PARTE I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Capítulo 3: Desempenho Óptimo em Equipa
4.2. As estratégias de coping
4.2.2. Estratégias de coping, género e cultura
Segundo González-Morales, Peiró, Rodríguez e Greenglass (2006) o género e as
variáveis culturais são mediadoras da forma como os trabalhadores lidam com stresse
ocupacional e também da eficácia organizacional.
Os autores assumem como pertinente saber se as mulheres possuem estilos de
coping que lhes sejam específicos e que estejam relacionados com aspectos interpessoais
influenciados pela cultura ou o desenvolvimento de papéis sociais. Verificam que as
mulheres utilizam estratégias para lidar com o stresse mais alicerçadas no suporte social
que os homens.
Vagg, Spielberg e Wasala (2002) também efectuaram uma investigação
comparativa em adultos considerando o género. Concluíram que tanto a diferença de
género, quanto os factores organizacionais estavam associados ao stresse ocupacional. A
diferença de género era no entanto menos significativa que os factores organizacionais
enquanto dimensões associadas ao stresse. Verificaram que enquanto os homens
organização ou os conflitos interdepartamentais como maiores stressores, as mulheres
pareciam dar mais atenção aos aspectos ligados ao seu papel no equilíbrio trabalho-família
como fonte de stresse. Para trabalhadores de níveis mais baixos, a falta de oportunidade de
subir na carreira ou os salários baixos eram os stressores que mais assinalados.
Bernin, Theorell, Cooper, Sparks, Spector, Radhakrishnan e Russinova (2003)
efectuaram um estudo com gestores de topo de 5 nações diferentes (Suécia, Reino Unido,
EUA, Bulgária e Índia). Encontraram algumas diferenças no coping utilizado quando
comparam os géneros. No entanto, segundo os autores, as estratégias de coping são mais
semelhantes entre géneros neste tipo de população (gestores) do que entre a população em
geral. Verificaram também que algumas das estratégias encontradas apontam para
possíveis riscos de saúde, em especial entre os gestores femininos.
As estratégias de coping analisadas neste estudo foram: o covert coping, (coping
dissimulado) o open coping (coping aberto) e o support coping (coping de suporte), sendo
o coping dissimulado uma atitude de ausência de resposta directa do indivíduo face à
situação (aguardar que as coisas passem sem dizer nada, afastando-se); o coping aberto
pode englobar atitudes de protesto imediato ou de confrontação; o coping de suporte é
entendido como a procura de suporte social ou de actividades fora do local de trabalho.
Tanto na amostra como na população em geral a estratégia de coping dissimulado
aparece como a mais utilizada pelas mulheres sendo a que está mais relacionada com
sintomas psicossomáticos e com uma influência negativa na vida doméstica.
Os autores verificaram quando compararam os homens da população em geral com
os gestores masculinos, que os últimos utilizavam menos a estratégia de coping aberto que
mulheres gestoras na utilização desta estratégia, facto que se verifica igualmente quando se
comparam as mulheres gestoras e a população em geral.
Ou seja, na utilização na estratégia de coping aberto são os homens da população
em geral que a utilizam com maior frequência.
A diferença de coping entre géneros foi fortemente confirmada neste estudo, em
relação ao coping dissimulado e ao coping de suporte. O coping de suporte ocorre
significativamente mais entre as mulheres do que entre os homens, quando se considera o
mesmo país.
Também Sinha e Watson efectuaram um estudo transcultural em 2007 com
estudantes canadenses e indianos considerando o género a cultura e as estratégias de
coping, encontrando diferenças pouco significativas quando consideravam o género.
O mesmo não se passou quando ponderaram a variável cultura. Quando se
verificava uma maior utilização de estratégias de evitamento na amostra canadiana
constatava-se que os efeitos para a saúde mental eram mais perniciosos do que na
população indiana. Os autores postulam que este facto pode estar associado à cultura
própria de cada país. Enquanto na amostra canadiana existe uma tendência social mais
individualista, na amostra indiana pode reflectir-se o suporte de uma cultura mais
colectivista.
Observaram também uma maior percepção de distress na amostra indiana. Tal,
pode eventualmente ser explicado pela maior importância que terão o bem-estar físico e
psicológico de um indivíduo para a sua rede social na cultura indiana, sendo o seu mau-
estar alvo de maior atenção (Sinha e Watson, 2007). Os autores levantam ainda a
possibilidade de uma inadequação da aplicabilidade dos modelos teóricos desenvolvidos
onde se podem incluir estratégias de coping religiosas, espirituais e existenciais, com uma
tonalidade diferente que nas primeiras.
Igualmente Cronqvist, Klang e Björvell (1997) consideram que as estratégias de
coping mais utilizadas pelos indivíduos sofrem a influência dos sistemas de valores da
sociedade onde estão inseridos.
Benyamini (2009) alerta para a importância de considerarmos uma grande
diversidade de características e de factores circunstanciais da vida (doença, desemprego), e
de variáveis como a idade o género a cultura ou a classe social (de entre outras) quando se
efectuam estudos para a compreensão do stresse e do coping.
Parece também existir uma relação entre as estratégias de coping utilizadas e a
prevenção do burnout (fenómeno determinante para o desempenho nas organizações e para
o bem-estar pessoal).
Lee e Ashforth (1996) efectuaram uma meta-análise com 61 estudos com 56
amostras independentes onde queriam observar a relação entre as dimensões do burnout,
considerando as dimensões de Maslach (2010): exaustão emocional, despersonalização e a
capacidade de atingir metas pessoais com as exigências do trabalho com os recursos que as
pessoas possuem para lhes fazer face.
Verificam que quanto maior for o compromisso com uma organização que possua
stressores elevados, mais aumenta a exaustão emocional e a despersonalização. Estas
dimensões, para além de estarem fortemente associadas ao compromisso para com a
organização, aparecem também associadas à intenção de a abandonar a organização.
Quando analisados os estilos de coping utilizados pelos colaboradores, os autores
concluem que existe uma associação fraca destas duas dimensões com o coping de
dimensão que parece desenvolver-se de forma relativamente independente da exaustão
emocional e da despersonalização. Os resultados sugerem também que uma estratégia
focada no problema e um self-appraisal positivo são aspectos que se podem reforçar
mutuamente.
O mesmo estudo aponta para o facto de os indivíduos serem geralmente mais
sensíveis às exigências que enfrentam do que aos recursos de que dispõem (por exemplo
apoio social, autonomia, participação na tomada de decisão) quando confrontados com
situações stressantes. Face a uma perda de recursos podem ocorrer resultados como
intenções de saída da organização, enfraquecimento do compromisso organizacional e da
satisfação do trabalho e as já enunciadas respostas comportamentais de coping.
Já Wright e Bonett (1997), partindo da mesma caracterização de Maslach, ao
investigarem a relação entre o burnout e o declínio de desempenho no trabalho apenas
conseguem relacionar a exaustão emocional com a diminuição do desempenho.
Ingledew, Hardy e Cooper (1997) consideraram também a relação entre os recursos
de locus de controlo e suporte social percebido e as estratégias de coping focadas no
problema, focadas nas emoções, de evitamento e reappraisal. Apercebem-se que o coping
focalizado no problema ocorre tendencialmente com o locus de controlo interno, e o
coping emocional com a percepção de apoio social. Ambos os tipos de coping apresentam
benefícios a nível do bem-estar do indivíduo. O coping de evitamento parece ter sobretudo
um efeito pernicioso.
Concluem que o efeito dos stressores sobre o bem-estar é moderado por alguns
recursos, cujo efeito é moderado pelo coping. Isto significa que as estratégias de coping