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Relação entre a Governance das empresas e a Taxa Efetiva de Imposto

4. Resultados

4.2 Modelos Econométricos: Estimação e Testes

4.2.1 Relação entre a Governance das empresas e a Taxa Efetiva de Imposto

Com o objetivo de estudar a relação entre a corporate governance e a taxa efetiva de imposto, foi usado o modelo Tobit, tendo por base, tal como já foi referido no capítulo anterior, as caraterísticas típicas da taxa efetiva de imposto, a variável dependente desta investigação. Para além disso, através de dummies para os anos, foi possível controlar os efeitos temporais para todos os países envolvidos na análise.

A tabela 6 exibe os resultados das regressões para as três variáveis que representam a taxa efetiva de imposto: GAAPETR, CASHETR e CASHETR5, medida que se refere à CASHETR, mas que se encontra mensurada para o período de 5 anos e que permite uma análise sob uma perspetiva a longo prazo.

Em primeiro lugar, analisando o coeficiente associado à pontuação global do governo das sociedades (GOVSCORE), constata-se que este é positivo e estatisticamente significativo, o que significa que a relação encontrada é consistente com a hipótese formulada (H1) e com a evidência suportada por Sartori (2011) e Jones et al. (2016). Desta forma, conclui-se que, havendo um maior alinhamento de interesses entre gestores e acionistas, por meio de mecanismos adequados do governo das sociedades, existe uma menor tendência de as empresas se sujeitarem a atividades de elisão fiscal. Este resultado também pode ser explicado segundo uma ótica de responsabilidade social das empresas, e que os acionistas poderão defender, tendo por base a proximidade com o conceito de governo das sociedades (Jamali et al., 2008).

Relativamente às variáveis associadas ao conselho de administração, pode-se afirmar que a presença de administradores independentes (INDBOARD) influencia negativamente a taxa efetiva de imposto quando esta é avaliada através da GAAPETR, sendo que este resultado vai de encontro aos estudos de Richardson et al. (2015) e McClure et al. (2018). Neste caso, a elisão fiscal poderá ser vista como um mecanismo vantajoso para os acionistas, desde que não assuma um nível inadequado de risco. Por outro lado, verifica-se que, quando o efeito da ETR é capturado através dos impostos efetivamente pagos, tanto numa perspetiva anual (CASHETR) como numa perspetiva a cinco anos (CASHETR5), os resultados apontam para uma relação positiva e estatisticamente significativa entre o grau de independência do conselho de administração e a taxa efetiva de

38 imposto. Em contraste com os estudos referidos anteriormente, e embora avaliem a ETR através de outra medida, Lanis & Richardson (2011) comprovam esta relação.

Quanto à dimensão do conselho de administração (BOARDSIZE), esta variável apresenta um coeficiente estatisticamente significativo nas três regressões, revelando um sinal positivo, o que significa que, tal como Minnick & Noga (2010) defendem, conselhos de administração mais pequenos conseguem convencer os gestores a tomar decisões relacionadas com a otimização fiscal. Numa outra perspetiva, conselhos maiores poderão restringir possíveis comportamentos oportunistas por parte dos gestores aquando do envolvimento em mecanismos de elisão fiscal.

No que concerne às variáveis referentes às reuniões do conselho de administração, os resultados obtidos permitem confirmar as hipóteses (H3a e H3b) anteriormente formuladas, embora contrárias à evidência encontrada por Barros & Sarmento (2020). Assim sendo, uma maior frequência de reuniões do conselho de administração aumentará a qualidade do governo das sociedades, ao atenuar os conflitos de agência, e impedirá o envolvimento em atividades de elisão fiscal que sejam desfavoráveis para os interesses dos acionistas. Por sua vez, visto que, segundo Lin et al. (2014), existe uma relação inversa entre o número de reuniões do conselho e a assiduidade dos administradores nessas reuniões, o coeficiente da variável BOARDATT apresenta um sinal e efeito contrários.

No que toca à dualidade de funções do CEO (CEOCHAIR), da mesma maneira que Minnick & Noga (2010), não foi encontrada qualquer relação estatisticamente significativa com a taxa efetiva de imposto, não permitindo, portanto, avaliar o impacto pretendido desta variável na ETR.

Por fim, tal como era expectável, e conforme as evidências demonstradas por Armstrong et al. (2012) e Blaylock (2016), a remuneração dos executivos (EXECCOMP) apresenta uma influência negativa e estatisticamente significativa sobre a taxa efetiva de imposto, para as três diferentes medidas. De acordo com Rego & Wilson (2012), os gestores precisam de ser incentivados para se envolverem em atividades arriscadas de elisão fiscal, que tenham inerente a obtenção de benefícios líquidos para a empresa, a fim de aumentar o seu valor. O resultado obtido em torno da CASHETR diverge comparativamente ao estudo de Armstrong et al. (2012) no sentido em que estes autores não encontraram uma relação estatisticamente significativa quando a ETR é calculada a partir do montante de impostos pagos.

39 Passando, agora, para os resultados obtidos em torno das variáveis de controlo, que estão associadas às caraterísticas financeiras das empresas, verifica-se que o coeficiente associado à dimensão da empresa (SIZE) apresenta um valor negativo e estatisticamente significativo quando a taxa efetiva de imposto é analisada sob uma perspetiva anual, isto é, através da GAAPETR e da CASHETR, medidas que, na sua fórmula de cálculo, apenas diferem no numerador. Esta relação pode ser explicada segundo a teoria do poder político que remete para uma maior possibilidade de maiores empresas influenciarem o processo político no sentido de reduzir a taxa efetiva de imposto e, desta forma, atuar em seu benefício. Estes resultados são consistentes com as conclusões de Porcano (1986), Richardson & Lanis (2007) e Chen et al. (2010). Por outro lado, numa perspetiva a cinco anos, verifica-se que a relação entre a dimensão empresarial e a taxa efetiva de imposto torna-se positiva. A interpretação deste resultado pode surgir do entendimento de uma outra teoria: a teoria dos custos políticos. Este ponto de vista aponta para uma maior visibilidade e exposição a terceiros por parte de grandes empresas, o que implicará um maior controlo por parte de entidades externas e, consequentemente, um menor envolvimento dessas empresas num planeamento fiscal mais arriscado, tendo por base uma responsabilidade social inerente (Belz, Hagen, & Steffens, 2019; Barros & Sarmento, 2020). Efetivamente, autores como Zimmerman et al. (1983) e Rego (2003) encontram evidências de uma relação positiva entre estas duas variáveis.

De seguida, constata-se uma associação negativa entre a alavancagem (LEV) e a taxa efetiva de imposto, medida sob as três diferentes formas, o que vai de encontro à hipótese convencional encontrada na literatura anterior (Stickney & McGee, 1982; Gupta & Newberry, 1997). Seguindo esta lógica, uma empresa, recorrendo a capitais alheios, beneficiará da dedutibilidade das despesas incorridas com os juros desse tipo de financiamento. No mesmo sentido, no que diz respeito à rentabilidade do ativo (ROA), o coeficiente estimado é negativo e estatisticamente significativo, indicando que empresas mais rentáveis tendem a suportar uma taxa efetiva de imposto mais baixa, ou seja, estas empresas tendem a investir em atividades de elisão fiscal (Zeng, 2019). Também se verifica uma associação negativa com a CASHETR, ao contrário dos resultados obtidos por Huseynov & Klamm (2012).

Relativamente à intensidade em capital (CAPINT), obtiveram-se resultados para a CASHETR a longo prazo que não são estatisticamente significativos, pelo que não é possível tirar conclusões acerca de uma possível relação entre as variáveis em causa.

40 Quanto à intensidade em inventários (INVINT), os seus coeficientes mostram uma relação inversa com a taxa efetiva de imposto, indicando que empresas com uma maior intensidade em inventários, possivelmente mediante esquemas adotados em matéria de preços de transferência, poderão beneficiar da redução da ETR (Lee & Swenson, 2012). Por fim, segundo Gupta & Newberry (1997), seria de esperar uma associação negativa entre as despesas em investigação e desenvolvimento e a taxa efetiva de imposto, tendo em conta os possíveis benefícios fiscais que daí podem resultar. No entanto, esta evidência apenas é visível para a estimação com a GAAPETR. A associação positiva pode ser explicada pelo facto de nem todos os países presentes na amostra proporcionarem benefícios fiscais associados a atividades de investigação e desenvolvimento (Andrejovska, 2019).

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Tabela 6 – Resultados da estimação da influência da Governance das empresas e das suas

caraterísticas financeiras na taxa efetiva de imposto

Variável GAAPETR CASHETR CASHETR5

C 0.390972*** 0.409992*** 0.113447 (5.745018) (4.387610) (1.273494) GOVSCORE 0.000421** 0.000678** 0.000734** (2.056153) (2.241806) (2.065092) INDBOARD -0.000324* 0.000367*a) 0.000602* (-1.744449) (1.511721) (1.824362) BOARDSIZE 0.004293*** 0.007600*** 0.004170*a) (2.984014) (3.998871) (1.569366) BOARDMEET 0.002381* 0.009803*** 0.015138*** (1.710432) (4.852404) (7.371024) BOARDATT -0.000692* -0.001188** -0.000623 (-1.812462) (-2.491305) (-0.940061) CEOCHAIR -0.004806 -0.009921 -0.011104 (-0.571750) (-0.856137) (-0.952160) EXECCOMP -2.16E-11*** -2.91E-11*** -3.31E-10** (-3.149530) (-2.937322) (-2.028072) SIZE -0.005410*a) -0.007131*a) 0.012343** (-1.374700) (-1.321498) (2.021742) LEV -0.107078*** -0.206479*** -0.284212*** (-2.988662) (-4.399378) (-5.630747) ROA -0.005852*** -0.014734*** -0.014436*** (-3.655456) (-5.902809) (-10.48637) CAPINT --- --- 0.034765 (0.953402) INVINT --- -0.131008** -0.212090*** (-2.167398) (-4.215618) RDINT -0.003221*** 0.003565*** 0.002665** (-3.775378) (2.704532) (2.177067)

Dummies para os anos Sim Sim Não

Critério de informação de Akaike 0.410182 0.673245 -0.757285 Critério de informação de Schwarz 0.441946 0.709345 -0.654441 Critério de informação de Hannan-Quinn 0.421748 0.686433 -0.718086 Observações left censored 201 70 0 Observações right censored 179 275 6 Observações uncensored 1980 1866 937 Total de observações 2360 2211 943

A tabela 6 apresenta a estimação da equação 4.1 em que a variável dependente, a taxa efetiva de imposto, está representada por três medidas: GAAPETR que é definida como o rácio entre o gasto fiscal total e o resultado antes de impostos; CASHETR que é calculada a partir do quociente entre o montante de impostos pagos e o resultado antes de impostos; CASHETR5 que se refere à CASHETR mas está mensurada para o período de 5 anos. GOVSCORE exprime a pontuação global do governo das sociedades. BOARDSIZE indica o número de membros do conselho de administração. INDBOARD é representada pela percentagem de membros

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independentes do conselho de administração. BOARDMEET indica o número de reuniões anuais do conselho de administração e BOARDATT representa a percentagem média de comparência nas reuniões. CEOCHAIR é uma variável dummy que assume o valor 1 se o CEO é, ou já foi, presidente do conselho de administração e 0 caso contrário. EXECCOMP representa a remuneração total dos administradores executivos. A dimensão da empresa, SIZE, é obtida a partir do logaritmo natural do total do ativo. LEV é definida pelo quociente entre a dívida de longo prazo e o ativo total. A rentabilidade do ativo (ROA) é obtida através do quociente entre o resultado antes de impostos e o ativo total. A intensidade em capital (CAPINT) resulta da divisão entre os ativos fixos tangíveis e o ativo total. A intensidade em inventários (INVINT) resulta do quociente entre o total dos inventários e o ativo total. As despesas em investigação e desenvolvimento (RDINT) são representadas pelo peso destas no ativo total. Para as três regressões foi aplicado o modelo Tobit com recurso a uma distribuição logística, no que diz respeito aos erros de especificação, e corrigido de heteroscedasticidade através do método de Huber-White para erros padrão robustos (White, 1980). *, **, *** indicam os níveis de significância estatística de 10%, 5% e 1%, respetivamente. Os valores apresentados entre parêntesis representam os valores z-statistic observados. a) – Teste unilateral

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4.2.2 Relação entre a Governance das empresas e dos países e a Taxa Efetiva de

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