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Os movimentos sociais após a década de 1990

2.3. A atuação dos movimentos sociais na luta pela reforma agrária

2.3.3. Os movimentos sociais após a década de 1990

Os movimentos sociais na década de 1990, a conjuntura econômica e a conjuntura política do país reforçaram a luta pela reforma agrária, que, nesta década, não representava mais apenas a luta dos camponeses, mas abarcava uma grande gama de excluídos urbanos, com o objetivo de solucionar a pobreza e miséria, que a cada dia se tornavam mais evidentes. Conforme ressalta Grzybowski (2004, p. 292), o principal mérito dos movimentos sociais é o papel positivo das resistências desempenhadas por eles, que ocasionam “mudança de um padrão de ação dos trabalhadores rurais e das comunidades em que vivem” e, assim, contribuem para o “processo de constituição de uma sociedade civil de cara nova no Brasil”. A explicação para essas mudanças associa-se à nova feição atribuída aos trabalhadores, que passaram da posição de meros excluídos para a de agentes políticos que lutam por melhores condições de vida e possibilidade de acesso à terra, de forma ampla.

Nesse diapasão, a luta pela reforma agrária atualmente abrange não só o acesso à terra, mas inclui os mecanismos de produção, preços mínimos, comercialização, assistência técnica e redistribuição dos lucros advindos da produção relacionada à terra; nas palavras de Silva (1990, p. 93), seria uma “mudança na estrutura política do campo, sob a qual se assenta o poder dos grandes proprietários da terra”. O autor afirma que agora se discute não mais o processo de desenvolvimento ou a questão da produtividade, como proposto pelo Estatuto da Terra, mas as conseqüências do desenvolvimento, advertindo também que a questão da reforma agrária perpassa pela democracia, necessitando, portanto, de implementos para lograr êxito. Uma das maneiras de possibilitar a democracia no âmbito agrário inclui necessariamente a proteção ambiental, pois o homem do campo necessita dos recursos naturais para que possa utilizá-los e, então, dar ensejo à produção agrária.

CAPÍTULO 3

A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA REFERENTE À REFORMA AGRÁRIA

A legislação ambiental sobre assentamentos rurais reflete o histórico político e ideológico sobre a reforma agrária do país, bem como o conteúdo que o governo atribuiu a ela. Dessa forma, já no Estatuto da Terra havia determinações específicas no sentido de propiciar a proteção ao meio ambiente; tanto é assim que um dos critérios necessários para que a propriedade cumprisse sua função social era que fosse assegurada a conservação dos recursos naturais, consignado no art. 2.°, §1.°, c, da norma estudada. Essa determinação foi a precursora da proteção ambiental na reforma agrária e corresponde, hoje, ao conceito de desenvolvimento sustentável.

Já na década de 1980 veio a lume importante instrumento normativo na proteção ao meio ambiente, a Lei n.° 6.938/81, que determinou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Após esse primeiro momento, é por meio da promulgação da Constituição da República de 1988 que as normas ambientais ganham relevância ímpar e acabam modificando decisivamente a concepção de reforma agrária do país, engajando a função ambiental dentro da função social da propriedade e, assim, conseqüentemente, imputando o licenciamento ambiental aos projetos de assentamento rural do país.

Cabe relatar que a elaboração das legislações acerca do meio ambiente no Brasil tem como pano de fundo os movimentos ambientalistas surgidos na década de 1970 em todo o mundo. Entretanto, apenas nos anos 80 é que afloraram as primeiras normatizações a esse respeito; deve-se ressaltar que somente na década de 1990 é que medidas efetivas começaram a ser tomadas no sentido de fazer cumprir a legislação existente e, assim, proteger o meio ambiente – uma delas foi o Decreto 99.274/90, primeira legislação a tratar especificamente do licenciamento ambiental, após sua menção na Política Nacional de Meio Ambiente, de 1981. A respeito do decreto mencionado, é interessante destacar o seguinte artigo referente ao licenciamento ambiental:

Art. 17. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimento de atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem assim os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente integrante do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

Da leitura do texto supracitado pode ser percebido que a atual legislação sobre licenciamento ambiental teve sua origem em mencionado instrumento, estando consignadas nesse mesmo decreto as modalidades de licenças também constantes na Resolução 237 do CONAMA, vigente nos dias atuais, que estabelece a necessidade da LP (Licença Prévia), LI (Licença de Instalação) e LO (Licença de Operação) para que os empreendimentos que são potenciais ou efetivamente poluidores possam exercer suas atividades.

Também merece ser lembrado, de antemão, que, embora existam normas sobre proteção ambiental na Constituição da República de 1988, nela não foram determinados os parâmetros ambientais que possibilitassem a efetiva proteção ao meio ambiente; assim, como dito anteriormente, as normas válidas sobre licenciamento ambiental são as inscritas na Resolução 237 do CONAMA, do ano de 1997. Transportando essa proteção para os projetos de assentamentos rurais de reforma agrária, no ano de 2001 foi promulgada a Resolução 289, também do CONAMA, seguida da Resolução 318, ambas versando especificamente sobre o licenciamento ambiental em projetos de assentamentos rurais.

Para entender a questão ambiental na reforma agrária, e principalmente seu funcionamento, é necessária uma análise da estrutura

administrativa dos órgãos públicos responsáveis pela confecção das normas ambientais e sua fiscalização, para, posteriormente, a análise compreensiva dos instrumentos legais referentes ao meio ambiente e à reforma agrária de Minas Gerais, foco desta pesquisa. Assim, o presente capítulo trata da estrutura administrativa do país e do Estado de Minas Gerais quanto ao meio ambiente e da legislação ambiental pertinente à reforma agrária, também analisando a dimensão federal e a estadual.