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Capítulo II O cenário dramático de emergência do eterno retorno em Assim Falava

2.1.1 O declínio

Depois de dez anos de solidão na reclusão de sua montanha, aos quarenta anos de idade, Zaratustra resolve retornar para junto dos homens. O Prólogo descreve o início desse processo. As primeiras palavras do personagem são endereçadas ao sol, sendo que seu tema é a felicidade daquele que é luminoso. Zaratustra questiona: “Ó grande astro! Que seria da tua felicidade, se não tivesse aqueles que iluminas?...” . Segundo o personagem, o sol já teria saciado-se de sua luz e também de sua jornada se não tivesse aqueles aos quais ilumina. Zaratustra se identifica com o sol e ao dirigir-lhe suas palavras confidencia que está farto de sua sabedoria e, como “a abelha que juntou demasiado mel”, necessita de “mãos que se estendam”. Zaratustra deseja doar e repartir sua sabedoria entre os homens, até que os sábios “voltem a alegrar de sua tolice e os pobres, de sua riqueza”. Nietzsche nos apresenta Zaratustra na abertura da obra como um personagem luminoso que vivencia uma espécie de conflito com sua sabedoria, pois necessita dos homens, assim como o sol, para ser feliz, precisa daqueles que ilumina. As metáforas apresentadas fazem diversas referências ao movimento do sol que nos permitem penetrar no estado psicológico de Zaratustra como um personagem que deseja retornar para junto dos homens, assim como, depois de chegar ao cume, de atingir a sua máxima altura, ao meio dia, a hora da menor sombra, o sol declina levando luz ao mundo inferior. A metáfora da abelha que juntou demasiado mel também é fundamental na compreensão do desejo de declínio de Zaratustra, por revelar que este anseio está diretamente ligado à relação do personagem com sua sabedoria. No início da narrativa, Nietzsche nos apresenta um personagem que possui uma luminosidade abundante como o sol, mas que se sente enfastiado diante de sua sabedoria porque se acumula demasiadamente na solidão162. Por

162 Esse tipo psicológico que sofre por abundância será desenvolvido posteriormente no livro V de Gaia Ciência em contraste ao

fim, outra significativa metáfora nos revela que o anseio de declinar é também o desejo de esvaziar-se, e isso faz Zaratustra tornar-se novamente homem:

Então me abençoa, ó olho tranquilo, capaz de contemplar sem inveja até mesmo uma felicidade excessiva! Abençoa a taça que quer transbordar, para que a água dela escorra dourada e por toda parte carregue o brilho do teu enlevo! Olha! Esta taça quer novamente se esvaziar, e Zaratustra quer se fazer homem. (Za/ZA “Prólogo”, 1)

O personagem se compara com uma taça que quer transbordar, um recipiente cujo conteúdo ultrapassou os limites, sugerindo o acúmulo de sabedoria, e pede para que seu desejo de esvaziar- se seja abençoado, que seu desejo de tornar-se novamente homem não faça sua sabedoria perder o brilho. Além da necessidade de compartilhar sua sabedoria com os homens, a analogia com o movimento do sol sugere também que Zaratustra quer descer até as profundezas sem perder a luminosidade, assim como faz o astro abundante a noite quando se desloca “para trás do oceano e leva a luz também ao mundo inferior”. No entanto, como “esvaziar-se” sem perder a luz?

O texto da primeira seção do Prólogo é praticamente a repetição exata do aforismo 342 de Gaia Ciência, a não ser pelo fato de seu título Incipt Tragoedia não ser mencionado, e também porque a narrativa se inicia informando que Zaratustra ao completar trinta anos deixou sua pátria e o “lago de sua terra” e não “o lago de Urmi”, ou seja, sem a menção ao local de nascimento do Zaratustra histórico. No entanto, a primeira característica marcante do personagem nietzschiano, a luminosidade, nos remete ao Zoroastro persa, que em seu nascimento é descrito como uma criança resplandecente de luz. Em uma carta de abril de 1883, Nietzsche diz: “Hoje, aprendi por acaso o significado de Zaratustra, isto é, “estrela de ouro”. Fiquei feliz com esse acaso. Toda a concepção de meu pequeno livro deriva dessa etimologia: mas, até o momento eu nada sabia”163. Como

destaca Curt Paul Janz, em sua ampla exposição do Zend-Avesta, Creuzer se utiliza na maioria das vezes da forma grega do nome do fundador religioso persa, “Zoroastro”, que traduz como “Estrela de ouro”, tradução que o moderno estudo da religião iraniana coloca em dúvida, mas que entusiasma Nietzsche164. Como apresenta Creuzer, Zoroastro é um profeta de Deus, cujo objetivo é ser um intermediário entre Ohrmazd, o princípio do bem, experimentado na luz do sol, cujo animal simbólico é a águia real, e Ahriman, o princípio do mal, experimentado nas trevas, na escuridão, e cujo animal simbólico é a serpente. Apesar da etimologia do nome Zoroastro à qual Nietzsche faz referência na carta a Gast aparecer na obra de Creuzer, que já conhecia muito bem desde os tempos de juventude, o filósofo afirma que essa descoberta se deu por acaso e que essa etimologia lhe era totalmente desconhecida antes da elaboração do seu Zaratustra. Nietzsche

163 Carta a Peter Gast de 23 de Abril de 1883. 164 Cf. JANZ, 1985, p. 182

possui, no entanto, uma referência bem anterior com relação à luminosidade, que está diretamente comprometida com sua concepção de tragédia do período de juventude: a imagem apolínea. Segundo Roberto Machado, no que diz respeito à luminosidade, o decisivo para Nietzsche não é Ohrmazd, o deus persa da luz, mas o grego Apolo. Em suas primeiras obras, Nietzsche identifica no brilho uma característica da imagem apolínea: “Mas em que sentido Apolo pôde se tornar uma divindade artística? Somente na medida em que é o deus da representação onírica. Ele é o aparente por completo: o deus do sol e da luz na raiz mais profunda, o deus que se revela no brilho.” (DW/VD § 1). Apolo é uma divindade solar, cujo brilho de suas imagens, porém, aparece associado à aparência, associação que se configura no interior de uma concepção metafísica que é abandonada por Nietzsche ao longo do segundo período. Segundo Machado, devemos abandonar a vinculação de Apolo com a aparência em sua contraposição à essência, conforme se configura na metafísica de artista do jovem Nietzsche, mas não a luminosidade apolínea, que continua sendo um elemento fundamental na caracterização do Zaratustra nietzschiano165. Para o intérprete brasileiro, a “saudação ao sol, que abre o Zaratustra, funciona como um hino de louvor a Apolo, apresentando seu personagem título como indivíduo apolíneo.” (MACHADO, 1997, p. 39-40).

O intérprete brasileiro de Assim Falava Zaratustra, se filia àqueles que, como Janz, defendem que Nietzsche somente retirou do Zoroastro histórico o nome e a atividade de reformador social, que sua verdadeira fonte não é persa e sim grega166. Segundo Higgins, Zaratustra é um filósofo que inicia sua missão no ponto em que o Sócrates histórico dos diálogos platônicos termina, com uma suave suspeita de que o projeto apolíneo necessite de um complemento dionisíaco167. O início da narrativa também nos evoca a lembrança da Alegoria da Caverna de Platão, sugerindo a comparação entre o rei-filósofo que volta à comunidade depois de comungar com o sol, com o bem, e o declínio de Zaratustra168. Assim como o prisioneiro liberto de Platão, ao regressar à comunidade dos homens, Zaratustra também será tratado com indiferença. Porém, como podemos observar através de seus discursos, sua sabedoria ataca visceralmente aqueles que alimentam crenças metafísicas, os trasmundos (Hinterweltlern), chamando-os de envenenadores da terra, revelando que sua ascensão e declínio devem ser interpretados de forma distinta da alegoria platônica. No entanto, podemos observar que Zaratustra, como mestre do Além do Homem, contém já em seus traços a versão nietzschiana da figura do filósofo-legislador, que se apresenta

165 Cf. MACHADO, 1997, p. 37

166 Janz problematiza a caracterização de Zaratustra como um texto religioso, como sendo composto por uma série de sermões como

se fosse uma “Sagrada Escritura”, defendendo que é um texto de filosofia, cuja fonte, apesar da influência exercida pela leitura de Creuzer e sua interpretação do lendário Zaratustra persa, se encontra na tradição grega. A forma de seus discursos remete, segundo o biógrafo, a tradição dos escritos pré-socráticos. O próprio personagem de Nietzsche também encontra, para Janz, sua fonte na tradição grega, em Empédocles e na antiga tradição do poema didático. Cf. JANZ, 1985, p. 177.

167Cf. HIGGINS, 1987, p. 75

delineada em seu próximo livro Além do Bem e do Mal. Assim como o homem liberto de Platão, que depois de realizar sua ascensão deve voltar à comunidade dos homens, Zaratustra depois de ascender à sua montanha e ficar por dez anos na solidão, também regressa. Mas por que regressar? Essa é a questão que envolve o primeiro diálogo apresentado por Nietzsche em Assim Falava Zaratustra.

Em sua descida solitária, antes de chegar à cidade, Zaratustra encontra em seu caminho um velho santo (alte Heilige), um eremita, que se isolou na floresta porque amava demais os homens. O idoso reconhece Zaratustra, lembrando-se de quando ele ascendia à montanha e, reconhecendo sua mudança, questiona-o: “Naquele tempo levavas tuas cinzas para os montes: queres agora levar teu fogo para os vales? Não temes o castigo para o incendiário?” (Za/ZA “Prólogo”, 2). O velho santo reconhece que Zaratustra renasceu nos dez anos que passou na solidão, que agora possui um olhar puro e uma boca que “não esconde nenhum nojo (Ekel)”, que se tornou uma criança, que

está, enfim, mudado. Porém, o eremita indaga acerca do que quer o despertado Zaratustra junto àqueles que dormem, problematizando seu regresso, e este justifica sua descida respondendo ao velho que ama os homens. O velho santo é também um transformado pela solidão, mas sua transformação foi deixar de amar os homens e voltar o seu amor somente a Deus. Afirmando ser o homem “uma coisa demasiada imperfeita”, o idoso questiona Zaratustra acerca de sua disposição de levar aos homens uma dádiva, argumentando que os homens desconfiam dos solitários, tomando como ladrões aqueles que querem lhes dar um presente. Zaratustra então pergunta o que faz um velho santo na floresta e este responde; “Eu faço canções e as canto, e quando faço canções, rio, choro e sussurro: assim louvo a Deus.” (Za/ZA”Prólogo”, 2). O velho santo se retirou à solidão para cultuar o seu Deus, cantando as canções de sua própria autoria. Como confessa Zaratustra, o presente que traz para dar não pode ser oferecido ao velho santo, sendo então necessário partir. Novamente só, o personagem fala ao seu coração169: “Este velho santo, na sua floresta ainda não sabe que Deus está morto!” (idem). Zaratustra traz um presente para aqueles que sabem que Deus está morto, sendo que é o desconhecimento desse grandioso evento que

impossibilita de oferecê-lo ao velho santo. Como argumenta Lampert, o espanto do personagem

diante desse desconhecimento é muito instrutivo, pois mostra que Zaratustra não se propõe descer para junto dos homens com o fim de ensinar sobre a morte de Deus, e sim para ensinar acerca das consequências desse evento170e lhes oferecer uma alternativa, um presente, o Além do Homem.

169 Como lembra o tradutor brasileiro de Zaratustra, Paulo César de Souza, Zaratustra fala ao seu coração como Ulisses de Homero

e Hipérion de Hölderlin, que muito influenciaram o filósofo.

170 Lampert diverge da posição de Eugen Fink que considera que a morte de Deus é o tema central da primeira parte, defendendo

A comunicação da morte de Deus em Assim Falava Zaratustra recebe um tratamento textual que segue o aforismo 125 de Gaia Ciência, pois também apresenta esse evento como um fato consumado, abordando-o como uma sentença dramática e não especulativamente. Esse aforismo intitulado “O homem louco” (Der tolle Mensch) se inicia apresentando a atitude de um insano que acende uma lanterna em plena luz da manhã e corre até o mercado gritando: “Procuro Deus, procuro Deus!” („Ich suche Gott! Ich suche Gott!“)171. Assim como fará Zaratustra, o insano se

manifesta na praça do mercado, a um público que, como se já não mais acreditasse em Deus, gargalha diante da insanidade de sua atitude, reage de maneira jocosa e indiferente ao seu desespero. O homem louco questiona então seu auditório: para onde foi Deus? Ele mesmo responde: “Nós o matamos – você e eu. Somos todos seus assassinos (Mörder)!” (FW/GC§125). O insano é aquele que afirma serem os homens os assassinos de Deus e se reconhece como parte da humanidade que foi capaz de tal ato. Assim como o pecado original cristão, a morte de Deus é apresentada como um ato consumado, que não pode ser revertido, porém se o primeiro impõe a necessidade de expiação da culpa na esperança de uma salvação futura, o segundo impõe a necessidade de assumirmos a responsabilidade por esse ato e nos colocarmos à altura de sua grandiosidade. Com isso, Nietzsche procura delinear duas reações distintas à morte de Deus, a dos ateus e a do próprio insano. Ao contrário da indiferença dos ateus, o insano vive dramaticamente as consequências dessa morte, na medida em que se afirma como um deicida, assim como são todos os homens, mesmo que não se assumam como assassinos, dando a esse evento um peso e uma grandiosidade desconsiderada por aqueles que não acreditam em Deus.

Diante desse ato grandioso, o homem louco é tomado por uma série de indagações que nos remetem ao aforismo anterior por fazer referência a termos em comum como o mar (Meer), o horizonte (Horizont), a terra (Erde) e o infinito (unendliches). O louco se indaga acerca de como “conseguimos beber inteiramente o mar”, sobre “quem nos deu a esponja para apagar o horizonte” e o que “fizemos nós, ao desatar a terra do seu sol”. Isso conduz o insano à dramática pergunta: “Não vagamos como que através de um nada infinito?”172 (FW/GC§125). O insano alerta seus

debate, defendemos em consonância com Deleuze que a morte de Deus é comunicada dessa forma por ser tratada em Assim Falou Zaratustra como uma proposição dramática e não especulativa, assim como ocorre no aforismo 125 de Gaia Ciência. Como proposição dramática, ela é fundamental para compreender porque Zaratustra anuncia e ensina sobre o Além do Homem.

171 Nietzsche faz uma clara alusão à atitude atribuída pela história da filosofia a Diógenes de Sinope (Cf. DIÓGENES LAERTIOS

,1988, p.162)

172 “Irren wir nicht wie durch ein unendliches Nichts?” No aforismo 124 de Gaia Ciência, justamente intitulado “No horizonte do

infinito” (Im Horizont des Unendlichen), Nietzsche convida seu interlocutor a embarcar no vasto mar, queimando a ponte, cortanto todos os laços com a terra firme, fazendo nos lembrar da célebre imagem do barco solitário vagando no imenso oceano retirada de O mundo como vontade e representação e utilizada outrora em O nascimento da tragédia no contexto da caracterização do apolíneo e do dionisíaco. Diante dessa evocação, o filósofo adverte: “Agora tenha cautela, pequeno barco! Junto a você está o oceano, é verdade que ele nem sempre ruge, e às vezes se estende como seda e ouro e devaneio de bondade. Mas virão momentos em que você perceberá que ele é infinito e que não há coisa mais terrível que a infinitude.” (FW/GC§ 124). Ao final desse aforismo, Nietzsche diz: “Ai de você, se for acometido de saudade da terra, como se lá tivesse havido mais liberdade – e já não existe mais “terra”!”. A morte de Deus é um evento consumado, estamos entregue inevitavelmente ao mar aberto, ou experimentamos a terrificante infinitude com nostalgia da terra firme, ou então como gênese de uma nova liberdade. Posteriormente, no aforismo que abre o livro

ouvintes para os desdobramentos niilistas da terrificante experiência da infinitude advinda da morte de Deus. Em uma anotação do outono de 1881, Nietzsche diz: “Se não fazemos da morte de Deus uma grandiosa renúncia e uma contínua vitória sobre nós mesmos, temos de suportar a perda” (KSA 9 12[9]). Ou seja, deve-se fazer desse evento grandioso um meio para a transformação profunda da humanidade, pois senão só nos resta suportar o vazio, a ausência de Deus, o nada infinito. O louco não ensina sobre a morte de Deus, mas questiona seu auditório acerca de como a humanidade pode se consolar desse ato grandioso, de que modo colocar-se à altura de sua grandeza:

Como consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará este sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza deste ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele?

Nunca houve ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a

uma história mais elevada que toda história até então! (FW/GC§125)

Depois de apresentar suas indagações, o insano reconhece que veio cedo demais, que é um extemporâneo, que surgiu no momento em que a humanidade ainda não avaliou com profundidade as consequências de seu grandioso ato. De uma atitude jocosa e indiferente, o auditório do homem louco passa a olhá-lo com espanto. O insano então afirma que esse “acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens”. Como defende Deleuze, a fórmula “Deus está morto” (Gott ist todt) realiza a “síntese da ideia de Deus com o tempo, com o devir, com a história, com o homem”, sendo assim, não é “uma proposição especulativa, mas uma proposição dramática, a proposição dramática por excelência” ( DELEUZE, 1976, p. 127). O insano é aquele que realiza essa síntese, inserindo a ideia de Deus na história, por isso vivencia dramaticamente sua morte e se coloca como seu assassino, ao contrário dos ateístas, que assim como os teístas, concebem a ideia de Deus metafisicamente. A pergunta central do insano não é sobre a existência ou não de Deus, não envolve especulações metafísicas, mas sim como a humanidade suportará viver com sua derrocada, como suportará a grandiosidade do ato de ter assassinado a divindade. Assim como o louco, Zaratustra anuncia a morte de Deus na praça do mercado, porém esse anúncio é acompanhado de um presente que traz aos homens, o Além do Homem. Se o insano representa o desespero diante dos desdobramentos desse evento grandioso,

V de Gaia Ciência, escrito após Assim Falava Zaratustra, Nietzsche volta a afirmar o caráter extemporâneo desse evento, como também sua crença no poder transformador advindo da derrocada do Deus cristão. Nietzsche retoma as mesmas figuras para comunicar sua reação como filósofo e espírito livre a esse grandioso evento: “De fato, nós, filósofos e “espíritos livres”, ante a notícia de que “o velho Deus morreu” nos sentimos como iluminados por uma nova aurora; nosso coração transborda de gratidão , espanto, pressentimento, expectativa – enfim o horizonte nos aparece novamente livre, embora não esteja limpo, enfim os nossos barcos podem novamente zarpar ao encontro de todo perigo, novamente é permitida toda a ousadia de quem busca o conhecimento, o mar, o nosso mar, está novamente aberto, e provavelmente nunca houve tanto “mar aberto”” (FW/GC 343).

Zaratustra é aquele que, depois de viver por um longo período na solidão, regressa para junto dos homens, para guiar a humanidade nessa história que agora se inicia, nessa “história mais elevada que toda história até então” (FW/GC§125). Zaratustra quer tornar-se novamente homem para mostrar à humanidade que ela tem um futuro depois desse evento.