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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.2. DECISÃO EM GRUPO

Decisão em grupo consiste em um processo de busca de soluções satisfatórias pela participação de múltiplos agentes, cada um com percepções distintas de um mesmo problema. Ou seja, busca-se a preferência coletiva em detrimento da redução das preferências individuais (Campos, 2011).

Nesse sentido, diversas são as técnicas existentes que auxiliam o processo de obtenção do consenso na decisão, entre as quais se mencionam: Brainstorming, técnica Delphi (Delphi

technique) e NGT (Nominal Group Technique). Essas técnicas podem contribuir não só para a obtenção de consenso entre os tomadores de decisão, como, também, permitem a gestão de conhecimento (Campos, 2011).

Nessa pesquisa, utilizou-se abordagem inspirada do método Delphi como ferramenta para verificação de elementos do modelo de avaliação desenvolvido. Desse modo, é apresentado, a seguir, detalhamento acerca desse método.

4.2.1. Método Delphi

O método Delphi foi apresentado em 1964 pelos seus autores Gordon e Helmer- Hirschberg, pesquisadores da Rand Corporation, em paper intitulado Report on a long-

range forescasting study, publicado pela Rand Corporation, em que se discutiram os fundamentos teóricos do método (Gomes e Gomes, 2012). O Método Delphi baseia-se no uso estruturado do conhecimento, da experiência e da criatividade de um painel de especialistas, pressupondo-se que o julgamento coletivo, quando organizado, é melhor que a opinião de um só indivíduo (Wright e Giovinazzo, 2000).

Conceitualmente, o método é bastante simples, pois trata-se da aplicação de um questionário interativo, que circula repetidas vezes pelo grupo de especialistas. Esse questionário é elaborado com base em perguntas quantitativas, apoiadas por justificativas e informações qualitativas, em que, para cada questão, são apresentadas sínteses das principais informações conhecidas sobre o assunto, de forma a homogeneizar a linguagem e facilitar o julgamento do entrevistado (Wright e Giovinazzo, 2000).

Em geral, essa aplicação de questionários ocorre em sucessivas etapas, que são usualmente denominadas de “rodadas”. Os resultados das rodadas devem ser analisados de forma diferenciada, de acordo com o tipo de questão considerada.

De maneira geral, questões relacionadas a valores podem apresentar média, mediana, extremos e quartis inferior e superior. A mediana deve ser utilizada, em lugar da média, quando especialistas têm grande liberdade de opções. A apresentação dos quartis permite uma avaliação do grau de convergência das respostas, auxiliando especialistas e organizadores na análise das mesmas (Wright e Giovinazzo, 2000).

As questões que solicitam “votações” podem apresentar as quantidades e os percentuais de painelistas que optaram por cada alternativa, ou seja, a distribuição de frequência das respostas. Já as questões que pedem justificativas ou comentários adicionais exigem uma consolidação das respostas de todos os especialistas, podendo separar as opiniões em dois ou três grupos, definidos a partir da média ou da mediana (Wright e Giovinazzo, 2000).

Após análise dos resultados da rodada, na próxima, os especialistas recebem novamente as perguntas originais e os resultados encontrados, de modo que possam reavaliar suas respostas à luz das respostas numéricas e das justificativas dadas pelos demais respondentes na rodada anterior. Esse processo é realizado sucessivas vezes até que a divergência de opinião entre os especialistas reduza-se a um nível satisfatório (Wright e Giovinazzo, 2000; Gomes e Gomes, 2012).

O processo citado possui três características básicas: i) anonimato dos participantes, como forma de reduzir a influência de um sobre o outro, pois os especialistas não se intercomunicam durante a realização do painel; ii) a interação com realimentação controlada, com objetivo de evitar a dispersão do tema principal, e iii) respostas estatísticas do grupo, como forma de reduzir a pressão do grupo na direção da conformidade, evitando a dispersão significativa das respostas individuais (Gomes e Gomes, 2012).

Quanto ao número de participantes do painel, segundo Gomes e Gomes (2012), pesquisadores que utilizam a Teoria dos Conjuntos Nebulosos (Fuzzy Sets) e inferência bayseana sugerem que um grupo de 30 pessoas ou mais, não viciado, é o ideal para pesquisas que tenham cunho qualitativo.

No que tange à elaboração do questionário, Wright e Giovinazzo (2000) mencionam que não há um formato rígido das questões. No entanto, alguns cuidados devem ser observados: evitar perguntas compostas e extensas; evitar assertivas ambíguas; redigir questionário simples de ser respondido; promover esclarecimento de aspectos contraditórios; evitar a proposição de ordenamento de uma série grande de itens; permitir a complementação por parte dos especialistas; formular número de questões em torno de 25, considerado pelo autor como sendo o número ideal.

O método Delphi, segundo Wright e Giovinazzo (2000), apresenta como vantagens e desvantagens os aspectos apresentados, a seguir, Tabela 4-2.

Tabela 4-2- Vantagens e desvantagens do método Delphi

Vantagens Desvantagens

Geração de um volume maior de informações para análise do problema em estudo;

Excessiva dependência dos resultados em relação à escolha dos especialistas, com a possibilidade e introdução de viés pela escolha dos respondentes;

Uso de questionários e respostas escritas conduz a uma maior reflexão e cuidado nas respostas e facilita o registro em comparação a uma discussão em grupo;

Possibilidade de forçar um consenso indevidamente;

O anonimato elimina a influência de fatores como o status acadêmico ou profissional do respondente ou de sua capacidade de oratória na consideração da validade de seus argumentos;

Dificuldade de se elaborar um questionário que atenda a todos os requisitos supracitados e não enviesado sob determinado aspecto;

Reduzem-se problemas da dinâmica de grupo, tais como: supressão de posições minoritárias, a omissão de participantes, a adesão espúria às posições majoritárias, manipulação política, dentre outras;

Demanda de tempo excessivo para a realização do processo completo;

Com a utilização de meios eletrônicos não há custos de deslocamento e os especialistas podem responder sem a restrição de conciliar agendas;

Custos elevados referentes à preparação dos questionários e a esforços empreendidos para mobilização dos especialistas.

Os custos são menores do que uma reunião física, embora os custos de preparação sejam maiores;

O engajamento de um grande número de especialistas induz a criatividade e confere credibilidade ao estudo.

Na Figura 4-1, é apresentada sequência de ações do método Delphi.

Figura 4-1 – Fluxograma de ações do Painel Delphi (Wright e Giovinazzo 2000, adaptado).