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CAPÍTULO III – O QUE A PESQUISA NOS REVELA

3.3 O QUE DIZEM OS PARTICIPANTES

3.3.1 Depoimentos dos participantes da área administrativa

 Valorização da diversidade cultural, da dimensão cognitiva e da perspectiva da formação para a cidadania.

Quadro 01: Depoimentos dos participantes da área administrativa quanto ao papel do Projeto Político Pedagógico do CEP/ETB.

Participantes da área administrativa

Depoimentos

Projeto Político Pedagógico

Administrador 1

O Projeto Político Pedagógico atende e trabalha os aspectos que incluem a valorização

da diversidade principalmente por meio dos projetos existentes na escola(...)Nossa feira,

que é uma mostra de ciência e tecnologia e também uma mostra de arte e cultura tende a trazer para dento de uma escola técnica uma visão mais humana, uma visão cultural , artística que não é bem o foco de uma escola técnica, mas tem o objetivo de trazer essa valorização da diversidade e trazer os conhecimentos dos alunos em uma área que talvez ele não imaginasse que visse dentro da escola técnica.” (Administrador 1)

Administrador 2

A escola hoje é bem técnica, como o próprio nome já diz(...). Eu não consigo imaginar outra informação que diga respeito à sociedade, mudar o que o aluno pensa em relação ao mundo, nossa escola é bem técnica, bem direcionada mesmo...

Administrador 3

(...) a escola vem trabalhando bastante isso no sentido da formação do aluno, pensando em todas essas questões envolvidas com o desenvolvimento do aluno.

Ao elucidar sobre o Projeto Político Pedagógico do CEP/ETB, o atendimento às exigências da sociedade, numa visão crítica, de valorização da diversidade cultural, da dimensão cognitiva e na perspectiva da formação para a cidadania e como o PPP atende os administradores demonstraram contradições nas respostas. (Quadro 1),

O Administrador 1 respondeu de maneira enfática e bastante abrangente sobre essa questão, abordando, minuciosamente, os diversos projetos que a escola vem desenvolvendo e esclareceu que parte desses projetos está direcionada para uma visão humanística e para uma diversidade cultural.

Por outro lado, o Administrador 2 mostrou-se contrário a tudo que foi dito pelo respondente anterior, afirmando que a escola é bastante técnica e que ele desconhece qualquer outra prática ou postura pedagógica diferente. Afirmou ainda não existir preocupação alguma em trabalhar com aspectos relacionados às atuais exigências da sociedade.

Quanto às abordagens feitas pelo Administrador 3, observou-se que embora ele tenha respondido que o PPP trabalha com aspectos da formação integral do aluno, ele não foi convincente, no sentido de não elucidar como tais aspectos são trabalhados e, ao final de sua resposta , ele ainda afirmou que (....) “Eu acho que ela está trabalhando dentro disso”.

Nesse contexto, é imprescindível que a escola técnica tenha uma visão diferenciada quanto à necessidade de atender às exigências da sociedade. Hodiernamente, o mundo do trabalho tornou-se mais exigente e competitivo e, em consequência, a formação profissional oferecida por essas escolas carecem de mudanças. Faz-se necessário, para atender às exigências sociais e obter um lugar no mundo profissional, uma formação mais ampla, consciente e crítica, envolvendo questões relacionadas à formação da cidadania associada à formação profissional técnica. Como afirma Morin (2000), quando a ciência prescinde da consciência individual de cada ser e, também, quando os fatos científicos são apresentados independentemente de valores, o processo educacional carece de equilíbrio para melhor atender à formação do educando.

Diante da necessidade de atender às exigências sociais, torna-se imprescindível que a educação seja compreendida como um processo educativo que envolva diversas dimensões. Delors et al (2000) advertem sobre a necessidade de os sistemas educacionais se comprometerem com os quatro pilares fundamentais para a educação que, imbricados entre si, constituem-se bases para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos educandos. Para tal, um sistema educacional deve ter, como referência, o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a conviver e o aprender a ser.

 Concepção sobre a educação integral.

Quadro 02: Depoimentos dos participantes da área administrativa sobre a concepção de educação integral. Participantes da área administrativa Depoimentos Administrador 1

“A formação integral no que diz respeito à educação profissional tem que ser mais ampla

que a formação de um técnico(...) A formação de um técnico vai muito além do que ensinar a ele apertar parafuso... Quando você fala de formação integral, eu entendo como uma formação diferente da ideia de formar somente um técnico, um trocador de peça; vai à formação que entende a formação de um comportamento ético, a formação de um empreendedor, na formação de como se portar dentro de um ambiente de trabalho, de como escrever, de como saber ler um documento. Isso é uma formação integral dentro da educação profissional.”

Administrador 2

A pergunta anterior diz muita coisa sobre isso, volto a falar a mesma coisa, aqui não existe formação integral, ninguém busca... Aqui na escola e em outras escolas da área técnica, não existe essa preocupação com o aluno, alguns professores falam do mercado, como é que funciona, o que o aluno tem que levar de bagagem, o que o aluno tem que aprender aqui, mais nada, além disso. Ninguém está preocupado com isso não, a gente pega uma ementa, define as aulas e trabalha em cima dessas aulas. E depois prova...prova.

Administrador 3

Essa expressão, dentro do nosso grupo de professores, ela consegue dar dois tipos de visão para o professor. Em algumas situações, educação integral seria algumas experiências que a gente tem na escola pública do aluno ter aulas nos dois períodos.Inclusive é um projeto da Secretaria de Educação que é a educação integral (....). Ela também te abre outra visão que seria a educação integral na formação geral do aluno, como caráter, ética profissional na sua formação profissional para que ele possa atuar no mercado de trabalho, dentro de uma empresa, como se portar dentro de uma empresa. Essa educação integral tem essa visão, eu vejo assim, essa educação integral.

No primeiro momento em que foi feita essa pergunta, constatou-se que parte dos respondentes confundiu educação de tempo integral com a formação integral. No início, as colocações feitas referiam-se à educação em tempo integral, mas logo depois emitiam a opinião sobre o que seria na visão deles a formação integral. ( Quadro 2).

Nessa ótica, o Administrador 1 afirmou várias vezes que a formação integral é muito mais ampla que formar um técnico, mas também enfatizou que o corpo docente, na sua grande

maioria, tinha uma visão mais técnica que pedagógica. E, dentro dessa visão técnica, para alguns professores, a formação integral tornava-se desnecessária. Segundo esse entrevistado, a escola está num momento de construção de novas matrizes curriculares e que essa temática da formação do aluno estava sendo bastante discutida.

Nesse mesmo quesito, o Administrador 2 continuou enfatizando que não havia a preocupação com a formação integral e utilizou para sustentar a sua resposta a mesma resposta dada na questão anterior (Quadro 1), afirmando que havia muita relação entre elas.

Contrariando a opinião do respondente anterior, o Administrador 3 afirmou, reiteradamente, a preocupação da escola com a formação integral, como também reforçou a importância dessa formação para o ingresso do aluno no mercado de trabalho. Além disso, também acrescentou em seu discurso que existem disciplinas voltadas, especificamente, para a formação integral do aluno.

Essa diversidade de concepção de educação integral demonstra que a escola não está coesa quanto às ações e às práticas pedagógicas que envolvam a formação integral do aluno.

Nesse contexto da formação integral, Delors et al (2000) afirmam que “a educação é antes de mais nada uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade”. Por isso, aprender a Ser foi considerado, pela Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI, como um dos principais saberes, pois contribui de forma significativa para o desenvolvimento integral da pessoa, considerando a inteligência, a sensibilidade, o sentido ético e a espiritualidade.

Nessa mesma direção, a Lei nº 9.394/96 enfatiza, no art. 32, o desenvolvimento do aluno mediante a importância da formação de atitudes e valores possibilitando, assim, o fortalecimento dos vínculos familiares, da solidariedade humana e da tolerância recíproca na qual se alicerça a vida social. Ademais, o art. 35 também salienta que a educação deve ter em vista o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética baseada em valores.

Niskier (2006) também corrobora dizendo que a formação humanística dos educandos que decidem cursar a educação profissional de nível médio é tão importante quanto a formação técnica. Para o autor, tanto a dimensão técnica quanto a dimensão humana são imprescindíveis para a aquisição de competências, no sentido de promover maior interação entre a teoria e a prática, bem como entre o saber e o fazer, elementos essenciais à vida e à participação crítica e consciente e na sociedade.

 Atividades e projetos relacionados à formação integral.

Quadro 03: Depoimentos dos participantes da área administrativa sobre as atividades e os projetos desenvolvidos que contribuem para a formação integral do aluno.

Participantes da área

administrativa Depoimentos

Administrador 1

Nos projetos, como eu disse, já entra essa parte da educação para a formação integral (...) Na última ETBMIX nós tratamos do que a tecnologia pode fazer para dar acessibilidade às pessoas com deficiência, por exemplo(...). Tecnologia e meio ambiente, como a tecnologia pode ajudar para a preservação do meio ambiente(...). As nossas feiras de ciências são momentos em que os alunos desenvolvem projetos voltados para esse lado da cidadania.

Administrador 2

Se for a mesma formação da pergunta número 01, eu não vejo muitas atividades não, diante dos relatos que eu vejo por aí só mesmo, conteúdo, conteúdo, conteúdo. Todos os projetos dentro da escola hoje são totalmente direcionados para a área técnica (...). Então não vejo nada direcionado para essa formação, eu vejo o aluno trabalhando como se ele estivesse numa empresa.

Administrador 3

A gente trabalha com exemplos, conversa com o aluno, traz exemplos para eles de como é o comportamento lá fora, como se comportar no mercado, a nossa experiência... Então muitas vezes ele traz para a gente exemplos de como é dentro da empresa dele e ele acaba ajudando durante uma aula com a sua experiência, passando a experiência de trabalho que eles têm para os demais alunos(...). Quando nós professores não conseguimos ou então queremos trazer um algo a mais, nós procuramos fazer palestras ou trazer palestrantes, uma pessoa de outra área do mercado que pode acrescentar alguma coisa ao nosso aluno.

Quanto às atividades e projetos desenvolvidos para a formação integral, não houve coerência nas respostas dos respondentes da área administrativa.

O Administrador 1, ao abordar tais atividades e projetos, foge um pouco da formação integral e se refere aos projetos como um meio de acesso ao mercado de trabalho. O mesmo ocorre com o Administrador 3, quando em sua resposta, associa a formação integral como sendo apenas a formação para o acesso ao mercado de trabalho. Por outro lado, o Administrador 2 nem chega a abordar algo que se relacione à formação integral do aluno. Ele

continua afirmando que a escola é bastante técnica e tem como preocupação a formação técnica.

Torna-se bastante evidente que a escola busca atender às necessidades e às exigências do mercado de trabalho, deixando em segundo plano a formação integral que transcende a formação profissional técnica.

Segundo Reich (1994), o homem deve ser valorizado não por sua capacidade de produção técnica, mas por suas aptidões e por sua capacidade de adicionar valor. Nesse sentido, a escola deve buscar proporcionar ao aluno uma formação mais humana, de forma que ele se torne mais crítico, mais consciente de suas ações, tornando-se, assim, um trabalhador do conhecimento e não simplesmente um executor de serviços manuais.

 Formação dos participantes da área administrativa para atuar na gestão da escola considerando a educação integral do aluno.

Quadro 04: Depoimentos dos participantes da área administrativa sobre as lacunas existentes

na formação para desenvolver a educação integral.

Participantes da área

administrativa Depoimentos

Administrador 1

(....) A minha formação não me preparou nem para a gestão e nem me deu um embasamento suficiente para trabalhar a formação integral. Isso vai mais de leitura e pesquisa, os nossos professores acabam por trabalhar isso de forma individual, pesquisando.

Administrador 2

Sim... Você estuda, mas você não absorve nada...

Administrador 3

Nenhuma formação é completa(...) A gente acaba fazendo algum aperfeiçoamento, treinamento, estudando um pouco mais, acho que todo professor acaba sendo assim, à medida que vai surgindo alguma dificuldade, ele vai tentando suprir as dificuldades, indo atrás de conhecimento, atrás de um curso, treinamento.

Perguntados sobre as lacunas deixadas pela formação acadêmica para atuar na gestão da escola, considerando-se a formação integral do aluno da educação profissional técnica de nível médio, os três respondentes afirmaram que não tiveram uma formação adequada para trabalhar aspectos relacionados à formação integral. Segundo os entrevistados, as lacunas

deixadas por uma formação acadêmica deficiente são supridas por meio de frequentes leituras, estudos e pesquisas além da participação em cursos de aperfeiçoamento.

As respostas dadas pelo Administrador 1 foram mais minuciosas e, por sua vez, mais pertinentes. Primeiramente, no que diz respeito à formação para atuar na gestão, mencionou que não teve uma formação acadêmica para desempenhar esta função posteriormente, afirmou que a própria Secretaria de Educação do Distrito Federal, instituição à qual o CEP/ETB pertence, não tem uma política de preparar as pessoas para a gestão.

Ademais, afirmou que não há motivação para o desempenho da função, a qual é considerada uma função temporária. Dessa forma, a formação acadêmica não prepara o profissional para a gestão e não oferece conhecimentos suficientes para o gestor trabalhar aspectos da formação integral do aluno.

Muitos autores afirmam que a profissionalização dos docentes da educação profissional não deve estar centrada somente numa formação técnica de cunho essencialmente tecnológico, mas principalmente voltada para a prática reflexiva, com o objetivo de levar o educador a refletir e a analisar a sua própria prática, e consequentemente, tornar-se um profissional capaz de enfrentar todos os desafios apresentados no processo educacional.

Paulo Freire (1996) afirma que o momento fundamental no processo de formação do docente é o “da reflexão crítica sobre a prática”; isto significa que é imprescindível pensar criticamente a prática de hoje ou de ontem, para melhorar a prática de amanhã.

Nesse sentido, a reflexão contribui para que o educador encontre elementos e subsídios necessários para planejamento, organização e contextualização das atividades pedagógicas relacionadas àquele contexto educacional, permitindo–lhe tomar consciência de suas ações.

 Aspectos positivos em trabalhar a formação integral dos alunos.

Quadro 05: Depoimentos dos participantes da área administrativa sobre os aspectos positivos relacionados à formação integral do aluno.

Participantes da área

administrativa Depoimentos

Administrador 1

A gente tem percebido que tanto os docentes como os discentes que atuam nos projetos voltados para a formação do aluno como um todo, são os professores que têm mais

satisfação em trabalhar, assim como os alunos que se tornam os melhores alunos em classe e conseguem ter uma visão mais aberta do todo, uma visão do que eu estou fazendo aqui, qual é o meu papel aqui dentro e lá fora.

Administrador 2

(...) Não existe hoje dentro da escola nem interesse do aluno, porque a escola até tenta fazer, mas os alunos não querem, eles querem simplesmente virar técnicos, inclusive alguns não esperam muito tempo e fazem os cursos básicos que tem aqui(...).

Administrador 3

Eu acredito que traga pra ele, sim, bastante beneficio. Primeiro nós recebemos alunos a partir do 2º ano do ensino médio (... ).Muitas vezes ele acaba transferindo isso pra sua formação lá no ensino médio, então o comportamento dele lá no ensino médio muda um pouco e aqui também a visão dele muda. (...). A postura dele dentro do ensino técnico tem que ser diferente, porque ele está sendo visto, ele sabe que constantemente nós temos visitas de empresários que vêm a nossa escola para conhecê-la, conhecer o ambiente escolar, ofertar empregos, estágios (...).

A maioria dos participantes afirmou que trabalhar aspectos relacionados à formação integral do aluno traz grandes benefícios. Na opinião deles, todos os alunos que são engajados em projetos, voltados para esse objetivo, diferenciam-se dos demais alunos que buscam somente os conhecimentos técnicos.

Os alunos engajados nos projetos também se destacam na instituição de ensino onde cursam o ensino médio, como afirmou o Administrador 3. (Quadro 5). Também conseguem direcionar seu aprendizado, pois definem e traçam o seu crescimento dentro do CEP/ETB, conforme afirma o Administrador 1. (Quadro 5)

Conforme afirma Blasi (citado por PUIG, 2007) , os valores fornecem o alicerce para a construção da identidade e do autoconhecimento do ser humano.

Seguindo um pensamento correlato, Machado (2000) contribui dizendo que o significado de educação sempre esteve associado à ação de conduzir a fins socialmente prefigurados, pressupondo a vivência e a partilha de projetos coletivos.

 Dificuldades dos participantes da área administrativa para trabalhar aspectos relacionados à formação integral do aluno.

Quadro 06: Depoimentos dos participantes da área administrativa a respeito das dificuldades

para desenvolver aspectos relacionados à educação integral do aluno.

Participantes da área

administrativa Depoimentos

Administrador 1

(...)Muitos docentes são extremamente técnicos, alguns deles atuam no mercado de trabalho durante o dia e à noite eles vêm para dar aula ( só à noite), uma visão técnica demais que esqueceu o lado humano, esqueceu um pouco o lado da formação cidadã. Então ele está preocupado em formar o técnico só construtor de peça. Isso é uma dificuldade que a gente tem tido muito grande(...).

Administrador 2

Os próprios alunos não querem, eles querem conteúdos específicos, querem ser técnicos, “estou na empresa quero fazer isto, aquilo”. Querem aquelas disciplinas que eles sabem que o mercado vai absorver(...).

Administrador 3

(...) Eu acabo não encontrando muita dificuldade em trabalhar isso com eles, até porque eu tenho um bom relacionamento com eles, um estilo diferente de ser, cobro postura deles (....).

Quanto às dificuldades encontradas em trabalhar aspectos relacionados à formação integral do aluno, dois respondentes afirmaram que existe muita dificuldade, mas os problemas apresentados foram bastante antagônicos.

Na visão do Administrador 1, a grande dificuldade é devida ao fato de os professores serem extremamente técnicos e não darem importância à formação integral do aluno. Na visão desses professores, os alunos estão no CEP/ETB para ter uma profissão e consideram importante somente a parte profissionalizante. O mesmo respondente também afirmou que alguns professores não se sentem na obrigação de trabalhar aspectos de formação do aluno, pois asseguram que são apenas professores. Admitem não ter vínculo algum com o aluno e que a relação estabelecida entre eles tem que subsidiar o educando tão somente no que diz respeito à competência técnica.

Na percepção do Administrador 2, a grande dificuldade ocorre devido à resistência do aluno em discutir conhecimentos que extrapolem a formação técnica. Tal depoimento pode ser questionado, uma vez que a visão desse respondente tem sido, desde o início, extremamente tecnicista. Dessa forma, o fato de atribuir ao aluno a dificuldade que o respondente tem em trabalhar aspectos de formação integral, torna-se duvidosa.

Para Ciavatta (2005), a formação humana, entendida como parte da formação integral, busca garantir o direito do jovem a uma formação que lhe possibilite interpretar o mundo e atuar como cidadão pertencente e integrado à sociedade. A formação integral ultrapassa a divisão entre a ciência e a consciência comumente considerada no processo educacional. Autores como Assmann, (1996), Freire (1996), Morin (2005) dentre outros, afirmam que o equilíbrio entre a ciência e a consciência é fundamental para uma formação na sua integralidade.

 Outros aspectos referentes às implicações da formação integral do aluno.

Quadro 07: Depoimentos livremente apresentados pelos participantes da área

administrativa. Participantes da área administrativa Depoimentos Administrador 1

(....) Um curso técnico no contexto de formação integral tem que formar um cidadão que possa mudar o país... Não é uma formação que seja voltada para preparar um cidadão que vai estar simplesmente no mercado de trabalho, não vai estar ali meramente como uma engrenagem no sistema. É importante a gente entender essa questão de formação integral , de que, ao formar um técnico, a gente não está formando apenas um profissional que vai trocar peça, apenas um profissional que vai obedecer a ordens, nós podemos estar formando um empreendedor, um diferencial que vai inventar alguma coisa ou mesmo um simples empreendedor, um empresário, que vai montar uma empresa , que vai construir alguma coisa de importante. Ele pode fazer diferente.

Administrador 2

(...) Se a gente for olhar hoje para a Escola Técnica, eu acho que do jeito que está aí, com as aulas bem direcionadas pra área técnica, já não estão ficando, se a gente inserir mais disciplinas para melhorar como cidadão, pra melhorar a forma de ele visualizar as coisas, como ele se portar na sociedade, não vai mudar muita coisa não, vai desestimulá-los

mais ainda. Porque, quando o curso é bem direcionado, ele já não fica. Então se colocar de outra forma, aí é que eles não ficam mesmo.

Administrador