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Conforme o percurso feito e apresentado no tópico anterior, formulamos como tese a ser defendida a seguinte problemática: que a educação rural ofertada, no período e espaço enfocados foi resultado das lutas travadas por segmentos da sociedade civil organizada, representada pelos grandes produtores agrícolas do Brasil, visando adequar a produção agrícola brasileira aos padrões de produção internacional, em razão de demandas advindas do contexto pós-Segunda Guerra Mundial, em que se dá o protagonismo e influência dos Estados Unidos da América, na discussão da economia e política brasileira.

É quando as escolas agrícolas são novamente pensadas como solução - como foi o caso do colégio agrícola de Lavras – e se tornam espaço de disseminação desses interesses, materializados no currículo e na dinâmica da escola ali estruturada.

Esta reproduziu o que a legislação da época determinava acerca do modelo destas instituições, dando as diretrizes e marcos da ação educativa. Vista a luz deste estudo, aquela Escola foi parte de um projeto político sustentado a partir da ideia de que o ensino profissional pensado para o Brasil foi fruto de um projeto de qualificação profissional para alunos que habitavam regiões pauperizadas da periferia do capitalismo mundial, como um meio de inseri-los na esfera da produção e mercado de trabalho agrícola, configurado a partir de políticas traçadas fora do Brasil.

Dentro desse escopo inicial de relações nacionais e internacionais, formulamos as nossas perguntas da pesquisa: 1) Em que termos e com quais finalidades estavam sendo firmados convênios entre o Brasil e os Estados Unidos da América para o assessoramento técnico na área da agricultura e ensino agrícola? 2) Até que ponto o ensino agrícola estivera sob determinação de uma ingerência internacional, em períodos anteriores à presença

americana no pós-Segunda Guerra Mundial? 3) O que levou o governo imperial, no período do Segundo Reinado, a implantar na Bahia, em 1859, a primeira Escola de Ensino Agrícola do Brasil, antecedendo assim, experiências subsequentes que viriam a ser desenvolvidas com base em acordos bilaterais assinados entre o Brasil e outros países? 4) De que modo o Brasil iria responder a essas políticas pensadas para o ensino agrícola? 5) Como, no Ceará, se deu a implantação das políticas para o ensino agrícola? 6) Que alterações curriculares estavam em discussão? 7) O que favoreceu a Escola Agrícola de Lavras da Mangabeira a ter um ciclo de vida ativo e a fechar suas portas na segunda metade da primeira década do século XXI? Fatores diversos oriundos do ambiente político e econômico mundial foram importantes na redefinição do planejamento e das estratégias a serem adotadas pelo governo brasileiro no tocante ao ensino agrícola, o que torna favorável a esta investigação uma filia aos estudos comparados em educação. Afinal, historicamente, a educação tem sido um elemento central, tanto dos processos de globalização econômica e cultural, como das tendências de articulação política que se verificam em algumas regiões do mundo. (FERREIRA, 2002).

Com a hipótese, tese e perguntas definidas, resta-nos mencionar os objetivos desta investigação, ao concebê-la no escopo de projeto. Nosso objetivo geral é evidenciar a história do Colégio Agrícola Prof. Gustavo Augusto Lima de Lavras da Mangabeira – CE, visando estabelecer o que há de diferente e semelhante, quando se pensa o ensino agrícola no Brasil visto por meio de conexões políticas de uma ingerência estrangeira, observando as relações entre as dimensões de recorte local, nacional e internacional nesta instituição de ensino agrícola, no período de 1947 a 2008. Portanto, é nosso intuito tomar parte numa discussão sobre as políticas para o ensino agrícola, cujo epicentro reside na articulação entre a sociedade civil e a sociedade política, buscando entender os resultados desta articulação a partir do papel desempenhado pelo Estado brasileiro que atuou como agente indutor de políticas de ensino no país, articuladas com propósitos desenvolvimentistas externos.

O Estado está sendo aqui entendido, do ponto de vista conceitual, numa visão de filiação gramsciana, o que significa entendê-lo como portador de um arco político mais amplo de “Estado Ampliado”, que incorpora tanto a “Sociedade Civil”, quanto a “Sociedade Política” e de cujas inter-relações, sempre tensas e conflitivas, resultam a hegemonia de uma dada fração de classe.

Em função de tal propósito geral, retiramos o detalhamento dos seguintes objetivos: 1) providenciar uma reconstrução e uma narrativa histórica do Colégio Agrícola Professor Gustavo Augusto Lima de Lavras da Mangabeira, por este representar um lugar de

implantação das políticas formuladas pelo Estado brasileiro para o ensino agrícola no Ceará tendo a década de 1940 como marco; 2) mostrar, que a circulação internacional e nacional de modelos pedagógicos oriundos de políticas desenvolvidas nos EUA, foi a matriz da organização escolar agrícola no Brasil; 3) destacar o papel da elite rural local e nacional na demanda ao Estado por ensino agrícola e fortalecimento da economia desse setor.

Para tanto, uma discussão mais aprofundada nos conduziu para as perguntas de pesquisa levantadas e para a fundamentação da tese aqui exposta. As análises realizadas foram possíveis por meio de consulta atenta a documentos e fontes diversas a que tivemos acesso, como: a) leis, pareceres, grades curriculares, relatórios de gestão do Ministério da Educação e da Agricultura, em recorte nacional; b) planejamentos estratégicos de governo do estado do Ceará, nos diferentes momentos pelos quais passou a instituição escolar em foco, desde a sua criação ao apogeu e decadência; c) artigos e matérias publicadas em jornais e revistas da época estudada; d) escuta de relatos de pessoas ligadas à vida da Escola estudada.

Esse conjunto de consultas nos mostrou pouco a pouco que, para além de fatores de natureza local, houve influências políticas, econômicas e culturais sobre o município de Lavras da Mangabeira, que determinaram, em parte, a criação e implantação do colégio agrícola nesta cidade na década de 1940. A crônica local que nos incentivara a pensar a importância daquela instituição escolar à luz da história foi dando lugar crescente ao reconhecimento de uma teia de relações mais amplas, pois constatamos que o elemento central fomentador e que veio a colaborar para a elaboração, oferta e disseminação de políticas voltadas para o ensino agrícola no Brasil, era fruto de uma estratégia de interesses associados firmados entre o governo brasileiro e norte americano, vinculada, portanto, a uma demanda econômica internacional. Nos capítulos que compõem esta tese, procuraremos mostrar como se deu a construção destas políticas de ensino rural no Brasil, como suporte maior para a materialização de uma Escola Agrícola de porte considerável, que marcou a vida social daquele município e alimenta até hoje a sua memória coletiva.