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Delimitação dos dados secundários

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA: DELINEANDO UM

2.5 Delimitação dos dados secundários

Definimos, ainda, na composição metodológica da pesquisa, o levantamento de dados secundários sobre a execução da política de reforma agrária, a estrutura fundiária predominante e os movimentos sociais de luta pela terra no estado do Rio Grande do Norte. Para a seleção dos mesmos, levamos em consideração os números divulgados por instituições públicas e não governamentais, dos quais, foram extraídas as informações relevantes para a análise da problemática. Após a coleta, estas foram compiladas, sistematizadas e, posteriormente, convertidas em gráficos, tabelas, quadros, mapas e cartogramas.

Dessa maneira, os dados relativos à estrutura fundiária do estado do Rio Grande do Norte foram coletados a partir do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR). Dentre as nuances selecionadas, destacamos a quantidade total de imóveis rurais inscritos e regularizados pelo INCRA, a identificação dos respectivos proprietários (declarantes), a área total dos imóveis, as informações sobre a situação cadastral e os municípios de circunscrição dos imóveis rurais selecionados. Vale destacar que no caso dos imóveis rurais cuja declaração de propriedade encontra-se em nome do INCRA, foi realizada a subdivisão da área total do imóvel pelo número de assentados beneficiados, a partir da sobreposição de informações do SNCR e do SIPRA do referido órgão.

Coletamos, ainda, dados referentes à política de reforma agrária no estado, os quais, foram extraídos a partir do Sistema de Informações sobre Projetos de Reforma Agrária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/SR-19)8. Neste caso, elencamos informações sobre a quantidade e identificação dos assentamentos rurais implantados, a área individual e total desapropriada (hectares), a capacidade e o número real de trabalhadores rurais beneficiados, as décadas e fases de implantação (de 1 a 7) e a forma de obtenção das áreas rurais.

Por fim, levantamos dados e documentos que versam sobre a atuação dos movimentos sociais do campo e as interfaces da luta pela terra no estado. Estes tiveram como fonte os relatórios anuais divulgados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Nestes relatórios, coletamos informações sobre a quantidade de conflitos ocorridos, as áreas de maior incidência, a quantidade de famílias envolvidas, as reivindicações dos trabalhadores rurais, as metas de desapropriação estabelecidas e o diálogo instituído entre as entidades representativas e os órgãos estatais.

I. Os mecanismos para análise da estrutura fundiária

Como forma de investigar a estrutura fundiária predominante no estado do Rio Grande do Norte optamos por utilizar mecanismos de caráter matemático-estatísticos em seu dimensionamento. Em virtude das múltiplas concepções metodológicas empregadas,

8 As Superintendências Regionais (SR’s) do INCRA, correspondem aos órgãos das unidades federativas responsáveis pelo planejamento, execução e acompanhamento da política de reforma agrária federal. Incube, ainda, às SR’s, o cadastramento dos imóveis rurais nos seus respectivos estados. O INCRA dispõe de 30 Superintendências Regionais distribuídas entre os entes federativos. O estado do Rio Grande do Norte corresponde à SR – 19 (INCRA, 2015).

selecionamos a que apresentasse um maior grau de validade científica e que, consequentemente, demonstrasse fidedignamente a realidade agrária potiguar. Assim, tomamos como parâmetro para este diagnóstico o cálculo do Coeficiente de Gini9 da concentração da terra no estado. O processo de validação do coeficiente referido se dá a partir da coleta, estratificação, e análise estatística da quantidade de unidades rurais e suas respectivas áreas, às quais, estejam restritas a um determinado recorte espacial.

Considerando isto, para fins de cálculo do Coeficiente de Gini da concentração da terra no Rio Grande do Norte, utilizamos os dados dos imóveis rurais disponibilizados pelo INCRA/RN, mais especificamente, os que dizem respeito ao Sistema Nacional de Cadastro Rural10 (SNCR). Trata-se de uma plataforma digital alimentada e gerida pelo referido órgão para fins de cadastramento dos imóveis rurais nas superintendências regionais. Comporta informações acerca do proprietário da terra, identificação do imóvel, classificação, situação cadastral, localização e área total. Contudo, para determinação do Coeficiente de Gini da concentração da terra no estado, foram utilizadas apenas as que se referem à quantidade e área total (em hectares) dos imóveis rurais agrupados por categorias especificas.

Por outro lado, em virtude de identificarmos recortes temporais nos quais os rebatimentos da política de reforma agrária no Rio Grande do Norte foram mais significativos, optamos por analisar a estrutura fundiária do estado a partir de uma perspectiva cronológico-evolutiva. Assim, considerando a ocorrência de processos de territorialização – da reforma agrária e dos movimentos sociais – no contexto agrário potiguar a partir de 1980, selecionamos, inicialmente, os dados cadastrais referentes à década citada para serem utilizados na referida análise. Ademais, utilizamos, ainda, os dados cadastrais referentes à década atual, no intuito de compreendermos como a estrutura fundiária do estado foi sendo impactada ao longo dos períodos delimitados.

Demonstramos, portanto, a estruturação dos elementos utilizados na determinação do Coeficiente de Gini da concentração da terra no Rio Grande do Norte:

9 O Coeficiente de Gini é utilizado para medir um determinado atributo (renda, terra, etc.) numa distribuição de frequência. Se insere entre intervalos específicos que determinam o grau de concentração acumulado (INCRA, 2001).

10 É também um mecanismo utilizado pelo INCRA para identificar a ocupação do meio rural brasileiro a fim de assegurar o planejamento de políticas públicas. Por meio dos dados declarados pelos proprietários ou possuidores (posseiro) de imóveis rurais cadastrados o sistema emite o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR).

a) Depurações Especiais do INCRA/RN

As Depurações Especiais do INCRA são mecanismos de identificação, seleção e divulgação dos dados da malha fundiária armazenados no Sistema Nacional de Cadastro Rural. Para fins de uso técnico, o processo de depuração descarta os dados e informações secundárias ou irrelevantes, mantendo apenas as variáveis definidas nas classes cadastrais selecionadas. Em virtude do número expressivo de informações depuradas, o próprio sistema às fragmenta, indexa e exporta para arquivos de extração.

Para a análise pretendida, utilizamos depurações especiais dos dados do levantamento cadastral do INCRA no estado do Rio Grande do Norte nos anos de 1989 e 2015. As informações acerca da quantidade e área dos imóveis rurais foram selecionadas e delimitadas em classes de estratificação específicas para serem utilizadas no cálculo do coeficiente referido.

b) Identificação e agrupamento dos imóveis rurais

Levando em consideração a necessidade de retratarmos com fidedignidade a estrutura fundiária predominante no estado do Rio Grande do Norte, realizamos a identificação e posterior agrupamento dos imóveis rurais cadastrados em nome de um único declarante (de natureza física ou jurídica). A partir deste agrupamento, torna-se possível reclassificar os estratos de inserção dos imóveis rurais (para cálculo do Coeficiente de Gini) que, a priori, possuíam área inferior, se abdicássemos de identificar aqueles de mesma propriedade. Dessa forma, havendo dois ou mais imóveis rurais em nome de um mesmo declarante, alteram-se os parâmetros de classificação da concentração da terra e, consequentemente, a representação da estrutura fundiária potiguar.

Vale destacar que a identificação e agrupamento dos imóveis rurais para fins de cálculo do Coeficiente de Gini segue um sequenciamento lógico. Além do nome do proprietário, são utilizadas outras informações relevantes neste processo. Pelo fato de haver declarantes diferentes de mesma denominação, utilizamos, também, como elemento de distinção entre os mesmos, o cruzamento das informações acerca do código do imóvel, a localização e os dados cadastrais do proprietário.

c) Tratamento dos dados e definição do coeficiente

Por último, o comportamento da estrutura fundiária do Rio Grande do Norte é determinado à luz do Coeficiente de Gini. Ainda que usualmente aplicada em estudos sobre a distribuição de renda, também é utilizada para calcular os índices de desigualdade fundiária. A determinação do Coeficiente de Gini se dá a partir da divisão da amostra selecionada em classes amostrais referentes ao número de imóveis (X), as áreas correspondentes em hectares (Y) e suas respectivas proporções acumuladas até o estrato i.

Além disso, optamos por realizar o cálculo do coeficiente referido de maneira fragmentada, tendo em vista identificarmos as áreas do estado nas quais os impactos da política de reforma agrária foram capazes de provocar alterações mais significativas na estrutura fundiária. Para tanto, os dados dos imóveis rurais de cada município foram divididos e classificados em oito estratos sequenciais, sendo eles: a) menos de 10 hectares; b) de 10,1 a 20 hectares; c) de 20,1 a 50 hectares; d) de 50,1 a 100 hectares; e) de 100,1 a 200 hectares; f) de 200,1 a 500 hectares; g) de 500,1 a 1.000 hectares; h) 1.000,1 hectares ou mais. Esta classificação tem por finalidade determinar os estratos nos quais a frequência acumulada foi mais significativa.

Portanto, conforme destaca Locatel (2004, p. 84), a determinação do Coeficiente de Gini se dá a partir da seguinte equação:

Equação 5 – Cálculo para aferição do Coeficiente de Gini

Levando em consideração os valores correspondentes a Equação 5, determina-se que:

 Xi = frequência acumulada da população (no caso do número de imóveis), até o estrato i.

 Yi = frequência acumulada da área, até o estrato i.  n = número de estratos de área.

A partir da Equação 5, o intervalo de resultados possíveis para o Coeficiente de Gini é definido, o qual, varia de zero a um. O zero representa o grau máximo de igualdade e só ocorrerá se todos os estratos apresentarem o mesmo valor para a variável (neste caso a concentração da terra). Por outro lado, quando for igual a um, ele representará o grau máximo de desigualdade e só ocorrerá quando apenas um estrato for responsável pela totalidade da concentração, sendo os demais representados pelo valor zero. O Coeficiente de Gini é delimitado por um gráfico de frequência acumulada que compara a distribuição relativa com a distribuição uniforme da variável a partir de uma reta com 45º de ângulo. Quanto mais próxima for a curva da frequência relativa de uma variável em relação à reta diagonal, menor será o Coeficiente de Gini. Da mesma forma, quanto maior for a discrepância entre a curva e a reta de igualdade, maior será o coeficiente de Gini e, portanto, maior será a concentração da variável terra (MATOS, 2005).

Dessa forma, considerando os valores do coeficiente e a classificação de correspondência definidas por Alcântara Filho e Fontes (2009), obtemos os seguintes parâmetros (Tabela 4):

Tabela 4 – Parâmetros de classificação do Coeficiente de GINI

Fonte: ALCÂNTARA FILHO e FONTES, (2009). Elaborado pelo autor, (2015).

Por fim, a estruturação desses mecanismos de análise descritos é fundamental para o diagnóstico pretendido. A utilização dos dados cadastrais e posterior equacionamento do Coeficiente de Gini da concentração da terra oferecem, contudo, o subsídio inicial para desvelarmos a estrutura fundiária predominante no estado do Rio Grande do Norte. Evidentemente, apenas os números não são capazes de explicar os fenômenos e processos sociais que são desencadeados incessantemente nos lugares, talvez por isso, a nossa opção e preocupação em discuti-los qualitativamente, ou seja, desvelando o jogo dialético que contribui significativamente para a ocorrência dos mesmos.

II. Dados e informações adicionais

Levantamos, ainda, no contexto da referida pesquisa, dados complementares, informações e documentos processuais mantidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no estado do Rio Grande do Norte (INCRA/SR-19). Estes tiveram como fonte de coleta o acervo digital e bibliográfico do referido órgão, assim como, conversas estabelecidas no transcurso da pesquisa de campo com funcionários lotados na Subcoordenadoria do Acervo Fundiário, na Diretoria do Sistema de Informações sobre Projetos de Reforma Agrária (SIPRA), no Setor de Implantação de Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária e na Diretoria da Superintendência Regional do Estado do Rio Grande do Norte.

Na Subcoordenadoria do Acervo Fundiário, elencamos algumas informações acerca do geoprocessamento das áreas de reforma agrária no estado do Rio Grande do Norte. Nas visitas realizadas a este setor, tivemos acesso a documentos e técnicas de mapeamento, de elaboração de croquis e plantas cadastrais dos assentamentos rurais implantados no estado pelo INCRA. Além disso, alguns direcionamentos e contribuições dadas pelos funcionários foram de grande relevância para a confecção dos mapas e cartogramas empregados, em momento posterior, nas análises sobre a reforma agrária tecidas na pesquisa.

Por conseguinte, o contato estabelecido com a Diretoria do Sistema de Informações sobre Projetos de Reforma Agrária (SIPRA) e o Setor de Implantação de Projetos de Assentamento, também foi preponderante para expandir o nosso campo de análise. Ainda que de caráter informal, obtivemos informações significativas acerca das condicionantes que balizam a escolha de áreas desapropriáveis, dos processos de regularização fundiária, cadastramento de imóveis rurais, assistência técnica,

infraestrutura e demais ações a cargo da Superintendência Regional do estado do Rio Grande do Norte. Essas informações elencadas foram importantes para desvelarmos certos aspectos da política de reforma agrária que, numa perspectiva teórica, não tiveram concepções formuladas.

Por fim, foi realizada entrevista com a Diretoria da Superintendência Regional do INCRA no estado do Rio Grande do Norte. Esta, serviu de base para averiguarmos como tem se manifestado a atuação do referido órgão frente à demanda por implantação de novas áreas de reforma agrária, o diálogo estabelecido com os movimentos sociais de luta pela terra, bem como, as perspectivas e metas futuras estabelecidas.

3. A MATERIALIDADE DA POLÍTICA DE REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO