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Seccão I Os caminho que confluem para os Açores

5. Limpeza das rotas marítimas do Atlântico

Marcada pela determinação da Alemanha na utilização de submarinos, a chamada Batalha do Atlântico, que de desenrolou entre 1939 e 1945, entra numa fase perigosa para os aliados em 1942, com o poderio submarino alemão a assumir níveis consideráveis, atingindo as 300 unidades e ultrapassando as 400 no ano seguinte. O objetivo da Alemanha é vergar a Inglaterra, chegando à meta de destruir 800 000 toneladas por mês, quando os ingleses não conseguem produzir mais do que um milhão de toneladas de navios por ano. Porém, com a entrada dos EUA na guerra os dados da equação alteram-se. Só por si os EUA conseguem produzir mais de cinco milhões de toneladas por ano. Nos últimos meses de 1942 os EUA já eram mesmo capazes de produzir navios mercantes em quantidade suficiente para substituir as perdas, embora a Alemanha produzisse submarinos suficientes para substituir as perdas e aumentar a frota631.

628 Cf. Telo, A. J. (1993). Op. cit. 629 Cf. Idem, ibidem.

630 Consulate of the USA, Ponta Delgada (s/d). History of Air Base 4. Consulate of the USA, Ponta Delgada Web site. Acedido em julho de 2015, disponível em http://azores.usconsulate.gov/lajes-

field_page2.html.

631 Cf. Telo, A. J. (1993). Op. cit.; Warnock, A. T. (1999). Air Power versus U-boats. Confronting Hitler’s

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Em 1941 a Alemanha consegue afundar 875 navios aliados632. Mas ao longo deste ano e mesmo

sem os EUA entraram oficialmente na guerra, a Inglaterra recebe 50 destroyers norte- americanos em troca da cedência de bases, além de os norte-americanos garantirem escolta até à Islândia. O Canadá incrementa as suas ações de escolta e a Inglaterra aumenta a cobertura aérea. Por outro lado, é decifrado o sistema de comunicações dos submarinos da Alemanha, o que permite acompanhar os seus movimentos. A introdução de radares capazes de detetarem um periscópio no raio de uma milha é outro passo importante que favorece os aliados633.

5.1. Um “buraco” no Atlântico

Os aliados apercebem-se, entretanto, da importância de uma zona no Atlântico que não é coberta pela aviação e onde os submarinos da Alemanha atuam com relativa impunidade. Trata- se do chamado “Atlantic Gap”634, que engloba a zona dos Açores e onde os submarinos, além de

lançarem ataques contra navios, operando mesmo à superfície por falta de cobertura aérea, abastecem com facilidade, partindo daí para a costa americana e para o Atlântico a sul. A introdução de submarinos-cisterna, alguns deles a operarem nas proximidades dos Açores, veio aumentar a zona de operações, que se estende até às Caraíbas635. Porém, o sistema de comboios

entretanto montado e particularmente o incremento da cobertura aérea na zona americana, obrigam os submarinos a mudar de estratégia e de local, regressando ao Atlântico norte a partir de maio de 1942. Entretanto, a Alemanha tinha mudado as cifras de comunicação dos submarinos, anulando a vantagem que os aliados tinham adquirido com a leitura das comunicações com a anterior cifra, além de adquirir a capacidade de ler parte das comunicações aliadas. Com o regresso ao Atlântico norte, os submarinos de ataque são reabastecidos por submarinos-cisterna localizados nas proximidades dos Açores, ganhando flexibilidade para operar em zonas vastas que se entendem até ao Sul da África e da América636. Em 1942 a

Historical Support Division Web site. Acedido em maio de 2015, disponível em

http://www.afhso.af.mil/shared/media/document/AFD-100525-066.pdf.

632 Em 1940 são afundadas 454 9000 toneladas de navios mercantes; em 1941, 469 6000, e em 1941 a

tonelagem sobe para 824 5000. Cf. Quétel, C. (2010). História da II Guerra Mundial. Lisboa: Edições Texto&Grafia, Ldª.

633Cf. History (2015). Battle of the Atlantic. History Web site. Acedido em maio de 2015, disponível em

http://www.history.co.uk/study-topics/history-of-ww2/battle-of-the-atlantic; Warnock, A. T. (1999). Op.

cit.

634 History (2015). Op. cit. “The air gap, also known as the "Black Pit," consisted of a giant hole in the air

cover over the main trade routes between Britain and North America that stretched 300 miles across from east to west and 600 miles north to south from Greenland to the Azores Islands”. Goette, R. (outubro de 2005). Britain and the Delay in Closing the Mid-Atlantic "Air Gap" During the Battle of the Atlantic. The Northern Mariner/Le marin du nord, XV, No 4, pp. 19-41, pp. 19 e 20; cf. Warnock, A. T. (1999). Op. cit.

635Cf. Telo, A. J. (1993). Op. cit. 636Cf. Idem, ibidem.

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Alemanha consegue produzir 20 novos submarinos por mês. As perdas aliadas são de tal maneira significativas neste ano que os recursos de combustíveis e alimentação da Inglaterra atingem níveis críticos637.

Antes do ataque aliado ao Norte de África, o trânsito de navios no Atlântico aumenta de forma significativa nos circuitos EUA-Inglaterra e EUA-Norte de África, o que leva a Alemanha a colocar mais submarinos na zona dos Açores. Após o ataque aliado ao norte de África, que ocorre em novembro de 1942, são incrementados os comboios de abastecimento EUA-Norte de África, aumentando de novo a importância das águas açorianas, que continuam sem cobertura aérea aliada. Os comboios são atacados na zona sem cobertura aérea, o que significa que os combates ocorrem nas proximidades dos Açores638. O ano de 1943 começa bem para a

Alemanha, com perdas aliadas, em março, superiores a 600 mil toneladas, mas será também o ano da derrota da arma submarina nazi, para o que contribuiu a decisão aliada, tomada na Cimeira de Casablanca, de declarar a derrota dos submarinos como prioritária639. Um objetivo

central da Alemanha é interromper o fluxo EUA-Norte de África, daí a colocação de mais submarinos na zona dos Açores. Porém, novas cargas de profundidade, novos radares e sobretudo uma quantidade significativa de porta-aviões de escolta norte-americanos acabaram por anular as vantagens dos submarinos. Em maio ocorre um autêntico massacre de submarinos, com perdas equivalentes a um quarto da frota, baixando significativamente as perdas de navios aliados640. A Alemanha abandona o Atlântico norte, concentrando os meios submergíveis

sobrantes a sul dos Açores, tentando aproveitar a falta de cobertura aérea. Porém, os porta- aviões dos EUA, ajudados por nova descodificação das comunicações alemãs, perseguem e destroem boa parte da frota alemã até setembro de 1943, mês em que a Alemanha retira os seus meios submergíveis dos Açores e do Atlântico central641. A Alemanha consegue regressar em

1945 com uma produção significativa de submarinos642, mas a Batalha do Atlântico já estava

perdida643, tal como a Guerra644.

637Cf. History (2015). Op. cit. 638 Cf. Telo, A. J. (1993). Op. cit.

639 Cf. Wilt, A. F. (1991). The Significance of the Casablanca Decisions, janeiro de 1943. The Journal of Military History, 55(4), pp. 517–529.

640Cf. History (2015). Op. cit.

641 Cf. Telo, A. J. (1993). Op. cit. “…on May 26, Dönitz withdrew virtually all German submarines from

the North Atlantic, essentially conceding victory to the Allies in the Battle of the Atlantic. Almost 1,700 Allied ships crossed the ocean in June and July 1943 without any losses”. Warnock, A. T. (1999). Op. cit., p. 10.

642 Os novos submarinos da Alemanha são do tipo XXI, equipados com um detetor de radares que lhes

permite escapar aos ataques aéreos. A velocidade em cruzeiro excede a da maioria dos navios de escolta. Estes submarinos, porém, só ficam operacionais no fim da guerra. Cf. Quétel, C. (2010). Op. cit.

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5.2. Vitória americana nos Açores sem bases

A Batalha do Atlântico demonstra a importância que as águas açorianas assumiram na luta aliada contra os submarinos alemães. No entanto, a batalha está resolvida antes do acesso às Lajes, que ocorre em outubro de 1943, apesar de na Conferência de Trident (maio de 1943) ter ficado decidido que a ocupação dos Açores para fins de luta antisubmarina era crucial645.

Segundo Telo646, os estados-maiores inglês e norte-americano não teriam, à altura da

Conferência de Trident, os números que comprovavam a derrota dos submarinos da Alemanha no Atlântico. O encerramento do “Atlantic Gap”, como se viu, foi obra dos porta-aviões norte- americanos, o que prova que os EUA visionam para além da defesa estática do hemisfério e são capazes de proteger as rotas úteis à projeção do seu poder, mas não pode ser esquecido que a vitória na Batalha do Atlântico fica-se, em boa parte, a dever à guerra de informações, vencida pela Inglaterra com a descodificação, por duas vezes, das cifras de comunicação dos submarinos da Alemanha.