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Muitos são os conceitos dados por diversos doutrinadores acerca da responsabilidade civil. Entre eles, Diniz (2010, p. 34), assim define:

Com base nessas considerações poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal.

Stolze (2010, p. 51), assim define:

[...] diríamos que a responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior de coisas.

Nada mais é do que a reparação pelo prejuízo que uma conduta contrária às normas jurídicas causou na esfera patrimonial, ou ainda moral, do indivíduo.

Stolze (2010, p. 51) diz que a responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando, assim o infrator, ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior de coisas. Bem como, a natureza jurídica da responsabilidade civil será

sempre sancionadora, independentemente de se materializar como pena, indenização, ou compensação pecuniária.

A responsabilidade civil tem como objetivo principal compensar o sofrimento ou/e o prejuízo que a atividade ilícita causou à vitima, porém há ainda outras funções, qual sejam, punição do ofensor, e desmotivação social da conduta lesiva, conforme entendimento de Stolze (2010, p. 63) que assim preleciona:

Como uma função secundária, em relação à reposição das coisas ao estado em que se encontravam, mas igualmente relevante, está a ideia de punição do ofensor. Embora esta não seja a finalidade básica (admitindo- se, inclusive, a sua não incidência quando possível a restituição integral à situação jurídica anterior), a prestação imposta ao ofensor também gera um efeito punitivo pela ausência de cautela na prática de seus atos, persuadindo-o a não mais lesionar. [...] E essa persuasão não se limita à figura do ofensor, acabando por incidir numa terceira função, de cunho socioeducativo, que é a de tornar público que condutas semelhantes não serão toleradas. Assim, alcança-se, por via indireta a própria sociedade, restabelecendo-se o equilíbrio e a segurança desejados pelo Direito.

Além de significar uma punição para o agente da conduta ilícita, tentando fazer com que o mesmo não haja da mesma forma, sendo mais prudente, cauteloso e responsável, ainda de forma indireta, atinge e educa a sociedade num geral, pessoas que não participaram de forma ativa no fato concreto, mas que são reprimidos, ao saber das consequências que tal conduta causa aos agentes.

Para melhor compreensão verifique-se os elementos caracterizadores da responsabilidade civil, na visão de Stolze (2010, p. 65), como base, o próprio Art. 186 do Código Civil:

Art. 186: Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Os elementos são, a ação ou omissão (conduta humana), o imprescindível dano para que possa gerar a responsabilidade, e o nexo de causalidade, para ligar o dano ao indivíduo que deve reparar a lesão.

Diniz (2010, p. 343) assim enumera:

a) Existência de uma ação, comissiva ou omissiva, qualificada

juridicamente, isto é, que se apresenta como um ato ilícito ou lícito, pois ao lado da culpa, como fundamento da responsabilidade, temos o risco.

b) Ocorrência de um dano moral e/ou patrimonial, causado à

vítima por ato comissivo ou omissivo do agente ou de terceiro por quem o imputado responde, ou por um fato animal ou coisa a ele vinculada.

c) Nexo de causalidade entre o dano e a ação, pois a

responsabilidade civil não poderá existir sem o vínculo entre a ação e o dano.

Já Gonçalves (apud Tartuce, 2009, p. 346) leciona que são quatro os pressupostos da responsabilidade civil: a) ação ou omissão; b) culpa ou dolo do agente; c) relação de causalidade; d) dano. E ainda conclui que a culpa em sentido amplo ou genérico é sim elemento essencial da responsabilidade civil.

Diniz (2010, p. 130) diferencia e divide a responsabilidade civil no que tange aos seus fundamentos, em objetiva e subjetiva. Nas palavras da autora a responsabilidade civil objetiva:

[...] funda-se no risco, onde somente o prejuízo à vitima ou aos bens, já seja suficiente para a reparação por parte do agente, irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador, bastando apenas o nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente.

Já quanto a responsabilidade subjetiva:

[...] a responsabilidade subjetiva, encontra sua justificativa na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a determinada pessoa.

Nessa divisão, a objetiva ganhou relevante atenção no novo Código Civil, por refletir a sociedade moderna e assim, poder proteger a comunidade. Como preleciona Tepedino (apud Stolze, 2010, p. 177):

Com efeito, os princípios de solidariedade social e da justiça distributiva, capitulados no art. 3º, incisos I e III, da Constituição, segundo os quais se constituem em objetivos fundamentais da República a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, bem como a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais, não podem deixar de moldar os novos contornos da responsabilidade civil. Do ponto de vista legislativo e interpretativo, retiram da esfera meramente individual e subjetiva o dever da repartição dos riscos da atividade econômica e da autonomia privada, cada vez mais exacerbados na era da tecnologia. Impõem, como linha de tendência, o caminho da intensificação dos critérios objetivos de reparação e do desenvolvimento de novos mecanismos de seguro social.

Nada mais justa essa visão do autor, uma vez que nos dias atuais, é dever de todos zelar pelo bem estar social, bem como proteger os interesses não só individuais, mas pra sociedade de forma geral. Onde o simples dano e o nexo causal

já são suficientes para que o prejuízo seja reparado, em detrimento do indivíduo e da comunidade, que indiretamente, ou até mesmo diretamente também é lesada.

No mesmo sentido, Cavalieri Filho (2008, p. 146), ensina que a vítima do dano, e não mais o autor do ato ilícito, passa a ser o enfoque central da responsabilidade civil. Em outras palavras, a responsabilidade, antes centrada no sujeito responsável, volta-se para a vítima e a reparação do dano por ela sofrido. O dano, por esse novo enfoque, deixa de ser apenas contra a vítima para ser contra a própria coletividade, passando a ser um problema de toda a sociedade.

Necessário verificar-se a questão da responsabilidade civil do Estado no Direito Brasileiro, que adota para tanto a teoria do risco administrativo, onde o Estado é responsável por todos os atos praticados por agentes públicos, que estejam no momento da ação ou omissão representando o Estado, no exercício da sua função, conforme lição de Cavalieri Filho (2008, p. 237):

O Estado, só responde pelos danos que os seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. A expressão grifada – seus agentes, nessa qualidade – está a evidenciar que o constituinte adotou expressamente a teoria do risco administrativo como fundamento da responsabilidade da Administração Pública, e não a teoria do risco integral, porquanto condicionou a responsabilidade objetiva do Poder Público ao dano decorrente da sua atividade administrativa, isto é, aos casos em que houver relação de causa e efeito entre a atividade do agente público e o dano.

O nexo de causalidade entre a atividade administrativa e o dano suportado pelo particular, é imprescindível para tanto, uma vez que se não fosse preciso levar em conta tal fator, estaríamos diante da responsabilidade pelo risco integral, que Cavalieri Filho (2008, p. 233) define como modalidade extremada da doutrina do risco para justificar o dever de indenizar mesmo nos casos de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou de força maior, que são causas excludentes da responsabilidade civil. Como conclui Stolze (2010, p. 237):

[...] não implica dizer que o nosso sistema tenha adotado as teorias do risco integral dou risco social, mas sim do risco administrativo, que admite, portanto, a quebra do nexo causal pela comprovação de uma das excludentes de responsabilidade civil.

Com a socialização dos riscos, os prejuízos então passaram a ser de responsabilidade da comunidade, e a sua reparação passou a ser o principal objetivo, não a punição do agente do ato ilícito, conforme outrora.

Dentre a responsabilidade civil, existe ainda a subjetiva e a objetiva. A responsabilidade subjetiva, conforme Monteiro (2008, p. 396):

[...] repousa sobre a teoria clássica e tradicional da culpa, também chamada da teoria da responsabilidade subjetiva, que pressupõe sempre a existência de culpa (lato sensu), abrangendo o dolo (pleno conhecimento do mal e direta intenção de o praticar) e a culpa (stricto sensu), violação de um dever que o agente podia conhecer e acatar.

Diniz (2006, p131) afirma que a responsabilidade subjetiva encontra sua justificativa na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a determinada pessoa, portanto, a prova da culpa do agente será necessária para que surja o dever de reparar.

A responsabilidade civil está intimamente ligada a culpa ou dolo da conduta do individuo, no entanto existem objeções quanto a isso, nas palavras de Monteiro (2008, p. 398):

Em primeiro lugar, o conceito de culpa é por demais impreciso, sua noção é fugidia, tanto que os juristas não logram, até agora, apreendê- lo e fixa-lo. Em segundo lugar, apresentam-se na vida moderna numerosos casos de responsabilidade sem culpa, como acontece em nosso direito positivo, quanto à lei de acidentes do trabalho (Lei n. 8.213, de 4-7-1991). Em terceiro lugar, finalmente, por que ela traduz o acolhimento do individualismo, fonte de tantos males, pelo egoísmo que encerra, pela desmesura exaltação do individuo.

Por ser tão difícil provar e delimitar a culpa, a responsabilidade subjetiva acaba gerando irresponsabilidade e por isso a responsabilidade objetiva vem ganhando cada vez mais espaço jurídico, inclusive como previsão legal, como no atual Código Civil.

A responsabilidade civil objetiva, por sua vez, conforme Diniz (2006, p. 55), fundamenta-se:

[...] num princípio de equidade, existente desde o direito romano: aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes (ubi emolumentum, ibi ônus, ubi commoda,

ibi incommoda). Essa responsabilidade tem como fundamento a atividade

exercida pelo agente, pelo perigo que pode causar dano à vida, à saúde ou a outros bens, criando risco de danos para terceiros (art. 927, parágrafo único, CC/2002).

A responsabilidade civil objetiva, por sua vez não dá atenção maior a culpa ou ao dolo, sendo a atividade lesiva seu núcleo, tento o seu agente que de qualquer forma reparar o dano causado à vitima.

Rodrigues (2009, p. 162) conclui:

[...] pode-se dizer que o preceito do novo Código representa um passo à frente na legislação sobre a responsabilidade civil, pois abre uma porta para ampliar os casos de responsabilidade civil, confiando ao prudente arbítrio do poder judiciário o exame do caso concreto, para decidi-lo não só de acordo com o direito estrito, mas também, indiretamente, por equidade.

Na atual legislação, é a partir da responsabilidade objetiva que tem-se resguardado a reparação do prejuízo causado ao lesionado, e ao analisar o caso concreto fica mais fácil decidir de forma justa qual proporção que deve ser reparada, para que a justiça seja feita, tanto para o agente da conduta, quanto para a vítima.

A responsabilidade civil, sem dúvida é a mais importante no campo das responsabilidades, embora não seja a única existente no sistema jurídico do país, tendo em vista a existência da responsabilidade criminal, que ver-se-á a seguir.

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