PARTE I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Capítulo 3: Desempenho Óptimo em Equipa
4.1. Stresse e Coping
4.1.1. Definição de stresse
Os investigadores do stresse no trabalho definem-no tipicamente de três formas: “como estímulo, como uma resposta, ou como uma relação estímulo-resposta” (Jex, Beehr,
& Roberts, 1992, p. 623).
Uma definição de stresse como estímulo refere-se a um stressor no trabalho, ou
qualquer tipo de evento do trabalho que requeira uma resposta adaptativa. O stresse
encarado como uma resposta refere-se à reacção psicológica, psicossociológica ou
comportamental a um stressor. Na abordagem estímulo-resposta são referidas as
interacções entre os estímulos ambientais e as respostas individuais (Jex e col., 1992).
Aparecem-nos assim quase sempre interligados os stressores e o impacto que tem nos
indivíduos e as estratégias que este utiliza perante os stressores com que se depara. Estas
estratégias são chamadas de estratégias de coping, cuja compreensão aprofundaremos
adiante neste trabalho.
4.1.2. Stresse e saúde
Desde o aparecimento do termo stresse na literatura científica (anos 30 do séc. XX)
e ao longo do tempo os resultados empíricos foram sugerindo que o stresse e a saúde
estavam relacionados de forma indissociada, sendo desde aí reconhecida a importância do
stresse na saúde humana, em particular quando ocorre de forma persistente (Lyon, 2000).
O stresse, entendido desta forma negativa (distress), afecta significativamente o bem-estar
dos indivíduos, quer a nível emocional, quer a nível físico, bem assim como as suas
A ciência tem demonstrado consistentemente que a acumulação do stresse no
trabalho, para além de afectar a saúde, também prejudica a motivação e a produtividade
(Dollard & Metzer, 1999; Jacobs, Thytherleigh, Webb, & Cooper, 2007; Vagg, Spielberg,
& Wasala, 2002). Estima-se que 22% dos trabalhadores europeus estejam afectados
negativamente pelo stresse, não só ao nível da motivação mas também relativamente ao
absentismo, acidentes de trabalho, problemas fisiológicos e perturbações psicológicas
(European Agency for Safety and Health at Work, 2009).
Vejamos de forma muito sucinta alguns exemplos do impacto do stresse na saúde.
Israel, Baker, Goldenhar, Heaney e Schurman (1996) e Grunberg, Moore,
Anderson-Connolly e Greenberg (1999) encontram uma elevada associação com o
consumo de álcool e elevados níveis de stresse ocupacional.
Wang e Patten (2001) encontram numa população canadiana associações
significativas entre o stresse ocupacional e a depressão major. Verificaram também que
existem diferenças no género e em fumadores e não fumadores quando se faz esta
associação. Concluem que as mulheres lidam melhor com o stresse provocado por factores
psicológicos, enquanto nos homens é ao nível dos stressores físicos que existe uma melhor
adaptação na associação à depressão major. Postulam que a associação que encontraram
entre o facto de as pessoas fumarem e a depressão, pode radicar no acto de fumar como
uma estratégia para lidar com os stressores.
Também o aumento da pressão do tempo no trabalho pode aumentar os problemas
psicossomáticos dos trabalhadores (Addae & Wang, 2006).
Mas vejamos na Tabela 2 a partir da óptica de Lyon (2000) três modelos de stresse
onde poderemos identificar três perspectivas diferentes sobre este fenómeno, a sua
Tabela 2. Stresse, Coping e influências para a Saúde definidas na Teoria do Stress
Ponto de Vista Cientifico
Conceptualização do Stresse Conceptualização do Coping Resultados para a Saúde
Baseado na resposta (Selye, 1956, 1983)
O stresse é uma resposta a qualquer estímulo nocivo. A resposta fisiológica é sempre a mesma face ao Síndrome de Adaptação Geral (SAG).
Não há nenhuma
conceptualização de coping por si só. Em vez disso Selye utiliza o conceito de “estado de resistência”. O seu propósito é resistir ao dano (conceito que faz parte do SGA).
Parte da premissa que cada pessoa nasceu com uma quantidade finita de energia e que cada encontro stressante gasta energia que não pode ser reposta. Assenta também no princípio que o stresse pode causar mais ou menos danos devido a uma propensão genética individual.
Baseado no estímulo (Holmes & Rahe, 1967)
O termo stresse é sinónimo de acontecimento de vida. Os acontecimentos de vida são “stresse” que requerem esforços de adaptação.
O coping não é definido. Uma constante acumulação de esforços de adaptação torna a pessoa
vulnerável podendo desenvolver patologia física ou mental.
Transac
cional (Lazarus,
1966; Lazarus & Folkman, 1984)
A palavra stresse rubrica para uma série de fenómenos subjectivos e complexos incluindo apreciações cognitivas (ameaça, dano ou desafio), emoções ligadas ao stresse, respostas de coping e reapreciações. O stresse é experienciado quando as exigências da situação cobram ou excedem os recursos da pessoa e é antecipada alguma perda ou dano.
O coping é conceptualizado como os esforços para amenizar a ameaça percebida ou para lidar com as emoções de stresse (coping focado nas emoções e coping focado nos problemas).
Existe uma conceptualização de curto ou longo termo no retorno dos resultados adaptativos para a Saúde.
Os resultados de curto termo incluem funcionamentos sociais que se dão
num encontro específico entre duas pessoas e os afectos positivos e
negativos observados nesse encontro ou logo após o encontro e as exigências da situaçãoOs resultados de longo termo incluem o funcionamento social a moral e a saúde corporal.Ambos os resultados, de curto e longo termo, compreendem componentes psicológicos e físicos.
Como podemos verificar pela análise destas perspectivas, na do stresse baseado na
resposta, este pode ser considerado uma réplica dada a pelo organismo a um estímulo
nocivo no sentido deste poder fazer face a um possível dano provocado por esse estímulo.
O organismo teria um património de energia (finito) para lidar com os possíveis danos, à
medida que fossem surgindo as situações stressantes.
Na análise do modelo de stresse baseado no estímulo é postulado que o stresse está
relacionado com acontecimentos de vida que requerem adaptação e que face a uma
constante tentativa de adaptação pode surgir patologia.
No modelo de stresse transaccional o fenómeno de stresse envia para uma série de
fenómenos subjectivos e complexos. Nestes incluem-se apreciações cognitivas e
emocionais efectuadas pelo sujeito, respostas de coping e reapreciações. A experienciação
do stresse é feita quando as exigências da situação exigem ou excedem os recursos da
pessoa percepcionando alguma perda ou dano. Para Lazarus (2000) as estratégias (de
coping) para lidar com o stresse podem ser focalizadas nas emoções e nos problemas. Se
forem constatados processos adaptativos ao nível destas estratégias de coping, os
resultados para a saúde aos níveis físico, psicológico e social.
Esta abordagem de Lazarus (2000) na compreensão do fenómeno do stresse revela-
se determinante para o estudo que estamos a desenvolver. Nela relacionam-se os aspectos
das condições transaccionais da organização, os climas que podem provocar ou diminuir os
stressores, o trabalho em equipa e a motivação para a realização da tarefa que por si só
pode funcionar como preventora do stressores que provocam distress.
Nesta perspectiva convém compreender um pouco melhor como Lazarus (2000)
entende as reapreciações efectuadas pelos indivíduos ao fenómeno do stresse a que o autor
indivíduo se confronta com uma situação potencialmente stressante. Esta assume aqui
também particular pertinência visto que surge na transacção entre o individuo e os
stressores organizacionais. A appraisal conota-se com uma avaliação do significado que o
indivíduo faz para o seu bem-estar no que ocorre na situação de stresse. Sublinha-se que
esta avaliação da ocorrência, é mais do que um breve registo do que se passa.
Segundo Tomaka, Blascovich, Kelsey e Leitten (1993) a appraisal da situação
depende não só do tipo de tarefa (activa ou passiva), mas também da incerteza envolvida
ou das exigências ambientais. A appraisal que se faz de um determinado fenómeno é
evolutiva ao longo do tempo, logo, não é estática. Assim a reacção a cada situação vai-se
alterando conforme se vai conhecendo o contexto que pode ser encarado como mais ou
menos stressante.
Por exemplo, Rafferty e Griffin (2006) estudaram o impacto do stresse provocado
pela mudança organizacional no bem-estar dos empregados, e o appraisal que fazem da
incerteza associada à mudança e de como por sua vez, esta afecta a satisfação no trabalho e
a intenção de o abandonar. Consideraram também a influência que o planeamento da
mudança e o papel da liderança poderiam ter na gestão deste fenómeno.
Concluíram que as mudanças de fundo apresentam relação directa com a intenção
de abandonar a organização. O aumento da frequência de mudança numa organização
tende a aumentar a insatisfação no trabalho e a intenção de sair, apresentando o appraisal
da incerteza relativa à situação uma função mediadora. Por sua vez, o planeamento da
mudança tem um efeito positivo sobre a satisfação no trabalho e reduz a intenção de saída
da organização, sendo mais uma vez mediado pelo appraisal do indivíduo. Os autores
relevam o efeito positivo do apoio da liderança quer face ao appraisal, quer associado a
Como foi referido, a pessoa vai efectuar uma apreciação sobre um determinado
contexto, ou em relação a certos estímulos que pode considerar stressores. Estes podem ser
de ordem variada podendo ter efeito na saúde e na produtividade, aspecto que assume
particular relevância para pessoas e organizações.