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4 ÁGUAS DE SÃO PEDRO: SUA HISTÓRIA, SEUS TOPÔNIMOS E

4.2 Estudo onomástico do município

4.2.8 Denominações populares

No estudo toponímico é comum encontrar-se denominações populares que podem ser chamadas de toponímia espontânea ou toponímia paralela, quando há a coexistência de um nome popular com um nome oficial. Muitas vezes, os moradores não sabem o significado de um nome ou não conhecem a denominação oficial. Assim, ocorre a influência do ambiente no indivíduo, o denominador popular, que depois influencia o traço coletivo do grupo usuário do nome.170

Devido à localização do Jardim Porangaba, principalmente a parte de relevo mais elevado da cidade, nas proximidades da Av. Antonio Joaquim de Moura Andrade, a população apelidou a região de “Bate-Vento”, devido às fortes ventanias que ali ocorriam, principalmente quando não havia muitas casas, pois era um dos pontos mais altos da cidade. Como pode-se observar, na fala desses moradores:

- Antigamente ventava muito lá e como as ruas eram de terra e estavam começando a construir as casas, levantava aquela poeira (L.P.S., em 26/07/2009).

- Jardim Porangaba... Uns falam que é língua tupi (J.M., em 06/09/2009).

- Cresci no ‘Bate-Vento’ e só fui descobrir que era Jardim Porangaba na 6ª série, quando escrevi uma carta para a minha mãe com a Profª Luciana. Prefiro falar ‘Bate- Vento’ (M.J.V., em 03/10/2009).

Outra denominação popular, extraoficial, que se tornou usual entre os moradores, é “Canta Sapo” para denominar os Jardins Iporanga e Jerubiaçaba, onde numa área do loteamento existe uma baixada mais úmida, onde antigamente se ouvia o cantar dos sapos. Constatou-se nas entrevistas que esta denominação é mais polêmica do que a primeira. O local possui uma paisagem bonita e alguns moradores acham que o apelido “Canta Sapo” denigre a imagem do bairro e até pode desvalorizá-lo comercialmente:

O termo ‘apelido’ já é uma forma depreciativa, é sempre ofensivo. Como por exemplo: perneta, caolho... Ninguém gosta de ser chamado pelos seus defeitos, e o terreno, o bairro, não pode protestar. Ele não tem voz! Canta Sapo foi uma denominação dada por Sebastião Camargo, que era morador do bairro. No tempo em que não havia muitas casas no bairro, ele ouvia o barulho dos sapos cantando a noite. Ele era um trabalhador que não quis reconhecer o nome Jardim Iporanga. Só que na época havia mesmo sapos, mas ele desvalorizou o próprio dele colocando este apelido. (I.L.A., em 11/10/2009).

170

Por outro lado, há pessoas que consideram ser mais fácil, e simples, pronunciar “Canta-Sapo” do que as palavras Iporanga ou Jerubiaçaba, que muitos desconhecem o significado, como pode-se perceber na fala dos moradores:

Eu chamo o Jardim Jerubiaçaba de ‘Canta Sapo’, porque acho que sou caipira e gosto da natureza, e a natureza já estava lá antes de existir o bairro. É um bairro muito sossegado. Quando lá está silêncio... é sapo, grilo,... (M.O.B., em 25/07/2009).

Canta Sapo é um apelido que o Sebastião Camargo colocou no bairro porque na baixada, próxima daqui, tinha muito sapo. (B.S.C., em 21/11/2009).

Atualmente, a denominação “Canta Sapo”, já é publicada nos jornais da região e no "site" oficial da prefeitura municipal de Águas de São Pedro.171

Ainda no mapa atual do município, encontrou-se a denominação “Serra Pelada”, para uma área municipal, atualmente área verde. Segundo os moradores, a região foi assim denominada porque, em 1982, quando era época do garimpo em Serra Pelada no Pará, foi iniciada nesse local uma obra com verba e projeto do extinto FUMEST, entre as ruas Bela Vista, Emílio Marozzi, Favorino Rodrigues Prado Filho e final da Rua Silvino Ortiz, ao norte da cidade. Essa é a maior área livre do município, e então, houve partes desmatadas, obras de terraplanagem, correção de taludes e plantio de gramas. A região fica numa elevação e hoje já foi reflorestada, mas na época, a população a denominou de “Serra Pelada”, pois a prefeitura precisou remanejar terra para outros locais. Esta denominação está registrada no mapa oficial da Prefeitura Municipal de Águas de São Pedro de 2009,172 e anteriores.

É claro que o denominador, Octávio Moura Andrade, não gostaria de ver suas escolhas alteradas e oficializadas nos mapas, junto à prefeitura; isso não aconteceu com as denominações populares aqui citadas, exceto a área verde “Serra Pelada” (área verde), que tem seu nome escrito no mapa. Mas na fala popular, muitas vezes isso ocorre, como se pode ver no livro Vila Nova Savóia,173 bairro da capital paulistana, com os exemplos do “Morro Vermelho”, “Calipal”, “Buracão do Dalila” (uma parte da Vila Dalila, onde o terreno se mostra numa depressão, cujos mapas com curva de nível são capazes de registrar o fato), “Buracão do Maringá” (região do bairro Jardim Maringá).

171

CANTA SAPO: quermesse continua no final de semana. Jornal A Tribuna de São Pedro, São Pedro, p. 5, 19 jun. 2010.

172

Cf. Anexo “2” (Mapa de Águas de São Pedro 2009). 173

Segundo Sapir,174

o ambiente compreende tanto os fatores físicos como os sociais e, por meio dessas denominações [populares ou não], é possível perceber que o ambiente atua sobre o indivíduo. Essa influência ambiental é refletida no traço coletivo. É a soma dos processos distintos de influências ambientais sobre os indivíduos.

4.2.8.1 Os nomes dos times de futebol

Essas denominações populares acabaram se refletindo nos nomes dos times de futebol175 da cidade, que foram organizados por bairros. Nos campeonatos de futebol as partidas eram entre jogadores de um bairro contra o outro. De acordo com C.E.G., havia os seguintes times de futebol: 1) Califórnia (da Vila Califórnia); 2) Bate Vento (do Jd. Porangaba); 3) Vila Operária (hoje Rua Silvino Ortiz, que pertence ao Centro, mas no nome do time refere-se à antiga vila de casas); 4) Centro (parte da cidade que fez parte do loteamento Estância); 5) Canta Sapo (Jardim Iporanga e Jerubiaçaba); 6) Jerubiaçaba (time dos funcionários do Hotel Jerubiaçaba).

Para completar no mínimo oito times nos campeonatos, os organizadores costumam chamar convidados que pertencem aos bairros de São Pedro, geralmente os mais próximos à Águas de S. Pedro, ou seja, Floresta Escura, Graminha, Limoeiro, Tuncum etc.

Outro detalhe na formação dos times de futebol ocorria quando não se conseguia o número de jogadores suficientes para formar um time de cada bairro, existia a junção de dois bairros e devido à essa coligação há alteração lexical nos nomes próprios. Formava-se um novo nome composto de dois topônimos para designar o time. Ex. Batefórnia (união do Bate- Vento com o time Califórnia) e Vila-centro (junção do time da Vila Operária com o do Centro).

R.R.V. achava mais animado os jogos de uns tempos atrás dizendo: “A torcida era mais numerosa. Iam as namoradas, os pais, os irmãos, ia bastante gente”.176

Quanto à formação dos nomes, Vilela177 explica que

174

SAPIR, 1961. p. 43 apud DORO, 2006, p. 61. 175

Os dados sobre os times de futebol foram conseguidos em depoimentos durantes as entrevistas com dois moradores da Vila Califórnia: C.E.G. em 30/01/10 e R.R.V. em 10/02/10.

176

Entrevista com R.R.V., em 10/02/10. 177

a formação de palavras é um processo importante na constituição do léxico das línguas particulares. Se o léxico tem envolvimentos múltiplos, como as propriedades de natureza referencial e afetiva associadas às palavras e aos objetos por elas designadas, valores retóricos e simbólicos ligados às palavras e seus referentes, marcas diatópicas, diastrásticas e diafásicas [ex. os regionalismos, estrangeirismos, tecnicismos, etc.], os juízos de valor implicando adesão ou repulsa [...], valorização ou desvalorização [...], a carga emocional que o tempo constrói ou destrói [...], creio mesmo que é na formação de palavras que esse envolvimento mais se acentua.

Nesse caso, dos dois times de Águas de São Pedro, o Vila-centro e o Batefórnia, pode ser visto o processo de formação das palavras através da composição: no primeiro usando morfemas dos dois bairros e, no segundo, aglutinando os morfemas “Bat-e” (de Bate-Vento) com duas sílabas “-fórnia” do nome Califórnia (de Vila Califórnia). Sandmann178 explica que esse tipo de formação de palavra, que ocorre muito na linguagem publicitária. Ele a chama de “cruzamento vocabular”, um tipo de composição onde se unem mais de uma palavra, morfema ou fonemas, reduzindo o seu corpo fônico para formar uma nova unidade. Ex. “Curitubo, Desentupidora”, uma firma de Curitiba; Batefórnia, onde dos dois elementos ao menos um (Vila Califórnia) é reduzido em seu corpo fônico; a palavra é criativa e de fácil identificação, para os moradores que conhecem os dois bairros. Para os turistas e veranistas é uma composição diferente e curiosa. Já o Vila-Centro, é um corônimo composto,179 que une duas palavras com significados independentes para designar um time de futebol, formado por jogadores de dois bairros. Na realidade, a antiga Vila Operária hoje já faz parte do centro da cidade, mas quando era possível, os moradores montavam um time apenas com pessoas dessa localidade (hoje Rua Silvino Ortiz).

4.2.9 A influência da estância hidromineral de “Águas” na denominação dos