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Parte I Enquadramento teórico

1. A Biblioteca Escolar e os desafios da Sociedade da Informação

1.3. Da literacia às literacias múltiplas

Se tempos mais ou menos próximos, o acesso à informação era muito limitado e o saber permanecia imutável durante décadas tornando possível a existência de manuais escolares que passavam de pais para filhos o que levava a uma hipervalorização da memória de modo a que ficasse registado tudo o que o professor tinha para ensinar, hoje em dia com o acesso cada vez mais fácil e generalizado à informação através da Internet e com o apetrechamento tecnológico das Escolas que facilitou um acesso quase imediato às redes e repositórios/bases de dados de informação este cenário alterou-se de uma forma radical

Se bem que na sociedade atual a memorização continue a fazer sentido para a aprendizagem de literacias básicas como sejam o saber ler, escrever e contar, a hipervalorização da memorização já não será tão importante quando nos referimos à aprendizagem ao longo da vida ou ao discernir a relevância e utilidade da informação a que se acede.

A discussão sobre a literacia ou literacias é relativamente recentemente em Portugal. No entanto, esta é uma temática que já é discutida desde a década de 70 do século passado em países como o Reino Unido, Alemanha ou ainda na Escandinávia, sendo que o conceito literacia da informação tem sofrido alguma evolução a nível conceptual. Saindo fora do âmbito deste trabalho fazer todo o historial da evolução do conceito parece-nos no entanto importante procurar uma definição de literacia da informação. Da nossa parte, por ser mais recente e por ser uma definição da IFLA, optamos por assumir como nossa aquela que entendemos que melhor se aproxima a toda a problemática associada à informação no fim da primeira década do século XXI.

In summary, information literacy is assumed to be the knowledge and skills necessary to correctly identify information needed to perform a specific task or solve a problem, cost-efficiently search for information, organize or reorganize it, interpret and analyze it once it is found and retrieved (e.g. downloaded), evaluate the accuracy and reliability of the information, including ethically acknowledging the sources from whence it was obtained, communicate and

present the results of analyzing and interpreting it to others if necessary, and then utilize it for achieving actions and results. (IFLA, 2006, p. 17)

Constata-se deste modo que atualmente o conceito de literacia corresponde não apenas a saber ler, escrever e contar mas a um conjunto de competências que é necessário desenvolver nos alunos que os tornarão aptos a se poderem inserir nos ambientes ricos em informação com os quais irão lidar e que lhes permitirão localizar, aceder, recuperar, avaliar, interpretar a informação com que irão interagir. A Unesco, no documento “Understanding information Literacy: a Primer”, chama a estas novas literacias: “literacias de sobrevivências” definindo-as como sendo:

The family of 21st Century “survival literacies” includes six categories: (1) the Basic or Core functional literacy fluencies (competencies) of reading, writing, oralcy and numeracy; (2) Computer Literacy; (3) Media Literacy; (4) Distance Education and E-Learning; (5) Cultural Literacy; and (6) Information Literacy. The boundaries between the various members of this family overlap, but they should be seen as a closely-knit family. (Unesco, 2007, p. 3).

Também a recomendação n.º6/2011 do Conselho Nacional de Educação no seu anexo 3, refere que:

Ser cidadão neste novo quadro supõe e requer uma literacia para os média que diga respeito a todas as idades, em todos os contextos, e articula-se com a necessidade de aquisição de outras literacias que o mundo globalizado e complexo cada vez mais exige. Os códigos e linguagens característicos do mundo emergente apelam a um conceito de literacia que tenha por base não apenas a leitura, a escrita e o cálculo, mas também as imagens, os sons, a informação e as redes e, mais amplamente, as formas de comunicação digital e interativa. (p. 50946)

O mesmo Conselho Nacional de Educação, no Parecer n.º2/2012 sobre Proposta de Revisão da Estrutura Curricular para o Ensino Básico e Secundário, refere que: “o ensino básico, além de fornecer informação, deverá preparar os alunos para saberem procurar essa informação, saberem tratá-la, criticá-la, integrá-la, transformá-la, agirem em função dela” (p. 8443).

No nosso entender parece que na sociedade atual se concretizou a previsão de Alvin Tofler, que citamos de forma livre a partir das ideias expressas na sua obra de 1980 “a 3ª Vaga”, de que os iletrados do séc. XXI não seriam aqueles que não sabem ler nem escrever, mas sim aqueles que não sabem aprender, desaprender e voltar a aprender.

Na procura de uma caraterização mais formal do que seria uma pessoa literata, Doyle refere que esta seria aquela que:

 recognizes the need for information

 recognizes that accurate and complete information is the basis for intelligent decision making

 formulates questions based on information needs  identifies potential sources of information  develops successful search strategies

 accesses sources of information including computer-based and other technologies

 evaluates information

 organizes information for practical application

 integrates new information into an existing body of knowledge

 uses information in critical thinking and problem solving” (1992, p. 4) De acordo com a American Library Association

Information literate people are those who have learned how to learn. They know how to learn because they know how knowledge is organized, how to find information and how to use information in such a way that others can learn from them. They are people prepared for lifelong learning, because they can always find the information needed for any task or decision at hand.” (ALA, 1989)

Ou ainda, segundo a IFLA, pessoa literata em informação seria aquela que a

sabe aceder, avaliar e usar de acordo com o esquema muito simples mostrado na figura seguinte:

Figura 1 - Padrões de referência em literacia da informação. Fonte (IFLA, 2006, p.17)

Por último e apresentando algumas caraterísticas não apenas ligadas ao domínio da informação, Anstey e Bull (2006) definem como pessoa literata aquela que:

Is flexible - is positive and strategically responsive to changing literacies;

Is able to sustain mastery - knows enough to be able to reformulate current knowledge or access and learn new literate practices;

Has a repertoire of practices - has a range of knowledge, skills, and strategies to use when appropriate;

Is able to use traditional texts - uses print and paper, and face-to-face oral encounters; and

is able to use new communications technologies - uses digital and electronic texts that have multiple modes (e.g., spoken and written), often simultaneously. (p. 19)

Deste modo e em conclusão, parece-nos claro que o grande desafio que a Escola de hoje enfrenta é a de ensinar os alunos a dominar as diferentes literacias de modo a aprender a viver num mundo rico em informação e onde as tecnologias superabundam.

O relatório Lançar a Rede de Bibliotecas Escolares, de 1996, e que serviu de base à criação da Rede de Bibliotecas Escolares apresenta, neste domínio, uma rara atualidade por, já nessa altura, referir a importância da informação como elemento central do Currículo escolar, preconizando o desenvolvimento de competências de informação em todos os alunos:

Toda a atividade curricular consiste num processo de seleção, tratamento, produção e difusão da informação tendo como principal finalidade a aquisição de um "saber escolar". (…)

A necessidade de desenvolver em todos os alunos competências neste domínio constitui o objetivo primeiro da aprendizagem, qualquer que seja a disciplina ou ano de estudo, exige uma organização, métodos e recursos adequados e assenta sobretudo na criação de situações que promovam o prazer de ler, de escrever e de investigar. (Veiga et al, 1996, p. 29)

Como uma boa síntese, revemo-nos na formulação muito simples e incisiva de Mark Prensky (2009), referente às competências consideradas essenciais para o século XXI:

In order to do that, no matter what the future brings, individuals must master the following skills:

1. Knowing the right thing to do 2. Getting it done

3. Doing it with others 4. Doing it creatively 5. Constantly doing it better