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Antes de qualquer definição quanto as partes e o que é em si a relação de trabalho, necessário a definição dos principais direitos que regem o direito do trabalho.

Para Barros (2007, p. 176) os princípios peculiares ao direito do trabalho são:

[...] linhas diretrizes ou postulados que inspiram o sentido das normas trabalhistas e configuram a regulamentação das relações de trabalho, conforme critérios distintos dos que podem encontrar-se em outros ramos do direito.

Sem dúvida alguma os direitos que regem esse fundamento constitucional são peculiares, e assim criam as diretrizes inspiradoras das regulamentações trabalhistas, uma vez que esse direito apesar de ter base constitucional e valer-se muitas vezes do direito civil para dirimir dúvidas, trata de um caso específico, ou seja, tudo que está englobado na relação trabalhista.

No âmbito doutrinário, porém, são poucos os autores que tratam dos princípios do Direito do Trabalho. Mesmo entre os poucos autores que versam sobre o tema não há unanimidade sobre quais seriam os princípios de nossa disciplina, dependendo da ótica de cada autor (MARTINS, 2010, p. 67).

Mesmo não sendo unânimes os autores quanto aos princípios peculiares do direito do trabalho, é grande a afirmação de diversos doutrinadores ao dizer que Américo Plá Rodriguez é o que melhor define esses.

Quanto à afirmação acima, Nascimento (2005, p. 349-50) assim se manifesta:

Os estudos desenvolvidos pelo conceituado jurista Uruguai Américo Plá Rodriguez sobre os princípios do direito do trabalho, publicados no seu livro Los princípios del derecho del trabajo (1975), traduzido no Brasil, dos quais será feito um resumo, ganharam aceitação, mas nem todos estão incorporados pelas leis.

Na mesma linha, Martins (2010, p. 67), afirma que o autor que melhor estudou o assunto foi o uruguaio Américo Plá Rodriguez.

Barros (2007, p. 176) também cita Américo Plá Rodriguez e enumera-os segundo citação do referido autor:

Esses princípios, segundo a doutrina de Plá Rodriguez, podem ser assim enumerados: princípios da proteção, da primazia da realidade, da irrenunciabilidade, da continuidade, da boa-fé e da razoabilidade. [...] No nosso entender, apenas os quatro primeiros são peculiares ao Direito do Trabalho.”

Quanto ao princípio da proteção, Barros (2007, p. 177):

[...] é consubstanciado na norma e na condição mais favorável, cujo fundamento se subsume à essência do Direito do Trabalho. Seu propósito consiste em tentar corrigir desigualdades, criando uma superioridade jurídica em favor do empregado, diante da sua condição de hipossuficiente.

Nascimento (2005, p. 350) vai mais longe e assim conceitua esse princípio:

Sustentam que no direito do trabalho há um princípio maior, o protetor, diante da sua finalidade de origem, que é a proteção jurídica do trabalhador, compensadora da inferioridade em que se encontra no contrato de trabalho, pela sua posição econômica de dependência ao empregador e subordinação às suas ordens de serviço.

Martins (2010, p. 68), seguindo a mesma linha afirma que deve-se aplicar a regra mais favorável ao trabalhador ao se analisar um preceito que encerra regra trabalhista, o in dubio pro operário. E acrescenta:

A condição mais benéfica ao trabalhador deve ser entendida como o fato de que vantagens já conquistadas, que são mais benéficas ao

trabalhador, não podem ser modificadas para pior. É a aplicação da regra do direito adquirido (art. 5º XXXVI, da Constituição), do fato de o trabalhador já ter conquistado certo direito, que não pode ser modificado no sentido de se outorgar uma condição desfavorável ao obreiro.

Somando todas as considerações, esse princípio tenta equilibrar os dois lados da relação de trabalho, e favorecendo o empregado, coloca-o no mesmo patamar do empregar, que supostamente já tem preferências frente ao empregado. Na dúvida a situação mais benéfica ao empregado deve prevalecer.

Essencial, ressaltar-se, conforme lição de Alice Barros (2007, p. 179), que o princípio da proteção, vem sofrendo recortes pela própria lei, com vista a não onerar demais o empregador e impedir o progresso no campo das conquistas sociais.

O princípio da primazia da realidade, segundo Martins (2010, p. 71) prega a prevalência dos fatos sobre a forma, sendo privilegiados, portanto, os fatos, a realidade, sobre a forma ou estrutura empregada.

Nascimento (2005, p. 350) defende que:

O princípio da realidade visa a priorização da verdade real diante da verdade formal. Entre os documentos sobre a relação de emprego e o modo efetivo como, concretamente, os fatos ocorreram, deve-se reconhecer estes em detrimento dos papéis.

Para melhor entendimento, Barros (2007, p. 182), afirma que significa que as relações jurídico-trabalhistas se definem pela situação de fato, isto é, pela forma como se realizou a prestação de serviços, pouco importando o nome que lhes foi atribuído pelas partes.

Nesse princípio, o que importa não é o que está nos autos, e sim o que aconteceu de fato, onde a verdade real prevalece sobre a realidade formal, não para favorecer o empregado, mas para proteger a verdade efetiva.

A respeito do princípio da irrenunciabilidade de direitos Martins (2010, p. 69) exemplifica:

Temos como regra que os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo trabalhador. Não se admite, por exemplo, que o trabalhador renuncie a suas férias. Se tal fato ocorrer, não terá qualquer validade o ato do operário, podendo o obreiro reclamá-las na Justiça do Trabalho.

Nascimento (2005, p. 351), ensina que o princípio da irrenunciabilidade dos direitos pelo trabalhador tem a função de fortalecer a manutenção dos seus direitos

com a substituição da vontade do trabalhador, exposta às fragilidades da sua posição perante o empregador, pela da lei, impeditiva e invalidante da sua alienação. O princípio da irrenunciabilidade possui uma coligação com o princípio da primazia da realidade. Embora atenuado pela negociação coletiva (art. 7, incisos VI, XIII e XIV da Constituição vigente) está vinculado à ideia de imperatividade, isto é, de indisponibilidade de direitos (BARROS, 2007, p. 183).

Este princípio, assim como o da primazia da realidade e o da proteção, tem o condão de proteger a relação de trabalho, não apenas para favorecer o empregado, mas para que a verdade prevaleça, para que não seja deixado de lado os direitos atribuídos ao trabalhador, nem que esse queira, salvo negociação coletiva.

Outro princípio peculiar do direito do trabalho é o da continuidade. Barros (2007, p. 183) leciona que este, visa à preservação do emprego, com o objetivo de dar segurança econômica ao trabalhador e incorporá-lo ao organismo empresarial.

Na visão de Martins (2010, p. 70), a ideia geral é a de que se deve preservar o contrato de trabalho do trabalhador com a empresa, proibindo-se, por exemplo, uma sucessão de contratos por prazo determinado.

Mais uma vez, o objetivo do princípio é proteger a relação de trabalho e principalmente o empregado.

Dos três autores aqui citados, são unânimes em afirmar que os dois últimos princípios, qual sejam, boa-fé e razoabilidade não são peculiares do direito do trabalho, estando presentes em outros ramos do direito. Assim é a opinião de Barros (2007, p. 183 e 186):

[...] o princípio da boa-fé, o qual, na nossa opinião, não é peculiar ao Direito do Trabalho, mas comum a todos os ramos do Direito, atuando em várias fases da relação jurídica, inclusive nas negociações preliminares, como, aliás, já se infere de alguns Códigos Civis, entre os quais o de Portugal e o da Itália. [...] Esse princípio possui uma dimensão objetiva, que incide no direito obrigacional como regra de conduta segundo a qual as partes deverão comportar-se com lealdade recíproca nas relações contratuais.[...] O princípio da razoabilidade, que, segundo nossa opinião também não é peculiar ao Direito do Trabalho, mas comum a outros ramos do Direito. A ordem jurídica, se constrói sobre os alicerces da razão e da justiça. [...] Esse princípio impõe limites a situações em que a lei não consegue prevê-los de forma muito rígida, dadas as inúmeras circunstâncias que podem surgir no caso objeto de apreciação.

Martins (2010, p. 67), também compartilha da mesma visão, ao afirmar que o princípio da boa-fé nos contratos não se aplica apenas ao direito do trabalho, mas também a qualquer contrato. O princípio da razoabilidade esclarece que o ser

humano deve proceder conforme a razão, de acordo como procederia qualquer homem médio ou comum.

Os princípios da boa-fé e da razoabilidade assim, não estão diretamente ligados ao direito do trabalho, mas sim ao Direito, sendo que a boa-fé é princípio de qualquer contrato e a razoabilidade, intimamente ligada à justiça no caso concreto.

Apenas para destaque a respeito desses dois princípios fundamentais para o assunto em questão, frise-se que o princípio da irrenunciabilidade é essencial para que o empregado possa exigir seus direitos, uma vez que o sistema jurídico sempre estará a favor do que o mesmo tem direito, não havendo em regra, de forma alguma a possibilidade de renunciar esses direitos básicos por parte do trabalhador. Não obstante, essa renúncia pode ocorrer na forma conciliatória, segundo Martins (2010, p. 69):

Poderá, entretanto, o trabalhador renunciar a seus direitos se estiver em juízo, diante do juiz do trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado esteja sendo forçado a fazê-lo. Estando o trabalhador ainda na empresa é que não poderá falar em renúncia a direitos trabalhistas, pois poderia dar ensejo a fraudes. É possível, também, ao trabalhador transigir, fazendo concessões recíprocas, o que importa um ato bilateral.

Assim, o que é proibido pelo ordenamento jurídico é a irrenunciabilidade forçada, no caso de pressão por parte do empregador, sem prejuízo da renúncia em juízo ou da renúncia em função de concessões recíprocas, onde as duas partes da relação de emprego terão proveitos no acordo.

Uma vez definidos os principais princípios do direito do trabalho, não há dúvidas de que por ser um direito social, incluído no rol dos direitos fundamentais, consagrado na Constituição Federal, os prejuízos devem ser tutelados e devidamente reparados, não apenas na esfera individual, pelo simples fato de reparação á vítima do prejuízo, mas também por ser um direito fundamental essencial para o desenvolvimento social e a busca da dignidade humana.

Assim como no âmbito civil e penal, os danos e prejuízos decorrentes de condutas abusivas e ilícitas que causarem prejuízo na esfera trabalhista também terão que ser punidas. Passar-se-á então a definição dos sujeitos dessa relação de trabalho, possíveis agentes ou vítimas dos danos nas relações de trabalho.

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