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Das Buch der Unruhe na tradução de Inés Koebel 70

5.   Retraduzir e rever o mesmo livro diferente – a tradução do Livro do

5.1   Das Buch der Unruhe na tradução de Inés Koebel 70

A segunda tradução alemã do Livro do Desassossego surgiu em 2003 no âmbito de uma nova edição da obra de Fernando Pessoa em alemão (cf. Ammann, 2006: 572ss.). Tal como a tradução de Lind, o segundo Buch der Unruhe foi publicado pela editora suíça Ammann e, posteriormente, também pela editora alemã Fischer. Ambas as editoras publicaram várias reedições desta tradução, por exemplo em formato de livro de bolso ou em forma de edição especial para comemorar o 120.º aniversário de Pessoa. Portanto, o sucesso do Livro do Desassossego no espaço de língua alemã parece continuar.

Além de um posfácio da tradutora Inés Koebel, o segundo Buch der Unruhe ainda contém um posfácio do editor Egon Ammann. Ambos os textos não só ajudam a entender as razões da nova edição da obra pessoana em alemão, como também se debruçam sobre o método de tradução e a relação que esta tradução estabelece com a anterior, de Georg Rudolf Lind. Egon Ammann sugere que o impulso principal para a reedição não era tanto a necessidade de voltar a traduzir os textos, mas antes o surgimento de novas edições dos textos de Pessoa na editora Assírio & Alvim:

Wir werden mit unserer auf den neusten Stand gebrachten Neuausgabe der Werke Fernando Pessoas [...] die einzelnen Bände den jeweiligen Autoren (Heteronymen) und ihrem Werk zuordnen. Wir folgen damit den verdienstvollen Textausgaben des Verlags Assírio & Alvim in Lissabon, der die erste verläßliche und auf dem neusten Stand der Forschung publizierte Ausgabe der komplexen Werke Fernando Pessoas veröffentlicht. (Ammann, 2006: 572)

[Na nossa nova edição da obra de Fernando Pessoa, que foi adaptada ao estado da arte atual, associaremos cada volume ao respetivo autor (heterónimo) e à obra do mesmo. Neste particular seguimos as meritosas edições textuais da editora Assírio & Alvim em Lisboa, que publica a primeira edição de confiança e que corresponde ao atual estado da arte da investigação sobre as complexas obras de Fernando Pessoa.]

Portanto, Ammann justifica a nova tradução e edição com alterações ocorridas na cultura de partida. Por terem surgido novas e melhores edições, argumenta Ammann, tornou-se preciso atualizar a edição alemã. Deste modo, sugere que as diferenças entre as duas traduções alemãs resultam, antes de mais, de novos conhecimentos no campo dos estudos pessoanos e que a tradução de Lind só tinha de ser retrabalhada porque deixara de corresponder ao conhecimento científico disponível em 2003 (cf. ibidem). Ammann consegue assim justificar a necessidade de retraduzir e reeditar a obra pessoana, sem pôr em causa o mérito de Lind. De facto, aproveita o posfácio para sublinhar o contributo de Lind para a receção de Pessoa nos países de língua alemã:

Mit dem Vorliegen der […] erweiterten Neuausgabe des Buchs der Unruhe, dem ersten Band unserer Neuedition […] ist es am Platz, des verdienstvollen Inspirators und Wegbegleiters einer stets wachsenden Pessoa-Rezeption im deutschen Sprachraum, Herrn Professor Dr. Georg Rudolf Lind, zu gedenken. […] Ihm […] schulden wir Leser Dank für seine Vermittlertätigkeit, wir schulden ihm Dank für seine bewundernswerte Leistung, eines der großen europäischen Werke des 20. Jahrhunderts in die Deutsche Sprache gebracht zu haben. (ibidem: 573)

[No âmbito do aparecimento desta nova edição aumentada do Livro do Desassossego, o primeiro volume da nossa nova edição, cabe nos recordar o Senhor Professor Doutor Georg Rudolf Lind, que inspirou e acompanhou a receção de Pessoa no espaço de língua alemã que cresceu continuamente. Nós, leitores, devemos estar-lhe gratos pela sua atividade mediadora, devemos estar-lhe gratos pelo seu trabalho admirável de ter trazido uma das grandes obras europeias do século XX para a língua alemã]

Em vez de sublinhar inovações ou mudanças, Ammann evoca uma imagem de continuidade. Não problematiza nem a decisão de Lind de incluir apenas uma seleção dos textos da edição prínceps, nem menciona as diversas edições portuguesas que apareceram após 1982. Pelo contrário, o editor suíço destaca o papel importante de Richard Zenith no estabelecimento de uma edição temática e cronologicamente compreensível. Deste modo não ignora apenas as diferenças conceptuais entre as edições de Lind e Zenith, que não podem ser reduzidas a um novo «estado da arte»41, mas também omite todas as outras

                                                                                                               

41 Lind e Zenith defendem posições contrárias no que diz respeito à questão da divisão do Livro em dois. Tal como referido no capítulo 3, continua a não existir um consenso entre especialistas e editores a este respeito.

edições e editores em Portugal. Esta «simplificação» ajuda Ammann a defender a autoridade da edição de Zenith e, consequentemente, também da segunda tradução alemã, destacando o editor suíço explicitamente o caráter fiel e válido deste novo Buch der Unruhe (ibidem: 574). Além disso, ainda sublinha o significado do Livro do Desassossego, designando-o como uma das obras mais importantes da literatura portuguesa, europeia e até mundial (ibidem: 573). Enquanto Ammann apenas refere a edição prínceps e a edição de Zenith, a tradutora Inés Koebel descreve a complexidade da situação da história editorial em Portugal e da tradução de Lind. Além de sublinhar o mérito de Jacinto do Prado Coelho, bem como das suas colaboradoras Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha, Koebel ainda menciona a existência de mais edições além das de Prado Coelho e Zenith, destacando as dificuldades que cada editor do Livro enfrenta:

Da Pessoa […] nichts zur Anordnung der Texte hinterlassen hat, ist jeder in- und ausländische Herausgeber damit nach eignem Gutdünken verfahren. Das Buch hat seit 1982 in Portugal drei weitere überarbeitete Ausgaben erfahren. Die letzte, 1998 von Richard Zenith herausgegeben und im Rahmen einer neuen und erweiterten Werkausgabe bei Assírio & Alvim erschienen, liegt heute bereits in einer dritten, verbesserten und erweiterten Auflage vor, an der sich die deutsche Übersetzung orientiert. (Koebel, 2006: 566)

[Uma vez que Pessoa não deixou indicações relativamente à ordem dos textos, todos os editores, nacionais e estrangeiros, aplicaram critérios próprios. Desde 1982, o livro teve mais três edições. A última, que foi editada por Richard Zenith em 1998 e publicada por Assírio & Alvim no âmbito de uma edição melhorada e aumentada da obra completa, já está disponível numa terceira edição aumentada que serve de orientação à tradução alemã.]

Além disso, também reflete sobre as escolhas editoriais de Lind. Explicitando que o tradutor apenas escolheu a metade dos fragmentos pertencentes ao Livro e que os organizou segundo critérios próprios, divergentes dos de qualquer dos editores em Portugal (ibidem: 566ss.). Relativamente à própria tradução, Koebel apenas especifica que respeitou a organização42 de Zenith, incluindo todos os fragmentos:

Anders als bei Georg Rudolf Lind wird der Leser hier also kein gestrafftes Werk vorfinden und sich vielleicht über dessen bisweilen repetitiven, obsessiven und fragmentarischen Charakter wundern (ibedem: 157).

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               

Em rigor, não se pode, por isso, entender a posição de Zenith como um avanço no «estado da arte», mas apenas como mais uma posição de um especialista.

42 Exceto, como Koebel explica, algumas alterações menores no anexo, onde não incluiu alguns fragmentos e adicionou uma carta de Pessoa a Mário de Sá-Carneiro (Koebel, 2006: 567).

[Ao contrário do que acontecia na edição de Georg Rudolf Lind, o leitor não encontrará aqui uma obra reduzida e ficará talvez surpreendido com o caráter dela, que é, às vezes, repetitivo, obsessivo e fragmentário]

Curiosamente, Koebel não faz qualquer referência à própria tradução. As diferenças entre o primeiro e o segundo Buch der Unruhe parecem resultar de questões editoriais de origem e não translatórias. Não descreve o caráter repetitivo e obsessivo como consequência de uma reprodução diferente dos textos em português, mas antes como consequência de ter traduzido todos os trechos na íntegra. Se Koebel não comenta o método de tradução, já Ammann revela algumas informações interessantes a este respeito:

Unsere vorliegende deutsche Ausgabe ist eine über weiteste Strecken des Werkes neue Übersetzung von Inés Koebel. Sie hat es unternommen, auch jene von Georg Rudolf Lind übersetzten Passagen, wo die Zeit dies notwedig gemacht hat, zu revidieren. (Ammann, 2006: 574)

[A nossa presente edição alemã é uma tradução, em grande parte nova, de Inés Koebel. Ela também procedeu à revisão dos passos já traduzidos por Georg Rudolf Lind, sempre que o tempo tornou necessária uma revisão.]

Portanto, as explicações de Koebel e Ammann coincidem na maneira como descrevem o segundo BdU e correspondem também à indicação na primeira página do livro: trata-se de uma obra editada por Richard Zenith e traduzida e revista por Inés Koebel. Uma vez que não se classifica o texto como uma nova tradução, mas como uma revisão, parece especialmente interessante comparar as duas versões para identificar como (e talvez se) se levou a cabo esta revisão. Devido aos constrangimentos de espaço do presente estudo, não foi, mais uma vez, exequível analisar todos os fragmentos. Por isso, selecionaram-se trinta e cinco trechos (cf. anexo C) para um exame pormenorizado e uma comparação, por um lado, com a 3.ª edição da organização de Zenith, de 2001 e, por outro lado, com a tradução de Lind. Tendo em conta que as duas traduções resultam de dois textos de partida «diferentes», incluiu-se também a edição prínceps na análise para evitar a atribuição de diferenças nas edições portuguesas (por exemplo de transcrições) a variações nas traduções. O corpus contém quinze fragmentos que foram selecionados devido a aspetos salientes na tradução de Lind – nomeadamente traduções menos felizes, omissões, acrescentos, ou aspetos estilísticos, tais como repetições e irregularidades gramaticais ou neologismos. Além disso, procedeu-se a uma comparação de textos produzidos pela primeira vez com outros já traduzidos por Lind. Por isso, integraram-se catorze fragmentos

que não se encontram no primeiro Buch der Unruhe, mais a segunda parte do prefácio que também não foi incluída na organização de Lind. Os restantes trechos foram selecionados em função de vários aspetos, por um lado, relacionados com a segunda tradução (erros, aspetos estilísticos etc.), mas, por outro lado, também em função de uma datação aproximada43, a fim de integrar também textos produzidos na primeira fase da produção.

Deste modo, foi possível dividir o corpus em duas partes de modo a separar textos provavelmente provenientes da primeira fase da produção, isto é, fragmentos escritos antes de 1929, dos da segunda fase, compostos após 1929. Com a separação dos fragmentos das duas fases tenta-se evitar a atribuição de caraterísticas estilísticas dos manuscritos em português aos fragmentos traduzidos. Resumindo, o corpus contém no total trinta e cinco trechos, dos quais vinte e um formam traduzidos pelos dois tradutores. Destes vinte e um textos, seis foram provavelmente escritos antes de 1929. Acrescentaram-se catorze trechos que só Koebel traduziu, dos quais sete pertencem a primeira e os restantes sete a segunda fase de produção (cf. anexo C).

Tal como Koebel explica, a tradutora manteve todos os fragmentos publicados na edição de Zenith de 2001, não tendo alterado a ordenação. Apesar de o segundo Buch der Unruhe conter textos traduzidos pela primeira vez e outros «apenas» revistos, à primeira vista esta diferença não é percetível. É aparente que Koebel não apenas beneficiou do trabalho de Lind, mas que também conservou as características linguísticas e o tom do primeiro BdU. Esta impressão confirma-se quando comparamos fragmentos nas duas traduções. Muitas vezes as duas versões de um fragmento são parecidas e frequentemente há até frases ou passagens inteiras que são idênticas:

Um dia houve um acontecimento na rua, por baixo das janelas – uma scena de pugilato entre dois indivíduos. (Pessoa/Prado Coelho, 1882 I: 11)

Eines Tages kam es auf der Straße unter unseren Fenstern zu einem Zwischenfall: Zwei Kerle prügelten sich. (Pessoa/Lind, 1996: 12)

[Um dia sucedeu, na rua por baixa das nossas janelas, um incidente: dois tipos andaram à pancada.]

                                                                                                               

43 Trata-se de uma datação aproximativa com base na edição crítica, bem como nas restantes edições quando estas indicam uma data.

Um dia houve um acontecimento na rua, por baixo das janelas – uma cena de pugilato entre dois indivíduos. (Pessoa/Zenith, 2001: 40)

Eines Tages kam es auf der Straße unter unseren Fenstern zu einem Zwischenfall: Zwei Kerle prügelten sich. (Pessoa, 2006: 8)

[Um dia sucedeu, na rua por baixa das nossas janelas, um incidente: dois tipos andaram à pancada.]

O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monotona e necessaria, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. Elle é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo para mim por fóra. (Pessoa/Prado Coelho, 1982 I: 173)

Chef Vasques ist das Leben. Das Leben, eintönig und notwendig, gebieterisch und unbekannt. Dieser banale Mensch verkörpert die Banalität des Lebens. Er ist alles für mich, von außen betrachtet, weil das Leben alles für mich ist, von außen betrachtet. (Pessoa/Lind, 1996: 29ss.)

[O chefe Vasques é a vida. A vida, monótona e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal incorpora a banalidade da vida. É tudo para mim, visto de fora, porque a vida é tudo para mim, vista de fora.]

O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo para mim por fora. (Pessoa/Zenith, 2001: 53)

Chef Vasques ist das Leben. Das Leben, eintönig und notwendig, gebieterisch und unbekannt. Dieser banale Mensch verkörpert die Banalität des Lebens. Er ist alles für mich, von außen betrachtet, weil das Leben alles für mich ist, von außen betrachtet. (Pessoa, 2006: 23)

[O chefe Vasques é a vida. A vida, monotona e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal incorpora a banalidade da vida. É tudo para mim, visto de fora, porque a vida é tudo para mim, vista de fora.]

Na maioria dos casos, contudo, Koebel introduz algumas alterações como, por exemplo, substitui palavras, partes de frases ou faz mudanças na ordem das palavras. No fragmento 31 do segundo Buch der Unruhe, por exemplo, a tradutora substituiu «verbringen» [passar] por «durchleben» [viver] e «durch mich hindurch» [através de mim] por «an mir vorüber» [por mim]:

Passo tempos, passo silêncios, mundos sem fórma passam por mim. (Pessoa/Pado Coelho, 1982 I: 99)

Ich verbringe Zeiten, verbringe Schweigen, gestaltlose Welten ziehen durch mich hindurch. (Pessoa/Lind, 1996: 179)

[Passo tempos, passo silêncios, mundos sem contornos passam através de mim.]

Passo tempos, passo silêncios, mundos sem forma passam por mim. (Pessoa/Zenith, 2001: 68)

Ich durchlebe Zeiten, durchlebe Schweigen, gestaltlose Welten ziehen an mir vorüber. (Pessoa/Koebel, 2006: 40)

[Vivo tempos, vivo silêncios, mundos sem contornos passam por mim.]

Alterações suaves deste tipo encontram-se frequentemente na tradução de Koebel. No entanto, os fragmentos variam de forma significativa em termos de correspondências. Enquanto alguns trechos são praticamente idênticos (por exemplo, fragmentos 9, 175 ou 334 de Das Buch der Unruhe de Koebel, cf. anexo), outros divergem muito (por exemplo, fragmentos 13, 442 ou «Millimeter», cf. anexo). Todavia, a maioria manifesta semelhanças e todos os textos incluídos na análise contêm pelo menos algumas frases idênticas. Esta observação corrobora, portanto, a perceção de que a tradução de Koebel não é um trabalho autónomo ou realmente novo, mas antes uma revisão aumentada da tradução de Lind. Será então preciso analisar como Koebel procedeu na revisão.

Um aspeto importante no conceito de revisão reside na noção de correção de erros. Por isso, antes de entrar em mais detalhes, abordar-se-ão exemplos de retradução de fragmentos que continham erros de tradução. No fragmento 1 da edição de Lind, o tradutor traduz mal o substantivo «loja» devido à polissemia da palavra:

Ha em Lisboa um pequeno numero de restaurantes ou casas de pasto [em] que, sobre uma loja com feitio de taberna decente se ergue uma sobreloja com uma feição pesada e caseira de restaurante de villa sem comboios. (Pessoa/Prado Coelho, 1982 I: 10; parênteses do editor)

In Lissabon gibt es einige wenige Restaurants oder kleine Gasthäuser, da liegt oberhalb eines Geschäfts, das wie eine dezente Taverne aussieht, ein Zwischengeschoß, das so schwerfällig und hausbacken wirkt wie ein Restaurant in einer Ortschaft ohne Bahnanschluss. (Pessoa/Lind, 1996: 11)

[Em Lisboa há alguns poucos restaurantes ou pequenas estalagens onde por cima de uma casa de comércio, que tem um aspeto de uma taberna decente, há uma sobreloja que parece tão pesada e caseira como um restaurante numa vila sem ligação de comboio].

Neste contexto específico, «loja» não significa obviamente «casa de comércio» mas «rés-do-chão». Lind, ao traduzi-lo por «Geschäft» [loja, casa de comércio], cria uma frase bastante estranha, descrevendo uma casa de comércio com um aspeto de taberna decente. Apesar de Koebel alterar a tradução problemática de Lind, não corrige a palavra, mas decide omitir o vocabulário problemático, não apenas «loja», mas também «sobreloja»:

Há em Lisboa um pequeno número de restaurantes ou casas de pasto [em] que, sobre um loja com feitio de taberna decente, se ergue uma sobreloja com uma feição pesada e caseira de restaurante de vila sem comboios. (Pessoa/Zenith, 2001: 39, parêntes pelo editor)

In Lissabon gibt es eine kleine Anzahl Restaurants oder Eßlokale mit einem schlichten Schankraum und im Stockwerk darüber einem Eßraum, der so gediegen und hausbacken wirkt wie ein Restaurant in einer Ortschaft ohne Bahnanschluß. (Pessoa/Koebel, 2006: 7)

[Em Lisboa há um pequeno número de restaurantes ou casas de pasto com uma pequena taberna simples e no andar de cima uma sala de jantar que parece tão genuína e caseira como um restaurante numa vila sem ligação de comboio.]

Noutros casos, Koebel nem corrige sequer os erros de Lind. No fragmento 175, por exemplo, mantém a tradução «errada» do plural «gerações» pelo singular «Generation», apesar de o plural mudar o significado da frase:

O trabalho destructivo das gerações anteriores fizera que o mundo para o qual nascemos, não tivesse segurança que nos dar na ordem religiosa, esteio que nos dar na ordem moral, tranquilidade que nos dar na ordem politica. (Pessoa/Prado Coelho, 1982 I: 221)

Die zerstörerische Arbeit der vorangegangenen Generation hatte bewirkt, daß die Welt, in die wir hineingeboren wurden, uns keinerlei Sicherheit in religiöser Hinsicht, keinerlei Halt in moralischer Hinsicht und keinerlei Ruhe in politischer Hinsicht bieten konnte. (Pessoa/Lind, 1996: 13)

[O trabalho destrutivo da geração anterior fizera que o mundo em que nascemos não nos oferecesse nenhuma segurança de ordem religiosa, nenhum esteio de ordem moral e nenhum sossego de ordem política.]

O trabalho destructivo das gerações anteriores fizera com que o mundo para o qual nascemos, não tivesse segurança que nos dar na ordem religiosa, esteio que nos dar na ordem moral, tranquilidade que nos dar na ordem política. (Pessoa/Zenith, 2001: 187)

Die zerstörerische Arbeit der vorangegangenen Generation hatte bewirkt, daß die Welt, in die wir hineingeboren wurden, uns keinerlei Sicherheit in religiöser Hinsicht, keinerlei Halt in moralischer Hinsicht und keinerlei Ruhe in politischer Hinsicht bieten konnte. (Pessoa, 2006: 181)

[o trabalho destrutivo da geração anterior fizera com que o mundo em que nascemos, não nos oferecesse nenhuma segurança de ordem religiosa, nenhum esteio de ordem moral e nenhum sossego de ordem política.]

Outro exemplo interessante encontra-se no fragmento 9 da tradução de Koebel. Tal como evidenciado no capítulo 3, Lind traduz o fragmento correspondente de duas formas diferentes. Uma vez no próprio livro, no fragmento 13, e outra no posfácio. Enquanto o fragmento 13 da tradução de Lind contém um erro de tradução, o mesmo não sucede no posfácio. Ao comparar a tradução de Koebel com as duas versões de Lind, verifica-se que a tradutora propõe uma versão própria:

Sim esta Rua dos Douradores comprehende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução. (Pessoa/Prado Coelho, 1982 I: 174)

Jawohl diese Rua dos Douradores umfaßt für mich den gesamten Sinn der Dinge, die Lösung aller Rätsel außer der Tatsache, daß es Rätsel gibt, die keine Lösung finden können. (Pessoa/Lind, 1996: 30)

[Sim, esta Rua dos Douradoures compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, excepto o facto de existirem enigmas que não têm solução.]

Jawohl, diese Rua dos Douradores umfaßt für mich den gesamten Sinn der Dinge, die Lösung aller Rätsel, abgesehen davon, daß Rätsel existieren, was keine Lösung finden kann. (Pessoa/Lind, 1996: 299)

[Sim, esta Rua dos Douradores compreende todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o facto de existirem enigmas o que não pode ter solução.]