colégio Franciscano Santo Antônio) apontam que havia classes separadas para o ensino de língua portuguesa para os brasileiros (que tinham o português como primeira língua) e para os teuto-brasileiros66 (que, frequentemente, tinham o alemão como primeira língua). A pesquisa de Luna (2000), que teve como foco a Escola Nova Alemã de Blumenau e que foi mencionada logo no início desta pesquisa, revela que a configuração da disciplina de Língua Portuguesa nessa instituição de ensino se ancorava em uma metodologia de ensino de língua portuguesa como segunda língua, o que nos parece claramente compreensível tendo em vista que, principalmente durante as primeiras décadas após a fundação da cidade, era o alemão a língua que mediava as interações que se efetivavam principalmente na esfera do cotidiano.

É importante sublinharmos também que, ainda que a nossa intenção inicial fosse apenas pesquisar o contexto do ensino secundário, ao longo da pesquisa, em muitos momentos, sentimos a necessidade de refletirmos sobre o ensino primário (o qual era ofertado nas escolas de primeiras letras e nos grupos escolares), por entendermos que uma e outra coisa estão e sempre estiveram imbricadas e que, de fato, muitas vezes, observam-se no ensino primário as diretrizes pedagógicas e teórico-metodológicas que vão nortear também o ensino secundário. Mesmo que não haja coincidência, podemos,

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Quando nos referimos aqui a teuto-brasileiros não pensamos apenas nos alemães naturalizados, mas procuramos abarcar sujeitos com uma dada identidade étnica híbrida, resultante de um diálogo entre a cultura alemã e a cultura brasileira, diálogo esse que os constitui como sujeitos e o horizonte apreciativo que guia sua ações e seus modos de “ver” o mundo.

certamente, pensar em aproximações e mesmo em afastamentos que estão vinculados a uma dada política educacional, a uma determinada política linguística, a um projeto de sujeito e de sociedade traçados nas intersecções entre a esfera escolar e as esferas dominantes nos domínios da micro e da macrocultura.

Como já dissemos anteriormente, nossa intenção inicial era abranger um período histórico mais amplo, que englobaria o período que começa com a fundação da cidade e avança até o momento atual. Foi a multiplicidade de dados de pesquisa e a percepção de que a configuração da disciplina de Língua Portuguesa no contexto da cidade de Blumenau se aproxima da “história oficial” dessa disciplina escolar principalmente a partir dos anos 1940, com a consolidação das ações dos movimentos de nacionalização do ensino, que nos fizeram restringir o período estudado ao final da década de 1950.

Em um primeiro momento, antes de observarmos o movimento notável de aproximação ao qual nos referimos, havíamos já realizado um recorte inicial de pesquisa tendo em vista que a oferta (pública) de ensino secundário havia ocorrido apenas após a década de 1940 e que a ampliação dessa oferta se efetivava de 1970 em diante. Interessava-nos, então, inicialmente, recuar no tempo com o objetivo de buscar escolas em que a oferta de ensino secundário havia começado até 1970, entendendo que, nessas escolas, haveria “mais história para contar”. Com base nessa percepção, havíamos definido um primeiro recorte de pesquisa abrangendo sete escolas67.

Posteriormente, uma vez notando a aproximação entre a configuração da disciplina de Língua Portuguesa na cidade e na dimensão macrocultural a partir da década de 1940, entendemos que não fazia sentido trabalhar com escolas nas quais a oferta de ensino secundário tivesse iniciado em momento posterior a 1960, época em que verificamos que esse movimento de aproximação já havia se consolidado: esse foi, portanto, o nosso recorte final de pesquisa.

Primeiramente, fizemos um levantamento de todas as escolas existentes no município, levantamos a data de fundação das escolas e a data em que iniciaram a oferta de ensino

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Seis escolas em que a oferta de ensino secundário se iniciou até 1970 e o Grupo Escolar Luiz Delfino.

secundário. Isso nos levou à constatação de que, em Blumenau, a expansão do ensino secundário só se verificou de forma mais efetiva nas décadas de 1970 e 1980, o que acreditamos seja um movimento tardio se comparado ao que Soares (2002) apresenta em sua pesquisa.

Buscamos também em Kormann (1994) e no Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (arquivo esse que centraliza uma ampla variedade de fontes documentais e bibliográficas a respeito da história de Blumenau, inclusive dossiês a respeito da constituição das escolas da cidade), dados que nos permitissem melhor avaliar as escolas a serem compreendidas como lócus privilegiado de pesquisa. Levantamos, ainda, uma variedade de dados documentais, nas escolas visitadas em uma primeira etapa de pesquisa (sete escolas), os quais nos permitiram uma análise prévia da constituição da disciplina de Língua Portuguesa e nos permitiram perceber a aproximação sobre a qual falamos.

Iniciamos nossa pesquisa partindo das 95 escolas que atualmente disponibilizam a oferta de Ensino Fundamental e/ou Médio na cidade, sendo, uma escola pública federal, 32 escolas públicas estaduais, 51 escolas públicas municipais e 1168 particulares. O quadro com os dados relativos a cada uma dessas escolas encontra-se no apêndice D deste trabalho. Nesses dados, incluímos: nome do estabelecimento de ensino, dependência administrativa (se particular ou pública municipal/estadual/federal), número de alunos nas séries finais do ensino fundamental e número de alunos no Ensino Médio segundo dados do Educassenso 201269, localização (se urbana ou rural) e data de fundação (quando a escola havia sido fundada antes da década de 1960, incluímos também a data de início da oferta de ensino secundário).

Dessas 95 escolas, com base no critério já apontado – que a escola tivesse iniciado a oferta de ensino secundário antes de

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Contamos entre as escolas municipais de Blumenau a ETEVI – Escola Técnica Vale do Itajaí -, escola de Ensino Médio integrada à Universidade Regional de Blumenau (FURB), uma vez que, mesmo sendo paga, a FURB é uma autarquia municipal. Ressaltamos que no DataEscolaBrasil a ETEVI também figura como escola municipal.

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Censo da educação básica, cujos dados são compilados no DataEscolaBrasil. Dados disponíveis no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Acesso em: 21/12/2012.

1960 – chegamos a três escolas: Colégio São Paulo (posteriormente Colégio Franciscano Santo Antônio); Escola Nova Alemã de Blumenau (posteriormente Colégio Pedro II) e Colégio das Irmãs da Divina Providência, posteriormente, Colégio Sagrada Família. Dessas, todavia, reduzimos a pesquisa a duas escolas, uma vez que não encontramos dados relativos ao Colégio das Irmãs da Divina Providência após a sua desvinculação do Colégio Franciscano Santo Antônio (antigo Colégio São Paulo). No entanto, dado o fato de a escola ter existido e funcionado como seção feminina do Colégio Franciscano Santo Antônio (antigo Colégio São Paulo) durante algumas décadas, nós a apresentamos, juntamente com as duas outras instituições de ensino nas quais concentramos a pesquisa, nos parágrafos a seguir:

(1) Colégio São Paulo (posteriormente Colégio Franciscano Santo Antonio e, atualmente, Colégio Bom Jesus): fundado em 1877, de confissão católica e particular, foi a primeira instituição de ensino secundário da cidade, tendo oferecido esse nível de ensino desde a sua criação. Anos mais tarde, em 1896, o colégio foi adquirido pelos frades franciscanos, que o nomearam Colégio Franciscano Santo Antônio. Recentemente, passou a compor a rede Bom Jesus (de Curitiba), passando a ser chamado Colégio Bom Jesus – Santo Antônio. O colégio só fechou suas portas, durante todos esses anos, quando isso lhe foi exigido no período relativo à Primeira Guerra Mundial, entre novembro de 1917 e o início de 1918 (KORMANN, 1994). Referimo-nos à escola, nos capítulos de análise, como Colégio São Paulo até 1896 e como Colégio Franciscano Santo Antônio (antigo Colégio São Paulo) desse momento em diante.

(2) Escola Nova Alemã de Blumenau (atual Escola de Educação Básica Pedro II): fundada em 1889, a escola, laica e particular, foi uma das mais importantes da cidade e, desde a sua criação, realizou a oferta de ensino secundário. Alguns de seus professores se notabilizaram por produzirem obras em alemão para mediar o ensino e aprendizagem de uma diversidade de disciplinas escolares, entre elas, a disciplina de

Língua Portuguesa. Segundo Kormann (1994), A Escola Nova

fechou as suas portas durante a Primeira Guerra Mundial, entre 30 de novembro de 1917 e 18 de fevereiro de 1820 e, depois, em

1938, voltou a fechá-las com a eminência da Segunda Guerra Mundial. Nesse mesmo ano, a Escola Nova teve seus Estatutos reformulados como Sociedade Escolar Pedro II. Até 1942, a escola era particular, porém, seguindo resolução tomada em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 8 de junho desse ano, a escola foi doada ao estado de Santa Catarina, sob a promessa de que seria transformada em Grupo Escolar70, atendendo as classes do ensino primário, e, no ano seguinte, teria sua estrutura física ampliada e modernizada (KORMANN, 1994). A escola foi integrada à rede estadual em 12 de agosto de 1942 com o nome de Grupo Escolar Modelo Pedro II. Em 1976, foi ampliada novamente e teve o seu nome modificado para Conjunto Educacional Pedro II. Referimo-nos à escola como Escola Nova até 1938 e como Colégio Pedro II (antiga Escola Nova71) desse ano em diante.

(3) Colégio das Irmãs da Divina Providência: o embrião da escola surgiu quando, em 1895, chegaram ao Brasil, vindas da

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Segundo Lage (s/d), no Brasil, os Grupos Escolares tiveram sua origem em São Paulo no final do século XIX (em 1893), objetivando reunir escolas isoladas situadas na área urbana que fossem próximas umas das outras. Eles representaram, nos primeiros anos da República, um novo modelo de organização escolar, bastante utilizado na Europa e nos Estados Unidos no final do século XIX, o qual se identificava com os princípios da escola graduada – escolas que possuíam classes seriadas em que os alunos eram agrupados segundo o seu nível de conhecimento. Representaram a instituição definitiva do ensino simultâneo (em detrimento do ensino mútuo), a racionalização curricular, a ordenação e seriação dos conteúdos de ensino, a organização dos horários e calendário escolar (inclusive de um calendário de exames finais, de datas cívicas, de festas e exposições escolares), a divisão do trabalho docente e a organização do espaço escolar (uma classe em cada sala de aula, com um determinado professor, reunidos em um edifício escolar com diversas salas de aula). Como também afirma Lage (s/d), nessas escolas, o ensino primário era organizado ao longo de quarto anos, obedecendo a um programa enciclopédico organizado de maneira a contemplar a “Educação integral – a Educação física, intellectual e moral” (LAGES, s/d, s/p). A análise dos nossos dados de pesquisa faz- nos crer que esses Grupos Escolares eram valorados de forma bastante positiva na Blumenau daquela época, como ícone de progresso e modernidade no ensino, o que representa uma contrapalavra antecipada e desejada pelo governo do estado, o qual, conforme Gaspar da Silva e Tieve (2009), investiu na construção desses grupos escolares em locais de grande visibilidade social, de maneira a criar uma “vitrine” de suas iniciativas na área educacional.

71Optamos por usar “antiga Escola Nova” entre parentêses após o nome do colégio para diferenciá-lo do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, ao qual nos referimos como Colégio Pedro II (RJ).

Alemanha, as Irmãs Anna, Rufina e Paula, as quais, uma vez instaladas na cidade, passaram a oferecer aulas de atividades domésticas, trabalhos manuais e costura. Em 1896 iniciou-se a construção do prédio que abrigaria o colégio das irmãs, o qual foi inaugurado em 1899. Segundo Kormann (1994), nesse colégio, até 1904, além de ministrar aulas para as meninas (em sua maioria provenientes de contextos econômicos menos privilegiados), as irmãs também ensinavam as primeiras letras aos meninos, os quais, a partir desse ano (1904), passaram a estudar no colégio dos padres franciscanos ( o Colégio Franciscano Santo Antônio).

As obras do colégio foram concluídas em 1900. Nessa época, além do ensino das primeiras letras, as irmãs realizavam também o ensino elementar de música, trabalhos manuais e pintura. O Colégio manteve-se em funcionamento durante a Primeira Guerra Mundial, ainda que tenha havido mudanças no regime escolar. Em 1939, o Colégio contava com 581 alunos distribuídos entre o Jardim de Infância (cujas atividades iniciaram em 1928, com 30 alunos), o ensino primário e o secundário (inicialmente apenas do curso ginasial); todavia a oferta do curso ginasial só foi legalizada em 1945. Até essa data, eram os padres do Colégio Franciscano Santo Antônio que assinavam os documentos relativos aos Exames de Admissão ao Ginásio das alunas do Colégio Sagrada Família.

Ainda que não se saiba precisar a data a partir da qual se iniciou a oferta do ensino ginasial no colégio, entendemos que seria importante mantê-lo como fonte de pesquisa em virtude dos fatos que passamos a relatar: (1) Sabemos que o Colégio Sagrada Família era unicamente feminino e que o Colégio Franciscano Santo Antônio voltava-se ao público masculino. Ambos os colégios recebiam alunos internos e externos. Observando as fotografias relativas à década de 1930 de ambos os colégios, vemos apenas meninos no Colégio Franciscano Santo Antônio (antigo Colégio São Paulo) e apenas meninas no Colégio Sagrada Família. Dentre essas meninas, há meninas mais velhas, que configurariam alunas do curso ginasial. Nas atas de provas e relatórios de notas do Colégio Franciscano Santo Antônio (antigo Colégio São Paulo) dessa época aparecem nomes esparsos de meninas que, acreditamos, seriam alunas do Colégio Sagrada Família. (2) Aos pesquisar os

arquivos do Colégio Franciscano Santo Antônio correspondentes ao ano de 1934, encontramos o documento constante no Anexo A desta tese, que corresponde a uma listagem do alunos do Colégio Sagrada Família. Ainda que o documento não esteja datado, sabemos que a Irmã Cassildis apenas esteve a frente do Colégio Sagrada Família entre 1934 e 1935, o que acreditamos, ratifica a nossa percepção de que a escola “informalmente” já realizava a oferta das séries do ensino ginasial nessa época (SAGRADA FAMÍLIA, 1995). A lista encontrada apresenta a distribuição dos alunos por nível de ensino/série organizados na tabela a seguir (tabela 1):

Tabela 1 – Relatório de alunos do Colégio Sagrada Família em 1934 Nível de ensino/série Número de alunos

do sexo masculino Número de alunas do sexo feminino Jardim de infância 26 34 Primeiro ano 55 67 Segundo ano - 62 Terceiro ano - 34 Quarto ano - 31 I Ano complementar72 - 20 II Ano complementar - 6

III Ano complementar - 4

Fonte: Documento reproduzido no anexo B (Arquivo Colégio Bom Jesus73)

Ainda, no registro dos professores para este mesmo ano (Anexo B), observamos os nomes das irmãs Cunegundes Paula

Fleige e Luisa Augusta Fergafé como professoras

respectivamente de português, francês, história, geografia,

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O Colégio Franciscano Santo Antônio oferecia desde as últimas década do século XIX o curso secundário, em 1899 esse curso foi suspenso. Porém, de 1915 ao início da década de 1930, passou a oferecer o curso complementar, o qual foi de certa forma o embrião do curso ginasial que seria oferecido a partir de 1931. Esse curso assim era por eles definido: “O curso complementar abrange as materias do respectivo ensino official [curso elementar] e além disso um estudo mais completo de línguas (allemão, inglez e francez), sciencias naturaes e mathematicas.” (Prospecto do Collegio Santo Antonio, 1930, Anexo H).

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Sempre que nos referirmos aos arquivos do Colégio Bom Jesus nesta tese, estaremos nos referindo ao Colégio Bom Jesus – Santo Antônio, antigo Colégio Franciscano Santo Antônio.

matemática, ciências e desenho para a primeira série da “seção feminina” e de música e ginástica para a mesma série.

Tudo isso nos levou a concluir que, de fato, o ensino secundário do Colégio Sagrada Família (forma como nomeamos o colégio ao longo dos capítulo de análise) seguiu as diretrizes delineadas para o ensino secundário no Colégio Franciscano Santo Antônio, no qual suas alunas se encontravam formalmente matriculadas.

Não conseguimos dados relativos aos relatórios do inspetores de ensino entre os anos de 1945 (quando o ensino ginasial do colégio é oficializado) e o final da década de 195074, o que nos ajudaria a ter compreensão do quanto os colégios continuaram ou não alinhados nessa época. Entretanto, os relatos aos quais tivemos acesso (através de um livro de memórias publicado por ex-alunas do colégio e que se encontra mencionado entre os dados primários de pesquisa) e mesmo o fato de o curso ginasial do Colégio Sagrada Família ter sido oficializado em 1945 (estando sujeito, consequentemente, à fiscalização por parte dos órgão oficiais de ensino) apontam nessa direção.

O recorte final que escolhemos envolve (como fica mais claro ao se observar os dados constantes no Apêndice C) toda a oferta de ensino secundário na cidade de Blumenau até o final da década de 1950, por isso, nós entendemos esse recorte como significativo dentro do espaço temporal aqui escolhido75. Como

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Conforme informações colhidas em visita ao colégio, os dados relativos a essa época foram remetidos à Sociedade da Divina Providência em Florianópolis, com a qual entramos em contato repetidas vezes, mas que não nos deu acesso aos arquivos (se é que eles ainda existem).

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Em outras pesquisas, como a de Dallabrida e Carminati (2007), a primeira instituição de ensino secundário de Blumenau é também o Colégio Franciscano Santo Antônio, porém ele só passa a ser contabilizado como tal na década de 1930. Dallabrida e Carminati (2007) trabalham com dados oficiais de ensino, essa a razão da divergência entre os dados que os autores apresentam e os que nós apresentamos. Mesmo que a oferta de ensino secundário no colégio tenha se iniciado antes, o Colégio Franciscano Santo Antônio apenas tem aceita a equiparação com o Colégio Pedro II (RJ), condição sine qua non para essa oficialização, na década de 1930, momento em que o colégio passa a figurar nos dados da pesquisa desenvolvida pelos autores. O Colégio Sagrada Famíla e a Escola Nova frequentemente não aparecem nessas pesquisas, isso porque o primeiro só teve o curso ginasial “oficialmente” em funcionamento em 1945, e o segundo, enquanto

aponta Michel de Certeau (1982), relatar a história é antes pensar uma produção do que um produto e pensar essa produção inclui refletir sobre o fato de que a “história é um trabalho sobre o limite” (DE CERTEAU, 1982, p. 49)76. Toda

narrativa histórica é situada no tempo e no espaço e representa um espaço de conflito, uma ação de recontar, a partir do presente e do olhar do pesquisador (situado, datado, sócio- histórica e axiologicamente constituído), o passado. Esse olhar é sempre incomodado, interessado, marcado pela estranheza que define recortes e maneiras de pensar e recontar o vivido, esteja ele no universo do dito ou do não dito.

História, nesse sentido, é, como aponta Roger Chartier (1994, p. 12):

[...] uma prática "científica", produtora de conhecimentos, mas uma prática cujas modalidades dependem das variações de seus procedimentos técnicos, dos constrangimentos que lhe impõem o lugar social e a instituição de saber onde ela é exercida, ou ainda das regras que necessariamente comandam sua escrita. O que também pode ser dito de maneira inversa: a história é um discurso que aciona construções, composições e figuras que são as mesmas da escrita narrativa, portanto da ficção, mas é um discurso que, ao mesmo tempo, produz um corpo de enunciados "científicos", se entendemos por isso “a possibilidade de estabelecer um conjunto de

regras que permitem „controlar‟ operações

proporcionais à produção de objetos determinados”.

Por “produção de objetos determinados”, Roger Chartier (2009, p.16) entende a “construção do objeto histórico pelo

existiu, seguiu sempre uma orientação baseada no “modelo alemão”, sem pleitear equiparação com o Colégio Pedro II (RJ).

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Entendemos que o nosso olhar, ainda que se aproxime daquele do historiador, com