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3. Metodologia

3.2 Definição da Variável Dependente

A taxa efetiva de imposto é considerada a variável dependente desta investigação, uma vez que, apesar de não ser uma medida exata3, reflete o envolvimento em atividades de

elisão fiscal (Blaylock, Shevlin, & Wilson, 2012; Dyreng et al., 2008). Posto isto, a interpretação dos resultados será feita em torno do conceito de elisão fiscal.

Pelo facto de não ser possível obter informação fiscal diretamente através das autoridades competentes para o efeito, visto que se encontra coberta pelo sigilo fiscal, a literatura existente fornece diversas medidas para contornar esse entrave.

Tendo como suporte a Norma Contabilística e de Relato Financeiro 25 que, por sua vez, se baseia na Norma Internacional de Contabilidade IAS 12 - Impostos sobre o Rendimento, a taxa efetiva média resulta do quociente entre o gasto (ou rendimento) de impostos e o lucro contabilístico, sendo que a primeira componente diz respeito à “quantia agregada incluída na determinação do resultado líquido do período respeitante a impostos correntes e a impostos diferidos” e a segunda ao “resultado de um período antes da dedução do gasto de impostos”. No entanto, estudos anteriores registam algumas dúvidas, não existindo um consenso em relação à medida mais correta para alocar tanto ao numerador como ao denominador no que se refere ao cálculo da ETR.

Relativamente ao numerador, a questão reside em saber se este deverá ou não incluir impostos diferidos. Importa, então, distinguir os dois tipos de impostos que estão em causa, sendo que os impostos correntes refletem os impostos efetivamente pagos e os impostos diferidos representam o impacto das diferenças (temporárias ou permanentes) entre o resultado contabilístico e o resultado fiscal e que afetam períodos futuros, pelo que a omissão destes últimos poderá enviesar a carga fiscal (Kraft, 2014). Gupta & Newberry (1997), Rego (2003) e Liu & Cao (2007) usam apenas a parte corrente das despesas com imposto sobre o rendimento, sendo que a parcela diferida foi excluída. Em contrapartida, outros autores incluem os impostos diferidos (Armstrong et al., 2012; Kraft, 2014).

Já quanto ao denominador, as três alternativas são o lucro tributável, resultado contabilístico e o cash flow operacional, todas elas calculadas antes de impostos e juros.

3 É de esperar que uma taxa efetiva de imposto mais baixa reflita um montante mais baixo de

26 Gupta & Newberry (1997) baseiam-se no EBIT (resultado operacional) e no cash flow operacional como alternativa. Liu & Cao (2007) também recorrem ao EBIT, pelo facto de o lucro tributável não se encontrar publicamente disponível e porque é uma medida que representa os ganhos da empresa antes de pagar aos credores, acionistas e Estado. No entanto, Kraft (2014) defende que o EBIT não é um indicador preciso, uma vez que os gastos de financiamento são dedutíveis e acredita que será mais apropriado aplicar uma medida que tenha em conta esse fator, tal como o resultado antes de impostos ajustado de itens extraordinários4.

Ora, face ao exposto, a primeira medida da ETR será calculada de acordo com os princípios contabilísticos geralmente aceites, para a empresa i no ano t:

GAAP ETRit=

Gasto Fiscal Totalit

Resultado Antes de Impostosit

Contudo, segundo Dyreng et al. (2008), as taxas efetivas anuais de imposto não são um bom indicador da elisão fiscal, e pelo facto de este se basear apenas em dados anuais, poderá não ser possível capturar variações significativas que, ano a ano, poderão ocorrer. Adicionalmente, tendo em conta que a despesa fiscal representada na fórmula acima contém impostos correntes e diferidos, e como a elisão fiscal envolve mecanismos de acréscimos e deduções ao lucro tributável, esta medida não irá ter em conta formas de elisão fiscal que surgem desses ajustes e que apenas terão impacto em períodos futuros. Desta forma, surge uma nova medida da elisão fiscal a longo prazo que, em vez de considerar a despesa fiscal, tem por base os impostos pagos (ou a recuperar), pelo que, tal como estes autores, Minnick & Noga (2010), baseando-se numa CASH ETR a 5 anos, foram dos primeiros a investigar como o governo das sociedades desempenha um papel na gestão/otimização fiscal sob uma perspetiva a longo prazo. Não obstante, Hanlon & Heitzman (2010) referem que as medidas da ETR não distinguem se as reduções dos impostos ocorreram por estratégias associadas à gestão fiscal, ou se, por exemplo, decorreram de incentivos fiscais.

4 Segundo Kim et al. (2011), os resultados serão os mesmos, em termos qualitativos, se não for

27 Ainda assim, da mesma maneira, será utilizada a taxa efetiva de imposto de longo prazo, numa perspetiva anual e a 5 anos, calculada a partir do seguinte rácio:

CASH ETRi=

∑5 Montante de Impostos Pagosit

t=1

∑ Resultado Antes de Impostos5

it 5

t=1

Surgem, ainda, algumas limitações no que concerne à mensuração da taxa efetiva de imposto e, de modo a superá-las, a presente dissertação aplica as técnicas de seguida apresentadas. Gupta & Newberry (1997) estudam, com recurso a dados em painel, os fatores determinantes das ETR’s e, para evitar um enviesamento dos resultados, adotam uma metodologia que consiste em ajustar os valores obtidos, associados à ETR, em determinados casos. De acordo com estes autores, e tendo por base a fórmula para determinar a taxa efetiva de imposto, uma empresa que apresente, num determinado período, resultados negativos (denominador negativo) e, simultaneamente, imposto a recuperar (numerador negativo) irá evidenciar uma ETR positiva, embora não tenha procedido a qualquer pagamento de impostos. No mesmo sentido, mas supondo que, num determinado ano, uma empresa pagou impostos (numerador positivo) e obteve resultados negativos (denominador negativo), a ETR terá um valor negativo, ainda que a empresa tenha pago impostos.

Assim, com base nas circunstâncias acima referidas, a ETR é fixada em zero quando estamos perante empresas que apresentem reembolso de impostos e fixada em 100% no caso de as empresas evidenciarem resultados negativos (ou nulos) e despesa fiscal. Outros autores, como por exemplo Adhikari, Derashid, & Zhang (2006), Schmidt (2006) e Kraft (2014), seguiram a mesma estratégia e, adicionalmente, para evitar valores anormais que possam surgir, nomeadamente quando estão em causa denominadores relativamente baixos, estabeleceram um limite entre 0 e 1 para o valor da taxa efetiva de imposto, sendo que no presente estudo será adotado o mesmo procedimento.

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