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Há diversas definições, elaboradas por diferentes autores, sobre o signo linguístico. Para Benveniste38 a imagem acústica constitui o significante e o seu conceito é o seu significado. Ainda para o autor, “entre o significante e o significado o laço não é arbitrário; pelo contrário, é necessário”. Para Hjelmslev,39 “o signo é, portanto, ao mesmo tempo, signo de uma substância de conteúdo e uma substância de expressão”. Para Bakthin,40 “tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia [...]”. Observando-se essas concepções chega-se a constatar que “signo é uma grandeza constituída de expressão e conteúdo (significante e significado), que instaura e reflete um recorte cultural e ideológico em relação a um referente extralinguístico”.41

Já o signo toponímico é definido por Dick42 como o signo que

[é] em sua estrutura, uma forma de língua, ou um significante animado por uma substância de conteúdo, da mesma maneira que todo e qualquer outro elemento do código em questão, a funcionalidade de seu emprego adquire uma dimensão maior marcando-o duplamente: o que era arbitrário em termos de língua, transforma-se no ato do batismo de um lugar, em essencialmente motivado, não sendo exagero afirmar ser essa uma das principais características do topônimo.

Segundo Dick,43 em sua formalização, o topônimo “liga-se ao acidente geográfico que identifica com ele, constituindo um conjunto ou uma relação binômia, que se pode seccionar para melhor distinguir seus formadores”. Em sua composição pode-se encontrar um elemento, ou termo específico, ou topônimo propriamente dito, que particularizará o local. Ex.: Rio Piracicaba (Rio: termo genérico; Piracicaba: termo específico), Rio Araquá, Rua das Hortências, Avenida Antonio Joaquim de Moura Andrade. Segundo a autora, na composição

38

BENVENISTE, Èmile . Problemas de linguística geral. São Paulo: Nacional/ Edusp, 1976. p. 55. 39

HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975. p. 61-62. 40

BAKTHIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 31. 41

DORO, Maria da Penha Marinovic. Pouco espaço com grandes ideais: os topônimos de Vila Nova Savóia. Dissertação (Mestrado em Semiótica e Linguística Geral). São Paulo: FFLCH-USP, 2000, p. 26.

42

DICK, 1992, p. 18. 43

morfológica dos topônimos pode entrar “elemento específico simples”, aquele que é definido por um só formante. Ex.: Lindóia (SP), Poá (SP); ou pode-se encontrar um “topônimo composto ou elemento específico composto”, aquele que “se apresenta com mais de um elemento formador”. Ex.: Águas de São Pedro (SP), Poços de Caldas (MG), Caldas Novas (GO). O significado desses topônimos poderá ser elucidado através da história local. 44

Com relação à formação linguístico-etmológica dos topônimos, é Dick45 quem ainda destaca um terceiro tipo, o “topônimo híbrido ou elemento específico híbrido” definido como “aquele designativo que recebe em sua configuração elementos linguísticos de diferentes procedências”. Ex.: Termas de Ibirá (SP) – (português + língua indígena).

Quanto à função específica do nome próprio, Ulmann46 mostra que é de identificar e não significar. Por outro lado, o autor escreve que “os nomes próprios estão cheios de ricas conotações quando se aplicam a pessoas e a lugares conhecidos”,47 sua conotação pode ser inferida de contextos linguísticos e extralinguísticos (como por exemplo, ao ouvir determinado nome ou ver uma foto ou imagem ligada a um nome, o enunciatário poderá fazer um gesto de agrado, demonstrar descontentamento ou deboche). O que se encontra no nome próprio, diferentemente do nome comum, é a motivação humana no ato da denominação. Como há o caráter intencional e motivado, o denominador demonstra suas preferências, seus valores ideológicos nessa escolha ou seleção do nome, fazendo assim um recorte da realidade, ao contrário do nome comum, que deve ser de domínio coletivo. Essa regra pode ser observada tanto nos topônimos como nos corônimos que foram estudados.

Outro aspecto relevante para desvendar a motivação toponímica é a distribuição quantitativa e qualitativa dos topônimos em uma determinada área. Nesse estudo pretendeu-se verificar também essa distribuição dentro da função das cidades turísticas classificadas como estâncias hidrominerais. Para quantificar e qualificar a distribuição de topônimos e corônimos nessa pesquisa utilizou-se as taxionomias toponímicas propostas por Dick,48 pois se baseiam numa variedade de campos léxico-semânticos, cuja divisão é feita segundo a sua natureza: Taxionomias de Natureza Física e as Taxionomias de Natureza Antropo-cultural.49

44 DICK, 1992, p. 13-14. 45 Ibidem, p. 14. 46 ULMANN, 1977, p. 155. 47 Ibidem. 48

DICK, op. cit., p. 31-34. 49

Dentre as taxionomias toponímicas encontram-se nesta investigação sobre os nomes de estâncias hidrominerais, topônimos relativos à taxionomia de natureza física, os hidrotopônimos, “topônimos resultantes de acidentes hidrográficos”, principalmente nomes dos quais um dos termos ou elemento é a “água”. Ex.: Águas de São Pedro (SP), Águas de Lindóia (SP), Águas da Prata (SP). Ou outros elementos que representam a água quente como “caldas”, “termas”. Ex.: Caldas Novas (GO), Poços de Caldas (MG), Caldas do Jorro (BA), Termas da Guarda (parque em Tubarão- SC); Termas de Jurema (parque em Campo Mourão- SC).

Independentemente de ser ou não estância hidromineral, verifica-se que nos municípios brasileiros há muitos topônimos relativos à “água” (lagoa, rio, cachoeira, etc.), por isso o capítulo 3 dedica-se à pesquisa do significado da “água” e seu simbolismo para os povos ao longo da história, bem como os hidrotopônimos nos municípios da região sudeste e outros municípios dos estados brasileiros com o termo “água”.

Outra taxionomia que aparece nas cidades brasileiras e que tem relação com a “água” são os ergotopônimos - “topônimos relativos aos elementos da cultura material”,50 como as construções para armazenar água (poço, cacimba) ou construções que atravessam os cursos d’água, como as pontes, que são hodotopônimos (ou odotopônimos) - “topônimos relativos às vias de comunicação rural ou urbana”.51

A concentração de determinados tipos de nomes, classificados através das taxionomias toponímicas de Dick, nos permite o estudo das motivações toponímicas. O nome revela um vínculo entre o denominador e o objeto ou local denominado. Dick52 afirma que,

através das ‘diversidades’ geográficas regionais, que condicionaram um determinado tipo de atividades materiais, em função de um momento histórico preciso, chega ao estabelecimento da correspondência entre o ‘nome’ do lugar e a condição sociológica determinativa. Percebe-se, assim, claramente, a passagem de um designativo comum de língua à categoria de topônimo, fruto de um mecanismo espontâneo de nomeação, embora motivado externamente pelas conjunções do meio. Mais ainda, as áreas culturais podem sugerir a formação de áreas toponímicas, em virtude de maior concentração de nomes de uma mesma camada significativa, em sua região. 50 DICK, 1992, p. 33. 51 Ibidem. 52 Ibidem, p. 31-32.

Classificando-se os topônimos e corônimos encontrados nessa, pesquisa foi possível analisar os tipos de denominações mais frequentes nas estâncias hidrominerais, suas motivações e suas relações históricas, geográficas ligadas ou não à atividade turística, assim como, analisar os nomes próprios (topônimos e corônimos) do município de Águas de São Pedro, dentro do contexto da propaganda turística, como marca do produto turístico.