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Definição e composição do Tribunal Arbitral

No documento Ana Sofia Matias Ferreira Baptista (páginas 92-96)

de 12 de Dezembro

5.3. Definição e composição do Tribunal Arbitral

Decidi autonomizar este ponto, uma vez que dentro de todo o espectro de poderes que são conferidos ao Presidente do CAC, os que se referem à definição e composição do Tribunal Arbitral são de crucial importância para a credibilização dos processos arbitrais e do próprio Centro de Arbitragem Comercial.

Já foi dito que é da sua competência definir a composição do tribunal arbitral, no fim dos articulados, designando, se for caso disso, árbitro ou árbitros que lhe caiba nomear nos termos da convenção de arbitragem e do Regulamento.

Assim, verifiquei que, num processo, o Demandante e o Demandado nomearam cada um o árbitro que lhes cabia designar. No entanto, os árbitros nomeados pelas partes não chegaram a acordo quanto à nomeação do terceiro árbitro, que presidiria ao Tribunal arbitral. Deste modo, essa nomeação competia ao Presidente do CAC, cfr. artigo 7.º, nºs 3 e 5 do Regulamento de 2008, que a ela procedeu.

Em dois processos arbitrais, as partes não chegaram a acordo quanto ao número de árbitros que deveriam constituir o Tribunal Arbitral que, por isso, deveria ser composto por árbitro único (artigo 5.º do Regulamento de 2008). Assim sendo, salvo se as partes o tivessem feito – o que não fizeram – a nomeação

de árbitro único foi da competência do Presidente do CAC (artigo 7.º, n.º 2 do Regulamento), que procedeu a essa designação.

Noutro caso, as partes acordaram expressamente que o tribunal arbitral fosse constituído por árbitro único, a designar pelo Presidente do CAC, que assim procedeu.

Uma situação que mereceu uma solução diferente foi a de um tribunal arbitral deveria ser composto por árbitro único, a designar pelo Presidente do CAC, de acordo com as posições assumidas pelas partes nas peças processuais apresentadas. Atenta a natureza do litígio, a sua eventual complexidade, a natureza internacional da arbitragem, bem como os montantes envolvidos, entendeu o Presidente do CAC ser aconselhável procurar a participação das partes na escolha do árbitro único. Para tanto, e à semelhança da prática de algumas importantes instituições de arbitragem internacional, foi apresentado às partes um conjunto de nomes para que se pronunciassem no sentido de saber se tinham alguma oposição ou se se encontravam especialmente de acordo com algum dos nomes. Deste modo, as partes foram notificadas de que dispunham de 10 dias para se pronunciarem, findo o qual o Presidente do CAC procederia à nomeação do árbitro se houvesse oposição a todos os nomes ou existindo algum acordo quanto a um dos nomes avançados. Tendo em conta a posição assumida pelas partes, foi escolhido um dos nomes propostos.

Esta solução adoptada, no meu entender, é a que melhor conjuga a garantia de independência e imparcialidade dos tribunais arbitrais constituídos sob a égide do CAC e a vontade das partes, princípio basilar em arbitragem. Com esta solução inovadora, foi às partes possibilitado escolher o árbitro que iria dirimir o seu litígio, sem se derrogar as normas do Regulamento que atribuem competência de definição do tribunal arbitral ao Presidente do CAC, na medida em que foi pelo mesmo exercido o seu direito e dever de aferir a garantir a independência e imparcialidade do tribunal, indicando as pessoas de indiscutível saber e experiência no domínio da arbitragem que considerou estarem melhor qualificadas para julgar o litígio pendente.

Temos, ainda, a situação da convenção de arbitragem que atribuía a competência de designação do terceiro árbitro, na falta de acordo entre os árbitros

nomeados pelas partes, ao Presidente do TRL. Posição que mereceu acolhimento pelo Presidente do CAC, conforme se explicou supra.

Num outro processo, foi suscitada pelo Demandado uma questão que se prendeu com a oportunidade de nomeação do árbitro por parte da Demandante. No Requerimento de Arbitragem, o Demandante propunha que no prazo de 15 dias a contar da data de apresentação daquele nomeasse o seu árbitro; o Demandado nomeava o árbitro no prazo de 15 dias a partir da data em que fosse informado da nomeação do terceiro árbitro; e, por sua vez, os dois árbitros nomeados pelas partes procederiam, no prazo de 30 dias a contar da nomeação do segundo árbitro, à nomeação do árbitro que presidiria ao Tribunal arbitral.

As partes acordaram que o tribunal arbitral deveria ser constituído por três membros. O modo de escolha dos árbitros pode ser acordado na convenção de arbitragem ou em momento posterior (artigo 7.º, n.º 1 do Regulamento de 2008), e também nesta matéria as partes haviam previsto o modo de escolha: cada parte designaria um árbitro e esses dois, designariam o terceiro que presidiria ao tribunal arbitral. Onde as partes divergiram foi no momento em que deveria ser designado o árbitro por parte da Demandante.

O momento em que os árbitros são indicados pelas partes não está expressamente previsto no Regulamento de 2008, havendo, assim, a necessidade de conjugar o artigo 7.º da composição do tribunal arbitral, com o artigo 17.º, n.º 2, alínea d) e o artigo 26.º, n.º 1.

No que se refere ao artigo 17.º, o que a disposição prevê é que no requerimento de arbitragem possam ser dadas indicações sobre o tribunal arbitral, sendo que a expressão “se for caso disso” deve ser interpretada no sentido de que todas as questões relativas à composição do tribunal arbitral que já estiverem definidas, nomeadamente a designação dos seus elementos, então não se torna necessária essa indicação.

O momento em que cabe ao Presidente do CAC nomear árbitros cuja nomeação esteja em falta, ou que os que tem de nomear por esse ser o modo previsto na convenção de arbitragem, verifica-se após estar concluída a fase em que as partes apresentaram as suas posições quanto ao litígio (artigo 26.º, n.º 1 do Regulamento de 2008). Durante a fase em que as partes apresentaram as suas pretensões (Requerimento de Arbitragem, Petição Inicial, Contestação e demais

articulados) poderão as partes indicar o árbitro. Só quando não o fizerem terá o Presidente do CAC de o fazer. Não resulta do Regulamento de 2008 que a Demandante tenha de designar o árbitro no Requerimento de Arbitragem e o Demandando tenha de o fazer com a defesa. Aliás, no processo em concreto nenhuma das partes assim procedeu.

O Demandado entendeu que, face à posição assumida pelo Demandante no seu requerimento de arbitragem, este estava obrigado a fazer essa nomeação e, não o tendo feito, fez precludir esse direito. No entanto, entendeu o Presidente do CAC que o Demandante fez uma proposta contratual que estava expressamente qualificada como tal, à outra parte, de em 15 dias nomear o árbitro. Durante esse período o Demandado não se pronunciou quanto ao assunto de nomeação dos árbitros. À luz do direito português (direito que se aplica ao contrato e também à arbitragem a decorrer no nosso território) a proposta contratual apresentada pelo Demandante só se mantém durante o prazo fixado por esta. Findo esse prazo, a proposta deixa de ser vinculante, é o que dispõe expressamente o artigo 228.º, n.º 1, alínea a) do Código Civil.

Nestes termos, o Presidente do CAC considerou válidas as designações que as partes fizeram dos seus árbitros.

Quanto à situação de deferimento, foi apresentado pelo Demandante um requerimento de recusa do árbitro designado pela Demandada ao Presidente do CAC, atentas as relações económico-profissionais que mantinha com a Demandada e respectiva Mandatária, descritas na declaração de independência e imparcialidade. Fundamentou a Demandante que as circunstâncias reveladas nas declarações proferidas pelo árbitro geraram uma fundada suspeição relativamente à sua independência e imparcialidade face à Demandada e, por isso, revelavam-se fundamento suficiente para sustentar a recusa do árbitro.

O árbitro tendo tomado conhecimento do requerido pronunciou-se entendendo que o pedido de recusa não tinha fundamento, mas que como a função de árbitro apenas deve ser exercida quando aceite livremente por todas as partes, apresentou a sua renúncia. Que foi aceite pelo Presidente do CAC.

No documento Ana Sofia Matias Ferreira Baptista (páginas 92-96)