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Deliberação Normativa 44 do COPAM

3.3. A legislação ambiental sobre reforma agrária

3.3.4. Deliberação Normativa 44 do COPAM

O Estado de Minas Gerais, pioneiramente, elaborou legislação ambiental específica para definir e tornar obrigatório o licenciamento ambiental para os projetos de assentamentos rurais do Estado, qual seja a Deliberação Normativa 44 do COPAM, promulgada em 20 de novembro de 2000 e publicada em 25 de novembro de 2000, data em que entrou em vigor. Portanto, a DN 44 entrou em vigor antes da existência da Resolução 289 do CONAMA, que, conforme já se viu, datou de 25 de outubro de 2001.

Mesmo tendo sido originada antes das diretrizes para o licenciamento ambiental para projetos de assentamentos rurais (Resolução 289 do CONAMA), a legislação mineira encontra-se em consonância com a Resolução 237 do CONAMA, vindo justamente para definir os critérios de exigibilidade e detalhamento que caberia a cada ente da federação, segundo o art. 2.°, §2.°, e também de acordo com o anexo 1 da Resolução 237 do CONAMA. Assim, a antecedência da legislação mineira quanto à Resolução 289 do CONAMA não

trouxe qualquer divergência ou inviabilidade jurídica22. Dessa forma, a partir de 25 de novembro de 2000 a exigência ambiental do licenciamento nos projetos de assentamento rural de reforma agrária transformou a maneira de implementação e implantação dos assentamentos rurais no Estado de Minas Gerais.

Essa Deliberação trouxe consigo foi uma nova concepção de projetos de assentamento rural, agora com utilidade que ultrapassa a clássica concepção de reforma agrária (divisão da terra), passando a significar também a garantia, conservação e preservação ambiental. Essa afirmação pode ser aferida de parte da epígrafe da legislação mencionada, que assim se manifesta:

Considerando que os assentamentos rurais para fins de reforma agrária devem constituir um dos instrumentos operacionais de reabilitação do território e da difusão de práticas de controle ambiental adequadas aos contextos geoambientais e sociais das áreas de implantação.

A legislação mineira definiu, antes mesmo do padrão estabelecido pela Resolução 289 do CONAMA, o licenciamento ambiental com base nas três licenças disciplinadas pela Resolução 237 do CONAMA, que não foram recepcionadas pela Resolução 289, conforme já se viu. Assim, a DN 44 passou a exigir a LP, a LI e a LO23.

Para a concessão de cada licença são necessários estudos ambientais, que são exaustivamente elencados nos anexos da legislação. É preciso que se alerte para o fato de que o órgão empreendedor desses licenciamentos é o INCRA (art. 1.°, parágrafo único), de forma que todas as licenças são pedidas por esta instituição ao órgão estadual competente, ou seja, ao IEF. Algumas considerações importantes podem ser inferidas após o estudo da Deliberação Normativa 44:

a) As licenças necessárias ao licenciamento ambiental mineiro são sucessivas, ou seja, enquanto ainda pendente o processo de requerimento da anterior, a posterior não pode ser requerida (art. 2.°).

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É válido lembrar que em matéria ambiental os Estados possuem competência concorrente, podendo confeccionar normas ambientais para seu território, e que estas normas estaduais apenas não podem ser incompatíveis com as normas federais ou mais permissivas que as determinações expressas nas resoluções do CONAMA.

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b) Para os assentamentos rurais já iniciados antes da publicação da Deliberação, houve a dispensa da LP e da LI, sendo necessária apenas a LO (art. 5.o, §3.°). A LO deveria, segundo o art. 5.°, §4.°, ser requerida até

60 (sessenta) dias após a publicação da DN 44 e implementadas no prazo de 24 (vinte e quatro) meses.

c) Para o requerimento de cada licença é necessário que se apresente um estudo ambiental determinado no anexo da legislação: para a LP é necessário o RVA (Relatório de Viabilidade Ambiental); para a LI, o PBA (Projeto Básico de Assentamento); e para a LO, o PFA (Projeto Final de Assentamento).

d) Os assentamentos rurais formados por menos de 25 famílias ficam submetidos ao licenciamento simplificado, de acordo com o entendimento do art. 9.°.

Ficou advertido, ainda, que as demais exigências ambientais, como a outorga da água, deveriam ser requeridas junto ao órgão competente – no caso mineiro, o IGAM.

O mais importante desta legislação é que, através dela, todo e qualquer projeto de assentamento rural deveria se submeter ao licenciamento ambiental, que poderia exigir as três modalidades de licença, com exceção daqueles formados por 25 (vinte e cinco) famílias, caso da licença simplificada, ou nos casos de assentamentos já iniciados antes da vigência da DN 44.

Também deve ser lembrado que o desmate para plantio e ocupação definitivos apenas poderia ser feito após a concessão da LI e LO. Foi previsto no anexo – itens 2.f, 3.e e 4.f – que poderia ser concedida autorização para exploração florestal após a concessão da LI, a critério do órgão ambiental.

Comparando a Deliberação Normativa 44 do COPAM com a Resolução 289 do CONAMA, percebe-se que a legislação mineira é mais rigorosa do que a federal, principalmente pelo fato de que em Minas Gerais há três modalidades de licenças e que estas são sucessivas, fato que tem como conseqüência a impossibilidade de se requerer uma licença posterior, uma vez que a anterior – por que motivo seja – encontra-se com seu processo pendente, o que não ocorre na tipificação da legislação federal.

Com o passar do tempo e a tentativa de implementação da legislação mineira estudada, foram sendo apontadas uma série de dificuldades com

relação à operacionalização do licenciamento ambiental não só no referente aos projetos de assentamento rural, como aos das demais atividades produtivas; por esse motivo, foi promulgada a Deliberação Normativa 74 do COPAM, datada de 9 de setembro de 2004.

Antes de passar ao item anterior, é importante que se observe que o licenciamento proposto pela DN 44 apenas abrange os projetos de assentamentos rurais para fins de reforma agrária cujo empreendedor seja o INCRA, não abarcando, por via de conseqüência, os antigos assentamentos feito pelo Banco da Terra, que hoje são realizados pelo Banco Mundial através do crédito fundiário.