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2.3 As instituições de ensino agrícola

2.3.2 Os Patronatos Agrícolas – um lugar devotado a corrigir, civilizar e assistir aos

Tendo a conjuntura internacional como parâmetro para analisarmos as medidas que foram adotadas no Brasil no final do século XIX e início do XX, visando incorporá-lo no circuito das potências chamadas civilizadas, vamos identificar que, assim como nos Estados Unidos da América e na Europa, a ideia de progresso e civilização, eram faces requeridas de um pretendido Brasil moderno. Mencionamos, em itens anteriores, que no Brasil havia um movimento por parte da elite agrária, ansiando por reformas que viessem pôr em marcha uma nova política educacional voltada para a formação do trabalhador nacional, em razão da Escolas de Aprendizes e Artífices do País, situada em Minas Gerais, inclusive dispondo do recurso imagético,

é o de PEREIRA, Bernadetth Maria. Escola de Aprendizes e Artífices de Minas Gerais, primeira

configuração escolar do CEFET, na voz de seus alunos pioneiros (1910-1947). 2008. 382 f. Tese

pressão internacional que exigira o fim da escravidão e a consequente transição do trabalho escravo para o livre.

A ideia de progresso tornou-se uma referência que impregnou a ação política e as relações sociais do Brasil, ao longo do século XX. Intencionava-se unir a sociedade brasileira em direção ao ideal moderno de economia e sociedade, ideal que ganharia força, entre as décadas de 1930 e 1950. Vamos perceber que os discursos, as ações de governantes e a política traçada pelo Estado estavam todos direcionados para se construir no Brasil um país novo, apoiado numa perspectiva de civilidade, dirigida por um olhar para o estrangeiro, que ditava ao Brasil republicano que rumos seguir.

Setores da elite brasileira buscava introduzir e consolidar valores qualificados como modernos e que faziam parte do modelo europeu de civilidade e progresso. Nessa direção, dava-se o primeiro passo para adequar os setores mais pobres da população, sob o prisma da racionalidade capitalista que, aos poucos, vinha sendo implantada no Brasil.

Os interesses do capital internacional associados aos anseios da elite agrária brasileira, fazendo-se representar junto ao Estado Restrito através de agências e agentes econômicos, fizeram com que fossem criados, recriados e ampliados os estabelecimentos de ensino, visando o desenvolvimento desse capital humano. Permeado por essa perspectiva da relação capital/trabalho, passou-se a gestar políticas que culminariam mais adiante em medidas específicas e direcionadas para cada nível de instrução do país, como a edição de Leis Orgânicas de Ensino, que em 1961, após redefinições e aprimoramentos, compôs nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases de Educação Brasileira.

Em relação à agricultura, podemos dizer que no nascedouro das políticas para o ensino agrícola no Brasil já se aplicava a matriz básica da teoria que viria ser anunciada na década de 1950 pela Escola de Chicago54. Seria o investimento em educação a matriz

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Sua origem está ligada ao surgimento da disciplina Economia da Educação, nos Estados Unidos, em meados dos anos 1950. Theodore W. Schultz, professor do departamento de economia da Universidade de Chicago à época, é considerado o principal formulador dessa disciplina e da ideia de capital humano. Esta disciplina

específica surgiu da preocupação em explicar os ganhos de produtividade gerados pelo “fator humano” na

produção. A conclusão de tais esforços redundou na concepção de que o trabalho humano, quando qualificado por meio da educação, era um dos mais importantes meios para a ampliação da produtividade econômica, e, portanto, das taxas de lucro do capital. Aplicada ao campo educacional, a ideia de capital humano gerou toda uma concepção tecnicista sobre o ensino e sobre a organização da educação, o que acabou por mistificar seus reais objetivos. Sob a predominância desta visão tecnicista, passou-se a disseminar a ideia de que a educação é o pressuposto do desenvolvimento econômico, bem como do desenvolvimento do indivíduo, que, ao educar-se,

estaria “valorizando” a si próprio, na mesma lógica em que se valoriza o capital. O capital humano, portanto,

deslocou para o âmbito individual os problemas da inserção social, do emprego e do desempenho profissional e

fez da educação um “valor econômico”, numa equação perversa que equipara capital e trabalho como se fossem ambos igualmente meros “fatores de produção” (das teorias econômicas neoclássicas). Além disso,

legitima a idéia de que os investimentos em educação sejam determinados pelos critérios do investimento capitalista, uma vez que a educação é o fator econômico considerado essencial para o desenvolvimento. Em

necessária para promover o desenvolvimento do Brasil. A associação entre capital, trabalho e educação seria, na década de 1940, o motor para o desenvolvimento, como afirmou Marshall em 1925.

No tópico anterior, apresentamos como os Aprendizados agrícolas desempenharam um papel importante na difusão do ensino agrícola na chamada República Velha. Contudo, não somente os Aprendizados desenvolveram políticas de formação, já que eles foram criados, a partir de 1918, uma rede de Patronatos Agrícolas, que eram voltados ao atendimento de crianças e jovens em situação de risco social.

Percebemos ainda que o Estado brasileiro não se deteve apenas em formar trabalhadores nacionais, jovens e crianças desvalidas; pois tivemos, no mesmo período, o ensino agronômico ou ensino superior agronômico, destinado aos filhos dos grandes proprietários rurais que ocupariam posição de destaque como formadores e diretores de estabelecimentos, condição firmada na legislação que regia o ensino agrícola do país. Neste tópico, nos restringiremos a analisar o papel desempenhado pelos Patronatos Agrícolas. O ensino superior agronômico será abordado no tópico seguinte.

As transformações pelas quais passou a educação brasileira, quando da criação das primeiras instituições de ensino agrícola no século XIX e início do XX, demonstram que o principal objetivo era atender aos interesses da elite agrária em suas demandas por trabalhadores qualificados. O Ministério da Agricultura se encarregou de criar e difundir pelo país as instituições de ensino agrícola, junto a categorias sociais pouco vinculadas à agricultura, o que, em muitos casos, serviu como paliativo à questão social urbana55. Foi o que aconteceu com os Patronatos Agrícolas (PAs), instituição criada pelo decreto n. 12.893, de 28 de fevereiro de 1918, em resposta à conjuntura gerada pela Primeira Guerra Mundial.

Mendonça (2007) considera que “Os Patronatos eram rurais por necessidade e agrícolas mais por conveniência do que por vocação”, já que o trabalho no campo era visto

1968, Schultz recebeu o prêmio Nobel de Economia pelo desenvolvimento da teoria do capital humano. Para o estudo da Teoria do capital humano é fundamental consultar as obras de Theodore Schultz, O valor econômico da educação (1963) e O capital humano – investimentos em educação e pesquisa (1971); Frederick H. Harbison e Charles A. Myers, Educação, mão-de-obra e crescimento econômico (1965). No Brasil, destaca-se Cláudio de Moura Castro, Educação, educabilidade e desenvolvimento econômico (1976); verbete elaborado por Lalo Watanabe Minto. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br. Acessado em 14 de outubro de 2015.

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Nesta conjuntura, de valorização dos agrícolas, os grupos dominantes agrários procurariam maximizar a exploração de suas fazendas, necessitando, para tanto, de maior contingente de trabalhadores. Ao mesmo tempo, as crises de abastecimento urbano, marcadas pela elevação dos preços de alimentos, seriam marcadas por mobilizações operárias e de trabalhadores em geral, definindo-se, assim, a chamada “questão

como único meio de preservar sua autossubsistência e manutenção56. Neles, seria abrigada a

infância órfã desvalida da cidade do Rio de Janeiro, atendendo aos interesses de segmentos urbano-industriais empenhados em construir uma imagem “profilática” da Capital Federal57.

Aos Patronatos, como núcleos de ensino profissional, cabiam-lhe habilitar seus internos em horticultura, jardinagem, pomicultura, pecuária e cultivo de plantas industriais mediante cursos profissionalizantes fornecidos a menores órfãos entre 10 e 16 anos, recrutados pelos Chefes de Polícia e Juízes da Capital Federal58. Desta forma, aos Patronatos, era atribuída uma dupla importância, pois era um lugar utilizado como instrumento de “profilaxia social” e também fornecedor de mão-de-obra para setores agrários considerados menos dinâmicos.

Para Oliveira (2003, p. 26), “os Patronatos deveriam concorrer para minorar os problemas decorrentes da falta de preparação daqueles que trabalhavam e diretamente lidavam com a agropecuária”. O ensino agrícola era, portanto, um dos objetivos a ser atingido, sendo as unidades institucionais apontadas, integrantes do que viria a ser o suporte organizacional para implantação do ensino profissional, a partir do qual era esperado que contribuísse para o aumento da produção e qualificação do trabalhador para atuar como agente transformador do campo.

Contudo, diferentemente do que se deu com os Aprendizados, a motivação para criação destes estabelecimentos adveio, principalmente, das discussões em torno do problema do menor abandonado e dos problemas de ajustamento social presente desde o século XIX e que se tornaram uma preocupação não somente de educadores e médicos que se preocupavam com a atenção destinada à infância desvalida, mas da população em geral.

Confinar essas crianças e adolescentes dando-lhes instrução, era uma forma de livrá-los da ociosidade e da vagabundagem, argumento que foi suplantado quando vemos que a qualificação para o trabalho, visando atender as demandas das grandes lavouras, era a cabo o agente motivador das elaborações destas medidas. O problema era do campo que reclamava

56 O decreto No. 12.893, de fevereiro de 1918, que criou os Patronatos estabelecia que “o que se espera, pelo lado financeiro, é que sejam ao mesmo tempo campos de demonstração e campos de produção. É mister que

tenham lucros e deixem resultados, subsistindo por si próprios”. RMAIC, 1918, p. 141, grifos no original. (Ibidem).

57 “Em todos os centros populosos cresce, dia a dia, o sombrio exército de meninos abandonados, criminosos e

malfeitores de amanhã, pejando os tribunais, enchendo as cadeias, em vez de constituírem elementos computáveis da economia. Dar a mão a essas crianças impelidas à ociosidade e ao vício assegurar-lhes uma atmosfera oxigenada de bons sentimentos, prendê-las à fecundidade da terra ou habilitá-las à tenda da oficina ou de uma profissão é transformar cada uma delas em fator de engrandecimento coletivo” Id. Ibid., 1919: 156.

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A presença da Policia do Rio de Janeiro junto aos Patronatos não se limitava, apenas, à arregimentação dos menores, inserindo-se junto à produção de um perfil disciplinar e de certa identidade institucional, já que boa parte da clientela provinha antes de seu encaminhamento aos PAs, de duas instituições: ora o Depósito de Presos, ora a Colônia Correcional, ambas na Capital Federal e subordinadas ao Chefe do Policia. (ibidem).

a falta de mão-de-obra especializada em razão do processo de concentração da população nos centros urbanos, levando ao agravamento da violência urbana.

Segundo Marco Antonio Cabral dos Santos (2004), a criminalidade na cidade de São Paulo crescia à medida que aumentava a população da cidade; e um dos grupos que mais contribuía para isso era o dos menores de idade. Para este Autor, “a solução para o problema passava não só pela escola como também pela fábrica, repousando na pedagogia do trabalho uma solução eficaz e ao mesmo tempo rentável para o problema da delinquência infantil”. (Idem, 2004, p. 220).

Era patente desde o século XIX a existência no Brasil de um segmento da população formado de médicos, educadores, juristas e administradores públicos, que se preocupava com a situação das crianças pobres, levando-os a realizarem algumas ações com o intuito de protegê-los da violência, dando-lhe melhores hábitos, incutindo valores, enfim, civilizando-as. No início o século XX, o olhar sobre a infância desvalida adquiriu novos contornos, passando a assumir uma dupla significação, ora era assistencialista, ora era mais educativo.

Houve em todo o país, na primeira década no século XX, políticas de assistência e formação. Foram criados abrigos, asilos, casas de correção e institutos, visando prestar amparo às crianças. Esses equipamentos sociais, em parte, foram caracterizados como lugares onde se trabalharia com a perspectiva corretiva e regeneradora, haja vista a necessidade de, por meio da instituição educacional, buscar transformar não só as crianças, mas também a sociedade, mediante o aprendizado de novos hábitos e condutas que deveriam contrapor-se ao que elas aprendiam nas ruas e no próprio seio familiar de que provinham (CUNHA, 2003).

Os Patronatos responderiam a um duplo aspecto: um voltado para o aprendizado de técnicas profissionais ligadas ao trabalho agropecuário e outro destinado à regeneração das crianças, tendo por arcabouço um rigoroso código disciplinar. Em relatório ao presidente da república, o ministro da Agricultura, Indústria e Comércio atestava:

Em todos os centros populosos cresce, dia a dia, o sombrio exército de meninos abandonados, criminosos e malfeitores de amanhã, pejando os tribunais, enchendo as cadeias, em vez de constituírem elementos computáveis da economia. Dar a mão a essas crianças – órfãos de pais vivos – impelidas à ociosidade e ao vício, assegura- lhes uma atmosfera oxigenada de bons sentimentos, prendê-las à fecundidade da terra ou habilitá-las na tenda da oficina ou de uma profissão é transformar cada uma delas em fator de engrandecimento coletivo (BRASIL-RMAIC, 1918, p. 137).

[...] a missão de organizar a assistência pública em favor dos pequeninos enjeitados da sorte e de preparar, com essa matéria-prima, uma geração nova de trabalhadores familiarizados com a mecânica agrícola, versados na prática dos manejos e execução dos misteres que conduzem à obtenção inteligente e conscienciosa dos produtos agrícolas, afigurou-se-lhe que o problema social e humano tão longamente procrastinado encontraria satisfação útil, prática e imprescindível na criação de Patronatos Agrícolas numerosos e espalhados pelo interior de todos os Estados da República (BRASIL-RMAIC, 1918, p. 138)

Apesar de ser exposto que as instituições deveriam contribuir para a modernização agrícola com a inserção de conhecimentos científicos que levassem a uma racionalização das práticas agropecuárias, o que se sobressaía, na maioria dessas instituições, era a sua função de regeneradora social. Isso fez com que os Patronatos fossem transferidos da pasta do Ministério da Agricultura para o Ministério da Justiça no ano de 1934. Com isso, foram subcategorizados no que concerne ao ensino agrícola.

Para Oliveira (2003, p.55);

Os Patronatos agrícolas eram colocados numa posição periférica no debate sobre o ensino agrícola, em especial na sua vertente de formação técnica e profissional: os patronatos estavam voltados para o atendimento da infância pobre, incorporando os que permaneciam nas ruas das cidades, voltando-se para o preparo do trabalhador rural com um número de conhecimento sobre a organização e as técnicas pretendidas e que deveriam acompanhar as novas relações sociais de produção na agropecuária.

Enquanto os Aprendizados responderiam a um único papel, de formar trabalhadores agrícolas, tendo como clientela privilegiada os filhos de pequenos agricultores ou operários agrícolas, os Patronatos Agrícolas eram exclusivamente destinados às classes pobres, em razão de sua finalidade institucional, como foi aqui já enfatizada. Os Patronatos agrícolas resultaram de uma política e se configuraram como instituição que mais cresceu em quantidade de estabelecimentos. Enquanto, até o ano de 1924, o número de Aprendizados oscilou de três para oito, depois quatro, e nesse ano contava com cinco estabelecimentos; os Patronatos Agrícolas, entre 1918 e 1924, chegaram a um total de dezessete unidades escolares.

Dos dezessete Patronatos federais existentes até 1924, Minas Gerais era o Estado que continha o maior número de estabelecimentos, sete; e o Estado de São Paulo, três. Identificamos ainda um percentual de 76,47% do total de Patronatos nas regiões Sudeste e Sul, compreendendo um total de 13 instituições.

Até o ano de 1930, o Brasil contava com uma rede de vinte Patronatos Agrícolas Federais, sendo sete no estado de Minas Gerais, quatro em São Paulo, três em Pernambuco,

dois no Rio Grande do Sul, dois na Bahia, um no Pará e um em Santa Catarina. Ainda era o estado de Minas Gerais que contava com o maior número de Patronatos, 35%, e em segundo lugar estava São Paulo, com 20% do total de instituições.

Para Nery (2011, p. 186), os Patronatos responderam perfeitamente ao anseio da sociedade brasileira, principalmente, com a ótica estabelecida a partir da década de 1920 com o processo de “republicanização da República”. Era a perspectiva de ruptura em relação aos padrões oligárquicos e o início de um processo civilizacionista que estava em curso. Segmentos ligados à gestão pública, intelectuais e setores organizados da sociedade civil, representados pelas entidades patronais agrárias, estavam à frente desse processo civilizador. Colocar o País nos “trilhos do progresso” significaria, segundo Marques (1994, p.101), “regenerar pela educação passa a ser a tônica do discurso educativo dos anos 1920, que colocava a escola com seus rituais como espaço aberto para as reformas morais e intelectuais propostas pelos republicanos”.

O número de alunos assistidos entre as duas instituições indica que a matrícula em escala ascendente dos Patronatos é um dos fatores que a impulsionava, além do seu caráter coercitivo que mantinha os alunos obrigados a permanecer na instituição, muitas vezes, seguindo determinação da autoridade judicial. No caso dos Aprendizados, já se observa o inverso, a oscilação é menor se comparado as Patronatos.

Os Patronatos superaram os Aprendizados, sendo isso percebido também na evolução das matrículas, demonstrando a prioridade do Governo Federal em investir nos patronatos. Percebemos que, percentualmente, esse crescimento da matrícula não correspondia ao número de instituições criadas, pois, enquanto o número de Patronatos cresceu 340% em seis anos, o número de menores internos teve um aumento de 307,06%, o que reflete a dificuldade que tinham alguns estabelecimentos em preencher o número de vagas disponíveis.

Contudo, não podemos afirmar que, em razão das matrículas serem menores que a evolução dos números de instituição, isto signifique que o ensino agrícola estaria sendo desprestigiado. Os questionamentos e críticas que estas instituições receberam se deram em função do modelo de condução dessas políticas que, para alguns, não estava correspondendo às expectativas que se objetivava atingir, como foi o caso dos Patronatos, que tinham como objetivo regenerar a infância desvalida e divulgar as modernas técnicas agrícolas. Todavia, a maioria dos Patronatos Agrícolas enfatizaram muito mais no aspecto corretivo e regenerador, do que no caráter técnico-científico voltado para a modernização agropecuária.

Desta forma, tanto os Aprendizados quanto os Patronatos chegaram ao ano de 1934 combalidos pelas críticas recebidas à falta de eficácia dos dois modelos de ensino agrícola, pois, enquanto os Patronatos achavam-se numa espécie de “crise de identidade”, ora respondendo a uma função profissionalizante, ora incorrendo apenas numa ótica corretiva e moralizadora, os Aprendizados, a despeito do caráter marcadamente técnico, não conseguiam abarcar uma clientela que fosse significativa, devido, muitas vezes, a problemas estruturais. (NERY, 2010).

Com isso, a experiência com Patronatos agravou-se devido a fatores, como: o nível de matrícula chegou a não corresponder ao número previsto de 200 internos, apesar de ainda superar o número de matrículas dos Aprendizados agrícolas; a falta de investimento por parte do Governo Federal; a baixa produtividade nas unidades, que afetava a renda adquirida com a comercialização dos excedentes que eram produzidos pelos internos no campo e nas oficinas, que comparado aos Aprendizados, superavam em dobro, deixando transparecer que tinham um caráter formador de técnico-profissionalizante mais eficiente que os Patronatos; o abandono das práticas agrícolas que fez o então Ministro da Agricultura, em 1925, Miguel Calmon, enviar a todos os Patronatos ordens no sentido de se priorizar as práticas no campo e nas oficinas técnico-profissionalizantes; a falta de hierarquização dos conteúdos que eram trabalhados ao longo dos três anos da formação dos internos; concentração dos Patronatos em alguns Estados da federação, enquanto outros que careciam desse tipo de ensino não tinham sequer um estabelecimento; e o descontentamento em relação à formação agrícola, haja vista que os patronatos assumiram mais um caráter disciplinador e regenerador que propriamente um conhecimento técnico, chegando a pôr em questionamento se de fato eram instituições de formação técnico-profissionalizante.

É importante considerarmos que o caráter formador para o atendimento das demandas do campo continuou sendo o referencial para se analisar a viabilidade destas instituições para a formação do “trabalhador qualificado”. Essa preocupação com a formação técnico-agrícola fez com que fosse repensada a política de ensino agrícola que vinha sendo desenvolvida pelo Ministério da Agricultura.

Entrou em discussão a reforma do ensino agronômico e a reformulação das instituições – Aprendizados e Patronatos agrícolas. Uma resignificação do ensino agrícola