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Pagamentos dos encargos da arbitragem

No documento Ana Sofia Matias Ferreira Baptista (páginas 97-106)

de 12 de Dezembro

5.5. Pagamentos dos encargos da arbitragem

Quanto à matéria dos encargos da arbitragem, vários foram os pedidos feitos ao Presidente do CAC, quer pelas partes, quer pelo tribunal arbitral.

A título de exemplo, foi requerido pelo tribunal arbitral o pagamento intercalar aos árbitros, por conta do valor final dos honorários, tendo o Presidente ficado de se pronunciar posteriormente, em virtude do CAC estar a estudar, em abstracto, os critérios a aplicar a esse tipo de pedidos.

Num outro processo, alegou o tribunal arbitral que a arbitragem era de assinalável complexidade, onde iria ser requerida uma peritagem muito extensa, pelo que solicitou que os honorários dos árbitros fosse elevados, nos termos do artigo 52.º, n.º 2 do Regulamento de 2008, mediante a aplicação de um coeficiente de 1,5. Ouvidas as partes, estas manifestaram a sua concordância, tendo o Presidente do CAC concedido a majoração solicitada. Face à posição assumida pelas partes, ficou ainda acordado que se as partes pusessem termo ao processo antes da sentença arbitral, seria ponderada pelo Presidente do CAC uma eventual redução do valor dos honorários majorados, designadamente em função da fase processual em que ocorresse e se tal viesse a ser requerido por alguma das partes. Ficou ainda acordado que as partes renunciavam ao direito de impugnação,

previsto no artigo 17.º, n.º 3 da LAV, se viesse a ser considerado aplicável aquele procedimento.

No âmbito de outro processo foram as partes notificadas pelo Secretariado do CAC para proceder, cada uma delas, ao pagamento da provisão inicial, no montante por aquele calculado. Tendo em conta os valores concretos no processo, o Secretariado fixou o valor da provisão inicial, para cada uma das partes, que não excedeu 35% do valor provável dos encargos da arbitragem (artigo 52.º, n.º 2). O demandante procedeu ao pagamento desse valor, já o Demandado apresentou um requerimento onde colocou diversas questões que foram apreciadas pelo Presidente, a saber:

1. O prazo para pagamento da provisão inicial a efectuar pelo Demandado fosse suspenso enquanto o requerimento não fosse apreciado. Esta questão prende-se com a admissibilidade da reclamação sobre a fixação do montante de provisão e sobre se, a mesma admitida, tem eficácia suspensiva enquanto sobre ele não houver decisão. O Regulamento é omisso no que respeita à faculdade de reclamação da fixação do montante da provisão. O artigo 54.º, que havia sido citado pelo Demandado, prevê a hipóteses de reclamação apenas quanto à liquidação final dos encargos da arbitragem. No entanto, entendeu o Presidente do CAC que os actos processuais por si praticados são susceptíveis de impugnação, de acordo com os princípios gerais do processo, pelo que admitiu a reclamação com efeitos suspensivos do despacho fixando a provisão.

2. A decisão de determinação do valor da acção e consequente liquidação de encargos da arbitragem e fixação do valor de provisão inicial a pagar pelo Demandado aguarde pela constituição do tribunal arbitral, que foi indeferido.

3. O valor da acção arbitral fosse rectificado. Tendo sido indeferido por não afigurar caber a decisão do mesmo na sua competência. Só o acordo das partes o permitiria fazer na fase em que se encontrava o processo. Considerou o Presidente do CAC que não deveria alterar o objecto do

processo, tal como foi conformado pelas partes, cabendo a estas ou a uma eventual limitada correcção do tribunal arbitral.

4. O valor da provisão inicial a efectuar por ambas as partes, quando conjuntamente consideradas, não excedesse 35% do montante provável dos encargos da arbitragem. Foi indeferido, tendo em conta que a literalidade do preceito invocado, artigo 52.º, n.º 2 do Regulamento de 2008 não deixa grandes dúvidas e que o entendimento de que o limite aí fixado é para cada uma das partes é, ainda, reforçado pelo número seguinte do mesmo artigo.

6 – Conclusão

Seguindo os objectivos previstos para o estágio curricular, o estágio no CAC transformou-se num complemento fundamental a toda a formação teórica adquirida na Faculdade durante o 1º ciclo de estudos, tal como na fase lectiva do 2º ciclo, e, ainda, contribuiu para a minha experiência prática no mundo do Direito, especialmente do Direito da Arbitragem e Direito Comercial e do trabalho.

Considero, por isso, que foi extremamente positivo o estágio realizado, no qual pude, por um lado, desempenhar todas as funções do Secretariado do CAC e, por outro, acompanhar o desenvolvimento dos processos que no Centro corriam termos, assim como acompanhar um sem número de sessões dos vários tribunais arbitrais, como audiências preliminares, sessões de produção de prova pericial, sessões de produção de prova testemunhal e sessões destinadas às alegações finais das partes.

Durante estes meses em que pertenci à equipa do Secretariado do CAC, não me cingi à condição de estagiária, tendo participado em todas as tarefas desempenhadas por todos os que ali trabalham, desde o primeiro momento. Desse modo, pude constatar que, fruto da sua organização, estatutos e Regulamentos, o Centro de Arbitragem Comercial promove a administração e gestão de processos arbitrais, institucionais e ad hoc, de uma forma simples, célere e eficaz, demonstrando ser um grande apoio nas diversas fases processuais, não só ao tribunal arbitral, como às partes e aos demais intervenientes no processo. A aprovação de um novo Regulamento de Arbitragem, que entrou em vigor em 2014, aliado ao facto dos Estatutos do CAC imporem que o seu Conselho de Direcção e o Secretariado sejam constituídos por pessoas idóneas e com qualificações comprovadas ao nível da arbitragem, devendo actuar com isenção, independência, imparcialidade e em respeito do dever de confidencialidade, veio reforçar o papel do Centro de Arbitragem Comercial como um dos centros de arbitragem de referência em Portugal, que está na vanguarda das melhores práticas internacionais arbitrais.

O aprofundamento do conhecimento dos poderes do Presidente do CAC permitiu-me perceber a importância da sua intervenção nos processos que correm

os seus termos no Centro, sendo um garante da credibilidade, estabilidade e confiança no Centro. A este nível é fundamental a intervenção do Centro, na pessoa do seu Presidente, na composição e definição do Tribunal Arbitral e nas garantias acrescidas que oferece quanto à imparcialidade e independência dos árbitros, assegurando a credibilidade e idoneidade dos tribunais constituídos sob a sua égide.

Em jeito de conclusão posso afirmar que todas as expectativas que tinha foram superadas e excedidas, sendo de enaltecer a possibilidade conferida pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa de aliar a fase lectiva do mestrado com estas iniciativas plenas de uma componente muito prática, da qual o meu estágio foi exemplo.

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VICENTE, Dário Moura, Portugal e as convenções internacionais em matéria de arbitragem,

in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa,

Índice

1 – Introdução ... 7

2 - O Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e

Indústria Portuguesa ... 9

3 – Funcionamento do Centro de Arbitragem Comercial em particular o

Secretariado – as actividades práticas desenvolvidas durante o estágio

... 14

3.1. Fase dos articulados: a tramitação dos processos institucionais e dos processos ad hoc ... 14

3.1.1. Acta de Instalação e Requerimento de Arbitragem ... 16

3.1.2. Defesa e Resposta(s) ... 19

3.1.3. Provisões ... 20

3.1.4. Constituição do Tribunal Arbitral ... 22

3.2. Fase intermédia (a audiência preliminar) ... 23

3.3. Fase de produção de prova e alegações finais e acompanhamento das sessões do Tribunal Arbitral ... 27

3.3.1. Prova pericial ... 29

3.3.2. Prova testemunhal ... 31

3.3.3. Prova documental ... 35

3.3.4. Gravação e transcrição das audiências ... 36

3.3.5. Alegações finais ... 37

3.2. Sentença Arbitral ... 38

4 – Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial ... 42

4.1. Antes da constituição do Tribunal Arbitral ... 43

4.1.1. Escusa, recusa e substituição de árbitro ... 43

4.1.2. Definição de regras processuais ... 53

4.1.3. Prorrogação de prazos ... 60

4.1.4. Regra geral da sua competência: decisão das questões suscitadas até à constituição do tribunal ... 61

4.2. Na constituição e composição do Tribunal Arbitral ... 62

4.2.1. O número de árbitros ... 62

4.2.2. Composição do tribunal arbitral ... 64

4.2.3. Recusa da constituição do Tribunal arbitral ... 66

4.3. Após a constituição do Tribunal Arbitral ... 67

4.3.1. Prorrogação de prazo ... 67

4.3.2. Fixação dos encargos da arbitragem (honorários e encargos administrativos) ... 68

4.3.3. Reclamação da conta ... 70

4.4. Arbitragens complexas ... 70

4.4.1. Intervenção de terceiros ... 72

4.4.2. Apensação de processos ... 74

4.5. A introdução da figura de árbitro de emergência no novo Regulamento de Arbitragem (2014) ... 77

4.6. Despacho relativo à arbitragem necessária nos termos da Lei n.º 62/2011,

de 12 de Dezembro ... 80

5 – Descrição dos poderes, intervenções e decisões do Presidente do

CAC observadas no decurso do estágio desenvolvido ... 84

5.1. Prorrogação de Prazos ... 87

5.2. Outras questões suscitadas até à constituição do TA ... 89

5.3.Definição e composição do Tribunal Arbitral ... 92

5.4. Intervenção de Terceiros ... 96

5.5. Pagamentos dos encargos da arbitragem ... 97

6 – Conclusão ... 100

No documento Ana Sofia Matias Ferreira Baptista (páginas 97-106)