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Definição de critérios e as formas de utilização dos recursos financeiros

5. Análise e discussão dos dados

5.3. Definição de critérios e as formas de utilização dos recursos financeiros

Poderemos agora discutir de forma mais detalhada os critérios utilizados para o planejamento na utilização dos recursos e as formas com que eles efetivamente são utilizados em ambos os serviços, o CAPS II – Oeste em natal com gerência pública e o CAPS II – PAR

em Parnamirim com gerência privada. Para isto serão utilizados principalmente além dos relatos das entrevistas com coordenadores e técnicos dos serviços, os documentos adquiridos através da pesquisa documental realizada no início de 2012 na Secretaria Municipal de Saúde de Natal e na própria sede do serviço em Parnamirim, documentos estes cedidos neste caso pela administração financeira do CAPS II – PAR.

Primeiramente dentro do CAPS II – PAR, o qual seria gerido em regime de OSS por uma organização não-governamental, encontra-se uma realidade de maior autonomia na utilização dos recursos, em que os profissionais, familiares e usuários conseguem ter acesso tanto às informações dos gastos realizados bem como dos recursos que são disponíveis em caixa. Com isso é gerada a possibilidade de um planejamento das ações e do que seria necessário ao serviço tanto em termos materiais, de insumos e equipamentos com base no orçamento disponível, este podendo ser manejado de acordo com as necessidades.

Tais características geram uma facilidade no que diz respeito ao planejamento, além da possibilidade de poder organizar melhor as ações dentro das possibilidades, também é possível se investir os recursos no que é mais necessário dentro do serviço, sejam desde algo de ordem material, até mesmo a contratação de novos funcionários e técnicos. Tal autonomia torna-se favorável diante das possibilidades de sustentabilidade de um nível de qualidade nos cuidados em saúde mental.

Na Figura 3, podemos visualizar as informações para ilustração do que foi colocado acerca dos dados relativos aos investimentos dos recursos recebidos pelo serviço CAPS II – PAR, o qual é gerenciado por regime privado.

Tabela 2

Faturamento do CAPS (2011) – Demonstrativo do uso do faturamento mensal do CAPS – PAR

Uso do faturamento

(com um valor médio mensal de R$ 30.000,00) 2011 %

Pessoal 19.000,00 63,33

Impostos 5.530,00 18,43

Alimentação + gás 3.000,00 10,00

M. Limpeza + mat. expediente 300,00 1,00

Transporte 250,00 0,83 Fone 0,00 0,00 Energia 0,00 0,00 Agua 0,00 0,00 Material de manutenção 500,00 1,66 Equipamentos 0,00 0,00 Fundo de reserva 2.650,00 8,83 Outros 0,00 0,00 Total 31.230,00 104,08

Através da Tabela 2, é possível visualizar a porcentagem dos gastos direcionados para as despesas mensais do serviço sobre o total recebido através dos recursos financeiros repassados. Como o CAPS é um serviço substitutivo, o qual em seu corpo técnico necessita de variados profissionais com nível superior e técnico de qualificação, acaba por elevar a folha de pagamento pessoal (recursos humanos) ao patamar da maior despesa em que é investido os recursos financeiros disponíveis, chegando ao gasto de mais da metade da receita. Em segundo ficariam os impostos, os quais o serviço é tributado e que tem de repassar às instâncias competentes, vindo após os gastos para custeio e manutenção da sede e dos serviços necessários para os andamentos das atividades e infraestrutura.

Já no serviço CAPS II – Oeste, o qual é de gerência pública e subordinado à Secretaria Municipal de Saúde do município de Natal, há uma característica que parece semelhante aos

serviços que possuem a gerência pública e são administrados pelos municípios a partir de suas instâncias responsáveis. Tal característica resguarda a falta de organização e autonomia no planejamento das ações e na descrição e transparência dos recursos gastos por cada serviço de saúde.

Não há o manejo do serviço dos gastos que são possíveis de serem realizados com os recursos financeiros que são repassados, estes sendo requisitados para a Secretaria Municipal através de trâmites burocráticos (ofícios, memorandos, etc.), em que a compra fica sob a responsabilidade da instância do poder executivo, recebendo o serviço somente os materiais requisitados.

Com isso, os profissionais, familiares, usuários e até a Coordenação de Saúde Mental não tem acesso aos recursos financeiros destinados aos serviços, não sabendo a disponibilidade de tais recursos em caixa e nem mesmo podendo planejar as ações do serviço com base nas possibilidades do quanto poderiam investir em tal planejamento. Todo o gasto dos recursos era realizado pela Secretaria Municipal de Saúde, isso porque estamos falando da gestão política que durou até o fim de 2012, já que a pesquisa foi realizada no início deste ano.

Todo o recurso financiado e recebido dentro do bloco de financiamento da média e alta complexidade para os serviços, bem como do bloco de gestão, sob a gestão municipal era utilizado em sua totalidade para compra de materiais e gastos de custeio de todos os serviços componentes do bloco, os quais não recebiam nem os recursos, nem tão pouco os materiais de forma singularizada, de acordo com a necessidade de cada serviço.

O curioso é que, na data de realização desta pesquisa no primeiro trimestre de 2012 já havia uma tabela com a descrição de todos os gastos que iriam ser realizados com os recursos disponíveis para o bloco de média e alta complexidade. A questão que logo emerge de tal procedimento é: como se pode estar organizado todos os gastos com materiais, insumos e

eventos de todos os serviços que compõem o bloco de média e alta complexidade (incluindo aqui o CAPS II – Oeste), se nem mesmo havia sido planejada as ações dos mesmos para aquele ano? Se não havia um planejamento do que o serviço CAPS II – Oeste realizaria para todo o ano, onde os integrantes deste nem poderiam fazê-lo com base nos recursos disponíveis, apenas no que poderiam realizar com base em suas capacidades técnicas e de cuidado, como já poderia estar estabelecido com o que e aonde iam ser gastos os recursos financeiros repassados à gestão pública municipal?

Isso leva a uma conclusão de que, na verdade o que parece acontecer é a falta de organização em termos de gestão destes recursos, os quais acabam por serem centralizados, bem como gastos de forma inadequada e sem nenhuma preocupação com a transparência de como são realizados tais gastos. Para ilustração de tudo isto que está sendo colocado, disponibilizamos de tabelas com as descrições desses gastos, as quais foram adquiridas através de pesquisa documental junto à Secretaria Municipal de Saúde de Natal.

A Tabela 3 descreve os materiais, insumos, eventos e outros tipos de gastos, além dos custos em que os mesmo representam tudo em termos do total disponibilizado no bloco de financiamento de média e alta complexidade.

Tabela 3

Gastos da Coordenação de Saúde Mental de Natal (2012)

MEMÓRIA DE CÁLCULO DESPESA 2012

MEMÓRIA DE CÁLCULO 2012 – COORDENAÇÃO DE SAÚDE MENTAL DE NATAL DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA (DAE)

COORDENAÇÃO DE SAÚDE MENTAL

PROJETO/ATIVIDADE: 10.301.015.2-433 – Desenvolvimento de Ações Estratégicas para o Sistema Municipal de Saúde

ELEM/ SUB

ELEM DESPESA HISTÓRICO/DETALHAMENTO/MEMÓRIA DE CÁLCULO VALOR

DISTRIBUIÇÃO DA DESPESA POR FONTE DE PAGAMENTO EM 2008

111 126 181 183 TOTAL

31.90.11./99 Vencimento e Vantagens Fixas R$ 808.000,00 R$ 808.000,00 R$ 808.000,00

33.90.14/99 Diárias R$ 40.000,00 R$ 40.000,00 R$ 40.000,00

33.90.30 /04 Material Educativo e Esportivo R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 R$ 20.000,00

33.90.30 /05 Material para Festividades e Homenagens R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 R$ 20.000,00

33.90.30 /06 Material de Expediente R$ 45.000,00 R$ 45.000,00 R$ 45.000,00

33.90.30 /07 Material de Proc. De Dados R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 R$ 5.000,00

33.90.30 /09 Material de Copa e Cozinha R$ 70.000,00 R$ 70.000,00 R$ 70.000,00

33.90.30 /10 Material de Limpeza e Produtos de Higiene R$ 34.000,00 R$ 34.000,00 R$ 34.000,00 33.90.30 /13 Material para Manutenção de Bens Móveis R$ 15.000,00 R$ 15.000,00 R$ 15.000,00

33.90.30 /99 Outros Materiais de Consumo R$ 75.000,00 R$ 75.000,00 R$ 75.000,00

33.90.33 /99 Passagens e Despesas com Locomoção R$ 70.000,00 R$ 70.000,00 R$ 70.000,00

33.90.35/99 Serviços de Consultoria R$ 80.000,00 R$ 80.000,00 R$ 80.000,00

33.90.36/03 Serviços Temporários R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 R$ 20.000,00

33.90.36/04 Locação de Imóveis R$ 225.000,00 R$ 250.000,0

0 R$ 250.000,00

33.90.36/07 Fornecimento de alimentação R$ 45.000,00 R$ 45.000,00 R$ 45.000,00

33.90.36/xx Diárias a Colaboradores Eventuais R$ 30.000,00 R$ 30.000,00 R$ 30.000,00

33.90.36/99 Outros Serviços de Pessoa Física R$ 40.000,00 R$ 40.000,00 R$ 40.000,00

33.90.39/03 Locação de Veículos R$ 12.000,00 R$ 12.000,00 R$ 12.000,00

33.90.39/09 Manutenção e Conserto de Veículos R$ 3.000,00 R$ 3.000,00 R$ 3.000,00

33.90.39/10 Festividade e Homenagens R$ 25.000,00 R$ 25.000,00 R$ 25.000,00

33.90.39/20 Serviços Gráficos R$ 10.000,00 R$ 10.000,00 R$ 10.000,00

33.90.39/24 Limpeza e Conservação R$ 27.000,00 R$ 27.000,00 R$ 27.000,00

33.90.39/26 Serviços de Cópia e Reprodução R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 R$ 5.000,00

33.90.39/27 Vale Refeição R$ 15.000,00 R$ 15.000,00 R$ 15.000,00

33.90.39/57 Hospedagens R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 R$ 20.000,00

33.90.39/99 Outros serviços de 3ºs. Pes. Jurídica R$ 50.000,00 R$ 50.000,00 R$ 50.000,00

44.90.51/99 Outros (reformas) R$ 70.000,00 R$ 70.000,00 R$ 70.000,00

44.90.52/02 Aparelhos, Equip.,Utens., Médico-Hospitalar R$ 15.000,00 R$ 15.000,00 R$ 15.000,00

44.90.52 Apar. e Utens. Doméstico R$ 60.000,00 R$ 60.000,00 R$ 60.000,00

44.90.52/08 Máquinas e Equipamentos de Natureza

Industrial R$ 30.000,00 R$ 30.000,00 R$ 30.000,00

44.90.52/09 Equip. para Áudio, Vídeo e Foto R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 R$ 20.000,00

44.90.52/10 Máq. Utens. e Equip. Diversos R$ 30.000,00 R$ 30.000,00 R$ 30.000,00

44.90.52/12 Mobiliário Geral R$ 110.000,00 R$ 110.000,00 R$ 110.000,00

44.90.52/14 Veículos Diversos R$ 55.000,00 R$ 55.000,00 R$ 55.000,00

44.90.52/99 Outros Materiais Permanentes R$ 170.000,00 R$ 170.000,00 R$ 170.000,00

TOTAL R$ 2.454.000,00 R$2.454.000,0

0

R$2.454.000,0 0 Departamento: DAE/Saúde Mental

Responsável pelo preenchimento: Carlos Henrique M. M. de Noronha Data: 03/9/2010

Bloco de financiamento da despesa:

( ) Atenção Básica ( x ) Média e alta complexidade ( ) Vigilância à saúde ( ) Assistência farmacêutica ( x ) Gestão em saúde Receita total (teto) para atividade/projeto: 2.454.000,00

Observação: do montante total de recursos, R$ 2.304.000,00 são do bloco média e alta complexidade e R$ 150.000,00 são do bloco Gestão em Saúde.

Torna-se possível agora, através da visualização da Tabela 3, ter-se a noção de como é realizada a distribuição dos gastos, os quais não apresentam diferenciações dentre os variados serviços que compõem a rede de média e alta complexidade. É possível agora imaginar as distinções que seriam tão necessárias para o planejamento de ações, para a compra de materiais e dos insumos que são necessários para organização e sustentabilidade com qualidade de serviços como os que integram a rede de saúde mental, os quais apresentam peculiaridades inerentes aos cuidados que proporcionam, ou deveriam proporcionar.

Torna-se de extrema necessidade ressaltar que, à primeira vista e com olhos desavisados, podemos relacionar isso com o modo de gerência dos serviços, os quais com a gerência em regime de OSS e de forma privada trariam mais eficiência e eficácia nos gastos públicos com os recursos repassados do que os serviços com gerência pública e subordinados à administração pública.

Entretanto, o problema se coloca de forma mais sutil, o qual já foi tocado no bloco de discussão anterior. Devido ao incentivo governamental brasileiro em outras épocas, com maior intensidade nos idos dos aos 1994 até o ano de 2002, mas o qual ainda acontece no decorrer dos anos 2002 até os dias atuais, incentivo este que visava à gerência de serviços públicos por meios privados, gerava uma série de benefícios para as organizações deste meio privado que se colocassem a disposição de se tornar uma Organização Social.

Tais serviços que fossem gerenciados em regime de Organizações Sociais, no caso na área da saúde, Organizações Sociais de Saúde (OSS), tinham benefícios no repasse dos recursos financiados pelo Estado em detrimento dos serviços que eram de administração direta das instâncias públicas ligadas ao poder executivo. Enquanto um serviço de gerência pública responde uma cadeia de comando em uma hierarquização burocrática, com trâmites e transações características do meio público estatal, os serviços gerenciados em regime de OSS possuem total autonomia no manejo destes recursos, já que a gestão pública os repassa

totalmente e fica com a responsabilidade de regulação dos mesmos, realizando auditorias para inspeção dos gastos realizados e relacionados aos repasses.

Com isso os serviços de gerência privada detém uma autonomia que os favorecem, a qual nem sempre é regulada de maneira efetiva pelo Estado, devido à falta de transparência em muitos dos gastos realizados por algumas “empresas” dentro deste regime por OSS. Enquanto estes serviços de gerência privada conseguem ter autonomia e agilidade em seus gastos, os serviços submetidos à gerência pública têm de responder a uma série de trâmites burocráticos que emperram o bom andamento das rotinas de ações e cuidados e ainda suportar a alienação diante da falta de transparência e informação dos recursos financeiros disponibilizados.

5.4. Participação dos atores envolvidos (gestores, técnicos e usuários) e uma nova forma