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A diferenciação da responsabilidade civil e penal atende critérios de conveniência ou oportunidade, uma vez que o mesmo ato ilícito pode ser o causador da responsabilização na área penal e civil. Cavalieri Filho (2008, p. 14) ensina que o ilícito civil é um minus ou residum em relação ao ilícito penal. Em outras palavras, aquelas condutas humanas mais graves, que atingem bens sociais de maior relevância, são sancionadas pela lei penal, ficando para a lei civil a repressão das condutas menos graves.

Segundo ensinamentos de Stolze (2010, p. 467):

Tal diferença básica quanto às consequências é decorrente, em verdade, dos sentimentos sociais e humanos que respaldam e fundamentam a responsabilidade jurídica.

O sentimento causado pelo ato é determinante para a classificação, uma vez que fere bens jurídicos de maior ou menos importância. Valler (apud STOLZE, 2010, p. 47), diz que a ilicitude jurídica é uma só, do mesmo modo que um só, na sua essência, é o dever jurídico. Em seus aspectos fundamentais não há uma perfeita coincidência entre o ilícito civil e o ilícito penal, pois ambos constituem uma violação da norma jurídica, acarretando em consequência, um estado de desiquilíbrio social.

Mas, enquanto o ilícito penal acarreta uma violação da ordem jurídica, quer por sua gravidade ou intensidade, a única sanção adequada é a imposição da pena, no ilícito civil, por ser menor a extensão da perturbação social, são suficientes as sanções civis.

Ressalte-se, que na esfera penal o objetivo principal é punir o agente da conduta, ao contrário da responsabilidade civil que tem como núcleo objetivo a reparação do prejuízo. Nas palavras de Diniz (2010, p. 24):

Na responsabilidade penal o lesante deverá suportar a respectiva repressão, pois o direito penal vê, sobretudo o criminoso; na civil, ficará com a obrigação de recompor a posição do lesado, indenizando-lhe os danos causados, daí tender apenas à reparação, por vir principalmente em socorro da vítima e de seu interesse, restaurando o direito violado.

A responsabilidade penal tem como função precípua punir o agente da conduta ilícita, para que o mesmo não o repita, seu foco não está inteiramente voltado para a vítima, como na responsabilidade civil, onde o mais importante é a reparação do dano, a recomposição do prejuízo, e não a conduta ilícita e seu agente.

O sentimento de aversão e repúdio, bem como o de dor, causado pela atividade ilícita é o que justifica a sua punição na esfera penal, uma vez que o agente, denominado criminoso deve sofrer a sanção penal, por violar bem jurídico de grande importância, não apenas para o indivíduo, mas também para a sociedade, que tem o dever de cumprir com suas obrigações, e proteger os bens considerados fundamentais.

Encerrando-se este capítulo, após a diferenciação das duas principais espécies de responsabilidade, é essencial a visão de Stolze (2010, p. 46), onde, em suas palavras, o raciocínio desenvolvido para a formulação de um conceito de responsabilidade, no campo jurídico, justamente pela sua generalidade, não se restringe ao Direito Civil (e, portanto, à Responsabilidade Civil), aplicando-se, respeitadas as devidas peculiaridades, a todos os outros campos do Direito, como nas esferas penal, administrativa e tributária.

A responsabilidade vai além da esfera penal ou cível, ela abrange todas as responsabilidades no que tange às condutas ilícitas, é a garantia de que o bem jurídico que sofreu dano será restaurado, ainda que de forma indireta, bem como a vítima da conduta delituosa será compensada pelo prejuízo sofrido

4 DO DANO NO DIREITO DO TRABALHO

Antes de iniciar-se a explanação específica desse capítulo frisa-se o papel do trabalho na sociedade contemporânea, bem como seu reconhecimento constitucional.

No primeiro capítulo, estudou-se que, a sociedade para chegar no nível de “socialidade” atual passou por diversas mudanças, e com a incessante consagração dos direitos fundamentais, para que assim pudesse surgir uma sociedade justa, equilibrada, e principalmente, para que os indivíduos que dela participam pudessem não só ser livre de qualquer imposição injusta do Estado, mas principalmente, para que pudessem ter um vida digna, e assim colaborar com o desenvolvimento mundial.

Dentre os direitos fundamentais, encontra-se na segunda dimensão, os direitos sociais. Esses direitos, nas palavras de Martins (2010, p. 14) “são garantias estabelecidas às pessoas para a proteção de suas necessidades básicas, visando garantir uma vida com um mínimo de dignidade.” Entre esses direitos do cidadão, os quais, o Estado deve cumprir fielmente, como o direito à educação, ao lazer, e tantos outros consagrados no Art. 6º da Constituição Federal de 1988, o direito ao trabalho, especificamente citado no Art 7º da Constituição Federal, é essencial, para que o homem consiga obter sua dignidade humana e participar ativamente do desenvolvimento social.

Lenza (2010, p. 839), no que tange ao direito ao trabalho, assim o define:

Trata-se, sem dúvida, de importante instrumento para implementar e assegurar a todos uma existência digna, conforme estabelece o art. 170, caput. O Estado deve fomentar uma política econômica não recessiva, tanto que, dentre os princípios da ordem econômica, destaca-se a busca do pleno emprego (art. 170, VIII). Aparece como fundamento da República (art. 1º, IV), e a ordem econômica, conforme os ditames da justiça social, funda-se na valorização do trabalho humano, e na livre-iniciativa.

O Direito do Trabalho é entendido como fundamento constitucional, e instrumento de garantia da dignidade humana, capaz de harmonizar a vida digna do ser humano com a evolução econômica do País, através da valorização do trabalho.

Barros (2007, p. 94), ensina que entre as características do Direito do Trabalho, a circunstância de ser ele visto como um direito em transição, pois a ele

compete realizar “a reforma social sem sobressaltos, nem alterações bruscas nas atuais posições na vida econômica”.

O direito social do trabalho, consagrado como fundamento da Constituição Federal, no seu primeiro artigo, e consequentemente, como direito fundamental do indivíduo, sendo uma é meio eficaz para que todos os ideais constitucionais sejam alcançados, bem como para que a reforma social seja realizada deve ser a todo tempo protegido dos abusos que não só o Estado pode cometer, mas principalmente pelos particulares.

Para entender de forma clara, os danos existentes no Direito do Trabalho, é necessário que seja definido o que é essa relação de emprego, bem como os sujeitos da relação jurídica.

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