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1.3.1 “Racionalização política da dependência do exterior”

3. Das fontes

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Tanto a questão principal como as questões derivadas às quais procuramos dar respostas estão intimamente ligadas com as fontes com que trabalhamos. Desde logo porque a consulta exploratória de fontes levanta questões que ficariam em aberto sem a procura sistemática de novas fontes que aos poucos vão fazendo luz sobre os factos percecionados e os seus contextos, levantando, em simultâneo, novas questões – tudo isto no âmbito de um processo que poderia revelar-se interminável, o que significa que num determinado momento a pesquisa tem que ser dada como concluída. Idealmente, espera-se que o cruzamento de fontes leve pelo menos a uma aproximação à verdade, no caso a verdade científica, sendo certo que esta verdade está interminavelmente em construção.

Estamos focados na grande estratégia norte-americana - e aliada nos casos das primeira e segunda guerras mundiais e quando esta se cruza com a estratégia dos EUA e em especial no que diz respeito ao Atlântico e que pode afetar os Açores – num tempo longo que começa ainda na I Guerra Mundial e se prolonga até aos tempos pós-Guerra Fria, sendo que, nesses contextos, procuramos perceber os papéis que Portugal vai desempenhado quando está em causa a utilização de ativos geoestratégicos que lhe pertencem (no caso nos Açores). Estamos também focados nas funções das bases instaladas pelos EUA nos Açores e nos seus impactos e também nas negociações que justificam acordos e contrapartidas. A panóplia de fontes de que nos socorremos é tão vasta ao ponto de aqui apenas referirmos as que nos parecem mais relevantes. De entre a documentação norte-americana, merece destaque o acervo designado por Foreign Relations of the United States (FRUS) (a partir de 1943), acedido através de diversas localizações e que, através do relato de conversações, de correspondência e de relatórios diversos permite perceber não só as intenções dos EUA em relação aos Açores, como o decorrer de negociações com vista à obtenção de ativos geoestratégicos, como ainda o protagonismo que os EUA vão permitindo a Portugal. Este acervo permite traçar um quadro das estratégias utilizadas tanto pelos EUA como por Portugal nos processos negociais. Um outro arquivo importante está depositado no Franklin D. Roosevelt Library&Museum e documenta, especificamente, as negociações que culminaram com o acesso dos EUA a Santa Maria, deixando perceber (o que também acontece com o acervo FRUS), por exemplo, que as intenções norte-americanas em relação àquela base (e aos Açores) estão muito para além do contexto restrito da II Guerra Mundial. Documentos libertados pela Central Intelligence Agency (CIA) são relevantes, por exemplo, para tentar perceber o independentismo/separatismo nos Açores após a Revolução portuguesa de 1974. A grande estratégia é por nós percebida através de documentos que nuns casos traçam os quadros gerais e noutros descem a pormenores operacionais. São relevantes, entre outros, os documentos do Department os Defense (DOD), da White House e do National Security Council (NSC) – sendo estes últimos particularmente relevantes para perceber os papéis dos Açores, por exemplo, em determinados períodos da

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Guerra Fria -, bem como documentos arquivados no The World War I Document Archive. É ainda relevante toda a documentação resultante das cimeiras da II Guerra Mundial, que define a grande concetualização estratégica e ações concretas no terreno. Os papéis que vão sendo atribuídos aos Açores estão bem definidos nesses documentos. Servimo-nos ainda de relatórios do GAO – US Government Accountability Office (órgão de fiscalização do Congresso), que permitem perceber as várias perspetivas em presença sobre os mais variados aspetos relacionados com os fenómenos que estudamos. Por fim, merece particular relevância o arquivo da USAID - United States Agency for International Development, particularmente no que diz respeito ao levantamento dos apoios dos EUA a praticamente todos os países do mundo.

A principal documentação portuguesa que utilizamos está depositada no Arquivo Histórico Militar e no Arquivo Histórico Diplomático (estes dois arquivos organizaram, a nosso pedido, a documentação em pastas específicas) e diz respeito à Base Naval de Ponta Delgada (I Guerra Mundial). É a partir destes arquivos que é possível, por exemplo, perscrutar como os Açores estão preparados para a guerra que há de vir e como evolui a defesa dos Açores, sendo também esta documentação relevante para compreender como se articulam, aos níveis estratégico e tático, mas também ao nível político, as presenças militares portuguesa e norte-americana nos Açores. O evoluir das negociações entre Portugal e os EUA a partir do momento em que os dois países iniciam o diálogo direto sobre os Açores também está depositado nestes arquivos, particularmente no Arquivo Histórico Diplomático. É nestes arquivos que se percebe o evoluir do soft power norte-americano à volta da sua base em Ponta Delgada, sendo claro o incómodo que essa situação provoca nos comandantes militares portugueses em funções nas ilhas, particularmente preocupados com o que consideram ser um posição popular pró-EUA. O independentismo/separatismo associado à Base Naval de Ponta Delgada também pode ser, em parte, percebido através desta documentação.

O Arquivo da Assembleia da República é outro recurso que utilizamos e que, através dos diários das sessões, permite perceber o ambiente político à volta das bases militares norte-americanas nos Açores, sendo também neste arquivo que, no enquadramento da I Guerra Mundial, as limitações militares portuguesas nas ilhas e os esforços infrutíferos para resolver esses problemas junto tanto dos EUA como da Inglaterra são assumidos duma forma muito clara. O Arquivo da Assembleia Legislativa Regional (ativo a partir de 1976, quando o parlamento regional entra em funções) fornece elementos da maior importância para entender as reações políticas açorianas aos acordos que são celebrados entre Portugal e os EUA com incidência nas ilhas, e para analisar as incidências locais do funcionamento das bases (no caso apenas a Base das Lajes). É ainda relevante a descrição do ambiente social na ilha Terceira na sequência da instalação inglesa/norte-americana na Base das Lajes depositada na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, tal como se revela importante o arquivo pessoal do

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autor deste trabalho, particularmente no que diz respeito a tentativas de expansão do sinal da televisão norte-americana da Base das Lajes que podem ser associadas à utilização desse instrumento como recurso de soft power.

São ainda fontes relevantes artigos e estudos técnicos relacionados com os mais variados aspetos dos impactos das bases e da sua utilização. Estes instrumentos permitem não só ajudar a consolidar um quadro geral onde as bases açorianas se possam enquadrar, como permitem perceber os impactos concretos e as funções dessas infraestruturas, fixados em alguns casos com muito pormenor. Completa o quadro de construção de conhecimento neste trabalho a consulta de bibliografia que permite criar quadros de referência e resolver, sempre que isso é possível, dificuldades não ultrapassáveis por outras fontes no que diz respeito à montagem do puzzle conhecido por verdade científica. Nesta perspetiva, os artigos, os estudos e os próprios livros de que nos socorremos também podem ser considerados no âmbito das fontes do nosso trabalho.