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Democracia Sindical no Brasil e a identidade coletiva do movimento sindical . 78

CAPÍTULO 3 - A LIBERDADE SINDICAL NO BRASIL

3.5 Democracia Sindical no Brasil e a identidade coletiva do movimento sindical . 78

A democracia pode ser considerada um dos grandes avanços da humanidade porque permite que as pessoas gozem de direitos e liberdades até então inimagináveis, possibilitando ao indivíduo a liberdade de escolha do seu próprio destino dentro da sociedade na qual está inserido e, por esse motivo, é temida por vários governos antidemocráticos que receiam perder seus privilégios.

A principal característica desse sistema consiste na participação da população na elaboração e execução dos objetivos e metas a serem cumpridas pelos governos eleitos pelo voto popular, porém, a democracia foi impensável na maior parte da história brasileira, a qual sempre foi marcada pelo autoritarismo

negociações coletivas; b) Representatividade nas negociações coletivas; c) Registro sindical. (BRASIL, 2019, Art. 3°, IV).

estatal, como ocorreu durante os governos ditatoriais do Estado Novo (1937-1945) e Militar (1964-1985).

Ainda, os chamados governos republicanos nada mais foram do que as

elites que exerciam seus poderes obtidos supostamente pela “via democrática”,

contudo, com o objetivo de manterem seus privilégios, estas se valiam de diversas fraudes eleitorais e subterfúgios para cassar as liberdades da população e se manterem no controle do Estado.

Assim, o destino do país era decidido pelas mãos de um pequeno grupo dominante, como ocorreu na chamada República Velha (1898-1930), formada por meio de um acordo entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, para que os presidentes do Brasil fossem escolhidos entre os políticos desses Estados, ou seja, ora escolhia-se um paulista, ora um mineiro, sistema este que se perpetuou por mais de 30 anos.

Essa situação modificou-se com a promulgação da Constituição de 1988, a qual buscou eliminar os resquícios de autoritarismo, implantando a democracia por meio da participação popular, fato esse muito comemorado diante da superação da Ditadura Militar implantada em nosso país anos antes.

Apesar dos avanços trazidos pela Constituição de 1988, a democracia proposta neste documento não se estendeu completamente ao movimento sindical, pois manteve a unicidade sindical, criada pelo governo Vargas, impondo uma limitação legal para a criação de sindicatos congêneres em uma mesma base territorial, regra esta que não se coaduna como os novos tempos vividos pela sociedade brasileira.

A manutenção da unicidade afetou diretamente a democracia sindical, visto que causou o desinteresse dos representados com relação aos sindicatos, comprometendo a representatividade dessas organizações.

Devido ao sistema sindical atual, constata-se a “existência de deficiências

de democratização sindical em duas frentes: uma a baixa democratização externa;

outra a baixa democratização interna196.

A deficiência externa decorre da “petrificação das estruturas sindicais no

Brasil, inviabilizando novos arranjos”197, sendo a unicidade sindical culpada por esta

196 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; LIMA FILHO, Cláudio Dias. Pluralidade sindical e democracia. 2. ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 180.

situação em razão da vedação legal de criação de sindicatos congêneres, o que impede a participação popular dos representados no movimento sindical como

avaliam Rodolfo Pamplona Filho e Cláudio Dias de Lima Filho198:

Caracterizando-se a democracia, dentre outros fatores, pela

participação popular, vê-se que, num quadro de unicidade sindical,

essa participação é sufocada, pois o que se possibilita é a fragmentação de categorias e eventuais – pouco recorrente na prática – fusões entre sindicatos, sempre baseadas no conceito de categoria.

Essa participação dos representados, ao contrário do que ocorre na unicidade, é democrática e popular na pluralidade sindical, porque ao haver discordâncias, estes poderão criar sindicatos idênticos, porém com objetivos diferentes, logo há união espontânea e não obrigatória imposta pela lei.

Ora, é de notório conhecimento que a sociedade é composta por diversas pessoas que possuem ideias, ideologias e visão de mundo diferentes, razão pela qual se reúnem ao redor de uma organização que esteja de acordo com suas afinidades; portanto, a unicidade é um verdadeiro retrocesso dentro de um sistema democrático, uma vez que impõe a união obrigatória de diversos indivíduos, os quais, muitas vezes, não possuem qualquer identidade entre si.

Nesse sentido, a rigidez da estrutura sindical brasileira proporciona pouca interação dos sindicatos com seus representados, ocasionando “o distanciamento dos integrantes do grupo representado, surgindo a figura isolada dos “sindicalistas

profissionais”, que têm pouca interação com os anseios dos representados”199.

Assim, a deficiência da democracia externa gera uma grave distorção no movimento sindical, que se traduz pelo baixo índice de sindicalização que, em 2017,

atingiu 14,4% (quatorze por cento)200 da população economicamente ativa, situação

esta que somente enfraquece o sindicalismo brasileiro.

Outro grande problema enfrentado pelos sindicatos se refere à baixa democratização interna, que também decorre da falta de interesse dos próprios representados, aliada aos efeitos de um sistema sindical que, antes da Constituição

198 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; LIMA FILHO, Cláudio Dias. Pluralidade sindical e democracia. 2. ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 180.

199 Ibid.

200 SILVEIRA, Daniel. Sindicalização no Brasil tem a menor taxa em seis anos, aponta IBGE. Globo, 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/11/08/sindicalizacao-no-brasil-tem-a-menor-taxa-em-seis-anos-aponta-ibge.ghtml. Acesso em: 10 set. 2019.

de 1988, esteve vigente por quase 50 anos e foi estruturado para somente beneficiar o Estado e a cúpula dos sindicatos. Dessa maneira, ocorre, internamente, práticas de atos antidemocráticos que minam a representatividade dessas organizações, pois afastam os representados das decisões internas e dos objetivos propostos pelas entidades, como pode-se observar pelas palavras de Rodolfo Pamplona Filho e

Cláudio Dias Lima Filho201:

Já a baixa democratização interna apresenta um quadro ainda mais complexo. Numa estrutura em que a organização sindical praticamente inviabiliza inovações quanto à criação e à representação de novas entidades, pouco resta aos representados se não a tentativa de exercício democrático dentro das entidades já constituídas. E essa situação, no caso brasileiro, viabiliza algumas práticas também obstrutivas da democracia. É certo que a autonomia

sindical abordada no art. 8º, 1, da Constituição de 1988 teve por

consequência a revogação dos dispositivos da CLT que tratam de assuntos interna corporis do sindicato, como a administração e as eleições sindicais. Mas as sequelas de meio século de sindicalismo oficial moldado pelo Estado ainda remanescem: muitos sindicatos ainda repetem a prescrição segundo a qual o presidente da entidade será escolhido pela diretoria (art. 522, § 1º da CLT), bem como a indicação de delgados sindicais (art. 523 da CLT). Além disso, é comum a ausência da prestação de contas ou o seu registro fidedigno, apesar do art. 550 da CLT exigir aprovação orçamentária por parte da Assembleia Geral e o art. 551 impor a escrituração contábil das operações financeiras da entidade.

Ainda, de acordo com Rodolfo Pamplona Filho e Cláudio Dias Lima

Filho202, a baixa democracia interna é acentuada pela inexistência de publicidade

sobre as discussões realizadas pela cúpula sindical, o que somente colabora para afastar os representados e acentuar a crise em que se encontram atualmente essas organizações.

Em decorrência da baixa democratização interna, surgem conflitos dentro dessas organizações pelo poder, o que causa uma grande desunião entre os

próprios membros dos sindicatos, tornando-os ainda mais frágeis, pois “não são

incomuns relatos do uso de violência e de outras artimanhas para obstar candidatura

e a disputa igualitária das chapas de oposição [...]”203.

201 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; LIMA FILHO, Cláudio Dias. Pluralidade sindical e democracia. 2. ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 180-181.

202 Ibid. p. 181.

Os problemas acima apontados prejudicam o sindicalismo brasileiro, pois a democracia sindical é essencial para o fortalecimento dos sindicatos, portanto, as decisões sobre o futuro dessas organizações devem ser submetidas à participação

direta dos seus representados para que suas ações “guardem correspondência às

expectativas dos membros das organizações. Democracia indica, então, manutenção de um elevado grau de complexidade e, por conseguinte, de

possibilidades decisórias”204.

De acordo com Ricardo Machado Lourenço Filho205, a democracia

sindical “implica, ainda, a possibilidade de contínua definição e redefinição daqueles programas, de acordo com as expectativas (diversas e heterogêneas) livremente manifestadas pelos interessados”.

Essa democracia sindical favorece a representatividade dos sindicatos, uma vez que implantada, obriga essas organizações a pautar suas ações de acordo com os verdadeiros interesses dos representados e não a favor apenas da cúpula sindical, sendo, portanto, indispensável para o surgimento da identidade coletiva do movimento sindical.

Essa identidade coletiva é crucial para a união dos representados em torno de interesses comuns, capaz de mobilizar em prol de uma mesma causa pessoas com opiniões diferentes, porém com objetivos semelhantes, sendo assim, essencial para aumentar a representatividade dos sindicatos.

Posto que a identidade coletiva é requisito necessário para a sobrevivência dos sindicatos, esta não pode ser prejudicada pela unicidade que apenas afasta os representados desta organização, pois, frisa-se, novamente, une pessoas sem qualquer laço de afinidade.

Por conseguinte, a crise de representatividade, causada pela unicidade sindical, provoca o desinteresse dos representados pelos sindicatos e, consequentemente, afeta a democracia sindical, gerando, assim, problemas na formação da identidade coletiva, situação esta que leva ao enfraquecimento dessas organizações.

Conforme se verifica, na prática, a força dos representados surge através de sua união espontânea, a qual não existe em razão da unicidade, visto que esta

204 LOURENÇO FILHO, Ricardo Machado. Liberdade sindical: percursos e desafios na história constitucional brasileira. 1. ed. São Paulo: LTr, 2011. p.113.

não permite a reunião de pessoas com os mesmos pensamentos ideológicos, objetivos e interesses, razão pela qual não há coesão no movimento sindical brasileiro.

Sem coesão não há como se estabelecer relações sindicais, dado que qualquer espécie de discussão estará fadada ao fracasso, pois qualquer proposta sugerida pelos sindicatos será inócua em razão da não adesão dos representados.

Nesse sentido, cita-se a greve geral convocada pelas centrais sindicais antes da aprovação da reforma trabalhista (Lei nº 13.467/2017), na qual houve apenas a participação de poucas categorias, sendo que a maior parte dos trabalhadores não atendeu ao chamado devido a seu desinteresse pelos assuntos sindicais, decorrente da ausência da representatividade de muitos sindicatos que não agem democraticamente, posto que não permitem a efetiva participação de seus representados nos rumos dessas organizações, sendo patente a ausência da identidade coletiva nesta situação.

Em suma, a unicidade sindical afasta os representados dos sindicatos, prejudica a democracia interna e externa nessas organizações, bem como a formação da identidade coletiva, razão pela qual essa estrutura sindical não pode mais ser admitida em nossa sociedade democrática.

3.6 Liberdade Sindical e sua importância para formação da identidade coletiva movimento sindical

Conforme o exposto no tópico acima, somente por meio da democracia sindical é possível a formação da identidade coletiva do movimento sindical, porém seu desenvolvimento encontra-se limitado em razão da manutenção da unicidade sindical em nossa Constituição.

Esse sistema não se coaduna com a democracia sindical, pois cria sindicatos sem qualquer representatividade, cujos membros, muitas vezes, não possuem afinidades e interesses comuns, o que os afasta dessas organizações.

A ausência de interesse dos representados nas decisões tomadas pelos sindicatos prejudica a sociedade, isto porque essas organizações tornam-se fracas e

submissas diante do Estado e do poder econômico, sendo essa situação um grave problema social em nosso país.

Diante desse cenário, constata-se que a maioria dos sindicatos brasileiros possui apenas representação e não representatividade, ou seja, nosso sistema é composto por entidades previstas legalmente, contudo sem qualquer legitimidade perante os representados.

Amauri Mascaro Nascimento206 ensina que um sindicato poderá possuir a

“representação legal, mas não a real e efetiva. Nesse sentido, é possível dizer que falta representatividade ao sindicato, embora seja portador dos poderes legais de atuar em nome dos representados”.

Conforme se verifica, a representatividade é uma qualidade necessária para os sindicatos exercerem as atividades para os quais foram constituídos, sendo este elemento fundamental para assegurar os interesses dos representados, pois,

de acordo com José Francisco Siqueira Neto, o que “importa é a capacidade da

organização para interpretar a vontade, mais que representá-la pelo explícito

recebimento de um mandato”207.

A representação, por sua vez, nada mais é do que um vínculo estabelecido entre o sindicato e o representado, o qual permite que este atue em seu nome e benefício, sendo, portanto, uma relação meramente formal e não verdadeiramente representativa.

Posto isso, a representatividade sindical expressa a voz dos representados, sendo dever dos sindicatos atuarem próximos a sua base de representação, algo que não vem ocorrendo em nosso país, haja vista que os interesses das entidades sindicais são diversos dos desejos de seus representados.

Com efeito, a questão envolvendo a representatividade é extremamente importante, pois o desenvolvimento econômico depende do diálogo entre os atores sociais envolvidos na construção do nosso país, razão pela qual os sindicatos devem possuir legitimidade por representarem milhões de pessoas.

Assim, é de suma importância que nosso país desenvolva a democracia sindical, com o escopo de atrair o interesse dos representados pelos sindicatos,

206 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 8. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 213.

207 SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade Sindical e Representação dos Trabalhadores

aumentando a representatividade dessas organizações, o que irá contribuir para a formação da identidade coletiva do movimento sindical.

Para tanto, a liberdade sindical revela-se um caminho viável para solucionar o problema da falta de legitimidade dos sindicatos, pois incentiva a formação de organizações espontâneas e congêneres, possibilitando que indivíduos com os mesmos interesses, objetivos e ideologia se unam em favor de uma causa comum.

Essa união favorece a democracia sindical, bem como a

representatividade e, consequentemente, a identidade coletiva, pelo que as disposições da Convenção nº 87 da OIT são fundamentais para a sobrevivência dos sindicatos, pois asseguram a livre formação e autonomia dessas organizações, elementos estes essenciais para o fortalecimento do movimento sindical.

A importância da liberdade sindical e seus benefícios são indiscutíveis, tanto que seus preceitos encontram-se garantidos pelos principais tratados internacionais, tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP), Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Culturais e Sociais (PIDESC) e Convenção Americana dos Direitos Humanos.

E não é para menos, uma vez que permite o pleno desenvolvimento dos sindicatos, transformando-os em organizações independentes que podem tomar suas próprias decisões sem interferências do Estado ou terceiros, prevalecendo, assim, os interesses dos seus membros.

Além disso, cria um senso de responsabilidade nos representados, uma vez que coloca em suas mãos as decisões a respeito do futuro dessas organizações, as quais terão consequências com relação aos frutos e prejuízos causados pela atuação dessas entidades.

Tal responsabilidade não é assumida hoje pelos membros dos sindicatos diante da falta de representatividade dessas organizações, sendo esse o motivo pelo qual há diversos abusos cometidos nas relações de trabalho.

Como se não bastasse, a liberdade sindical garante que os representados se filiem em sindicatos que atendam a seus interesses, sendo assim, extremamente democrática, pois busca a participação plena dos indivíduos nessas organizações.

A defesa desses interesses é a razão da existência dos sindicatos, motivo pelo qual deverá ser garantida pela liberdade na formação de sindicatos

congêneres, sendo evidente que a vedação prevista em nossa Carta Magna não segue essa ideia, uma vez que a unicidade sindical é incompatível com os preceitos da liberdade sindical.

Logo, o sistema sindical brasileiro encontra-se em desacordo com os princípios democráticos previstos na Constituição de 1988, sendo necessário adotarmos os preceitos da liberdade sindical, pois esta é essencial para o desenvolvimento da identidade coletiva do nosso movimento sindical.

Portanto, caso o Brasil pretenda realmente desenvolver a identidade coletiva do seu movimento sindical, deverá alterar sua legislação e adotar as disposições da liberdade sindical descritas na Convenção nº 87 da OIT, posto que somente por meio da união de indivíduos com as mesmas afinidades será possível despertar o interesse dos representados nas discussões sindicais, aumentar a democracia sindical, assim como a representatividade dessas organizações e, consequentemente, criar uma identidade coletiva.

CONCLUSÃO

A liberdade é um direito inerente a todo ser humano, previsto em diversos tratados internacionais, em especial na Declaração Universal dos Direitos Humanos, considerada ainda um direito fundamental, uma vez que envolve a autonomia do indivíduo, razão pela qual está inserida nas constituições de diversos países, ocupando lugar de destaque nos ordenamentos jurídicos.

Sua definição, no entanto, é complexa, possuindo diversos significados como foi exposto no primeiro capítulo, porém independentemente da definição dada à liberdade, não restam dúvidas de sua importância, pois seu fim prático culmina no gozo pleno de direitos essenciais para a existência dos seres humanos em um determinado período histórico.

O direito à liberdade surge no âmbito individual e coletivo, sendo este último o que nos interessa neste momento, uma vez que a liberdade coletiva tem por objetivo afastar a interferência do Estado nas empresas e sindicatos, a fim de assegurar a liberdade para as organizações que possuem personalidade jurídica própria.

Essa liberdade coletiva se expressa por meio da liberdade sindical, estando esta última inserida na Constituição da OIT, que é o órgão responsável por regular as relações de trabalho em âmbito internacional.

A liberdade sindical possui um vasto arcabouço jurídico, cujo objetivo é assegurar sua aplicação nos ordenamentos internos dos Estados-membros, recebendo uma atenção especial da OIT na Convenção nº 87, documento este considerado um tratado multilateral que pode ser ratificado a qualquer tempo pelos Estados integrantes desse órgão internacional.

Além da Convenção nº 87, a liberdade sindical é assegurada pela Declaração dos Direitos Humanos, a qual prevê em seu Art. 23, § 4º, o direito de os seres humanos organizarem os sindicatos e neles ingressarem para a proteção de seus interesses.

Outrossim, a liberdade sindical encontra-se garantida nos Pactos Internacionais dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), assim como na Convenção Americana dos Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).

Ainda, a Convenção nº 98 complementa a Convenção nº 87 e prevê a proteção contra atos antissindicais, garantias da autonomia organizacional e financeira dos sindicatos e incentivos à negociação coletiva, ou seja, afasta quaisquer atos que pretendam afrontar a liberdade sindical.

Conforme se verifica, a liberdade sindical possui uma enorme rede de proteção jurídica, contudo, questiona-se: qual é o real significado dessa liberdade? A resposta é complexa, visto que a doutrina apresenta diversas conceituações a respeito dessa matéria.

Analisando as definições dadas pela doutrina, conclui-se que a liberdade sindical pode ser compreendida como um feixe de liberdades, no qual encontram-se inseridas as liberdades de associação, organização, administração, exercício das funções e filiação e, juntamente com o tripé da sindicalização livre, autonomia sindical e pluralidade sindical, garante o direito dos trabalhadores e empregadores de não sofrerem intervenção do Estado ou de terceiros em suas organizações e, diante disso, permite que os sindicatos alcancem os objetivos para os quais foram criados.

Essa liberdade sindical, no Brasil, possui efeitos peculiares em razão da evolução histórica do movimento sindical brasileiro, o qual foi marcado pela intervenção estatal, razão pela qual os preceitos democráticos da Convenção nº 87 da OIT jamais foram completamente observados em nosso país.

Inspirado na Carta del Lavoro (1927), elaborada pelo fascista italiano

Benito Mussoline, o governo de Getúlio Vargas criou, em 1930, uma estrutura sindical intervencionista, transformando os sindicatos em órgãos colaboradores, intervindo em sua criação, organização, administração e encerramento, retirando, assim, a autonomia dessas organizações, sistema que perdurou até a vigência da Constituição de 1988.

Nesse período, surgiu a unicidade sindical, mantida pela atual Carta Magna, em seu Art. 8º, II, que proíbe a criação de sindicatos congêneres na mesma base territorial, contrariando as disposições do Art. 2º da Convenção nº 87 da OIT.

Apesar dos avanços trazidos pela Constituição de 1988, no que diz respeito à autonomia dos sindicatos, a manutenção da unicidade impede que o Brasil observe as disposições da Convenção nº 87, pois esta prestigia a pluralidade sindical, sendo adotada em nosso país uma liberdade sindical parcial e não absoluta.

A insistência do legislador pela unicidade decorre do histórico intervencionista do Estado nos sindicatos, uma vez que, apesar do contexto democrático atual, não é interessante para a classe política conceder autonomia plena e fortalecer organizações que podem no futuro se opor a suas ambições.

Como se não bastasse, a unicidade encontrou apoio dentro dos próprios sindicatos, os quais temem que a pluralidade, prevista na Convenção nº 87,