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Capítulo 7 – Análise quantitativa das bases de dados e dos processos

7.3 Dados primários

Tabela 7 – Distribuição percentual de condenações e absolvições por tráfico.

Lei de Drogas Absolvição Condenação Total

Lei 11343/06 36% 64% 100%

Retomando as explicações do capítulo sobre metodologia, da relação de 202 processos selecionados na amostra, 10% deles tiveram de ser substituídos. Desses 202 processos, não foi possível preencher o formulário da pesquisa para 2 processos, cujos arquivos digitalizados se corromperam, fato ocorrido depois de encerrado o trabalho no Arquivo do TJDFT. Em vista disso, a estatística descritiva apresenta neste capítulo se refere à informação coletada em 200 formulários eletrônicos, distribuídos da seguinte maneira:

Tabela 8 – Distribuição dos processos da amostra por incidência penal.

Distribuição dos processos da amostra por incidência penal

Lei 6.368/76 nº de processos Lei 11.343/06

tráfico art. 12 62 44 art. 33 tráfico

associação art. 14 1 1 art. 35 associação

porte art. 16 76 16 art. 28 porte

subtotal 139 61 subtotal

200

total

As análises da tese são centradas na comparação entre as decisões judiciais por tráfico de drogas antes e depois da vigência da atual lei sobre drogas, a Lei 11343/06. Foram analisados 62 feitos relativos à lei 6368/76 e os 44 referentes à Lei 11343/06. A incidência penal é aquela determinada no indiciamento, podendo ter sido alterada ao longo do processo. Os artigos que preveem penas para o crime de associação para o tráfico não foram objeto de comparação, pois houve apenas uma ocorrência relativa a cada lei.

Quanto à distribuição por sexo, mulheres representam 13,5%, enquanto os homens, 86,5% da amostra. Essa é uma distribuição semelhante ao dos indiciamentos listados no SINIC, onde 87,4% são referentes a mulheres, enquanto 12,6%, a homens.

Tabela 9 – Cor/raça dos indivíduos da amostra cor/raça Freq % Sem Informação 37 19% Parda 136 68% Branca 18 9% Preta 8 4% Outro (negra) 1 1% Total 200 1

Cor/raça dos indivíduos da amostra

Se agruparmos sob o rótulo “negra” as categorias “parda” e “preta”, somando a elas a resposta “outro”, conforme o padrão adotado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), teremos a seguinte distribuição racial dos indivíduos:

Gráfico 10 – Distribuição da variável “cor/raça” dos indivíduos da amostra

72% 9%

19%

Distribuição da variável "cor/raça" dos indivíduos da amostra

negra branca

A expressiva maioria dos incriminados por porte ou tráfico de drogas é negra, compondo 72% da amostra. Se for desconsiderada a reposta “sem informação” (que ocorreu 37 vezes), haverá 11% de pessoas brancas, em contraste com 89% de pessoas negras.

Quando separados apenas os processos que geraram condenação por tráfico para os homens, temos a seguinte distribuição por cor/raça, categoria agrupada conforme a prática do IBGE, que reúne “preta” e “parda” sob a denominação “negra”:

Gráfico 11 – Distribuição por cor/raça dos homens condenados por tráfico de drogas

No gráfico acima se observa que todos os condenados por tráfico de drogas (21 pessoas) pela Lei 11343/06 são negros. Quanto à Lei 6368/76, 85% dos condenados por tráfico (28 pessoas) são negros. Para colocar esses números em contexto, sabemos que a população negra é proporcionalmente maior nas prisões brasileiras que a população branca. Para tornar precisa a comparação com o critério racial é necessário ponderar o número de pessoas negras encarceradas pelo total de habitantes negros na população, seguindo o mesmo procedimento para as pessoas brancas encarceradas. Se for calculada a média das taxas de encarceramento dos dois grupos raciais

0 5 21 28 0 5 10 15 20 25 30 35

Lei 11.343/06 - Art 33 Lei 6.368/76 - Art 12

N ú mero d e C o n d en õ es Incidência Penal Negra Branca

entre 2007 e 2010, temos o seguinte panorama para o Distrito Federal: a média das taxas de encarceramento de negros é de 428 presos por 100 mil habitantes negros, número pouco mais de duas vezes superior ao da média de encarceramento dos brancos, que foi de 199 presos por 100 mil habitantes brancos no período (Mapa do Encarceramento, 2015).

Com relação à escolaridade, as pessoas com ensino superior completo ou incompleto compõem 7% dos casos da amostra. Analfabetos perfazem 3% da amostra, enquanto 59,5% é a proporção de pessoas com ensino fundamental completo ou incompleto. Calculando a frequência acumulada, 72,5% dos indivíduos não chegaram a completar o ensino médio completo.

Gráfico 12 – Distribuição de frequência percentual da variável “escolaridade”

3.0% 36.0% 23.5% 10.0% 10.8% 5.5% 1.5% 10.5% 0.0% 5.0% 10.0% 15.0% 20.0% 25.0% 30.0% 35.0% 40.0%

Distribuição de frequência percentual da variável "escolaridade"

A questão sobre ocupação tinha o campo aberto, pois nos documentos da fase policial (boletim de ocorrência, auto de prisão em flagrante, antecedentes e conduta social, etc) não seria encontradas as categorias de ocupação utilizadas pelo IBGE, por exemplo. Dessa forma, agrupei algumas respostas em categorias gerais, no intuito de visualizar que os casos de ocupações de remuneração mais alta são menos frequentes:

Gráfico 13 – Distribuição de frequência das ocupações por categorias

18 32 17 11 10 4 8 24 0 5 10 15 20 25 30 35

Distribuição de frequência das ocupações por categorias

A categoria “construção civil” agrupa repostas como “serralheiro”, “ajudante de pedreiro”, “marceneiro”. A categoria “setor de serviços” engloba indivíduos que, dentre outras ocupações, declaram ser “caixa de restaurante”, “motorista”, “lanterneiro”, “padeiro”, “açougueiro”. A quinta coluna do gráfico representa as respostas para ocupações em âmbito residencial, como as respostas “babá”, “dona de casa”, “do lar”. “doméstica” e “jardineiro”. Na sequência, na categoria “profissionais liberais” estão “professor”, “decorador”, “direção de produção e publicidade”, “desenhista”. Os servidores públicos são servidores civis (“procurador federal”, “assessor da Câmara dos Deputados”, “papiloscopista da Polícia Civil”) e militares (soldados do Exército e da Aeronáutica e um sargento do Exército).

Os dados apresentados até agora vão na direção do que foi discutido nos capítulos iniciais. Não é possível argumentar que está em curso um processo genérico de intensificação do poder punitivo estatal. Quando há incremento da punitividade, via encarceramento, isso ocorre de forma segmentada para alguns grupos. No caso da pesquisa aqui apresentada, as pessoas indiciadas por tráfico de drogas ou apontadas como autoras do crime de portar drogas para o consumo próprio formam um perfil majoritariamente negro, de baixa escolaridade, que ocupam posições no mercado de trabalho de menor prestígio e renda.