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4.1 Instrumentos de análise da Racionalidade Ambiental na Praia de Ponta Negra

4.1.1 Principais intervenções urbanísticas ocorridas na Praia de Ponta Negra – de 2000 a

4.1.1.6 De 2014 e 2015: Ratos, novo projeto e velhos desafios

O ano de 2014foi inaugurado com a orla de Ponta Negra em obras, correspondentes ao novo projeto de urbanização, que incluiu a construção de novos quiosques, novo “calçadão”, banheiros públicos,instalação de nova iluminação, etc.

Em laudo pericial solicitado pelo Ministério Público à Universidade do Rio Grande do Nortepara avaliação das implicações sócio urbanísticas decorrentes da nova proposta de intervenção do “calçadão”, e realizado em outubro de 201437, ocasião em que as obras estavam sendo finalizadas,entre outros aspectos, observou-se uma desvalorização dos elementos naturais da paisagem da praia, em razão da interferência do mobiliário instalado no campo visual do cenário natural, especialmente do Morro do Careca.

Vê-se se a interferência dos novos quiosques no campo visual do Morro do Careca em diversos momentos do percurso, alterando o equilíbrio antes existente na paisagem e no seu descortino.

A construção das novas estruturas físicas (quiosques e banheiros públicos) que integram o novo projeto promove um desequilíbrio nas relações entre os elementos construídos e naturais. Em alguns momentos do percurso, estes elementos, posicionados no primeiro plano se colocam na frente do observador, bloqueando a captura do Morro do Careca como parte da paisagem. Situação similar também pode ser observada nos sombreiros localizados nos novos bancos de areia que também contribuem para obstrução do campo visual para os que circulam no calçadão. Vale salientar que a disposição desses equipamentos neta faixa foi introduzida pelo novo projeto, quando transferiu todos eles para o nível superior do enrocamento, ou seja, no nível do calçadão (FERREIRA et al., 2014, p. 49).

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A solução para a contenção da erosão propriamente dita ainda está sendo estudada neste ano de 2015, havendo grande probabilidade de ser utilizada a técnica do “engordamento”, que consiste na identificação de bancos de acumulação de areia que existem dentro do mar para que essa areia seja removida e transferida para a área da praia, possibilitando, assim, um alargamento da faixa de areia.  

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Laudo pericial solicitado pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através da Fundação Norte-Riograndense de pesquisa e cultura. O laudo foi intitulado de “Ordenamento da Praia de Ponta Negra: implicações sociourbanisticas decorrentes da atual proposta de intervenção do calçadão – Município de Natal. Natal, Outubro de 2014. O laudo integra os autos do Inquérito Civil 06.2012.001910-2, que tramita na 45ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Natal e foi subscrito pelas Professoras Glenda Dantas Ferreira, Miss Lene Pereira da Silva e Ruth Maria da Costa Ataíde.

 

Figura 29 – Novo “calçadão” de Ponta Negra. Comentário do próprio laudo: “bateria sanitária em

construção pelo novo projeto. Obstrução da paisagem na chegada do calçadão”.

Fonte: Ferreira et al. (2014).

Figura 30 – Bateria de banheiros do setor designado pela perícia de “Setor 3” (entre a casa nº5 e Natal

Golf): Comentário do próprio laudo “formando paredões que encerram a continuidade visual para a praia e o Morro do Careca, quer seja do calçadão, quer seja das escadarias de acesso”

Figura 31 – Bateria de banheiros do setor designado pela perícia de “Setor 5” Rua ErivanFarnça, entre a

pousada Ingá Praia e Hotel Aquaria Natal): Comentário do próprio laudo “formando paredões que encerram a continuidade visual para a praia e o Morro do Careca, quer seja do calçadão, quer seja das escadarias de acesso”.

Fonte: Ferreira et al. (2014).

A nova urbanização foi considerada finalizada pela Prefeitura no início do ano de 2015. No entanto, muitos problemas permaneceram, mesmo após a conclusão das obras38. Podem ser citados:aspectos de ordem sanitária dos quiosques, que comercializam alimentos, mas não foram projetados para a produção dos mesmos, questões de acessibilidade, ausência de medidas para contenção da erosão e das situações de riscos à saúde e à segurança dos usuários.

Figura 32 –Início da instalação da nova urbanização da Praia de Ponta Negra, com a permanência de

questões sanitárias no local.

Fonte: Gilka Da Mata, em 27 dez. 2013.                                                                                                                           38

Os problemas são objeto do processo judicial 0805878-23.2014.4.05.8400, que tramita perante a 1ª Vara Federal da seção judiciária do estado do rio grande do norte.  

  Vigilância Sanitária vê falhas e novos quiosques precisam de reparos. Principal recomendação diz respeito ao acabamento do teto, para evitar poeira e transmissores de doença.

A reurbanização da Orla de Natal ainda nem foi entregue e já precisa de “adequações”. Dessa vez, o problema é com os 53 quiosques novinhos construídos pela Prefeitura de Natal da Praia do Forte à Ponta Negra. A Vigilância Sanitária do municipal recomendou seis modificações na estrutura dos quiosques.

A primeira delas é o acabamento do teto. Segundo o diretor de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Carlos Magno de Oliveira, a medida evitará que a poeira e até mesmo transmissores de doenças, como morcegos, se alojem no forro.

O relatório preparado pela Vigilância Sanitária aponta ainda a necessidade de uma calha de vedação na parte inferior das portas também com o objetivo de impedir o acesso de ratos, baratas e outros insetos. A terceira adequação é a exigência de uma bancada para cada procedimento feito dentro dos quiosques. Conforme Oliveira, essa adequação está em processo de revisão pela equipe. As normas sanitárias também demandam uma cuba para o preparo de alimentos e outra para a limpeza de utensílios. A quinta exigência é de um lavatório e a sexta de um ralo com fechamento hídrico escamoteado. De acordo com Carlos Magno, esse tipo de ralo é possível abrir somente no momento da higienização e fechá-lo posteriormente para evitar a entrada de insetos no local [...] (LIMA, 2014, documento online não paginado).

Mesmo após a conclusão da nova urbanização, diversos problemas permaneceram na orla e na praia: escadarias semidestruídas, com descidas perigosas de acesso à faixa de areia (íngremes, desprotegidas e danificadas); árvores na iminência de tombamento, instalações sanitárias danificadas e abertas, entre outros.

Figura 33 – Situações que demonstram situação de perigo aos usuários que utilizam o local para

lazer:acessos precários à praia, infraestrutura urbanística e sanitária danificada.

No tocante às condições de balneabilidade, a praia voltou a enfrentar problemas que demandaram nova investigação ministerial39. O enrocamento instalado no local também adicionou outra preocupação de ordem sanitária, que diz respeito à proliferação de ratos nas pedras, situação que não foi resolvida. A instalação do enrocamento também ensejou novo processo judicial que tramita na Justiça Federal e que foi ajuizado pelo Ministério Público Federal e Estadual contra o Município de Natal e a empresa executora da obra de instalação do enrocamento, sob a alegação de que as rochas utilizadas pela empresa executora da obra possuem peso inferior ao constante no projeto que foi analisado e autorizado pelo órgão ambiental(Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB)40.

Figura 34 – Proliferação de ratos nas rochas do enrocamento de sustentação do calçadão, afetando as

condições sanitárias da areia.

Fonte: processo judicial 0805878-23.2014.4.05.8400

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Inquérito Civilnúmero 06.2014.00007593-5 em trâmite no Ministério Público Estadual

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Ação Civil Pública nº: 0805878-23.2014.4.05.8400 que tramita na 1ª Vara Federal da seção judiciária do Estado do Rio Grande do Norte. Conforme alegado na petição inicial, a empresa executora da obra utilizou rochas com peso muito inferior ao previsto no projeto que foi autorizado pelo órgão ambiental, principalmente na parte da carapaça do enrocamento, que é a parte externa da estrutura, que recebe o maior impacto das ondas do mar. Pelo projeto, as rochas da carapaça deveriam pesar entre 1,38 a 2,3 toneladas, sendo que na parte de cima, ou seja, no topo da carapaça, as rochas deveriam pesar entre 1,3 a 2,3 toneladas e na parte mais inferior (corpo – 70%) o peso deveria ser de 1,84 a 2,3 toneladas. O peso previsto para o núcleo da estrutura varia de 40 kg (pedras arrumadas) e 1,84 toneladas. Todavia, o peso médio das pedras da carapaça que foi utilizado não foi superior a 1.3 tonelada.

 

Apesar da nova urbanização realizada no local, constatou-se que os problemas de ordenamento e de fiscalização não foram solucionados. Alguns chegaram até mesmo a ser ampliados, como os relativos aos dos comerciantesque foram autorizados pelo Município para atuarem na praia(quiosqueiros e locadores de equipamentos de praia), que passaram a disputar por espaços na areia, diminuídos pela erosão e pela instalação do enrocamento. O novo projeto de urbanização não considerou a atividade de locadores de equipamentos de praia, o que também tem gerado conflitos, já que esses comerciantes não dispõem de espaço para acondicionamento dos seus equipamentos de praia no momento da preamar ou quando não estão sendo utilizados. Outro fato relevante foi o incremento do número de comerciantes ambulantes na praia e o Município ainda não conseguiu ordenar essas atividades no local. Muitos comerciantes utilizam expositores de mercadorias, carrinhos de comida, caixas térmicas, entre outros, e se instalam no “calçadão”, nas vagas de estacionamento, na faixa de praia e em outros pontos da orla.

Em março de 2015, a SEMURB apresentou uma “PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO DE FISCALIZAÇÃO PARA A ORLA DE PONTA NEGRA”.A proposta contempla a integração das Secretarias Municipais para o cumprimento das obrigações assumidas pelo Município de Natal desde 2005 (há mais de dez anos!) de realizar o ordenamento e a fiscalização das atividades na Praia de Ponta Negra e foi apresentada no processo judicial que ainda tramita sobre a matéria (RIO GRANDE DO NORTE, em trâmite). Ainda não foi implementada. Pelo registro das audiências extrajudiciais que têm sido realizadas sobre a matéria junto ao Ministério Público, é possível verificar a falta de articulação entre as Secretarias que direta ou indiretamente atuam na fiscalização e no ordenamento da praia. Sem essa integração, entende-se que os desafios tornam- se maiores.