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Parte I Enquadramento teórico

3. A Biblioteca Escolar 2.0

3.1. Definição de conceitos

A “revolução Web 2.0” apresentada no capítulo anterior teve também consequências no mundo bibliotecário. Foi em 2005 que começaram a surgir estudos sobre a utilização de ferramentas Web 2.0 em bibliotecas o que veio a dar origem ao conceito: “Biblioteca 2.0”.

O termo “Biblioteca 2.0” foi concebido por Michael Casey, em 2005, tendo-o este apresentado no seu Blogue “Libray Crunch”, querendo com ele designar o tipo de biblioteca resultante da aplicação dos princípios da Web 2.0 à biblioteconomia. Casey refere no Blogue citado: “The introduction of these services [e-mail, IM, blogs, chat, Wikis, etc] into public libraries has not been an easy one” e, mais à frente, “moving to Library 2.0 will require a rethinking of many models with which we have grown confortable […] Beyond Websites, beyond even the world of technology, the concept of Library 2.0 embraces something not yet discussed here at Librarycrunch” (Casey M. , 2005). Concluindo, Casey afirma que: “So Library 2.0 is a disruptive idea that is established. Feel free to e-mail me your thoughts”.

Dir-se-ia que a comunidade ligada à biblioteconomia aceitou o repto lançado por Casey pois vieram a existir múltiplas tentativas de definição do conceito Biblioteca 2.0. Ainda em 2005, alguns autores, como Chad e Miller colocam o enfoque no uso das tecnologias próprias da Web 2.0 ao referirem:

Library 2.0 is available at the point of need, visible on a wide range of devices, and integrated with services from beyond the library such as portals, Virtual Learning Environments and e-Commerce applications.

With Library 2.0, libraries move beyond the notion of ‘libraries without walls’, in which they offeded a destination web sítio that attempted to reproduce the total library experience on-line. (Chad e Miller, 2005, p. 9)

Miller, noutro artigo publicado ainda em 2005, mantém-se fiel a esta lógica referindo que:

Leveraging the approaches typified by Web 2.0's principles and technology offers libraries many opportunities to serve their existing audiences better, and to reach out beyond the walls and Websites of the institution to reach potential beneficiaries where they happen to be, and in association with the task that they happen to be undertaking. (Miller, 2005)

Habib, em 2006, arrisca a seguinte definição: “Library 2.0 describes a subset of library services designed to meet user needs caused by the direct and peripheral effects of Web 2.0” (p. 9). O mesmo Casey e Savastinuk, em 2006, colocam o acento tónico da temática da biblioteca 2.0 no utilizador ao referirem:

The heart of Library 2.0 is user-centered change. It is a model for library service that encourages constant and purposeful change, inviting user participation in the creation of both the physical and the virtual services they want, supported by consistently evaluating services. It also attempts to reach new users and better serve current ones through improved customer-driven offerings.

A partir deste debate, Crawford, em 2006, faz uma excelente síntese da disparidade entre as várias definições, apresentando “sixty two views and seven definitions” (Crawford, 2006, pp. 4-5) para a tentativa de definição do termo Biblioteca 2.0. No entanto, Margaix Arnal, em 2007 (p. 102), procura fazer o caminho inverso e, a partir das várias definições, tenta extrair certas características que se possam considerar comuns, a saber:

– La biblioteca 2.0 deriva de la web 2.0.

– La tecnología es importante, pero no lo es todo.

– El usuario ha de tener un nuevo papel en la elaboración y gestión de los contenidos, se han de crearespacios para su participación.

– Biblioteca 2.0 hace referencia a los servicios y a las colecciones.

– Biblioteca 2.0 está en relación con el entorno virtual, pero también con el físico.

Este autor, nesse mesmo artigo e numa linha próxima de Habib, define a biblioteca 2.0 como: “la aplicación de las tecnologías y la filosofía de la web 2.0 a las colecciones y los servicios bibliotecarios, tanto en un entorno virtual como real” (Arnal, 2007, p.102).

Figura 8- Elementos básicos da Biblioteca 2.0 Fonte (Margaix Arnal, 2007)

Outra citação muito usada quando se procura uma definição de Biblioteca 2.0, é a de Sarah Houghton, citada por Álvaro Cabezas:

La Biblioteca 2.0 consiste simplemente en hacer el espacio de tu biblioteca (ya sea el físico o el virtual) más interativo, más colaborativo y guiado por las

necesidades de la comunidad. [...] El objetivo básico es devolver la gente a las

bibliotecas dandoles a éstos lo que quieren y lo que necesitan para su vida diaria. (Cabezas, 2006)

Também Maness em 2007, na tentativa de resolver algumas controvérsias, sugere uma definição em que apontou quatro características que podem definir o conceito, acentuando a aplicação de tecnologias interativas, participativas e multimédia aos serviços e coleções baseadas na Web 2.0 :

É centrada no usuário. Usuários participam na criação de conteúdos e serviços

que eles veem na presença da biblioteca na web, OPAC, etc. O consumo e a criação do conteúdo é dinâmica, e por isso as funções do bibliotecário e do usuário nem sempre são claras.

Oferece uma experiência multimídia. Ambos, coleções e serviços de Biblioteca

2.0, contêm componentes de áudio e vídeo. Embora isso nem sempre seja citado como uma função de Biblioteca 2.0, é aqui sugerido que deveria ser.

É socialmente rica. A presença da biblioteca na web inclui a presença dos

usuários. Há tanto formas síncronas (e.g. MI) e assíncrona (e.g. Wikis) para os usuários se comunicarem entre si e com os bibliotecários.

É comunitariamente inovadora. Este é talvez o aspeto mais importante e

singular da Biblioteca 2.0. Baseia-se no fundamento das bibliotecas como serviço comunitário, mas entende que as comunidades mudam, e as bibliotecas não devem apenas mudar com elas, elas devem permitir que os usuários mudem a biblioteca. Ela busca continuamente mudar seus serviços, achar novas formas de permitir que as comunidades, não somente indivíduos, busquem, achem e utilizem informação. (Maness, 2007, p.46)

Desta definição salienta-se o conceito da Biblioteca 2.0 como sendo uma comunidade virtual, socialmente rica, centrada no utilizador onde o bibliotecário não é necessariamente o primeiro responsável pela criação do conteúdo, sendo que os utilizadores interagem entre si e com o bibliotecário. Atribui-se o papel principal na Biblioteca 2.0 ao utilizador, situação que até poderia ocorrer no modelo tradicional, mas a originalidade está em que agora este é chamado a participar e não só a receber ou a dizer o que necessita existindo agora uma maior comunicação bidirecional. Neste contexto, o papel informacional da biblioteca não se reduz unicamente em disponibilizar o seu acervo, mas sim em permitir que todos participem na construção de conteúdos que todos irão utilizar. Por fim, o último dos aspetos a merecer destaque na definição de Maness é o de apresentar a Biblioteca 2.0 como sendo comunitariamente inovadora. Partindo do conceito da biblioteca como um serviço comunitário, entende-se que as comunidades mudam e a biblioteca, além de mudar com elas, deve permitir que os seus utilizadores a mudem. Os serviços estariam, deste modo, em constante evolução.

Por apresentar uma definição que fornece uma base clara para estudos e teorizações posteriores, facilitando a utilização do termo de forma mais inequívoca será esta a definição que tomaremos como nossa e que será escolhida para servir de base a este trabalho.