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7. PROPOSTA DE AVALIAÇÃO DE SISTEMAS MUNICIPAIS DE MEIO

7.3. VARIÁVEIS E DIMENSÕES DE AVALIAÇÃO

7.3.2. Dimensão Legal

Para a gestão local, é fundamental que haja dispositivos legais e instrumentos para que os gestores municipais possam exigir o cumprimento da Lei e, consequentemente, a preservação ambiental, uma vez que os dispositivos elencados têm relação direta com a gestão ambiental local.

É importante que o Município crie o Código Municipal de Meio Ambiente para estabelecer as diretrizes, os objetivos, os instrumentos, as atribuições do órgão executivo, os casos de multas e infrações etc., tanto para detalhar e atender aos interesses da realidade local (Art. 30, Inciso I, Constituição Federal de 1988) quanto para suplementar as legislações federal e estadual (Art. 30, Inciso II, Constituição Federal de 1988). Esse instrumento é um importante fortalecedor da gestão ambiental local.

Ressalta-se que a estruturação de um Código Municipal de Meio Ambiente não deve passar simplesmente pela criação de novas normas ambientais, mas também pela necessidade de atualizar a sua Lei Orgânica e revisar políticas urbanas adotadas até então, explicitadas através do Plano Diretor Urbano, da Lei de Uso e Ocupação do Solo, do Código de Obras, de Postura, Tributário, Sanitário, sob o prisma da sustentabilidade, compatibilizando-os com o Código Municipal de Meio Ambiente e as demais normas ambientais locais (Ávila e Malheiros, 2012).

É importante esclarecer que, na presente pesquisa, não se analisará se os instrumentos foram compatibilizados com a Política Municipal de Meio Ambiente, bem como não se avaliará a efetividade dos instrumentos. A proposta metodológica se propõe a avaliar a existência ou não dos instrumentos, o que já pode ser considerado algo significativo dada a realidade dos municípios brasileiros.

São diversos os instrumentos de gestão ambiental que servem como guia de planejamento e precisam ser utilizados na sua plenitude. Nessa pesquisa, considerou-se, para análise, além do Código Municipal de Meio Ambiente, a existência dos seguintes instrumentos: Lei de Uso e Ocupação do Solo, Plano Diretor Urbano, Código de Obras, Código de Posturas, Lei de Zoneamento Econômico Ecológico – ZEE, Legislações específicas quanto a áreas para proteção ambiental e/ou de interesse especial, Plano Ambiental Municipal, Plano de

Bacia Hidrográfica, Plano de Contingência ou Emergência para desastres ambientais, Plano Municipal de Saneamento Básico e Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.

A Lei de Uso e Ocupação do Solo é, por exemplo, um instrumento vinculado diretamente ao processo de licenciamento ambiental, conforme define a Resolução Conama nº 237/97 em seu artigo 10, Inciso VIII, Parágrafo 1.

§ 1º - No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo.

Os Códigos de Posturas e de Obras também funcionam como reguladores do espaço urbano, definindo e estabelecendo diretrizes para construção e funcionamento de atividades, com objetivo de minimizar eventuais efeitos negativos advindos de atividades que possam interferir na qualidade de vida da população e do meio ambiente.

O Zoneamento Econômico Ecológico – ZEE é instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente (Inciso II, artigo 9º da Lei n.º 6.938/1981, e regulamentado pelo Decreto Federal nº 4.297/2002). De acordo com o referido decreto, tem-se:

Art. 2º O ZEE, instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população.

Art. 3º O ZEE tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas.

Parágrafo único. O ZEE, na distribuição espacial das atividades econômicas, levará em conta a importância ecológica, as limitações e as fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo vedações, restrições e alternativas de exploração do território e determinando, quando for o caso, inclusive a relocalização de atividades incompatíveis com suas diretrizes gerais.

O zoneamento ecológico-econômico é competência compartilhada das três esferas governamentais: a União, os estados e os municípios. A Lei Complementar nº 140/2011 estabelece que constitui ação administrativa da União a elaboração do ZEE de âmbito nacional e regional, a dos Estados elaborar o ZEE de âmbito estadual, e a dos Municípios a

elaboração do plano diretor, observando os ZEEs existentes nas demais esferas (MMA, 2015a).

O Plano Diretor Urbano é um instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, conforme previsto no art. 182 da Constituição de 1988 e regulamentado pelo Estatuto das Cidades (Lei nº10.257/01). Sua função essencial é fixar critérios para a ocupação racional do solo e proteção ambiental. Constitui um conjunto de medidas políticas, econômicas e sociais que visa a ordenar, organizar os espaços e proporcionar melhores condições de vida ao homem no meio ambiente.

Já as leis referentes às áreas de proteção ambiental ou de interesse especial representam instrumentos de preservação de áreas no município, evidenciando preocupação dos gestores com a conservação ambiental.

Quanto à existência de Código Tributário, o objetivo da variável é verificar se, no Código existente no município, há previsão de incentivos para proteção ambiental, ou seja, previsão de instrumentos que estimulem ações de conservação e preservação do meio ambiente, bem como boas práticas de gestão ambiental.

O Plano Ambiental é um instrumento fundamentado em diagnósticos ambientais, avaliações, levantamentos, consultas públicas, entre outras, que serve para caracterizar os problemas atuais e priorizar as ações para a Gestão Ambiental Municipal. É um plano que visa a garantir a integração e o comprometimento dos diversos segmentos da Administração Municipal, visando ao planejamento, à proteção, à recuperação do meio ambiente, com ações voltadas ao controle e ao monitoramento das atividades causadoras de degradação ambiental no Município.

Já o Plano de Bacia Hidrográfica é um plano diretor, que visa a gerar elementos e meios que permitam o gerenciamento dos Recursos Hídricos superficiais e subterrâneos, de modo a garantir os usos múltiplos de forma racional e sustentável. O ideal é que os Planos de Bacias Hidrográficas incorporarem os aspectos e demandas ambientais, fazendo uma gestão integrada das políticas de meio ambiente e de recursos hídricos.

Outro instrumento relevante de que o município pode dispor é o Plano de Contingência ou Emergência para Desastres Ambientais, de modo a prever ações e procedimentos a serem adotados em caso de acidentes ou desastres, sejam esses naturais ou decorrentes das atividades humanas, com o objetivo de minimizar os impactos sobre qualidade de vida da população e o meio ambiente.

Como forma de melhorar a qualidade ambiental do município, bem como do bem-estar da comunidade, o Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB e o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos são, também, importantes ferramentas de gestão.

O PMSB é estabelecido pela Lei Federal nº 11.445/07. É um instrumento de planejamento que estabelece diretrizes para a prestação dos serviços públicos de saneamento. Já o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, previsto na Lei nº12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), é pré-requisito para os municípios terem acesso aos recursos do governo federal, a incentivos ou a financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento na área de limpeza urbana e resíduos sólidos.

Em suma, de acordo com MMA (2015b), o planejamento das cidades no Brasil é prerrogativa constitucional da gestão municipal, que responde, inclusive, pela delimitação oficial da zona urbana, rural e demais territórios para onde são direcionados os instrumentos de planejamento ambiental. No meio ambiente urbano, os principais instrumentos de planejamento ambiental são: Plano Diretor Municipal, Plano Ambiental Municipal, Agenda 21 Local e, se cabível, o Plano de Gestão Integrada da Orla. Ressalta- se, ainda, que todos os planos setoriais ligados à qualidade de vida da população no processo de urbanização, como por exemplo, o Plano Municipal de saneamento básico e o Plano Municipal de Resíduos Sólidos, também constituem instrumentos de planejamento ambiental.

Há, ainda, instrumentos de planejamento que extrapolam a área municipal, como o Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE e o Plano de Bacia Hidrográfica. No entanto, são instrumentos importantes de serem observados quando do planejamento das ações ambientais a nível municipal.

normativas que permitam controlar os impactos negativos dos investimentos público- privados sobre os recursos naturais dos municípios, evite a subutilização dos espaços já infraestruturados e a degradação urbana, bem como se promova uma maior eficiência das dinâmicas socioambientais de conservação do patrimônio ambiental urbano (MMA, 2015b).

Em síntese, a versão preliminar da dimensão legal é composta pelas variáveis apresentadas na Tabela 7-4, classificadas de acordo com o modelo PER.

Tabela 7-5 - Variáveis que compõem a Dimensão Legal

Variáveis BibliográficasReferências 1

Existência de Código Municipal de Meio Ambiente - Política Municipal de Meio Ambiente Sim Não Carvalho et al. (2009), De Carlo (2006), Cetrulo et al. (2012), Idesp (2011), Silva et al. (2012), Fecam

(2014) e Neves (2006) Existência de Lei de Uso e Ocupação do Solo Sim Não Resolução Conama nº 237/97

Existência de Plano Diretor Urbano Sim Não

Cetrulo et al. (2012), Scardua (2003), Idesp (2011), Toledo (2005) e

Neves (2006) Existência de Código de Obras e Código de

Posturas

Sim

Não Toledo (2005)

Existência de Lei de Zoneamento Econômico

Ecológico – ZEE Sim Não

Toledo (2005) e Neves (2006)

Existência de Legislação específica sobre área e/ou zona de proteção/controle ambiental e/ou de interesse especial

Sim

Não Toledo (2005) e Neves (2006) Existência de Código Tributário Sim

Não Carvalho et al. (2009) Existência de Plano Ambiental Municipal Sim

Não Cetrulo et al. (2012) Existência de Plano de Bacia Hidrográfica Sim Não -

Existência de Plano de Contingência ou Emergência para casos de desastres ambientais

Sim

Não -

Existência de Plano Municipal de Saneamento Básico

Sim

Não -

Existência de Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos

Sim

Não Neves (2006)

1 Referências que apresentam variáveis/indicadores similares.

Legenda:

Estado