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CAPÍTULO 4 – ESCOLA DE BELAS ARTES: DIÁLOGO EM PROL DE UMA

4.3 Proposta de política de acervo

Para que uma política de acervo seja executada, devem ser sensibilizados o corpo discente, docente e técnico da EBA, em especial os envolvidos com o curso de Cinema de Animação e Artes Digitais.

Deve-se lembrar de que segundo a Lei de Arquivos – Lei Federal nº 8.159 de 8 de janeiro de 1991 -, que dispõe sobre a gestão de arquivos público e privados,

É dever do Poder Público a gestão documental e a proteção especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de prova e informação. (Art. 1º)

Portanto, é dever da EBA preservar documentos relacionados tanto à sua administração – preservados no arquivo administrativo -, sua produção científica – com TCCs, dissertações e teses entregues à Biblioteca – mas também suas produção cultural – a produção discente e docente ao longo de sua vivência na instituição. Há na EBA a necessidade de se reconhecer institucionalmente a relevância de seus acervos culturais para a pesquisa, ensino e extensão. Só assim as iniciativas deixaram de ser individuais para se tornarem coletivas. Segundo a prof. Dra. Jussara Freitas, se a EBA não se conscientizar sobre a importância de seu acervo de imagem em movimento, ele continuará na mesma situação em que se encontra.

E essa questão de política é muito complicada, porque gera também um pouco de interesse. E aí o interesse precisa de dinheiro, de pessoal, de técnico, de formação, e é um trabalho que é conjunto e continua sendo necessário o olhar da Escola para este acervo, porque senão ele continua parado.86

Segundo o prof. Dr. Nazario, há desinteresse por parte de algumas pessoas da EBA em preservar essa memória.

123 Certos professores defendem que esses acervos deveriam ser descartados. Como não teriam mais uso não precisariam ficar na Escola, que é um local de ensino e não de memória. Cheguei a ouvir de um colega que papel acumula poeira, melhor descartar a papelada, os livros, digitalizar tudo. É a posição de muita gente hoje.87

Entretanto,

A Escola precisa entender que tem uma produção audiovisual e que essa produção tem que ser guardada, respeitando suas especificidades. Ela não é uma escola como a História, por exemplo, que não produz acervo ou se produzir um livro, uma revista, essa produção pode ir para a biblioteca. O acervo de uma escola de audiovisual tem que ser conservado numa filmoteca e a Escola tem que criar esse local de guarda para preservar a produção de seus alunos, de seus professores. Isso é a memória da Escola.88

São necessários locais adequados para a guarda de acervos que serão utilizados para os alunos e a comunidade externa conhecerem a memória da Escola, pesquisarem e lhe darem vida, fazendo uso das obras existentes para produzirem novas. O objetivo de se preservar um acervo é dar acesso, é assim que os documentos se mantêm vivos. Se isso não for atingido, não há diferença entre sua existência e sua eliminação.

Para a prof. Dra. Jussara Freitas,

Nós estamos na primeira escola de animação do país, se começarmos a jogar as coisas fora, nós perderemos uma credibilidade não só acadêmica, mas também daquilo que nós queremos ser e construir, que é o museu da memória, uma coisa que o professor Evandro luta muito para acontecer, e não para ser um museu do esquecimento. A etiqueta tem o seu valor documental, a lata, o polímero, o nitrato, o acetato, poliéster, a imagem, a gelatina, todos esses materiais servem como uma datação de estudo, por isso precisam ser preservados. Se hoje eles estão condicionados de uma forma não adequada, tem que se planejar como fazer isso e não descartar por ser “entulho”.89

Além de dar o acesso, a política de acervo visa facilitar a captação de verbas, a proposição de novos projetos e uma maior força junto à Diretoria da Escola e às outras repartições da UFMG. Pretende ainda dificultar eliminações de documentos com interesses pessoais, não embasadas tecnicamente e na política de acervo.

A política origina-se inclusive na necessidade de se encontrar informações referentes às ações tomadas no acervo ao longo das gestões anteriores. Não há o costume de se “publicizar” – 87 Luiz Nazario em entrevista concedida à pesquisadora em 25/01/2016 – ANEXO XI.

88 Ibid.

124 termo utilizado pelo prof. Nazario em entrevista (ANEXO XI) – os catálogos e outros materiais criados a partir do trabalho realizado com o acervo. Por esse motivo, e pelas mudanças constantes de locais de guarda, acontecem retrabalhos. Por exemplo, orientando do professor, Alexandre Martins, na época em que catalogou o acervo, não sabia da existência de um catálogo elaborado na gestão do prof. José Américo. O prof. Nazario teve acesso somente após o término do trabalho feito pelo Alexandre, que

fez um excelente trabalho de catalogação, assistiu a todos os filmes para verificar o estado de cada um, lançando os dados em fichas que seguiam o padrão da Cinemateca Brasileira. Foi um trabalho profissional. Depois descobri que o professor José Américo Ribeiro havia feito uma primeira catalogação do acervo, que poderia ter facilitado o Alexandre em seu trabalho, mas esse primeiro catálogo não seguia o modelo da Cinemateca Brasileira e já estava completamente desatualizado.90

Sobre a divulgação de relatórios sobre o Acervo, a prof. Dra. Jussara Freitas afirma que

Sempre tem que ter. Talvez as pessoas julguem que abrir relatórios significa expor problemas, mas isso é muito positivo, porque nós vamos conseguir, talvez, enxergar e elaborar um projeto mais consistente de acordo com o problema. Nós não precisamos mexer no que está bom, mas sim no que não está. Então às vezes as instituições públicas têm essa dificuldade, elas não abrem seus acervos com medo de expor os seus problemas, e aí é que está o grande erro. Eu acho que tem que ter laudo, sim, e relatório também, para enxergarmos.91

Todos os professores entrevistados, responsáveis pelos acervos apresentados acima, concordam com a necessidade de se criar uma política de acervos institucionalizada. Entretanto, é necessário que ocorra uma conscientização conjunta, principalmente por parte dos professores do curso de Cinema de Animação e Artes Digitais – produtores em conjunto com os estudantes de material fílmico, objeto de preservação – e dos cargos de gestão da EBA para se tenha força para exigir condições adequadas para a real preservação dessas produções a fim de dar acesso às informações nelas contidas. Para que se chegue a uma política de acervos para a EBA como um todo, é necessário diálogo e sensibilização – e vontade de sensibilizar.

Como arquivista, a pesquisadora visualiza um arquivo como um conjunto de documentos produzidos e/ou acumulados por “uma entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família,

90 Luiz Nazario em entrevista concedida à pesquisadora em 25/01/2016 – ANEXO XI. 91 Jussara Freitas em entrevista concedida à pesquisadora em 14/04/2016 – ANEXO XIII.

125 no desempenho de suas atividades, independente da natureza do suporte.” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 27). Portanto, entende que todos os acervos deveriam ser reunidos no mesmo local já que refletem as atividades relacionadas, em algum momento, ao ensino de cinema na EBA e se tratam de filmes produzidos por alunos e/ou professores ou objetos, filmes e documentos utilizados em sala de aula. Uma política nesse sentido seria muito positiva para facilitar a manutenção do acervo – se estivessem todos localizados em um mesmo espaço – e, inclusive, o acesso a esses fundos por parte do pesquisador, unindo-se demandas dos professores responsáveis com um objetivo comum: cobrar das autoridades e/ou elaborar projetos com para preservar com objetivo de realmente dar acesso aos documentos ali guardados.

Ideal ainda definir toda a produção de imagem em movimento da Escola como um acervo, para não ocorrerem descartes indevidos como o do acervo que se encontra na casa do prof. Nazario e que contém acetatos de trabalhos de alunos, entre eles da animação Pipichadores – que tem como um dos realizadores o prof. Dr. Maurício Gino (EBA-UFMG). Esses documentos refletem um período da Animação na EBA e, por isso, alguns deles foram selecionados para a exposição Preservando a Animação, já mencionada no terceiro capítulo desse trabalho. Ou seja, uma instituição de preservação como o MISBH reconheceu a importância de documentos que não existiriam se não fosse a iniciativa do prof. Dr. Luiz Nazario de guardá-los em sua casa.

Como uma política com essa amplitude demanda tempo, reuniões com todos os profissionais envolvidos, construção de um entendimento comum sobre o tipo de espaço que deve ser criado, para finalmente elaborar uma política, optou-se nessa pesquisa por concentrar-se apenas no Acervo do Laboratório Memória e Cinema. Propõe-se assim um conjunto de políticas voltadas ao acervo (ANEXO XVII), contemplando todo o processo de gestão: aquisição/recolhimento, catalogação, indexação, descarte, preservação/conservação e acesso.