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Decisões proferidas pelos Tribunais Trabalhistas e Estaduais

No documento Caio Cesar Carvalho Lima (páginas 88-91)

CAPÍTULO 03 COMPETÊNCIA NA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES

1 OS TRIBUNAIS BRASILEIROS E O ENFRENTAMENTO DE QUESTÕES

1.3 Decisões proferidas pelos Tribunais Trabalhistas e Estaduais

A surpresa causada pelas inovações trazidas pelos ambientes computacionais pôde ser verificada também no âmbito das relações trabalhistas, quando o Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região, no ano de 1993, foi suscitado a se manifestar acerca da licitude de “alteração das condições de trabalho”234, após a inserção de terminais de computador em dada empresa, o que obrigou os empregados a deixarem de utilizar o papel e a caneta. Sabidamente, o tribunal entendeu que nada seria devido pela empresa em vista dessa alteração, considerando que a CLT não poderia servir como instrumento apto a apoiar a “estagnação”235.

http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaRepositorioJurisprudencia/anexo/ListadosRepositoriosde JurisprudenciaCMS.pdf e http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/download.wsp?tmp.arquivo=3047. Último acesso de ambos os documentos em: 21 jul. 2013.

231 Observem-se as seguintes súmulas: “Súmula 334/STJ - O ICMS não incide no serviço dos provedores de acesso à Internet” e “Súmula 355/STJ - É válida a notificação do ato de exclusão do programa de recuperação fiscal do Refis pelo Diário Oficial ou pela Internet”.

232 Nesse sentido, observem-se, por exemplo, alguns dos enunciados das Jornadas de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “18 - Art. 319: A “quitação regular” referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de ‘comunicação a distância’, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes” (1a Jornada); “173 - Art. 434: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente” (3a Jornada); “297 - Art. 212: O documento eletrônico tem valor probante, desde que seja apto a conservar a integridade de seu conteúdo e idôneo a apontar sua autoria, independentemente da tecnologia empregada” (4a Jornada); “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento” (6a Jornada), entre outros.

233 “7. O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de direito”. (1a Jornada de Direito Empresarial)

234 O tema adquire relevância a partir da consideração de que a CLT prescreve no artigo 468 que somente são lícitas as “alterações das condições de trabalho” estabelecidas em contrato de trabalho, por mútuo acordo entre as partes: “Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia”.

235 “CONTRATO DE TRABALHO. BALCONISTA. INTRODUÇÃO DE MÉTODOS MAIS MODERNOS DE TRABALHO. ADAPTAÇÃO PERFEITA. HIPÓTESE QUE SE INSERE NO JUS

VARIANDI. CLT, ART. 468. Sustenta o autor que foi admitido como balconista, e que, após 4 meses,

Em 1995, o Tribunal Superior do Trabalho foi instado a se manifestar acerca da eventual necessidade de pagamento de hora extra a empregado que se mantinha conectado à empresa por meio de bip, telefone celular ou laptop, no que se entendeu que o uso dos instrumentos não caracterizariam estar o funcionário à disposição do empregador236. Atualmente, com o crescimento do uso desses dispositivos, o entendimento do tribunal vem se consolidando, havendo expressa previsão sobre o assunto em Súmula do TST237 e na CLT238, na qual se possibilita o tratamento assemelhado ao trabalho realizado presencialmente ou à distância.

Trazendo repercussão das matérias nos tribunais estaduais, no ano de 2000, decidiu-se no âmbito do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acerca da titularidade de nome de domínio da Internet. Na ocasião, o entendimento foi firmado, com base no fato de que o registro da marca perante o Instituto Nacional da Propriedade Industrial

passagens, além de passar a receber os valores devidos pela compra dos bilhetes. Na realidade, o recorrente alega que houve alteração contratual, uma vez que, após ser admitido e trabalhar apenas com o talonário de passagens e caneta, passou a utilizar o terminal de computador, recebendo o valor da passagem vendida. O argumento de que, tratando-se de pessoa simples, não teria aptidão para enfrentar a nova situação, não corresponde à realidade. Tanto que, após trabalhar quatro meses no sistema anterior, trabalhou durante quase três anos na nova condição. É inegável que houve uma alteração funcional. No entanto, decorrente da introdução de métodos mais modernos de trabalho, aos quais o autor, pelo visto, adaptou-se perfeitamente. VALENTIN CARRION, ao comentar o art. 468 da CLT, esclarece que o funcionamento das empresas não suporta a estagnação, estando inserido no jus variandi patronal a modificação das cláusulas originalmente contratadas pela introdução de nova tecnologia, desde que tais modificações não sejam prejudiciais ao trabalhador. No presente caso, temos que o recorrente não foi rebaixado na sua função, nem tampouco promovido. Houve, isto sim, uma alteração funcional horizontal, para a qual, pelo que se depreende dos autos, o recorrente estava habilitado. A prosperar a tese recursal, ter-se-ia que reconhecer a incapacidade do ser humano para adquirir novas aptidões, o que se sabe não ser verdadeiro. Nada é devido pela alteração contratual ocorrida”. (TRT da 4ª Região - Rec. Ord. 565/1993 - Rel.: Juíza Ester P. Vieira Rosa - J. em 13/10/1993)

236 TST - JORNADA DE TRABALHO. TEMPO A DISPOSIÇÃO. O uso do Bip, telefone celular, laptop ou terminal de computador ligado à empresa não caracterizam tempo a disposição do empregador, descabida a aplicação analógica das disposições legais relativas ao sobreaviso dos ferroviários, que constituem profissão regulamentada, há dezenas de anos em razão das suas especificidades. Cabe à entidade sindical onde tais formas de comunicação são usuais fixar em negociação coletiva os parâmetros respectivos. Efetivamente, tivesse o empregado liberdade de contratar e no ajuste laboral já fixar condições salariais condizentes com o uso de tais equipamentos. Indubitável que a solicitação do empregado e o serviço que preste em função dessa convocação constituem horas extras. (TST - Rec. de Rev. 75.459/1995 - Rel.: Min. José Luiz Vasconcellos - DJ 03/02/1995)

237 No ano de 2012, o TST alterou a redação da súmula 428 do Tribunal, passando a prever expressamente a possibilidade de que o uso de dispositivos eletrônicos pode caracterizas o sobreaviso: “SOBREAVISO APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 244, § 2º DA CLT (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012): I - O uso de instrumentos telemáticos ou informatizados fornecidos pela empresa ao empregado, por si só, não caracteriza o regime de sobreaviso. II - Considera-se em sobreaviso o empregado que, à distância e submetido a controle patronal por instrumentos telemáticos ou informatizados, permanecer em regime de plantão ou equivalente, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço durante o período de descanso”.

238 Consolidação das Leis do Trabalho - Artigo 6o: Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego. Parágrafo único. Os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio.

seria suficiente para garantir à parte o direito exclusivo ao registro do respectivo nome de domínio239.

Por fim, traz-se decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na qual se constata que, pela falta de legislação específica para tratar de situações envolvendo a responsabilidade dos mantenedores de mídias eletrônicas, foram utilizados dispositivos da Lei de Imprensa (Lei No 5.260/67) para colmatar as lacunas, conforme entendimento do Desembargador Elpídio Donizetti240.

Dessa forma, como se consegue depreender, a despeito da aplicabilidade das leis hoje em vigor ao que se passa na Internet, ainda existem diversas dúvidas e situações lacunosas que precisam ser preenchidas. Deve-se sempre ter em mira, contudo, o alerta do Ministro Sepúlveda Pertence, de que “a invenção da pólvora não reclamou redefinição do homicídio para tornar explícito que nela se compreendia a morte dada a outrem mediante arma de fogo”241. No entanto, a fim de mitigar a insegurança jurídica, necessário que sejam melhores estipuladas questões centrais, tais como o que diz respeito à competência, conforme adiante se analisa.

2 COMPETÊNCIA JUDICIAL PARA ILÍCITOS CIVIS NA INTERNET

Adiante passa-se a verificar o que diz respeito à competência, principalmente envolvendo ilícitos civis relacionados à tecnologia, em especial a Internet. Para tanto, considerando a escassez de legislação especificamente tratando da matéria, e em vista

239 “CÍVEL - AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CANCELAMENTO DE REGISTRO NO ÂMBITO DA INTERNET. MARCA DE INDÚSTRIA E NOME DE DOMÍNIO NA INTERNET. Comprovado que a agravante é titular da marca Café Pacheco junto ao INPI, o fumus boni

juris e o perigo de lesão patrimonial de difícil reversão daí decorrentes justificam a concessão da Medida

Antecipatória denegada pelo Juízo a quo, a fim de suspender o uso, pela agravada, do nome de domínio www.cafepacheco.com.br junto a Internet, até o desfecho definitivo da demanda originária, remetendo-se para a respectiva sentença o exame do pedido de registro do domínio em tela em nome da agravante. Agravo provido”. (Agravo de Instrumento nº 70001434240, 14ª Câmara Cível do TJRS, Porto Alegre, Rel. Des. Aymoré Roque Pottes de Mello. j. 14.09.2000).

240 “AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. VEICULAÇÃO DE TEXTO DEPRECIATIVO EM SÍTIO VIRTUAL. RESPONSABILIDADE DO MANTENEDOR DA MÍDIA ELETRÔNICA. APLICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS DA LEI DE IMPRENSA. DANO MORAL.

EXISTÊNCIA. INDENIZAÇÃO. ARBITRAMENTO. RAZOABILIDADE E

PROPORCIONALIDADE. À falta de legislação específica, tem-se aplicado às relações travadas na Rede mundial de computadores o regramento atinente à Lei de Imprensa, equiparando-se o sítio virtual - ou site, para os menos apegados à língua pátria - à figura da ‘agência noticiosa’ contemplada nos arts. 12 e 49, 2º, da Lei nº 5.250/67. (...)” (Apelação Cível 1.0024.04.388118-4/001 - Comarca de Belo Horizonte - Apelante: Sindicato dos Policiais Federais do Estado de Minas Gerais/Sinpef/MG - Apelantes adesivos: Rodrigo Ricoy Pinheiro e outro - Apelados: os mesmos - Relator: Des. Elpídio Donizetti)

241 STF - HC: 76689 PB , Relator: Sepúlveda Pertence, Data de Julgamento: 21/09/1998, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 06-11-1998.

do aumento das discussões perante os tribunais sobre o tema, o estudo do assunto será pontuado com a verificação das decisões judiciais correlacionadas.

Partir-se-á dos tribunais brasileiros, para, posteriormente verificar os julgados nos Estados Unidos da América e na Europa. Essa análise será feita, também, sempre se trazendo os correlatos entendimentos doutrinário e legislativo, com o objetivo de tornar a leitura mais instrutiva e menos enfadonha.

No documento Caio Cesar Carvalho Lima (páginas 88-91)