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2.3 NOVAS MODALIDADES DE DANO INDENIZÁVEL

2.3.1 DANO SOCIAL

A priori necessário entende-se a importância dos direitos sociais na ordem contemporânea, onde para Maior (2007, [não paginado]), são acima de tudo o fruto do compromisso firmado pela humanidade para que se pudesse produzir, concretamente, justiça social dentro de uma sociedade capitalista.

Moraes (2008, p. 193), assim os conceitua:

Direitos sociais são direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida aos hipossuficientes, visando á concretização da igualdade social, e que são consagrados como fundamentos do Estado democrático, pelo art. 1º, IV, da Constituição Federal.

Classificando-se, segundo Silva (1998, p. 314), como: a) direitos sociais relativos ao trabalhador; b) direitos sociais relativos à seguridade, compreendendo os direitos à saúde, à previdência e assistência social; c) direitos sociais relativos à educação e à cultura; d) direito social relativo à família, criança, adolescente e idoso; e) direitos sociais relativos ao meio ambiente.

Junqueira (apud Tartuce, 2009, p. 425) conceitua este dano da seguinte forma:

[...] os danos sociais, por sua vez, são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito de segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida.

Essa espécie de dano, representa fielmente, na visão de Tartuce (2009, p. 425) a responsabilidade civil contemporânea, quanto ao principal princípio que é base do novo Código Civil de 2002, o Princípio da Socialidade: a valorização do nós em detrimento do eu, a superação do caráter individualista e egoísta do Código Civil anterior.

Uma vez que deve-se proteger a sociedade num geral, levando em conta a lesão individual, a violação no dano social, não atinge pessoas determinadas, mas sim indeterminadas e inumeráveis, uma vez que ao lesionar um indivíduo determinado, viola princípios meta-individuais, direitos sociais constitucionalmente previsto em nosso ordenamento jurídico, segundo conclusão de Trevisan e Silva (2006, p. 13):

[...] tais direitos são classificados como meta-individuais e sua violação, embora afete diretamente somente a uma ou algumas pessoas, põe em xeque valores que permeiam toda a sociedade e que são assegurados, implícita ou explicitamente pela própria Constituição Federal.

Por serem direitos fundamentais, são também meta-individuais, e uma lesão a um indivíduo, traz prejuízo a toda sociedade, que direta, ou indiretamente é afetada esse dano, uma vez que é dever e direito de todos, sendo fundamento da Constituição Federal, a dignidade da pessoa humana.

Para Tartuce (2009, p. 426), a ideia do dano social mantém relação com o importante papel assumido pela dignidade humana em sede de Direito Privado e pela tendência de reconhecer uma amplitude maior aos direitos da personalidade.

Importante é a menção feita também por Tartuce (2009, p. 428) aos comportamentos exemplares negativos, ou seja, aqueles que devem ser exemplo para não serem praticadas pelas pessoas, sendo a punição pelo dano social um dos meios de evitar essas mesmas condutas. Em suas palavras:

Como tentativa de dimensionamento prático, Junqueira de Azevedo discorre sobre os comportamentos exemplares negativos. São suas palavras: “Por outro lado, mesmo raciocínio deve ser feito quanto aos atos que levam à conclusão de que não devem ser repetidos atos negativamente exemplares – no sentido de que abre sobre eles cabe dizer: ‘Imagine se todas as vezes fosse assim!’. Também esses atos causam rebaixamento no nível coletivo de vida - mais especificamente na qualidade de vida.

Cabe ao juiz então, como órgão responsável para aplicação da justiça, baseado no princípio da função social da responsabilidade civil, ao se defrontar com esses comportamentos exemplares negativos, aplicar a indenização correspondente ao dano social, para que essa não tenha apenas caráter punitivo mas também pedagógico. Conforme lição de Tartuce (2009, p. 430):

A extensão do dano para a coletividade, material e imaterial, foi levada em conta para a fixação da indenização, reconhecendo-se o caráter pedagógico ou disciplinador da responsabilidade civil, com uma função de desestímulo para a repetição da conduta.

Nesta mesma linha de pensamento, Pereira (2010, [não paginado]) acrescenta:

Nesse caso, quando o juiz percebe condutas socialmente reprováveis, fixa a verba compensatória e aquela de caráter punitiva a título de dano social. Essa indenização derivada do dano social não é para a vítima, sendo destinada a um fundo de proteção consumeristas (art. 100 do CDC), ambiental ou trabalhista, por exemplo, ou até mesmo instituição de caridade, a critério do juiz (art. 883, parágrafo único do CC). Enfim, é a aplicação da função social da responsabilidade civil (é cláusula geral; norma de ordem pública).

Sem dúvida alguma o destinatário da indenização ainda é um fator que gera grande controvérsia no meio de doutrinadores e até mesmo da jurisprudência, tendo em vista que o valor não deve ser repassado para a vítima do dano inicial, ou então essa atitude estaria descaracterizando a indenização a título social.

Maior (2007, [não paginado]), não entende que essa incerteza de legitimidade para receber a indenização deva ser fator decisivo na hora da condenação a essa indenização suplementar, devendo cada magistrado, no atributo de suas competências, destinar para onde entender ser correto, uma vez que o maior objetivo dessa indenização é o efeito social.

Nesse capítulo dedicou-se a classificar quais os tipos de dano, lesão, prejuízo que tem importância para o direito. É importante essa classificação, pois assim o cidadão poderá pleitear em juízo uma indenização, uma vez que um direito individual ou coletivo foi ofendido por uma conduta ilícita. No próximo capítulo tratar-se-á da Responsabilidade Civil, ou seja, quem deve ser responsabilizado por ocasião dessas lesões.

3 DA RESPONSABILIDADE

Qualquer conduta que venha a ocasionar um dano gera consequentemente o dever de responsabilizar o agente que veio causar o prejuízo. Conforme palavras de Cavalieri Filho (2008, p. 14) a ilicitude não é uma peculiaridade do Direito Penal, sendo ela, essencialmente, contrariedade entre a conduta e a norma jurídica, pode ter lugar em qualquer ramo do Direito.

Conceituando a responsabilidade em termos gerais, preleciona Diniz (apud DIAS, 2010, p. 22):

Sendo a responsabilidade a situação de quem, tendo violado norma ou obrigação, causando dano, se vê submetido às consequências decorrentes de seu ato lesivo, isto é, à reparação do prejuízo, pela recomposição do statu quo ante ou pela indenização, pode apresentar-se, por isso, quanto à natureza da norma violada, sob três aspectos: moral, civil e penal. Daí ser conveniente assinalar suas semelhanças e diferenças.

A responsabilidade surge assim uma norma ou obrigação, seja ela de ordem moral ou jurídica, é violada. A principal função da responsabilidade é reparar o dano causado, bem como recompor o bem violado no statu quo ante, ou compensar em forma de indenização o prejuízo sofrido, quando o bem não pode voltar a ter a forma anterior.

De acordo com Stolze (2010, p. 43), a palavra “responsabilidade” tem origem no verbo latino respondere, significando a obrigação que alguém tem de assumir com as consequências jurídicas de sua atividade, contendo, ainda, a raiz latina de

spondeo, fórmula através da qual se vinculava no Direito Romano, o devedor nos

contratos verbais.

A responsabilização por atos ilícitos não abrange apenas danos civis ou penais, estes são espécies do gênero, uma vez que a certeza é a da atribuição da responsabilidade ao agente que indo contra as normas e obrigações causou danos. Nada mais é do que assumir as consequências de seus próprios atos.

Entre as classificações sobre responsabilidade, é importante diferenciar-se a responsabilidade jurídica da responsabilidade moral, sendo que, conforme ensinamento de Diniz (2010, p. 22), o domínio da moral é mais extenso do que o do direito, de sorte que este não abrange muitos problemas subordinados àquele, pois não haverá responsabilidade jurídica se a violação de um dever não acarretar dano.

A responsabilidade jurídica apresentar-se, portanto, quando houver infração de norma jurídica civil ou penal, causadora de danos que perturbem a paz social, que essa norma visa manter.

Entretanto, a principal diferença entre a responsabilidade jurídica da moral, é certamente a punição no caso concreto, conforme leciona Stolze (2010, p. 46):

A diferença mais relevante, todavia, reside realmente na ausência de coercitividade institucionalizada da norma moral, não havendo a utilização da força organizada para exigir o cumprimento, uma vez que esta é monopólio do Estado.

Para o direito, portanto, as que importam são as responsabilidades jurídicas, sendo que elas são as capazes de gerar indenização ou statu quo ante, e assim merecem ser classificadas.

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