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CAPÍTULO 3 – DE CENTRO DE REFERÊNCIA AUDIOVISUAL A MUSEU DE

3.1 Histórico do MISBH

CAPÍTULO 3 – DE CENTRO DE REFERÊNCIA AUDIOVISUAL A MUSEU DA

IMAGEM E DO SOM: PRESERVAÇÃO E DIFUSÃO DO CINEMA EM BH E MINAS GERAIS

3.1 Histórico do MISBH

A Fundação do Museu da Imagem e do Som em Belo Horizonte foi autorizada pela Lei Municipal nº 5553 de 09 de março de 1989. Entre suas funções, estão:

V – Incentivar e promover, por si ou em convênio, por contrato ou acordo com outras instituições, empresariado ou artistas, atividades e eventos que visem a resgatar a memória de Belo Horizonte;

VI – registrar em imagem e som a memória dos fatos que regem a vida e o desenvolvimento do Município e, em caráter complementar, aqueles que, regendo a vida do Estado e da Nação, transformaram-se em referências para a descrição da sua história.

[...]

VIII – manter intercâmbio com instituições congêneres do Estado, do País e do exterior. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, Lei Municipal nº 5553/1989, art. 2º).

Como piloto, decidiu-se por criar inicialmente um Centro de Referência Audiovisual (CRAV), que ao longo desse processo de fundação e estruturação, teve a colaboração de importantes figuras do cenário cultural belorizontino como Berenice Menegale41, José Adolfo Moura42 e o sociólogo José Márcio Barros. A equipe constituída também pela historiadora Patrícia Moran, pela gestora cultural Maria Helena Cunha e pelo assessor de comunicação Nisio Antonio Ferreira, elaborou o Projeto de Implantação do Centro de Referências Audiovisuais da Região

Metropolitana de Belo Horizonte (BARROS et al., 1992), com a ideia de que o CRAV seria uma estrutura transitória para a criação futura do Museu.

Neste documento foram revistos e fornecidos alguns elementos e noções relacionadas com a temática da cultura, da identidade e da memória coletiva, no contexto dinâmico das sociedades modernas e o valor atribuído nestas sociedades à memória audiovisual. Foi proposto um recorte metodológico capaz de contribuir na escolha dos objetos e nos modos como estes seriam trabalhados pela instituição, sugerindo a orientação conceitual a ser seguida e o modus operandi do CRAV. (FREITAS, 2015, p. 31)

41 Pianista e uma das criadoras da Fundação de Educação Artística (FEA) em Belo Horizonte. 42 Artista, professor aposentado da EBA-UFMG, um dos organizadores do Festival de Artes de 1967.

85 A ideia era que o CRAV constituísse o mais rápido possível “um acervo capaz de justificar a sua consolidação como Museu da Imagem e do Som”. Assim, foram desenvolvidos projetos como o

Memória da radiodifusão em Belo Horizonte, Memória da Serra, Memória do Jornalismo

Mineiro e 40 anos da TV Itacolomi, todos levantando documentos a respeito e coletando depoimentos orais de indivíduos envolvidos em casa processo. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 1995, p. 44-45)

Segundo o pesquisador e mestre em Ciências Sociais Marcelo Braga de Freitas,

O desenvolvimento de uma produção própria era essencial para efetivar os fundamentos propostos para o CRAV. A introdução de um processo social estimulado pela entidade, que fosse capaz de colaborar com a construção de memórias coletivas e identidades culturais plurais, até então não consideradas pelo poder público era um eixo importante para a instituição, que justificava a sua criação. (FREITAS, 2015, p. 33)

De 1992 a 1995, contava com equipe mínima, sem sede própria e subordinado à Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Sua sede foi inaugurada em 16 de novembro de 1995, na Rua Estevão Pinto, 601, Serra.

pensava-se, inicialmente, antes da constituição de um acervo permanente, na criação de um equipamento que pudesse funcionar como um lugar de referência das produções audiovisuais identificadas através de um mapeamento prévio realizado nas instituições públicas municipais e estaduais, nos arquivos particulares dispersos, existentes sobre a história cultural da cidade. (FREITAS, 2015, p. 29)

Foi exibido o documentário Cúmulos, cirros e nimbos produzido pela própria instituição e a EMVIDEO sobre os 50 anos do encerramento da Segunda Guerra Mundial. O CRAV foi pensando como uma estrutura transitória para preparar e experimentar uma atuação frente à sociedade belo-horizontina, antes da criação de um Museu da Imagem e do Som propriamente. Em 29 de dezembro de 1993, foi instituída a Lei de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte através da Lei Municipal nº 6498 – conhecida como Lei Municipal de Incentivo à Cultura (LMIC), na Gestão de Patrus Ananias (1993-1997). Estabelece que os projetos a serem financiados devem se enquadrar nas seguintes áreas:

I - produção e realização de projetos de música e dança; II - produção teatral e circense;

86 IV - criação literária e publicação de livros, revistas e catálogos de arte;

V - produção e exposição de artes plásticas, artes gráficas e filatelia;

VI - produção e apresentação de espetáculos folclóricos e exposição de artesanato; VII - preservação do patrimônio histórico e cultural;

VIII - construção, conservação e manutenção de museus, arquivos, bibliotecas e

centros culturais;

IX - concessão de bolsas de estudo na área cultural e artística; X - levantamentos, estudos e pesquisa na área cultural e artística;

XI - realização de cursos de caráter cultural ou artístico destinados à formação,

especialização e aperfeiçoamento de pessoal na área de cultura em estabelecimentos de ensino sem fins lucrativos. (PREFEITURA MUNICIPAL DE

BELO HORIZONTE. Lei nº 6.498/1993, art. 3º). [grifo nosso].

Até esse momento, era a única lei que estabelecia claramente o apoio à “construção, conservação e manutenção de museus, arquivos, biblioteca e centros culturais” e à realização de cursos de formação em estabelecimentos de ensino sem fins lucrativos, abrindo brecha para financiamento de cursos destinados a formação de profissionais para a área de preservação e difusão de acervos em universidades públicas, desde que esses não sejam cobrados.

A Comissão Municipal de Incentivo à Cultura (CMIC) seria formada apenas por 03 representantes do setor cultural e 03 representantes da administração pública municipal e seria responsável por avaliar e direcionar os recursos a cada projeto cultural aprovado. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, Lei nº 6.498/1993, art. 4º).

Em 1993, com entrada de novas pessoas na instituição, o CRAV

pretendeu trabalhar com quatro linhas de ação: organização e sistematização de informações audiovisuais, estudos e pesquisas sobre a memória audiovisual, divulgação e formação cultural, assessoramento e formação técnica. Entre as principais atividades desenvolvidas, figuraram vários projetos de memória oral, entre os quais menciono os projetos “Anônimos Notáveis”, “40 anos da TV Itacolomi”, “Memória da Serra”, “Memória do jornalismo mineiro”, “100 anos de cinema, cem anos de Belo Horizonte”. Todo esse material pode ser encontrado hoje no acervo da instituição; mas, na maioria dos casos, sem edição ou outro tipo de tratamento, as gravações encontram-se ainda em formato bruto. (FREITAS, 2015, p. 43-44)

Em 1995, o CRAV editou sob a coordenação do professor José Márcio Barros, o livro O

fim das coisas: as salas de cinema de Belo Horizonte, escrito pelo professor Ataídes Braga, sobre a criação, desenvolvimento e fechamento das salas de cinema na cidade.

Em 1996, foram oferecidas oficinas de Iniciação à fotografia, Iniciação à linguagem do

vídeo e curso básico de captação e gravação de áudio. Até esse momento, o acervo era composto por 70 filmes, 254 vídeos e cerca de 3.500 fotografias. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 1996-1997).

87 Em 1997, o CRAV assumiu novos rumos, provocando uma descontinuidade de parte do que foi idealizado em sua criação e dos trabalhos em desenvolvimento. (FREITAS, 2015, p. 44). Os recursos era limitados – como hoje – para a manutenção do CRAV.

No entanto, a falta de recursos não é uma característica apenas das instituições da cultura do poder público. O que chama atenção, nesse caso específico, é uma possível falta de compreensão por parte da administração pública, dos atributos e necessidades do CRAV, e da importância e alcance do seu papel social de mediador do processo de atualização das memórias coletivas e identidades culturais da população de Belo Horizonte, apesar da transparência e clareza das propostas do seu projeto de implantação. (FREITAS, 2015, p. 45)

Nessa época, também foi inaugurada uma galeria na Casa da Serra, para receber exposições de artes plásticas temporárias mediante abertura de edital de ocupação pública – promessa de campanha do prefeito Célio de Castro (1997-2001). Em 1998, começaram a ofertar oficinas e cursos de curta duração relacionados ao audiovisual; mostras de cinema e projetos de memória oral da instituição. Foi feita a copiagem de filmes do fundo Família – denominação recebida posteriormente – com apoio da CEMIG. (FREITAS, 2015, p. 47).

Em 2001, o CRAV mudou-se para o quinto andar do prédio da Secretara de Cultura, na época localizada na Rua Sapucaí, 571, Floresta. Foram implantadas ações de planejamento estratégico; as Coordenações de Acervos, Projetos e Pesquisa e a Produção Técnica, a Assessoria e a Diretoria. O acervo foi ampliado, instalada a videoteca, o minilaboratório para revisão de filmes e uma estação de trabalho equipada. Durante esse período, os funcionários eram basicamente servidores deslocados de outras repartições da prefeitura ou contratados via recrutamento amplo – questionado posteriormente pelo Ministério Público Estadual (MPMG). Foram feitos vários seminários sobre novas diretrizes e metas da instituição com representantes da Escola de Belas Artes da UFMG. Também ocorreu a aproximação com outras instituições custodiadoras de imagens em movimento como o Arquivo Nacional e a Cinemateca Brasileira.

Em 2003, foi feita uma parceria com a EBA-UFMG no Projeto Ophicina Digital, coordenado pelo professor Luiz Nazario, no qual foram digitalizados acervos do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema (DFTC) e do CRAV, gerando 10 DVD e o Reminiscências &

BHIS. Além disso, foi lançado o Projeto Belo Horizonte Imagem e Som – BHIS, produzindo vídeos curtos sobre aspectos culturais e históricos da cidade, abordando a memória audiovisual e a cidade contemporânea, com uso de imagens do acervo do CRAV e com o intuito de formar

88 novos documentaristas. (FREITAS, 2015, p. 54). A instituição sai ainda de seu objetivo primordial, gravando e editando imagens sob demanda para a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Cultura, entre outras atividades que caracterizam mais uma produtora do que um espaço de preservação da memória. Para complementar a verba da Prefeitura – que era suficiente apenas para custeio -, o CRAV passa a submeter projetos às leis de incentivo à cultura através da Associação de Amigos do CRAV (AACRAV).

Em 2004, foi implementada a Mediateca e, em 2008, a instituição mudou-se a casa da Av. Álvares Cabral, nº 560, onde atualmente está situada. (LOURENÇO; RODRIGUES, 2011, p. 04-06). A casa é da década de 1920, faz parte do Patrimônio Cultural da cidade de Belo Horizonte.

Segundo Marcelo Freitas, ainda que o CRAV tenha sido inaugurado em 1995, ele apareceu na estrutura organizacional da Prefeitura de Belo Horizonte como diretoria apenas em 2002, no Decreto Lei Municipal nº 10.967 (FREITAS, 2015, p. 42). Desde 2005, foi inserido na pasta da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte – criada em 01/01/2005 através da Lei Municipal nº 9.011 – e enfoca suas atividades na preservação de acervos sonoros e de imagens em movimento, concomitantemente às ações culturais e educativas, a fim de preservar a memória da cidade. Sempre esteve em diálogo com outros órgãos e instituições nacionais e internacionais.

A partir de 2008, começou a transição para a saída da equipe contratada e admissão dos concursados, sem criar, entretanto uma identidade para a instituição perante a Prefeitura e a sociedade.

O Edital para Apresentação de Projetos da LMIC de 2014 estabelece como modalidades para submissão de projetos:

I - Fundo de Projetos Culturais - Modalidade pela qual os projetos culturais são incentivados por meio de repasse de recursos do Fundo de Projetos Culturais ao empreendedor;

II - Incentivo Fiscal - Modalidade pela qual os projetos culturais são incentivados por meio de doação ou patrocínio do incentivador, diretamente ao empreendedor. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2014, art. 2º)

89 Estabelece claramente, a difusão e divulgação de conteúdos culturais, entre eles os sob a guarda de instituições custodiadoras. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2014, art. 3º, inciso f).

No final do mesmo ano, através do Decreto Municipal nº 15.775, de 18 de novembro, o CRAV se torna Museu da Imagem e do Som de Belo Horizonte (MISBH). Atualmente, o Museu está subordinado à Diretoria de Museus e Centros de Referência da Fundação Municipal de Cultura. Para a maioria dos técnicos, a mudança de CRAV para MIS trouxe mais cobranças já que agora o museu tem que responder à Rede de Museus e ao Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).

As pessoas esquecem um pouco isso, que quando você se cadastra ou está ligado ao IBRAM de alguma forma, faz ou manda algum projeto para o IBRAM, você está meio que dentro dessa legislação, você se caracteriza como museu ou uma instituição que faz ações museológicas.43

Segundo a funcionária Marcella Rodrigues

a palavra “museu” tem um peso muito grande e eu volto um pouco nisso, nosso trabalho, como tem uma interface direta com o público, quando falamos “museu”, as pessoas têm uma identificação mais direta com o tipo de instituição.44

Isso não ocorria com o “centro de referência”, ainda que o CRAV já realizasse atividades como exposições para difusão do acervo museológico.