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De Acervo Audiovisual da EBA-UFMG a Laboratório de Memória e Cinema

CAPÍTULO 4 – ESCOLA DE BELAS ARTES: DIÁLOGO EM PROL DE UMA

4.2 Os acervos de imagem em movimento da EBA

4.2.2 De Acervo Audiovisual da EBA-UFMG a Laboratório de Memória e Cinema

O Acervo Audiovisual da EBA-UFMG, – de onde origina parte da documentação que integra o atual acervo do Laboratório de Memória e Cinema – até 2008, era composto por produções próprias – do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema; do Centro Audiovisual; do projeto Memória e Cinema, realizado em parceria com o antigo Centro de Referência

Audiovisual (CRAV); do projeto Imagens de Minas, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG); e dos projetos Animação Expressionista, financiados pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte, Associação Curta- Minas/CEMIG, CAPES, CNPq e FAPEMIG; e doações, como os acervos do cineasta Igino Bonfioli e da República Democrática da Alemanha (RDA) e o Banco de Roteiros, composto por roteiros doados pelo ator Guará Rodrigues.

Em 1996, iniciou-se o projeto Imagens de Minas, que possibilitou a continuação da pesquisa sobre Igino Bonfioli e a compra de equipamentos de vídeo e recuperar o acervo de filmes. Como parte desse projeto, o curso Memória e Cinema teve a participação de 40 alunos de graduação e

utilizou praticamente todo o acervo audiovisual da Escola de Belas Artes, servindo de base para a primeira série de programas produzidas na UFMG para veiculação na TV Universitária. Coordenado pelo professor Evandro Lemos da Cunha, composto de 10 documentários, cobria aspectos do cotidiano de Minas Gerais no século XX. (RIBEIRO, 2013, p. 117).

Em 1997, na Chefia do Departamento do professor Luiz Nazario, foram recebidas quase 200 latas de películas da RDA e, juntamente com os professores Evandro Cunha e Rafael Conde de Resende e o então bolsista Alexandre Martins Soares, iniciou a catalogação do acervo, concluindo-a em 1999. Também foi feito um estudo das condições de armazenamento da documentação por Edward De Carvalho e o professor Luiz Souza (Centro de Conservação e 79 Maurício Gino em entrevista concedida à pesquisadora em 14/02/2016 – ANEXO XIV.

115 Restauração de Bens Culturais - CECOR); a organização dos roteiros por Nina Faria e a atualização do catálogo da videoteca do FTC por Marco Anacleto. (NAZARIO, 2004, p. 05-07)

Em 2002, começou o projeto Filmoteca Mineira, que “visava revitalizar o quase anônimo acervo da Escola, [...] a maioria dos alunos e professores preocupava-se apenas em produzir, sem maior interesse em finalizar ou preservar suas obras.” (LA CARRETA in NAZARIO, 2004, p. 10-11). Em 2003, é liberada uma sala para montagem da Ophicina Digital, laboratório que foi equipado para produzir animações e documentários, além de migração de suporte, de filmes nos formatos VHS, Betacam, Mini DV e DVD. Segundo Marcelo La Carreta, desde o início houve problemas na Escola como a afirmação de que a Ophicina ocupava um espaço que poderia ser utilizado pela graduação.

Durante seu funcionamento, a Ophicina desenvolveu projetos imprescindíveis para permitir a difusão do acervo contido na escola, entre eles a Filmoteca Mineira, da qual se originou um Tesauro do Cinema Brasileiro e foram digitalizados 40 títulos representativos do acervo, que foram reunidos em 10 DVDs e podem ser acessados na Biblioteca da Escola de Belas Artes e no MISBH. Além disso, a Ophicina produziu três DVDs da Coleção Trilogia

Guará, DVD UFMG em Lleida, e da série DVD Nota 10 Belas Artes, reunindo as produções mais expressivas entre os anos de 1995 a 2005. Além de 50 DVDs contendo títulos do cinema mundial, curtas, médias e longas-metragens produzidos em Minas Gerais desde 1909. Mesmo com uma boa produção, o espaço da Ophicina foi reivindicado pela Escola e ela teve que ser desativada. A Diretoria da Escola na época do fechamento do laboratório não se interessou em conservar, por exemplo, fotografias referentes à construção da Escola e materiais audiovisuais que compunham esse acervo. A partir da decisão dessa Diretoria de eliminá-los, o professor Luiz Nazario recolheu-os e levou-os para sua casa, onde se encontram devidamente separados e aguardando interesse de alguma instituição de guarda para recebê-los e mantê-los de forma responsável.

Em 2014, o acervo foi novamente catalogado por Bruno Perea Chiossi, naquele momento graduando de Conservação e Restauração de Bens Móveis. Durante o período em que foi responsável técnico pelo acervo, Chiossi realizou pesquisas, catalogação, higienização do acervo fílmico da EBA. Em sua catalogação Chiossi encontrou aproximadamente 950 rolos de filmes nos formatos 35 mm, 16 mm e super 8. O acervo foi novamente catalogado porque, como não existe uma política de acervo, não há o hábito de arquivar os instrumentos de trabalho utilizados

116 pelos responsáveis anteriores pelo acervo. Também, por falta de espaço adequado para publicação, não há o hábito de se divulgar que um trabalho foi realizado. A catalogação finalizada por Alexandre Soares em 1999 foi divulgada apenas em 201680 por esses motivos, mas também por não haver continuidade nos trabalhos com o acervo devido a dificuldades como falta de verba e de uma plataforma adequada para sua divulgação.

Em 2015, o acervo da Escola, mantido climatizado na sala do Laboratório Memória e

Cinema, teve o seu estado de conservação verificado por Virgínia Assis Camargos. A partir dessa análise, ela separou para descarte 38 filmes, que não poderiam ser recuperados devido ao seu processo avançado de degradação. Porém, ao mencionar que procuraria a Comissão de Avaliação de Documentos da UFMG, para outros funcionários, ela enfrentou dificuldades burocráticas. O resultado foi que esses filmes ainda se encontram separados no Laboratório aguardando eliminação, junto com outros identificados pela pesquisadora, em processo de degradação tão avançado que é impossível ser revertido.

Figura 24 – Filmes aguardando processo de descarte – Laboratório Memória e Cinema, 15/09/2016. Foto: Arquivo

pessoal Camila Silva.

Espera-se que esse processo seja formalizado e agilizado através da aprovação da Política de Acervos sugerida pela pesquisadora (ANEXO XVII). Esses filmes precisam ser descartados, entretanto, não é possível falar em descarte de uma documentação sem uma política de acervo 80 Catálogo Geral do Acervo de Películas da Escola de Belas Artes da UFMG publicado no dia 22 nov. 2016, no

grupo Cinema e História (UFMG) no Facebook:

117 estabelecida. No caso do Laboratório Memória e Cinema, segundo levantamentos feitos ao longo do estudo in loco e da entrevista respondida através de questionário pelo gestor, prof. Dr. Evandro Lemos, o planejamento de atividades é realizado pela coordenação do Laboratório de

Memória e Cinema, pensando-as a partir da indicação de vários setores e de bibliografia específica para esta finalidade. Entretanto, não há critério para recebimento de documentos. O acervo passa ainda por “uma gama complexa de dificuldades, desde falta de pessoal especializado, financiamento de guarda adequada do acervo. Atualmente é que temos uma localização medianamente razoável para guarda do acervo”.81

Após o desligamento de Virginia Camargos da instituição, o acervo foi transferido para um local provisório dentro da própria EBA, em uma sala localizada no terceiro andar do prédio, ao final do corredor em que funcionam o Laboratório de Artes Gráficas e um dos ateliês de pintura. Durante a mudança, por falta de instrução sobre a necessidade de se manter a ordem das latas, os funcionários desfizeram a organização anterior e simplesmente as empilharam sobre um compensado.

Figura 25 – Latas de filmes empilhadas após a mudança aguardando nova ordenação e estantes – Laboratório Memória e Cinema, 14/06/2016. Foto: Arquivo pessoal Camila Silva.

118 De junho a outubro de 2016, a pesquisadora se ocupou, na medida do possível, de recuperar a organização do acervo, através de uma planilha de catalogação criada por Bruno Chiossi e dos rótulos das latas. Entretanto, cerca de 70 latas encontram-se sem identificação e outras perderam as etiquetas durante a mudança. Esses filmes serão analisados na mesa enroladeira para serem identificados.

Figura 26 – Acervo em processo de reorganização – Laboratório Memória e Cinema, 15/09/2016. Foto: Arquivo

pessoal Camila Silva.

Ao longo do período de Ocupação da EBA – outubro de 2016 a janeiro de 2017 – a pesquisadora trabalhou na elaboração das recomendações de política de acervo (ANEXO XVII) e na formatação do catálogo do acervo feito pelo Alexandre Soares. Este, finalizado sob a supervisão do prof. Luiz Nazario, será muito útil nesse processo de identificação das películas por conter a descrição dos filmes da RDA. Além dessa identificação, sugere-se na política (ANEXO XVII) que seja atribuída a cada lata uma notação, para identificar sua localização no acervo.

119 Em 2016 tentou-se captar verba via PAIE-UFMG para uma exposição com os objetos tridimensionais de Igino Bonfioli, porém não foi contemplada e os objetos atualmente se encontram, de forma temporária, na sala do Innovatio82.

Figura 27 – Equipamentos construídos e utilizados por Igino Bonfioli na realização de seus filmes – Laboratório Innovatio, 15/09/2016. Foto: Arquivo pessoal Camila Silva.

Também há planos de estabelecer parcerias através de projetos com outras unidades da UFMG e empresas privadas para prestação de acervos relacionados à identificação de acervos e de sugerir a digitalização de filmes do acervo que retratam períodos de suas histórias. Dessa maneira, é possível minimizar alguns problemas de manutenção do acervo.

82 Pertencente ao Laboratório de Artes e Tecnologias para Educação, também coordenado pelo prof. Dr. Evandro José Lemos da Cunha.

120 Há falta de verba para manutenção – incluso o ar condicionado que não funciona adequadamente -, compra de materiais, tratamento, criação de novos instrumentos de pesquisa e digitalização, a fim de dar acesso aos usuários. Tanto a profa. Dra. Jussara Freitas e a ex- funcionária do Acervo, Virgínia Camargos, relataram em entrevista que, quando começaram a trabalhar no Acervo, ele “estava abandonado”.83

Através de projetos, como os citados acima, é possível viabilizar alguns recursos, porém um ponto essencial é a sensibilização dos altos cargos de gestão, dos professores e dos alunos do curso de Cinema de Animação e Artes Digitais para a importância de se preservar esse acervo.

Cabe citar ainda que essa realidade não é exclusiva de instituições de Belo Horizonte, após o início de uma grave crise financeira na Cinemateca Brasileira, parte das películas de Igino Bonfioli depositadas nos depósitos de nitrato da instituição84 sucumbiu em um incêndio em fevereiro de 2016. O prof. Nazario ainda não obteve retorno conclusivo sobre quais títulos foram perdidos. O professor questiona ainda a dificuldade de se conseguir uma cópia na Cinemateca.

A EBA depositou as matrizes do Acervo Bonfioli na Cinemateca, os filmes que estão lá pertencem à Escola de Belas Artes, mas quando precisamos de uma cópia às vezes recebemos, às vezes não. Agora a ideia da Filmoteca Mineira era a de conservar os filmes produzidos em Minas aqui em Minas, e não enviar tudo para a Cinemateca. Havia um projeto para criar realmente um espaço.85

A ideia de se criar uma Filmoteca Mineira não saiu do papel. Foi prometido um espaço no antigo prédio do Teatro localizado no Santo Antônio em contrapartida à vinda do curso de Teatro para a EBA, porém, esse prédio nunca foi concedido. O terreno foi cedido posteriormente para a construção do Memorial da Anistia Política que tem nova inauguração prevista para 2018.

Há ainda o acervo do prof. José Tavares de Barros, que se encontra em outro espaço como os objetos tridimensionais de Bonfioli, e também faz parte do Laboratório Memória e

Cinema. O acervo está localizado em um armário do Gabinete 3 e reúne revistas sobre Cinema, Catálogos, fotografias de cineastas pioneiros do cinema mineiro, coletânea de reportagens sobre cinema brasileiro e 1970-1980, planos de aulas.

83 Jussara Freitas em entrevista concedida à pesquisadora em 14/04/2016 – ANEXO XIII.

84 A listagem Filmes do lote Igino Bonfioli depositados na Cinemateca Brasileira pela UFMG está disponível no

Catálogo Geral do Acervo de Películas da Escola de Belas Artes da UFMG publicado no dia 22 nov. 2016, no

grupo Cinema e História (UFMG) no Facebook:

https://www.facebook.com/groups/1543385372616654/1793947250893797/?pnref=story. Acesso em 22 nov. 2016. p. 264-288.

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Figura 28 – Revista Luz & Ação sobre Glauber Rocha; Figura 29 – Catálogo sobre a filmografia de Norman

McLaren; Figura 30 – Revista Cinemateca – Laboratório Memória e Cinema, 21/06/2016. Fotos: Arquivo pessoal Camila Silva.

Esse material é útil como objeto de pesquisa e para uso em sala de aula. A pesquisadora inclusive utilizou um catálogo sobre Norman McLaren (Figura 29) ao lecionar a disciplina de Panorama do Cinema de Animação juntamente com a pós-doutoranda Mariana Ribeiro Tavares e o orientador Evandro José Lemos da Cunha.

Os documentos devem ser preservados com o intuito de serem disponibilizados para acesso de alunos, professores, funcionários e demais interessados em pesquisa-los. A preservação desses documentos não tem a finalidade apenas de guardar pura e simplesmente a

122 memória da instituição, das produções dos educandos e docentes, mas de dar acesso, de divulga- la. A existência de um acervo só tem sentido se ele for acessado, pesquisado, difundido.