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Parte I Enquadramento teórico

2. O paradigma da participação e as redes

2.1 A Internet uma nova forma de comunicação

Conforme referimos no capítulo I, a sociedade atual organizou-se em função da informação e da comunicação sendo que esta é essencial para a comunidade humana. É através dela que as crianças aprendem a forma de organizar o pensamento, que acedem a níveis de desenvolvimento mais elevados e recebem a cultura da sociedade em que se vão inserindo à medida que vão crescendo. De acordo com Sousa “quer a comunidade, quer a sociedade só se formam e subsistem porque existe comunicação” (2006, p. 60) sendo que, de acordo com o mesmo autor, “ao homem é impossível não comunicar” (p. 21).

As duas últimas décadas foram férteis num rápido desenvolvimento das tecnologias. Em Agosto de 1991, Tim Berners-Lee publica o primeiro Website que, apesar de se limitar a uma simples página de texto, marcou o nascimento da Internet tal como a temos agora10. O ano de 1995 marca a generalização da Internet, assegurada pela Microsoft através da disponibilização do software Windows 95, levando a uma evolução rápida dos serviços prestados na rede. Rapidamente tudo se pode encontrar nesta “teia” planetária.

A Internet pode ser concebida como um conjunto de princípios e práticas que interligam uma rede de sítios e serviços que disponibilizam conteúdo on‐line, abarcando

diversos programas e funcionalidades tais como o FTP que possibilita a transferência de ficheiros, o WWW que permite a ligação entre documentos através do hipertexto, a troca de mensagens, … facilitando assim uma interação social, cultural, comunicativa, técnica e económica (e-commerce). Este meio está a transformar a comunicação na medida em que há a possibilidade de combinar texto, símbolos, imagem, som e voz permitindo assim uma democratização na forma de comunicar. Esta poder-se-á fazer

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nestes ambientes com menos constrangimentos evitando a timidez, inibição ou até alguma limitação.

De acordo com Castells, “como a atividade humana está baseada na comunicação”, a “Internet transforma o modo como comunicamos, as nossas vidas vêm-se profundamente afetadas por esta nova tecnologia de comunicação” (2007, p. 19). O facto de cada um de nós estar permanentemente em contato com notícias e informações de todo o planeta, recebendo influências na forma como agimos e pensamos, obriga-nos a ter uma atitude diferente perante o mundo pois tendo acesso a uma visão mais alargada e multifacetada das questões, a nossa forma de pensar devido ao facto de cada um de nós deixar de estar confinado a uma única região, cidade ou país deixou de ser mais ou menos padronizada.

Deste modo, as transformações provocadas pelo surgimento da Internet muito ajudaram a modificar a forma como o ser humano se vê a si próprio, aos outros e ao mundo. A Internet é assim, hoje em dia, um local onde os indivíduos comunicam e se socializam quer seja através do e-mail, de fóruns de discussão, de mensagens instantâneas que permitem a comunicação em tempo real, das redes sociais ou dos Blogues,… Ainda segundo Castells:

A Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos para muitos em tempo escolhido e a uma escala global. Do mesmo modo que a difusão da imprensa no ocidente deu lugar ao que McLuhan denominou de “Galáxia Gutenberg”, entramos agora num mundo novo da comunicação: A Galáxia Internet. (2007, p. 16)

O surgimento da Internet permitiu enfim a criação de um espaço público diferente localizado na rede: O ciberespaço, sendo que este é para o autor: “é um local virtual sem fronteiras, sem espaço físico real, desterritorializado onde várias culturas se cruzam, contudo, permite conceber espaços abstratos e simbólicos num local virtual, mas ativo, vivo e construído pela humanidade” (Castells, 2005, p. 145) O espaço físico, ou seja a cidade ou o país, deixa de ser o local de referência, pois as trocas e interações ultrapassam as fronteiras de cada país e abrangem a escala planetária. Na visão de Levy: Em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e de signos, será o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade. Com esse novo suporte de informação e de comunicação emergem gêneros de conhecimentos inusitados, critérios de avaliação inéditos para

orientar o saber, novos atores na produção e tratamento dos conhecimentos. Qualquer política de educação terá que levar isso em conta. (Lévy, 1999, p. 167) O surgimento da Internet fez ainda nascer uma nova geração de jovens à qual, associada ao trabalho de Tapscott, foi dada o nome de “Geração Net” ou associada ao trabalho de Prensky11 lhe foi dado o nome de “Nativos Digitais” por esta geração apresentar algumas caraterísticas muito particulares. Nas palavras de Prensky:

Today’s students […] represent the first generations to grow up with this new technology. They have spent their entire lives surrounded by and using computers, videogames, digital music players, video cams, cell phones, and all the other toys and tools of the digital age. Today’s average college grads have spent less than 5,000 hours of their lives reading, but over 10,000 hours playing video games (not to mention 20,000 hours watching TV). (2001, 1)

Frand (2000) sistematiza as caraterísticas desta geração em dez atributos:

- Computers aren’t technology – Para esta nova geração estes equipamentos são-lhes familiares e já fazem parte do quotidiano deles “Technology, then, to the Information-age generation, is everything that surrounds computers and is made possible by computers but only incidentally the computers themselves” (Frand, 2000)

- Internet better than TV – Em 1998, pela primeira vez desde que a TV foi inventada o número de horas que os jovens passam a ver TV diminuiu, sendo que estas horas passaram a ser dedicadas ao computador. A Internet passou a ser usada como fonte primária (mas não única) de informação.

- Reality no longer real – O autor propõe que se atualize o antigo ditado “não

acredites em nada do que ouves e em metade do que vês” para uma nova forma: “não acreditem em nada do que ouves e vês” dado termos entrado numa época em que a fotografia e o cinema podem ser manipulados digitalmente e tudo “may be as real as the real experience” (Frand, 2000) até o conteúdo de um e-mail.

- Doing rather than knowing – Hoje em dia as pessoas, os bens e a informação movem-se facilmente para todas as partes do globo. Neste ambiente, a ideia da era industrial do conhecimento como um produto deve ser reexaminado dado que a meia-

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“What should we call these “new” students of today? Some refer to them as the N-[for Net]-gen or D- [for digital]-gen. But the most useful designation I have found for them is Digital Natives. Our students today are all “native speakers” of the digital language of computers, video games and the Internet. “

vida da informação já não é medida em décadas ou séculos mas em meses ou anos. Nesta perspetiva aquilo que uma pessoa é capaz de fazer é mais importante que o seu grau académico.

- Nintendo over logic – Para aqueles que nasceram na era industrial aprender

através da tentativa e erro consumia muito tempo e dinheiro e não era suposto que se tentasse algo antes de se medir muito bem as consequências. No entanto o autor serve- se dos jogos da Nintendo para provar que a melhor forma de ganhar um jogo é usar uma constante estratégia de tentativa e erro a fim de descobrir a solução das “portas fechadas” nos jogos de labirinto. Não fazem falta as instruções e os manuais não são lidos. Apesar de ser necessário um equilíbrio entre a didática e a descoberta: “Trial-and- error learning may provide a more thorough understanding of a number of concepts and their implications” (Frand, 2000)

- Multitasking way of life – Grande parte dos jovens de hoje são capazes de ver

televisão, falar ao telefone, fazer os trabalhos de casa, comer, interagir com os seus pais fazendo tudo isto ao mesmo tempo e sem se concentrar numa tarefa de cada vez.

- Typing rather than handwriting – As novas gerações já passaram milhares de horas ao teclado sendo que a escrita a computador é mais fácil de ser lida, mesmo semanas após ter sido escrita, pode ser usado o corretor ortográfico, procuradas palavras-chave, recuperada, manipulada e reutilizada.

- Staying connected – A ideia de não estar disponível em qualquer lado e em qualquer altura, até no meio de uma sala de aula, é impensável para qualquer jovem sendo que, de acordo com a lei de Metcalfe, que teremos oportunidade de aprofundar em capítulo posterior, quanto maior for o número de pessoas envolvidas, mais valor tem a rede sendo que os beepers e os telemóveis aumentam mais e mais o valor da rede.

- Zero tolerance for delays – Na era da informação, os estudantes esperam serviços 24x7 sendo que somos todos veneráveis a este desejo de imediatismo. Estamos sempre disponíveis para responder a um e-mail ou telefonema, nem que seja às três horas da manhã e já pedimos desculpa por não ter respondido de imediato a um e-mail.

- Consumer/creator blurring – Nestes tempos não há distinção entre o detentor e o utilizador da informação. Os protocolos Web são tais que se alguém, a partir de uma