• Nenhum resultado encontrado

4 OS LUSÍADAS E O ORIENTE: COTEJO

4.7 O TRATAMENTO DAS MITOLOGIAS EM OS LUSÍADAS E EM O ORIENTE

4.7.10 Adamastor e Satanás

4.7.11.7 Defesa do Capitão diante do Catual

O Catual ordena a busca pelo oráculo, a fim de determinar o efeito da presença portuguesa em suas terras. O resultado é negativo: os portugueses representam perigo. O Catual acusa o Capitão de trazer uma embaixada fingida. Movido por Vênus, o Capitão defende-se. Afirma não ser pirata. Sua missão é apenas levar consigo um sinal da Índia ao seu rei. Tornado à Pátria, trará ao Catual maravilhosas dádivas como prova de sua palavra. O Catual não deve espantar-se com a proeza portuguesa de vencer tamanha distância por via marítima: há muitos anos sua gente está empenhada nisso. Sua chegada à Índia não é casual. O rei fia-se na palavras do Capitão, e julga haver um engano no oráculo.

Em O Oriente, Gama evangeliza o rei da Índia. Ele apoia-se nos textos sagrados do cristianismo. Conhece o relato do Gênesis referente à criação. Conhece o relato da queda de Adão e da perdição da terra, o que envolve conhecer a gênese do próprio Satanás, inimigo seu e de seu Deus. Conhece Noé e sua história. Sabe da formação do povo de Israel, escolhido de Deus, e da sucessão de seus líderes, a partir de Moisés. Relata e intepreta o significado da profecia de Daniel, concedida por Deus a Nabucodonosor, rei da Babilônia, por meio da qual se pode

qual o Cristo procede. Tem plena consciência do significado de seu sacrifício e de suas consequências para a humanidade. Estabelece a conexão entre todos esses elementos e a história portuguesa: Cristo aparece em visão a Afonso Henriques, fundador da nação. A partir desse momento, difundir a fé cristã e combater o mouro convertem-se no centro da ação portuguesa.

Em O Oriente, o narrador representa os tratos do Gama para com o estrangeiro, seja ele amigo ou inimigo. Representa-o homem: Gama é corajoso. Dispõe-se a sacrificar sua vida em favor dos interesses da Pátria. Apesar disso, sente medo quando a situação excede sua força. Gama titubeia diante da tentação. No entanto, esses aspectos da representação são secundários e acessórios. O centro da representação é ocupado pelo Gama difusor da fé.

4. 8 RUMO À ÍNDIA

Em Os Lusíadas, os portugueses partem de Melinde, guiados por um piloto verdadeiro. A armada navega tranquilamente, mas não por muito tempo. Baco, furioso diante do iminente sucesso português, desce ao mar, a fim de falar à corte marinha. Netuno, ouve-o e ordena a Éolo libertar os furiosos ventos, a fim de arruinar a armada. Uma nuvem negra flutua na direção da armada. A tempestade arroja-se contra ela, e passa a destruí-la. A nau de Paulo da Gama está alagada. As ondas são monstruosas. Os animais marinhos afastam-se. Gama sente o fim próximo e clama a Deus:

Por que somos de ti desamparados, se este nosso trabalho não te ofende, mas antes, teu serviço só pretende? (CAMÕES, 1982, p. 245).

Tomado pelo medo, o Capitão indaga a Deus. Ele deve protegê-los, afinal, tudo fazem em seu nome e para sua glória. O narrador da epopeia concorda com ele. Chegados a Calecute, ele reafirma a finalidade da expedição portuguesa:

[...] semear de Cristo a lei e dar novo costume e novo rei (CAMÕES, 1982, p. 259).

Fez-lhe um aceno o Ser onipotente foi continua planície azul estrada nem mais o vento ao ressonante pego ousou turbar o natural sossego (MACEDO, 1814, Vol. II, p. 88).

Passados vinte e dois dias desde a saída de Melinde, a armada aproxima-se da Índia. É noite tranquila. Os nautas vigiam. Repousa o Gama. De repente, uma chama surge no firmamento. Do centro dessa luz divinal, surge Henrique diante do Gama, com quem fala. Informa-o da chegada ao destino: seu busto fora alçado ao templo da Fama. Em O Oriente, a chegada dos portugueses é celebrada pelo Céu. Desse modo, assegura-se a origem cristã da empresa e a fidelidade do Lusitano ao único objetivo dela: a difusão do cristianismo no Oriente.

4. 8.1 Na Índia: chegada e partida

Em Os Lusíadas, a chegada da armada a Calecute ocorre sem percalços e sem manifestação divina. Chegados à terra, o Capitão envia um português ao rei, a fim de anunciar a presença da armada. À praia, os nativos vêm, a fim de observar o estranho que chega. Dentre os nativos, há um, o mouro Monçaide, conhecedor de Castela e da língua hispânica. Ele é quem recepciona e leva o português ao Catual.

Em Os Lusíadas, o Capitão, após sua conversa com o Catual, é interceptado e detido pelos Naires corruptos que planejam sua morte. O Capitão negocia os termos de sua libertação: sua vida em troca de mercadoria. Os Naires corruptos aceitam. Vasco da Gama retorna à armada e envia dois portugueses com o resgate. Os Naires sequestram-nos. Em retaliação, o Capitão intercepta duas embarcações locais e faz reféns, que troca pelos portugueses. Após isso, a armada dirige-se a Lisboa.

A chegada do Gama à terra, relatada no nono canto de O Oriente, vem acompanhada de uma significativa manifestação de Deus. Quando seus pés tocam a areia da praia, Ele envia um sinal de aprovação: a terra balança, o mar encrespa-se sem vento e o céu enche-se de nuvens. Está determinada a queda da idolatria asiática.

A partida da armada portuguesa, em O Oriente, é precedida por um violento conflito. Uma armada dos mouros navega em direção ao porto indiano. Por meio da força dessa armada, o rei local planeja arruiná-los. Os Lusitanos aprontam-se para o conflito, encabeçados pelo

destemido Gama, que discursa e eleva o ânimo dos guerreiros. O embate corpo a corpo é violento. Os portugueses vencem e incendeiam as naus inimigas.